{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2022/03/21/guerra-na-ucrania-que-impacto-sobre-os-produtos-alimentares" }, "headline": "Guerra na Ucr\u00e2nia: que impacto sobre os produtos alimentares?", "description": "Os pre\u00e7os globais dos alimentos j\u00e1 tinham atingido um recorde. Depois a R\u00fassia invadiu a Ucr\u00e2nia", "articleBody": "Quando o ex\u00e9rcito russo iniciou a ofensiva contra a Ucr\u00e2nia, a 24 de fevereiro, os pre\u00e7os dos alimentos j\u00e1 tinham atingido n\u00edveis recorde em todo o mundo. A guerra no leste da Europa veio agravar ainda mais as coisas. Em fevereiro, os pre\u00e7os globais dos alimentos atingiram m\u00e1ximos, subindo 24% em rela\u00e7\u00e3o ao per\u00edodo hom\u00f3logo, ap\u00f3s um aumento mensal de 4%. A zona euro n\u00e3o escapou, com os pre\u00e7os dos alimentos, do \u00e1lcool e do tabaco a disparar 4,1% no m\u00eas de fevereiro, ap\u00f3s um aumento de 3,5% em janeiro. Estes aumentos acentuados foram atribu\u00eddos a v\u00e1rios fatores, principalmente \u00e0 energia e ao transporte. O custo de ambos disparou no ano ado, com a procura por g\u00e1s natural e transporte a superar, e muito, a oferta, numa altura em que economias de todo o mundo tentavam regressar \u00e0 normalidade ap\u00f3s o coma induzido pela pandemia de Covid-19. Mas, entretanto, a R\u00fassia invadiu um pa\u00eds vizinho, a Ucr\u00e2nia, alegando um ataque necess\u00e1rio para evitar o genoc\u00eddio cometido por parte das autoridades ucranianas no leste do pa\u00eds. A rea\u00e7\u00e3o nos mercados foi imediata. Os pre\u00e7os do trigo subiram 50%. A Ucr\u00e2nia e a R\u00fassia s\u00e3o comummente referidas como o celeiro do mundo, produzindo cerca de 30% de commodities alimentares, como o trigo e o milho. S\u00f3 a Ucr\u00e2nia \u2013 um pa\u00eds que \u00e9 28 vezes menor do que a R\u00fassia \u2013 fornece 16% e 12% do trigo e do milho mundial, respetivamente. Duas semanas ap\u00f3s o in\u00edcio do conflito, Kiev tomou a decis\u00e3o de proibir as exporta\u00e7\u00f5es de alimentos b\u00e1sicos, dando prioridade \u00e0 alimenta\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o \u00e0 medida que a crise humanit\u00e1ria \u2013 exacerbada por repetidas viola\u00e7\u00f5es do cessar-fogo e pela impossibilidade de os comboios com ajuda humanit\u00e1ria chegarem ao terreno - se instalava. A R\u00fassia seguiu o exemplo, proibindo as exporta\u00e7\u00f5es de trigo para alguns munic\u00edpios vizinhos at\u00e9 o final de junho. Prateleiras vazias na Europa? \u0022N\u00e3o acredito que veremos prateleiras de quaisquer produtos alimentares vazias na Europa e a raz\u00e3o \u00e9, em primeiro lugar, que n\u00e3o estamos a importar trigo da Ucr\u00e2nia ou da R\u00fassia, pelo menos n\u00e3o o estamos a fazer em grandes quantidades\u0022, sublinhou, em entrevista \u00e0 Euronews, Matin Qaim, Professor de Economia Agr\u00edcola e Diretor do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento da Universidade de Bona. \u0022Estamos a importar milho da Ucr\u00e2nia, mas \u00e9 usado principalmente como ra\u00e7\u00e3o animal\u0022, acrescentou. Al\u00e9m disso, a nossa produ\u00e7\u00e3o de alimentos \u00e9 fortemente mecanizada, o que significa que o pre\u00e7o das commodities desempenha um papel menor no pre\u00e7o do produto acabado. \u0022Num p\u00e3o industrializado que se pode comprar num supermercado, a percentagem do trigo no pre\u00e7o final do p\u00e3o pode ser inferior a 10%\u0022, explicou Qaim. \u0022Isso significa que se o pre\u00e7o do trigo aumentar, o p\u00e3o ficar\u00e1 alguns c\u00eantimos mais caro\u0022, acrescentou. Mas isso n\u00e3o impedir\u00e1 os europeus de sentir no pr\u00f3prio bolso os pre\u00e7os mais elevados da alimenta\u00e7\u00e3o. \u0022Obviamente, existem muitos outros componentes, como a energia e os custos de m\u00e3o-de-obra, o custo das m\u00e1quinas, o custo do transporte, o custo da marca, a embalagem dos produtos - tudo isso contribui para o valor final. E isso significa que quando o pre\u00e7o do trigo duplicar - e agora \u00e9 o dobro do n\u00edvel de h\u00e1 dois anos atr\u00e1s - n\u00e3o quer dizer que o pre\u00e7o do p\u00e3o duplicar\u00e1 no nosso contexto\u0022, lembrou. \u0022Pre\u00e7os elevados de alimentos\u0022 a caminho Al\u00e9m disso, os pre\u00e7os dos alimentos s\u00e3o estabelecidos internacionalmente e, com a Ucr\u00e2nia e a R\u00fassia a retrair as exporta\u00e7\u00f5es por agora, o impacto continuar\u00e1 a fazer-se sentir. A dura\u00e7\u00e3o do impacto depender\u00e1 da dura\u00e7\u00e3o da guerra e do estado das infraestruturas quando a poeira baixar. As autoridades ucranianas acusaram a R\u00fassia de atacar deliberadamente equipamentos agr\u00edcolas e os portos do Mar Negro \u2013 um importante hub comercial para o trigo \u2013 foram gravemente danificados. H\u00e1 ainda incerteza sobre o que a R\u00fassia exportar\u00e1. As san\u00e7\u00f5es comerciais impostas pelos pa\u00edses ocidentais impedir\u00e3o grandes exporta\u00e7\u00f5es? E a lideran\u00e7a da R\u00fassia permitir\u00e1 que as exporta\u00e7\u00f5es continuem em vez de estender a proibi\u00e7\u00e3o a mais pa\u00edses ao longo do ano? \u0022Os pre\u00e7os dos alimentos s\u00e3o altos, mas o trigo e o p\u00e3o de trigo s\u00e3o alimentos b\u00e1sicos para a popula\u00e7\u00e3o russa. As pessoas na R\u00fassia s\u00e3o bastante pobres e se os pre\u00e7os do p\u00e3o realmente dispararem, pode haver revolta. E isso \u00e9 algo que (o presidente russo Vladimir ) Putin realmente tenta evitar\u0022, ressalvou Qaim. Mais incerteza sobre o que outros pa\u00edses far\u00e3o para proteger a pr\u00f3pria popula\u00e7\u00e3o do aumento dos pre\u00e7os ou para beneficiar desse aumento agravar\u00e1, provavelmente, a quest\u00e3o. Por exemplo, a Argentina, um dos maiores exportadores mundiais de produtos de soja, j\u00e1 anunciou a interrup\u00e7\u00e3o das exporta\u00e7\u00f5es. Tudo isso \u0022significa que neste ano de 2022, provavelmente teremos de viver com pre\u00e7os elevados dos alimentos\u0022, enfatizou Qaim. Uni\u00e3o Europeia \u0022precisa dotar-se de sistemas alimentares resilientes\u0022 O Banco Central Europeu (BCE) j\u00e1 atualizou a proje\u00e7\u00e3o de infla\u00e7\u00e3o para este ano, esperando-se agora que a infla\u00e7\u00e3o em 2022 atinja os 5,1%. O BCE alertou que os pre\u00e7os da energia devem permanecer altos e que outras commodities, incluindo alimentos e metais, \u0022tamb\u00e9m podem ser severamente afetadas pelo conflito, devido ao papel da R\u00fassia e da Ucr\u00e2nia no abastecimento mundial destas commodities\u0022. Avisou ainda que a infla\u00e7\u00e3o alimentar \u0022se manter\u00e1 elevada ao longo de 2022, devido aos elevados pre\u00e7os das mat\u00e9rias-primas e aos aumentos extraordin\u00e1rios nos pre\u00e7os do g\u00e1s e da eletricidade, que representam cerca de 90% dos custos totais de energia da ind\u00fastria alimentar processada e que s\u00e3o um fator importante para a produ\u00e7\u00e3o de fertilizantes\u201d. Alguns players da ind\u00fastria europeia j\u00e1 fizeram soar os alarmes, incluindo a Associa\u00e7\u00e3o Nacional das Ind\u00fastrias Alimentares de Fran\u00e7a (ANIA), que exigiu, no in\u00edcio deste m\u00eas, que o governo d\u00ea apoio ao setor para mitigar o impacto da guerra sobre pre\u00e7os e abastecimentos. Um porta-voz da Uni\u00e3o Europeia (UE) disse \u00e0 Euronews que \u0022os pr\u00f3ximos meses provavelmente levantar\u00e3o desafios ao nosso sistema agroalimentar\u0022. \u0022Nesta fase, n\u00e3o h\u00e1 amea\u00e7a imediata \u00e0 seguran\u00e7a alimentar na UE, porque a UE \u00e9 um grande produtor e um exportador l\u00edquido de cereais. O impacto imediato reside antes no aumento dos custos em toda a cadeia de abastecimento alimentar, na perturba\u00e7\u00e3o dos fluxos de com\u00e9rcio de e para a Ucr\u00e2nia e a R\u00fassia, bem como nos respetivos impactos na seguran\u00e7a alimentar global\u0022. O porta-voz acrescentou: \u0022no curto prazo, o desafio vem do aumento dos pre\u00e7os da energia, dos fertilizantes, de ra\u00e7\u00f5es e do impacto do aumento dos pre\u00e7os dos alimentos na sociedade. No m\u00e9dio prazo, precisamos de uma agricultura sustent\u00e1vel, produtiva e resiliente - com base mas nas estrat\u00e9gias do 'Prado ao Prato' e Biodiversidade\u0022. A Comiss\u00e3o Europeia est\u00e1 atualmente a trabalhar na identifica\u00e7\u00e3o de medidas de curto e de longo prazo que pode implementar para aumentar a resili\u00eancia dos sistemas alimentares do bloco comunit\u00e1ria. Para 23 de mar\u00e7o est\u00e1 prevista uma comunica\u00e7\u00e3o sobre essa mat\u00e9ria. ", "dateCreated": "2022-03-21T10:21:34+01:00", "dateModified": "2022-03-21T13:07:28+01:00", "datePublished": "2022-03-21T13:07:26+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F06%2F55%2F53%2F96%2F1440x810_cmsv2_8abc73d9-bdab-56fc-8a61-c4d0ac7acccb-6555396.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Os pre\u00e7os globais dos alimentos j\u00e1 tinham atingido um recorde. Depois a R\u00fassia invadiu a Ucr\u00e2nia", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F06%2F55%2F53%2F96%2F432x243_cmsv2_8abc73d9-bdab-56fc-8a61-c4d0ac7acccb-6555396.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Tidey", "givenName": "Alice", "name": "Alice Tidey", "url": "/perfis/1356", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@alicetidey", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Equipe de langue anglaise" } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Impacto nas nossas vidas" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Guerra na Ucrânia: que impacto sobre os produtos alimentares?

Guerra na Ucrânia: que impacto sobre os produtos alimentares?
Direitos de autor Euronews
Direitos de autor Euronews
De Alice Tidey
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Os preços globais dos alimentos já tinham atingido um recorde. Depois a Rússia invadiu a Ucrânia

PUBLICIDADE

Quando o exército russo iniciou a ofensiva contra a Ucrânia, a 24 de fevereiro, os preços dos alimentos já tinham atingido níveis recorde em todo o mundo. A guerra no leste da Europa veio agravar ainda mais as coisas.

Em fevereiro, os preços globais dos alimentos atingiram máximos, subindo 24% em relação ao período homólogo, após um aumento mensal de 4%.

A zona euro não escapou, com os preços dos alimentos, do álcool e do tabaco a disparar 4,1% no mês de fevereiro, após um aumento de 3,5% em janeiro.

Estes aumentos acentuados foram atribuídos a vários fatores, principalmente à energia e ao transporte. O custo de ambos disparou no ano ado, com a procura por gás natural e transporte a superar, e muito, a oferta, numa altura em que economias de todo o mundo tentavam regressar à normalidade após o coma induzido pela pandemia de Covid-19.

Mas, entretanto, a Rússia invadiu um país vizinho, a Ucrânia, alegando um ataque necessário para evitar o genocídio cometido por parte das autoridades ucranianas no leste do país. A reação nos mercados foi imediata.

Os preços do trigo subiram 50%.

A Ucrânia e a Rússia são comummente referidas como o celeiro do mundo, produzindo cerca de 30% de commodities alimentares, como o trigo e o milho. Só a Ucrânia – um país que é 28 vezes menor do que a Rússia – fornece 16% e 12% do trigo e do milho mundial, respetivamente.

Duas semanas após o início do conflito, Kiev tomou a decisão de proibir as exportações de alimentos básicos, dando prioridade à alimentação da população à medida que a crise humanitária – exacerbada por repetidas violações do cessar-fogo e pela impossibilidade de os comboios com ajuda humanitária chegarem ao terreno - se instalava.

A Rússia seguiu o exemplo, proibindo as exportações de trigo para alguns municípios vizinhos até o final de junho.

Prateleiras vazias na Europa?

"Não acredito que veremos prateleiras de quaisquer produtos alimentares vazias na Europa e a razão é, em primeiro lugar, que não estamos a importar trigo da Ucrânia ou da Rússia, pelo menos não o estamos a fazer em grandes quantidades", sublinhou, em entrevista à Euronews, Matin Qaim, Professor de Economia Agrícola e Diretor do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento da Universidade de Bona.

"Estamos a importar milho da Ucrânia, mas é usado principalmente como ração animal", acrescentou.

Além disso, a nossa produção de alimentos é fortemente mecanizada, o que significa que o preço das commodities desempenha um papel menor no preço do produto acabado.

"Num pão industrializado que se pode comprar num supermercado, a percentagem do trigo no preço final do pão pode ser inferior a 10%", explicou Qaim.

"Isso significa que se o preço do trigo aumentar, o pão ficará alguns cêntimos mais caro", acrescentou.

Mas isso não impedirá os europeus de sentir no próprio bolso os preços mais elevados da alimentação.

"Obviamente, existem muitos outros componentes, como a energia e os custos de mão-de-obra, o custo das máquinas, o custo do transporte, o custo da marca, a embalagem dos produtos - tudo isso contribui para o valor final. E isso significa que quando o preço do trigo duplicar - e agora é o dobro do nível de há dois anos atrás - não quer dizer que o preço do pão duplicará no nosso contexto", lembrou.

"Preços elevados de alimentos" a caminho

Além disso, os preços dos alimentos são estabelecidos internacionalmente e, com a Ucrânia e a Rússia a retrair as exportações por agora, o impacto continuará a fazer-se sentir. A duração do impacto dependerá da duração da guerra e do estado das infraestruturas quando a poeira baixar.

As autoridades ucranianas acusaram a Rússia de atacar deliberadamente equipamentos agrícolas e os portos do Mar Negro – um importante hub comercial para o trigo – foram gravemente danificados.

Há ainda incerteza sobre o que a Rússia exportará. As sanções comerciais impostas pelos países ocidentais impedirão grandes exportações? E a liderança da Rússia permitirá que as exportações continuem em vez de estender a proibição a mais países ao longo do ano?

"Os preços dos alimentos são altos, mas o trigo e o pão de trigo são alimentos básicos para a população russa. As pessoas na Rússia são bastante pobres e se os preços do pão realmente dispararem, pode haver revolta. E isso é algo que (o presidente russo Vladimir ) Putin realmente tenta evitar", ressalvou Qaim.

Mais incerteza sobre o que outros países farão para proteger a própria população do aumento dos preços ou para beneficiar desse aumento agravará, provavelmente, a questão. Por exemplo, a Argentina, um dos maiores exportadores mundiais de produtos de soja, já anunciou a interrupção das exportações.

Tudo isso "significa que neste ano de 2022, provavelmente teremos de viver com preços elevados dos alimentos", enfatizou Qaim.

União Europeia "precisa dotar-se de sistemas alimentares resilientes"

O Banco Central Europeu (BCE) já atualizou a projeção de inflação para este ano, esperando-se agora que a inflação em 2022 atinja os 5,1%.

O BCE alertou que os preços da energia devem permanecer altos e que outras commodities, incluindo alimentos e metais, "também podem ser severamente afetadas pelo conflito, devido ao papel da Rússia e da Ucrânia no abastecimento mundial destas commodities".

Avisou ainda que a inflação alimentar "se manterá elevada ao longo de 2022, devido aos elevados preços das matérias-primas e aos aumentos extraordinários nos preços do gás e da eletricidade, que representam cerca de 90% dos custos totais de energia da indústria alimentar processada e que são um fator importante para a produção de fertilizantes”.

Alguns players da indústria europeia já fizeram soar os alarmes, incluindo a Associação Nacional das Indústrias Alimentares de França (ANIA), que exigiu, no início deste mês, que o governo dê apoio ao setor para mitigar o impacto da guerra sobre preços e abastecimentos.

Um porta-voz da União Europeia (UE) disse à Euronews que "os próximos meses provavelmente levantarão desafios ao nosso sistema agroalimentar".

"Nesta fase, não há ameaça imediata à segurança alimentar na UE, porque a UE é um grande produtor e um exportador líquido de cereais. O impacto imediato reside antes no aumento dos custos em toda a cadeia de abastecimento alimentar, na perturbação dos fluxos de comércio de e para a Ucrânia e a Rússia, bem como nos respetivos impactos na segurança alimentar global".

O porta-voz acrescentou: "no curto prazo, o desafio vem do aumento dos preços da energia, dos fertilizantes, de rações e do impacto do aumento dos preços dos alimentos na sociedade. No médio prazo, precisamos de uma agricultura sustentável, produtiva e resiliente - com base mas nas estratégias do 'Prado ao Prato' e Biodiversidade".

A Comissão Europeia está atualmente a trabalhar na identificação de medidas de curto e de longo prazo que pode implementar para aumentar a resiliência dos sistemas alimentares do bloco comunitária. Para 23 de março está prevista uma comunicação sobre essa matéria.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Tudo o que precisa de saber: O seu guia para as eleições europeias de 2024

ILGA alerta para aumento do discurso anti-comunidade gay em campanhas

UE: Migração entre as medidas propostas contra envelhecimento da população