Jordi Zonneveld não queria que as suas três filhas vivessem num mundo dependente da queima de petróleo, gás e carvão que aquece o planeta.
No início, trabalhar na indústria do petróleo e do gás era ótimo, recorda Jordi Zonneveld.
Perto de sua casa, nos Países Baixos, existia uma empresa de petróleo e gás que, em 2005, estava a crescer e a contratar.
Zonneveld não sabia nada sobre a atividade da empresa, que consistia em desenhar e construir equipamento utilizado para separar óleo e gás da água salgada que se mistura nas profundezas do subsolo. Tal não estava relacionado com o que tinha estudado na faculdade (aviação), mas estava feliz por ter um emprego.
Com apenas 21 anos, Zonneveld começou a trabalhar como engenheiro de projetos, a gerir clientes e equipas de engenharia. Foi uma experiência estimulante e desafiante. A empresa, o Frames Group, na cidade de Alphen aan den Rijn, estava a ter um bom desempenho, e Zonneveld era promovido com regularidade.
Mas na indústria do petróleo e do gás, o ano de 2015 representou um ponto de viragem para muitas pessoas, e Zonneveld foi uma delas. O preço do petróleo teve uma queda acentuada. As grandes empresas pararam ou adiaram grandes projetos. As vendas do Frames Group tiveram um decréscimo significativo.
No mesmo ano, foi assinado o acordo de Paris sobre alterações climáticas, o qual compromete os países a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Estas são as mesmas emissões produzidas pela indústria na qual Zonneveld trabalhava.
"O mundo inteiro está a declarar a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis", afirma Zonneveld. Não ia ser imediato, "mas estávamos a depender a 100% desses combustíveis fósseis".
Um caminho para sair da indústria dos combustíveis fósseis
Zonneveld e os seus colegas de trabalho discutiram tudo isto e decidiram que a indústria do petróleo e do gás não era o setor onde queriam fazer carreira. Ainda eram jovens.
"Ainda precisava de trabalhar cerca de 30 anos até à minha reforma. Por isso, esperar e ver o que acontece - não era uma opção", disse.
Entretanto, Zonneveld tinha sido pai de duas filhas, e não queria que elas vivessem num mundo dependente da queima de petróleo, gás e carvão, que aquece o planeta.
"Não tenho a ilusão de poder mudar tudo sozinho, mas posso fazer parte de toda a transição", disse.
Nessa altura, já estava na área de gestão de topo. Considerou que a especialidade da sua empresa era separar o petróleo do gás e remover a água e os vapores indesejados.
Começou a ver um caminho: o hidrogénio verde.
O hidrogénio é um gás que pode ser queimado como um combustível fóssil e gerar muito calor, mas não cria emissões que aquecem a Terra. De certa forma, um depósito de hidrogénio é como uma bateria - pode armazenar energia limpa durante dias, semanas ou mesmo meses. Pode alimentar camiões, aviões e barcos, e também ser utilizado para produzir aço, amoníaco e fertilizantes.
Mas a maior parte do hidrogénioutilizado atualmente é produzido a partir de um combustível fóssil, o gás natural.
Zonneveld queria levar o Frames Group em direção ao futuro, produzindo hidrogénio verde, ou seja, hidrogénio obtido através da divisão da água nos seus elementos, utilizando apenas eletricidade limpa.
“O que é interessante no caso do hidrogénio é que se tivermos muito conhecimento sobre gases como o gás natural... então conceber um sistema para o hidrogénio é apenas mais um gás”, disse Zonneveld. “ Se perguntar aos engenheiros é um pouco mais complexo do que isso. Mas, a um nível superior, é apenas mais um gás”.
Uma visão para o futuro
Alguns dos seus colegas de longa data do setor do petróleo e do gás não gostaram da nova direção, afinal, o mundo não se ira afastar dos combustíveis fósseis tão cedo.
Zonneveld itiu que poderia levar décadas, mas o Grupo Frames poderia liderar o caminho. Ele e uma pequena equipa avançaram e conseguiram aumentar o hidrogénio limpo em 10% do negócio da empresa nos cinco anos seguintes.
Por esta mesma altura, em Nova Iorque, a empresa de energia Plug Power, centrada no hidrogénio e nas células de combustível, estava a desenvolver o seu negócio de hidrogénio.
As duas empresas partilhavam o mesmo desejo de ajudar os clientes a descarbonizar as suas operações e a convicção de que o hidrogénio desempenhará um papel importante na transição para as energias limpas. A Plug Power decidiu adquirir o Frames Group. A fusão aconteceu em 2021.
"Existiam muito poucas empresas de petróleo e gás onde a liderança tivesse essa visão", disse o CEO da Plug Power, Andy Marsh, numa entrevista. "Por isso, foi a combinação perfeita entre a visão da Plug e a visão pessoal de Jordi sobre o que o Frames Group se poderia tornar."
Agora, a Plug Power tem o objetivo de produzir mais de 1.000 toneladas por dia de hidrogénio verde em todo o mundo durante esta década.
Um "sonhador" no comando
Têm existido desafios. As ações da Plug Power têm sido voláteis. A empresa ainda não registou lucros. Isso não é invulgar quando se trata de uma nova indústria.
Contudo, nem tudo são incertezas e há um lado positivo: a Plug Power já encontrou alguns grandes clientes, incluindo a Amazon. A utilização da sua tecnologia é responsável pelo funcionamento de empilhadores em 80 armazéns da empresa de tecnologia norte-americana. Por outro lado, a Amazon está também a produzir o seu próprio hidrogénio limpo em Aurora, no Colorado, utilizando um eletrolisador, fabricado pela Plug Power.
A istração Biden está a distribuir milhares de milhões de dólares em créditos fiscais às empresas que produzem este tipo de hidrogénio. A Plug Power será uma das contempladas com esse benefício.
O Departamento de Energia está a ajudar a financiar a construção até seis fábricas de produção de hidrogénio da empresa. A Plug Power abriu a primeira fábrica de hidrogénio limpo em janeiro, na Geórgia, e tem também fábricas de electrolisadores e células de combustível em Rochester e Slingerlands, Nova Iorque.
O escritório holandês da Frames está a terminar os últimos projetos de petróleo e gás. Marsh disse que colocou Zonneveld no comando porque ele é um "sonhador".
Zonneveld "fez uma mudança" para as suas filhas
Zonneveld, 39 anos, tem agora três filhas. Falou sobre as alterações climáticas e o seu trabalho com a mais velha.
Em 2020, começou a conduzir um carro a hidrogénio. Quando estão os dois juntos no automóvel, explica-lhe porque este é diferente dos outros que circulam na estrada e porque é melhor para o ambiente.
O tema é um pouco difícil para a filha de 11 anos, diz ele, porque nem sempre fica contente quando têm de conduzir um pouco mais para chegar a uma estação de abastecimento de hidrogénio. Mas ela compreende que o mundo precisa de se distanciar dos combustíveis fósseis.
Zonneveld ainda não falam muito sobre este assunto com as outras duas filhas, de 9 e 1 ano de idade, mas diz-se orgulhoso por ser uma parte da solução.
"Fizemos uma mudança", disse ele, "e tenho a certeza de que, quando elas forem um pouco mais velhas, também se vão orgulhar de mim".