{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/green/2020/03/13/qual-sera-a-nova-face-da-agricultura-europeia-nos-proximos-anos" }, "headline": "Qual ser\u00e1 a nova face da agricultura europeia nos pr\u00f3ximos anos?", "description": "Com o clima da Europa a aquecer e o padr\u00e3o habitual das esta\u00e7\u00f5es do ano a mudar, a agricultura ter\u00e1 de se adaptar: os dados clim\u00e1ticos podem ser parte da resposta.", "articleBody": "Primeiro, foi a onda de ar frio siberiana a afetar os olivais na It\u00e1lia. Depois, veio o ver\u00e3o abrasador, com temperaturas extremas e seca. Seguiram-se outubro e novembro, com cheias e chuva excessiva. Segundo a publica\u00e7\u00e3o profissional Olive Oil Times , em 2018, a It\u00e1lia perdeu cerca de 27% da sua produ\u00e7\u00e3o de azeitona, tendo sido tamb\u00e9m afetadas outras colheitas e \u00e1rvores de fruto. Seguiu-se a Espanha, em 2019, com a seca a afetar negativamente 44% da sua produ\u00e7\u00e3o. \u0022As altera\u00e7\u00f5es da temperatura e da precipita\u00e7\u00e3o, assim como os extremos meteorol\u00f3gicos e clim\u00e1ticos, est\u00e3o j\u00e1 a influenciar os rendimentos das culturas e a produtividade da pecu\u00e1ria na Europa\u0022, afirmou Bla\u017e Kurnik, especialista no impacto das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e adapta\u00e7\u00e3o da Ag\u00eancia Europeia do Ambiente. \u0022As proje\u00e7\u00f5es sugerem um aumento da frequ\u00eancia das condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas e acontecimentos clim\u00e1ticos extremos em todo o continente. Prev\u00ea-se que o valor da terra ar\u00e1vel sofra uma redu\u00e7\u00e3o superior a 80% at\u00e9 2100 nalgumas regi\u00f5es do sul da Europa, o que poder\u00e1 levar ao abandono de terrenos agr\u00edcolas\u0022, referiu o Dr. Kurnik. Pelo menos 22 milh\u00f5es de agricultores e trabalhadores agr\u00edcolas da UE est\u00e3o expostos a extremos clim\u00e1ticos; 44 milh\u00f5es de empregos ligados ao setor alimentar podem estar tamb\u00e9m a sentir o seu impacto. Na origem de um oitavo da produ\u00e7\u00e3o de cereais, dois ter\u00e7os do vinho e tr\u00eas quartos do azeite de todo o mundo, a Europa est\u00e1 a enfrentar o desafio de adaptar todos os seus sistemas agr\u00edcolas \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. As altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas determinar\u00e3o o futuro da agricultura Em janeiro \u00faltimo, o Servi\u00e7o de Monitoriza\u00e7\u00e3o das Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas Copernicus (C3S) anunciou que 2019 foi o quinto de uma s\u00e9rie de anos excecionalmente quentes, e o segundo mais quente alguma vez registado em todo o mundo. Por seu lado, a Europa sofreu o ano mais quente registado, por uma pequena margem. Antes da publica\u00e7\u00e3o do relat\u00f3rio do estado do clima europeu de 2019, prevista para abril de 2020, o relat\u00f3rio de 2018 indicava j\u00e1 que as temperaturas na Europa revelavam uma tend\u00eancia clara de subida nas \u00faltimas quatro d\u00e9cadas, tanto em termos das m\u00e9dias anuais como das sazonais. 2018 foi um dos tr\u00eas anos mais quentes registados na Europa (juntamente com 2014 e 2015), com uma anomalia t\u00e9rmica de cerca de +1,2 \u00b0C relativamente ao per\u00edodo 1981-2010. A precipita\u00e7\u00e3o no norte da Europa aumentou at\u00e9 70 mm/d\u00e9cada desde os anos 60 do s\u00e9culo ado, enquanto no sul diminuiu at\u00e9 90 mm/d\u00e9cada, segundo um estudo da consultora HHFA. As previs\u00f5es sugerem que as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas afetar\u00e3o negativamente a agricultura em muitas regi\u00f5es da Europa, explica Kurnik. \u0022Prev\u00ea-se que as regi\u00f5es mais afetadas sejam a mediterr\u00e2nica e o sudeste europeu, principalmente em virtude da redu\u00e7\u00e3o da precipita\u00e7\u00e3o e do aumento da temperatura, ambos levando a secas mais longas e intensas e \u00e0 escassez de \u00e1gua\u0022, referiu Kurnik. A chuva intensa que afeta as colheitas e inunda as terras agr\u00edcolas pode tamb\u00e9m sofrer um aumento que pode chegar aos 35% na Europa Central e Oriental, de acordo com um relat\u00f3rio da Ag\u00eancia Europeia do Ambiente (AEA). No entanto, o aumento das temperaturas tem vindo a permitir a expans\u00e3o das culturas para norte nos \u00faltimos 40 anos; as previs\u00f5es sugerem que esta transi\u00e7\u00e3o venha a prosseguir, e os rendimentos t\u00eam potencial para aumentar. Cada cultura exige uma combina\u00e7\u00e3o espec\u00edfica de condi\u00e7\u00f5es para atingir o m\u00e1ximo potencial; os respetivos ciclos est\u00e3o ajustados a acontecimentos espec\u00edficos em momentos determinados. Por isso, se algo muda, as culturas reagem. As temperaturas mais elevadas levam a que as culturas cres\u00e7am mais cedo e se desenvolvam mais rapidamente. Prev\u00ea-se que os cereais como o trigo e o milho flores\u00e7am e atinjam a matura\u00e7\u00e3o uma a tr\u00eas semanas mais cedo, especialmente na Europa Ocidental e Setentrional, refere a AEA. Contudo, as temperaturas mais altas conducentes ao desenvolvimento mais r\u00e1pido das culturas n\u00e3o lhes d\u00e3o o tempo necess\u00e1rio para acumular material biol\u00f3gico suficiente, o que pode reduzir a produtividade; os rendimentos das culturas de milho, trigo e cevada foram j\u00e1 afetados nas regi\u00f5es centrais e do sul da Europa. No futuro, os rendimentos da cultura do milho em Portugal poder\u00e3o sofrer uma redu\u00e7\u00e3o de 20 a cerca de 29 kg/ha/ano entre 2051 e 2080. Por outro lado, alguns estudos advertem para uma poss\u00edvel deteriora\u00e7\u00e3o da qualidade das uvas para vinho espanholas. \u201cOs acontecimentos extremos durante a flora\u00e7\u00e3o s\u00e3o especialmente perigosos para muitas culturas, tais como as dos cereais\u201d, referiu a Dra. Margarita Ruiz-Ramos, especialista em adapta\u00e7\u00e3o dos sistemas agr\u00edcolas \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas do CEIGRAM . \u0022Esse \u00e9 o caso do calor e das secas no Mediterr\u00e2neo, os quais poder\u00e3o agora tamb\u00e9m ocorrer ocasionalmente na Europa Central\u0022, referiu a Dra. Ruiz-Ramos. Em 2010, a onda de calor estival na R\u00fassia afetou negativamente 30% da cultura cereal\u00edfera; as autoridades russas limitaram os danos proibindo a exporta\u00e7\u00e3o de trigo, o que fez disparar os pre\u00e7os mundiais do cereal. Na \u00faltima d\u00e9cada, os acontecimentos meteorol\u00f3gicos e clim\u00e1ticos extremos associados \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas custaram \u00e0 infraestrutura agr\u00edcola e rural italiana cerca de 14 mil milh\u00f5es de euros, segundo a Coldiretti , a principal associa\u00e7\u00e3o italiana de agricultores. A Sardenha, onde as temperaturas m\u00e9dias neste inverno foram 3 \u00b0C superiores \u00e0s normais, e com longas secas alternadas com cheias extensas, arrisca uma importante redu\u00e7\u00e3o dos rendimentos cereal\u00edferos nos pr\u00f3ximos 30 anos, de acordo com o especialista da Meteonetwork Alessandro Gallo. A AEA estima que a maior parte do territ\u00f3rio de Portugal, a Galiza, o norte da Escandin\u00e1via e a Turquia ir\u00e3o enfrentar secas mais rigorosas; se as temperaturas globais aumentarem 2 \u00b0C, os crescentes d\u00e9fices aqu\u00edferos em Chipre, na Gr\u00e9cia, na It\u00e1lia e em Espanha aumentar\u00e3o a procura de \u00e1gua de irriga\u00e7\u00e3o entre 4 e 18% at\u00e9 2100 . \u0022Outros acontecimentos extremos ligados a cheias ou a excesso de \u00e1gua no solo durante a sementeira e a colheita podem tamb\u00e9m ser problem\u00e1ticos em determinadas regi\u00f5es da Europa Central e do Norte\u0022, acrescentou Ruiz-Ramos. \u0022No Norte, embora a esta\u00e7\u00e3o de crescimento se prolongue, o maior rendimento potencial das colheitas pode ser prejudicado por novas pragas e doen\u00e7as\u0022. A adapta\u00e7\u00e3o prossegue com o aux\u00edlio de dados clim\u00e1ticos \u0022A adapta\u00e7\u00e3o do setor \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas ser\u00e1 fundamental; o sucesso do planeamento e da implementa\u00e7\u00e3o das pol\u00edticas de adapta\u00e7\u00e3o a v\u00e1rios n\u00edveis \u00e9 importante\u0022, afirmou o Dr. Kurnik. Contudo, os agricultores j\u00e1 se est\u00e3o a adaptar. Na ilha da Sic\u00edlia , as culturas de frutos tropicais como a manga, a papaia e a l\u00edchia j\u00e1 s\u00e3o parte da paisagem, com os agricultores a tirarem partido das condi\u00e7\u00f5es atmosf\u00e9ricas mais quentes. Em Espanha, um inqu\u00e9rito revelou que 64,7% dos agricultores alteraram j\u00e1 a forma como gerem as culturas, especialmente no que respeita ao uso da \u00e1gua. \u0022Est\u00e3o a investir em sistemas de rega mais eficientes, transitando de uma abordagem de irriga\u00e7\u00e3o total para uma de rega apenas em momentos-chave\u0022, afirmou a Dra. Ruiz-Ramos. \u0022Os agricultores espanh\u00f3is est\u00e3o tamb\u00e9m a alterar as datas das colheitas e as variedades cultivadas para adaptarem os ciclos de vida das esp\u00e9cies \u00e0 meteorologia, ajustando tamb\u00e9m a quantidade de fertilizante que utilizam\u0022, acrescentou a Dra. Ramos. A exist\u00eancia de dados clim\u00e1ticos \u00fateis para os agricultores \u00e9 fundamental para a adapta\u00e7\u00e3o da agricultura europeia aos extremos meteorol\u00f3gicos e clim\u00e1ticos. Alguns programas do Servi\u00e7o de Monitoriza\u00e7\u00e3o das Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas Copernicus (C3S) est\u00e3o a adaptar os seus dados e modelos clim\u00e1ticos para ajudarem a agricultura a responder melhor \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. O Servi\u00e7o de Monitoriza\u00e7\u00e3o das Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas Copernicus pretende disponibilizar dados praticamente em tempo real em apoio \u00e0s decis\u00f5es agr\u00edcolas di\u00e1rias e \u00e0 avalia\u00e7\u00e3o das culturas. \u0022A seguran\u00e7a alimentar \u00e9 uma preocupa\u00e7\u00e3o \u00e0 escala global e o efeito do clima na agricultura n\u00e3o pode estar circunscrito apenas a um pa\u00eds ou regi\u00e3o\u0022, explica o diretor do C3S, Carlo Buontempo. \u0022Disponibilizamos dados que podem ser introduzidos em modelos de culturas, bem como uma s\u00e9rie de indicadores relevantes para o setor\u0022, o que inclui dados hist\u00f3ricos e atuais, al\u00e9m de indicadores e estat\u00edsticas sobre o clima, as culturas e a \u00e1gua no futuro. Os exemplos de adapta\u00e7\u00e3o assentes em dados clim\u00e1ticos est\u00e3o a aumentar. Na regi\u00e3o italiana de Castiglione, a consultora GECOsistema utilizou os dados do C3S para apoiar uma autoridade regional dos recursos territoriais e h\u00eddricos no planeamento de estrat\u00e9gias de irriga\u00e7\u00e3o sustent\u00e1veis; recorrendo a cen\u00e1rios clim\u00e1ticos para 2020, 2050 e 2080, foram associadas proje\u00e7\u00f5es da disponibilidade da \u00e1gua ao rendimento de seis culturas, incluindo o kiwi, o p\u00eassego e o milho. \u0022O projeto atual apresenta um enfoque mais global, tendo sido alargado para incluir indicadores para o trigo, o arroz, a soja e o milho\u0022, explicou Ronald Hutjes, professor associado e chefe de projeto na Wageningen University and Research, o parceiro com responsabilidades de lideran\u00e7a no desenvolvimento deste servi\u00e7o global. Na Tosc\u00e2nia, os Agricultural Climate Advisory Services utilizaram as previs\u00f5es clim\u00e1ticas do C3S para efetuar proje\u00e7\u00f5es sobre a forma como uma praga de insetos afetaria as oliveiras em condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas em mudan\u00e7a . Os resultados revelam que invernos mais quentes podem favorecer as pragas e amea\u00e7ar os rendimentos das culturas da azeitona. Estas informa\u00e7\u00f5es podem ajudar os agricultores a ajustarem os seus processos. A adapta\u00e7\u00e3o da produtividade das colheitas \u00e0s altera\u00e7\u00f5es do clima assenta tamb\u00e9m na sele\u00e7\u00e3o de variedades vegetais mais resistentes aos perigos meteorol\u00f3gicos e \u00e0 variabilidade clim\u00e1tica, explicou a Dra. Ramos. O International Maize and Wheat Improvement Center ( CIMMYT ) est\u00e1 a usar os dados do C3S para melhorar as colheitas; analisando a forma como as plantas se desenvolvem em v\u00e1rias condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas, os investigadores centram-se na sele\u00e7\u00e3o de variedades de cereais resistentes \u00e0 seca e ao calor. Um dos principais produtores portugueses de Vinho do Porto est\u00e1 a testar uma aplica\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica destinada a melhorar a resist\u00eancia da vinha \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. A Vineyards Integrated Smart Climate Application (VISCA), uma iniciativa da UE, combina informa\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, agr\u00edcolas e espec\u00edficas de cada agricultor para adaptar o planeamento das culturas \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. O \u0022crop forcing\u0022, uma das t\u00e9cnicas usadas, envolve deslocar o per\u00edodo de matura\u00e7\u00e3o dos meses quentes do ver\u00e3o para meses posteriores mais frescos por meio de poda suplementar, interrompendo o ciclo natural da vinha e for\u00e7ando-a a iniciar a matura\u00e7\u00e3o mais tarde. Levar os dados clim\u00e1ticos aos pequenos agricultores \u00e9 um desafio: um projeto de adapta\u00e7\u00e3o piloto no Qu\u00e9nia constitui um bom exemplo disso. \u0022Traduzimos os dados clim\u00e1ticos para os ajustar \u00e0s necessidades dos agricultores e dos t\u00e9cnicos de extens\u00e3o rural que lhes d\u00e3o apoio, utilizando visualiza\u00e7\u00f5es f\u00e1ceis de compreender\u0022, referiu o Dr. Hasse Goosen, diretor dos Climate Adaptation Services. \u0022Convertemos os dados do C3S em indicadores espec\u00edficos para cada cultura, e desenvolvemos narrativas apoiadas em mapas para explicar como e quando as culturas espec\u00edficas s\u00e3o afetadas ao longo da esta\u00e7\u00e3o\u0022. O projeto disponibiliza tamb\u00e9m uma ferramenta de cria\u00e7\u00e3o de mapas para determinadas vari\u00e1veis com impacto nas culturas. A utiliza\u00e7\u00e3o de dados clim\u00e1ticos \u00e9 tamb\u00e9m fundamental para proteger os agricultores contra os preju\u00edzos dos extremos meteorol\u00f3gicos. \u0022Estamos a utilizar dados para modelar os riscos\u0022, referiu Anexa Mayer-Bosse, gestora de desenvolvimento de neg\u00f3cios na MunichRE, uma seguradora que serve o setor agr\u00edcola. \u0022Com o cada vez maior uso da tecnologia de sat\u00e9lite e da digitaliza\u00e7\u00e3o, h\u00e1 um acr\u00e9scimo cont\u00ednuo de dados dispon\u00edveis que servem de aproxima\u00e7\u00e3o aos riscos da agricultura. Com base nesses conjuntos de dados, os produtos de seguros podem ser adaptados aos par\u00e2metros clim\u00e1ticos\u0022. 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Qual será a nova face da agricultura europeia nos próximos anos?

Qual será a nova face da agricultura europeia nos próximos anos?
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Primeiro, foi a onda de ar frio siberiana a afetar os olivais na Itália. Depois, veio o verão abrasador, com temperaturas extremas e seca. Seguiram-se outubro e novembro, com cheias e chuva excessiva. Segundo a publicação profissional Olive Oil Times, em 2018, a Itália perdeu cerca de 27% da sua produção de azeitona, tendo sido também afetadas outras colheitas e árvores de fruto. Seguiu-se a Espanha, em 2019, com a seca a afetar negativamente 44% da sua produção.

"As alterações da temperatura e da precipitação, assim como os extremos meteorológicos e climáticos, estão já a influenciar os rendimentos das culturas e a produtividade da pecuária na Europa", afirmou Blaž Kurnik, especialista no impacto das alterações climáticas e adaptação da Agência Europeia do Ambiente. "As projeções sugerem um aumento da frequência das condições meteorológicas e acontecimentos climáticos extremos em todo o continente. Prevê-se que o valor da terra arável sofra uma redução superior a 80% até 2100 nalgumas regiões do sul da Europa, o que poderá levar ao abandono de terrenos agrícolas", referiu o Dr. Kurnik.

Pelo menos 22 milhões de agricultores e trabalhadores agrícolas da UE estão expostos a extremos climáticos; 44 milhões de empregos ligados ao setor alimentar podem estar também a sentir o seu impacto. Na origem de um oitavo da produção de cereais, dois terços do vinho e três quartos do azeite de todo o mundo, a Europa está a enfrentar o desafio de adaptar todos os seus sistemas agrícolas às alterações climáticas.

As alterações climáticas determinarão o futuro da agricultura

Em janeiro último, o Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus (C3S) anunciou que 2019 foi o quinto de uma série de anos excecionalmente quentes, e o segundo mais quente alguma vez registado em todo o mundo. Por seu lado, a Europa sofreu o ano mais quente registado, por uma pequena margem. Antes da publicação do relatório do estado do clima europeu de 2019, prevista para abril de 2020, o relatório de 2018 indicava já que as temperaturas na Europa revelavam uma tendência clara de subida nas últimas quatro décadas, tanto em termos das médias anuais como das sazonais. 2018 foi um dos três anos mais quentes registados na Europa (juntamente com 2014 e 2015), com uma anomalia térmica de cerca de +1,2 °C relativamente ao período 1981-2010.

A precipitação no norte da Europa aumentou até 70 mm/década desde os anos 60 do século ado, enquanto no sul diminuiu até 90 mm/década, segundo um estudo da consultora HHFA. As previsões sugerem que as alterações climáticas afetarão negativamente a agricultura em muitas regiões da Europa, explica Kurnik. "Prevê-se que as regiões mais afetadas sejam a mediterrânica e o sudeste europeu, principalmente em virtude da redução da precipitação e do aumento da temperatura, ambos levando a secas mais longas e intensas e à escassez de água", referiu Kurnik.

Projeções das temperaturas médias diárias sazonais no inverno e no verão no final do século (2071-2100) comparadas com o clima atual (1981-2010), tendo como base o cenário R8.5 (fonte: Dosio, 2018)

A chuva intensa que afeta as colheitas e inunda as terras agrícolas pode também sofrer um aumento que pode chegar aos 35% na Europa Central e Oriental, de acordo com um relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA). No entanto, o aumento das temperaturas tem vindo a permitir a expansão das culturas para norte nos últimos 40 anos; as previsões sugerem que esta transição venha a prosseguir, e os rendimentos têm potencial para aumentar.

Cada cultura exige uma combinação específica de condições para atingir o máximo potencial; os respetivos ciclos estão ajustados a acontecimentos específicos em momentos determinados. Por isso, se algo muda, as culturas reagem. As temperaturas mais elevadas levam a que as culturas cresçam mais cedo e se desenvolvam mais rapidamente. Prevê-se que os cereais como o trigo e o milho floresçam e atinjam a maturação uma a três semanas mais cedo, especialmente na Europa Ocidental e Setentrional, refere a AEA.

Contudo, as temperaturas mais altas conducentes ao desenvolvimento mais rápido das culturas não lhes dão o tempo necessário para acumular material biológico suficiente, o que pode reduzir a produtividade; os rendimentos das culturas de milho, trigo e cevada foram já afetados nas regiões centrais e do sul da Europa. No futuro, os rendimentos da cultura do milho em Portugal poderão sofrer uma redução de 20 a cerca de 29 kg/ha/ano entre 2051 e 2080. Por outro lado, alguns estudos advertem para uma possível deterioração da qualidade das uvas para vinho espanholas.

“Os acontecimentos extremos durante a floração são especialmente perigosos para muitas culturas, tais como as dos cereais”, referiu a Dra. Margarita Ruiz-Ramos, especialista em adaptação dos sistemas agrícolas às alterações climáticas do CEIGRAM. "Esse é o caso do calor e das secas no Mediterrâneo, os quais poderão agora também ocorrer ocasionalmente na Europa Central", referiu a Dra. Ruiz-Ramos.

Em 2010, a onda de calor estival na Rússia afetou negativamente 30% da cultura cerealífera; as autoridades russas limitaram os danos proibindo a exportação de trigo, o que fez disparar os preços mundiais do cereal. Na última década, os acontecimentos meteorológicos e climáticos extremos associados às alterações climáticas custaram à infraestrutura agrícola e rural italiana cerca de 14 mil milhões de euros, segundo a Coldiretti, a principal associação italiana de agricultores. A Sardenha, onde as temperaturas médias neste inverno foram 3 °C superiores às normais, e com longas secas alternadas com cheias extensas, arrisca uma importante redução dos rendimentos cerealíferos nos próximos 30 anos, de acordo com o especialista da Meteonetwork Alessandro Gallo. A AEA estima que a maior parte do território de Portugal, a Galiza, o norte da Escandinávia e a Turquia irão enfrentar secas mais rigorosas; se as temperaturas globais aumentarem 2 °C, os crescentes défices aquíferos em Chipre, na Grécia, na Itália e em Espanha aumentarão a procura de água de irrigação entre 4 e 18% até 2100.

"Outros acontecimentos extremos ligados a cheias ou a excesso de água no solo durante a sementeira e a colheita podem também ser problemáticos em determinadas regiões da Europa Central e do Norte", acrescentou Ruiz-Ramos. "No Norte, embora a estação de crescimento se prolongue, o maior rendimento potencial das colheitas pode ser prejudicado por novas pragas e doenças".

A adaptação prossegue com o auxílio de dados climáticos

"A adaptação do setor às alterações climáticas será fundamental; o sucesso do planeamento e da implementação das políticas de adaptação a vários níveis é importante", afirmou o Dr. Kurnik.

Contudo, os agricultores já se estão a adaptar. Na ilha da Sicília, as culturas de frutos tropicais como a manga, a papaia e a líchia já são parte da paisagem, com os agricultores a tirarem partido das condições atmosféricas mais quentes. Em Espanha, um inquérito revelou que 64,7% dos agricultores alteraram já a forma como gerem as culturas, especialmente no que respeita ao uso da água. "Estão a investir em sistemas de rega mais eficientes, transitando de uma abordagem de irrigação total para uma de rega apenas em momentos-chave", afirmou a Dra. Ruiz-Ramos. "Os agricultores espanhóis estão também a alterar as datas das colheitas e as variedades cultivadas para adaptarem os ciclos de vida das espécies à meteorologia, ajustando também a quantidade de fertilizante que utilizam", acrescentou a Dra. Ramos.

Agência Europeia do Ambiente (2019)

A existência de dados climáticos úteis para os agricultores é fundamental para a adaptação da agricultura europeia aos extremos meteorológicos e climáticos. Alguns programas do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus (C3S) estão a adaptar os seus dados e modelos climáticos para ajudarem a agricultura a responder melhor às alterações climáticas. O Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus pretende disponibilizar dados praticamente em tempo real em apoio às decisões agrícolas diárias e à avaliação das culturas. "A segurança alimentar é uma preocupação à escala global e o efeito do clima na agricultura não pode estar circunscrito apenas a um país ou região", explica o diretor do C3S, Carlo Buontempo. "Disponibilizamos dados que podem ser introduzidos em modelos de culturas, bem como uma série de indicadores relevantes para o setor", o que inclui dados históricos e atuais, além de indicadores e estatísticas sobre o clima, as culturas e a água no futuro.

Os exemplos de adaptação assentes em dados climáticos estão a aumentar. Na região italiana de Castiglione, a consultora GECOsistema utilizou os dados do C3S para apoiar uma autoridade regional dos recursos territoriais e hídricos no planeamento de estratégias de irrigação sustentáveis; recorrendo a cenários climáticos para 2020, 2050 e 2080, foram associadas projeções da disponibilidade da água ao rendimento de seis culturas, incluindo o kiwi, o pêssego e o milho.

"O projeto atual apresenta um enfoque mais global, tendo sido alargado para incluir indicadores para o trigo, o arroz, a soja e o milho", explicou Ronald Hutjes, professor associado e chefe de projeto na Wageningen University and Research, o parceiro com responsabilidades de liderança no desenvolvimento deste serviço global.

Na Toscânia, os Agricultural Climate Advisory Services utilizaram as previsões climáticas do C3S para efetuar projeções sobre a forma como uma praga de insetos afetaria as oliveiras em condições climáticas em mudança. Os resultados revelam que invernos mais quentes podem favorecer as pragas e ameaçar os rendimentos das culturas da azeitona. Estas informações podem ajudar os agricultores a ajustarem os seus processos.

A adaptação da produtividade das colheitas às alterações do clima assenta também na seleção de variedades vegetais mais resistentes aos perigos meteorológicos e à variabilidade climática, explicou a Dra. Ramos. O International Maize and Wheat Improvement Center (CIMMYT) está a usar os dados do C3S para melhorar as colheitas; analisando a forma como as plantas se desenvolvem em várias condições meteorológicas, os investigadores centram-se na seleção de variedades de cereais resistentes à seca e ao calor.

Um dos principais produtores portugueses de Vinho do Porto está a testar uma aplicação climática destinada a melhorar a resistência da vinha às alterações climáticas. A Vineyards Integrated Smart Climate Application (VISCA), uma iniciativa da UE, combina informações climáticas, agrícolas e específicas de cada agricultor para adaptar o planeamento das culturas às alterações climáticas. O "crop forcing", uma das técnicas usadas, envolve deslocar o período de maturação dos meses quentes do verão para meses posteriores mais frescos por meio de poda suplementar, interrompendo o ciclo natural da vinha e forçando-a a iniciar a maturação mais tarde.

Levar os dados climáticos aos pequenos agricultores é um desafio: um projeto de adaptação piloto no Quénia constitui um bom exemplo disso. "Traduzimos os dados climáticos para os ajustar às necessidades dos agricultores e dos técnicos de extensão rural que lhes dão apoio, utilizando visualizações fáceis de compreender", referiu o Dr. Hasse Goosen, diretor dos Climate Adaptation Services. "Convertemos os dados do C3S em indicadores específicos para cada cultura, e desenvolvemos narrativas apoiadas em mapas para explicar como e quando as culturas específicas são afetadas ao longo da estação". O projeto disponibiliza também uma ferramenta de criação de mapas para determinadas variáveis com impacto nas culturas.

A utilização de dados climáticos é também fundamental para proteger os agricultores contra os prejuízos dos extremos meteorológicos. "Estamos a utilizar dados para modelar os riscos", referiu Anexa Mayer-Bosse, gestora de desenvolvimento de negócios na MunichRE, uma seguradora que serve o setor agrícola. "Com o cada vez maior uso da tecnologia de satélite e da digitalização, há um acréscimo contínuo de dados disponíveis que servem de aproximação aos riscos da agricultura. Com base nesses conjuntos de dados, os produtos de seguros podem ser adaptados aos parâmetros climáticos".

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