O primeiro-ministro francês interrompeu abrutamente entrevista com a candidata presidencial às eleições europeias. Oposição denunciou a sua atitude machista.
"Olá, desculpem, estou a entrar em cena", disse o primeiro-ministro Gabriel Attal, interrompendo uma entrevista com Valérie Hayer, cabeça de lista do partido Renaissance para as eleições europeias.
Após terminar uma entrevista na Maison de la Radio, em Paris, Gabriel Attal autoconvidou-se para o programa da info, que decorria no mesmo local, no qual participavam os doze principais candidatos às eleições de 9 de junho.
"Estava a ser entrevistado há pouco quando me disseram-me Valérie estava aqui e, por isso,vim vê-la. amos muito tempo juntos", acrescenta.
"Sãoum pouco inseparáveis, sim", responde Emilie Tran Nguyen, a apresentadora do programa.
Gabriel Attal fez um discurso de quase dois minutos sobre o 80.º aniversário do desembarque na Normandia e as questões climáticas, apelando à participação dos eleitores nas eleições europeias para defender a democracia.
"Valérie Hayer já não tem muito tempo", interrompe Emilie Tran Nguyen. "Está preocupado, Gabriel Attal? É por isso que a segue, que não a deixa, que faz campanha com ela nestas eleições europeias?", pergunta a jornalista.
"Estou preocupado com a Europa", responde o Primeiro-Ministro.
"Manterrupting"
(termo que refere o ato de um homem interromper uma mulher durante uma conversa ou apresentação)
A oposição não demorou a denunciar a atitude de Gabriel Attal como uma atitude machista e sexista.
Entrevistado depois de Valérie Hayer, no mesmo programa, François-Xavier Bellamy, cabeça de lista de Les Républicains para as eleições europeias, denunciou um "lado machista" dos aliados de Valérie Hayer, que consideram poder fazer melhor campanha do que ela.
E continuou em tom sarcástico. "Assistimos ao novo joker. 'Estou a telefonar a um amigo' que parece ser cada vez mais utilizado pelo candidato da maioria", referindo-se ao programa televisivo " Quem quer ser milionário?"
"O comportamento de Gabriel Attal com Valérie Hayer tem um nome: manterrupting. Chega de machismo! ", publicou Raquel Garrido, deputada de La Insoumise, na rede social X.
"O Primeiro-ministro está a limpar os pés a Valérie Hayer. As mulheres não são capachos", reagiu Marie Toussaint, cabeça de lista de Ecologes - Europe Ecologie Les Verts (EELV) para as eleições de 9 de junho.
Por seu lado, Valérie Hayer defendeu publicamente Gabriel Attal e denunciou, na sua opinião, a instrumentalização da causa feminista. "O verdadeiro sexismo é pensar no meu lugar. Porque sou uma mulher, seria necessariamente invisibilizada pela presença de um homem", publicou na sua conta X.
Em França, o candidato do Rassemblement National, Jordan Bardella, lidera as sondagens com mais de 32% das intenções de voto. O partido presidencial Renaissance e o Partido Socialista têm cerca de 16% e 13% das intenções de voto, respetivamente, de acordo com as sondagens.
O Primeiro-ministro apareceu em várias ocasiões ao lado da candidata presidencial para lhe dar o seu apoio. Participou, nomeadamente, no comício de campanha em Boulogne-Billancourt e num debate contra Jordan Bardella, em maio.
Gabriel Attal foi também acusado de omnipresente e de silenciar Valérie Hayer.