{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/green/2019/09/13/heroinas-no-mar-valentes-em-terra" }, "headline": "Hero\u00ednas no mar, valentes em terra", "description": "Nesta edi\u00e7\u00e3o de \u0022Ocean\u0022 debru\u00e7amo-nos sobre as desigualdades end\u00e9micas do setor das pescas e sobre a forma como as mulheres est\u00e3o a promover gradualmente uma mudan\u00e7a de paradigmas", "articleBody": "As mulheres desempenham um papel crucial no setor da pesca e na aquacultura mas s\u00e3o frequentemente mal remuneradas e o trabalho que desempenham \u00e9 pouco reconhecido. Com escolhas limitadas de carreira e disparidades salariais injustas, muitas mulheres enfrentam dificuldades para fazer um percurso num setor predominantemente masculino. Na Galiza, apesar das barreiras, as coisas parecem come\u00e7ar gradualmente a mudar para as apanhadoras de marisco. \u0022A apanha do marisco foi sempre um trabalho de mulheres. Antigamente era o que as mulheres faziam para levar dinheiro extra para casa e complementar o sal\u00e1rio do marido. Agora \u00e9 como uma empresa\u0022, explicou, em entrevista \u00e0 Euronews, Mar\u00eda Rosa Vil\u00e1n Blanco, presidente da associa\u00e7\u00e3o Mariscadoras, integrada no gr\u00e9mio de pescadores Arcadia. Ao colher am\u00eaijoas e berbig\u00f5es nas margens das praias da Galiza, as apanhadoras de marisco ganham cerca de 1000 euros mensais. No ado, esta atividade nem sequer era considerada um trabalho. Faltavam a estabilidade financeira e os direitos laborais. \u0022Havia pessoas que n\u00e3o tinham seguro. Quando chegava a altura da reforma tinham problemas porque o tempo de descontos n\u00e3o era suficiente para receber o dinheiro\u0022, acrescentou Mar\u00eda Rosa Blanco. Uma atividade em mudan\u00e7a As coisas come\u00e7aram a mudar na d\u00e9cada de 90, quando as organiza\u00e7\u00f5es de apanhadoras de marisco se juntaram aos gr\u00e9mios de pescadores. O reconhecimento como trabalhadoras do setor do marisco trouxe com ele a prote\u00e7\u00e3o legal, seguran\u00e7a social e quotas restritas para gerir stocks. Atualmente, as apanhadoras de am\u00eaijoas defendem os direitos atrav\u00e9s da vigorosa Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Mulheres da Pesca (ANMUPESCA), que representa mais de 30 mil mulheres em Espanha. \u0022Lutamos pelas mesmas regras de reforma dos que trabalham na apanha de marisco em barcos. Pelas doen\u00e7as profissionais, que n\u00e3o s\u00e3o reconhecidas como tal. Para estar nos \u00f3rg\u00e3os de decis\u00e3o e nas comiss\u00f5es onde se discute o nosso trabalho\u0022, explicou Rita M\u00edguez de la Iglesia, presidente da ANMUPESCA. Na Europa e em todo o mundo, muitas mulheres que trabalham no setor pesqueiro permanecem legal e estat\u00edsticamente invis\u00edveis. As que se dedicam ao remendo das redes de pesca no porto de Vigo, trabalham no exterior, sob um solo de bet\u00e3o, enquanto cozem redes por seis euros \u00e0 hora. Ao contribuir para o setor pesqueiro, mas sem ser reconhecidas como parte dele, estas mulheres v\u00eam-lhes ser negados direitos de empregados formais. \u0022N\u00e3o \u00e9 l\u00f3gico que uma pessoa que trabalha num escrit\u00f3rio tenha direito a uma reforma antecipada e n\u00f3s n\u00e3o. N\u00e3o \u00e9 l\u00f3gico. Essas pessoas n\u00e3o est\u00e3o t\u00e3o expostas ao risco. N\u00f3s, por outro lado, temos problemas de salubridade, de calor, de frio, de tudo. Infe\u00e7\u00f5es, problemas posturais, lombares, cervicais e nas m\u00e3os. Temos muitos problemas que n\u00e3o s\u00e3o reconhecidos como tal\u0022, lamenta Manola Bamio, que se dedica a reparar redes de pesca. Estima-se que mais de cem mil mulheres contribuem para o setor das pescas da Uni\u00e3o Europeia. H\u00e1 falta de estat\u00edsticas exatas, mas de acordo com dados dispon\u00edveis, as mulheres representam 13% dos empregados da pesca, um quarto da for\u00e7a de trabalho em aquacultura e mais de metade no processamento de frutos do mar. As tripula\u00e7\u00f5es de navios s\u00e3o quase totalmente compostas por homens. S\u00e3o as respetivas mulheres, irm\u00e3s e filhas que remendam frequentemente as redes, limpam os barcos ou auxiliam com as tarefas istrativas, em particular nos neg\u00f3cios de pequena escala. A FUNDAMAR , Funda\u00e7\u00e3o Galega para a Pesca e Apanha do Marisco, desenvolve v\u00e1rios projetos apoiados pela Uni\u00e3o Europeia para contrariar a invisibilidade das mulheres e promover a igualdade de g\u00e9nero no setor, como explica a diretora Mar\u00eda Caldeiro: \u0022A invisibilidade est\u00e1 associada ao facto de as mulheres terem sempre ocupado determinados lugares pouco valorizados. Era o homem que navegava enquanto a mulher ficava em terra, desempenhando fun\u00e7\u00f5es t\u00e3o necess\u00e1rias como a dos homens, mas vistas como complementares. N\u00e3o eram social nem economicamente reconhecidas.\u0022 No setor do processamento de frutos do mar, as mulheres desempenham frequentemente trabalhos mais masculinos nas f\u00e1bricas detidas e geridas por homens. A conserveira Currimar, no norte da Galiza foi fundada por tr\u00eas mulheres, com algum apoio da FARNET , uma rede comunit\u00e1ria de desenvolvimento local no \u00e2mbito do Fundo Europeu dos Assuntos Mar\u00edtimos e das Pescas (EMFF). Especializada na produ\u00e7\u00e3o de atum de origem sustent\u00e1vel conservado em azeite, a f\u00e1brica de conservas est\u00e1 a crescer, com o lan\u00e7amento de uma nova marca de refei\u00e7\u00f5es prontas. Hist\u00f3rias de sucesso como esta s\u00e3o inspiradoras mas ainda s\u00e3o precisos mais esfor\u00e7os em nome de uma maior visibilidade das mulheres, da redu\u00e7\u00e3o das desigualdades salariais e para superar outras desigualdades e mat\u00e9ria de g\u00e9nero na economia azul. \u0022Penso que o fundamental \u00e9 que o grande p\u00fablico veja como h\u00e1 mulheres que est\u00e3o a apanhar marisco, conduzindo uma lancha e transportando muitos quilos de frutos do mar \u00e0s costas. Como h\u00e1 empresas lideradas e trabalhadas por mulheres. Para que as novas gera\u00e7\u00f5es conhe\u00e7am os testemunhos e se lancem \u00e0 aventura\u0022, sublinha Nieves Medina, cofundadora da conserveira Currimar. ", "dateCreated": "2019-08-14T11:22:42+02:00", "dateModified": "2020-01-20T17:45:21+01:00", "datePublished": "2019-09-13T15:00:55+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F04%2F08%2F98%2F54%2F1440x810_cmsv2_f088274b-f120-5ece-803d-02a1835f4349-4089854.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Nesta edi\u00e7\u00e3o de \u0022Ocean\u0022 debru\u00e7amo-nos sobre as desigualdades end\u00e9micas do setor das pescas e sobre a forma como as mulheres est\u00e3o a promover gradualmente uma mudan\u00e7a de paradigmas", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F04%2F08%2F98%2F54%2F432x243_cmsv2_f088274b-f120-5ece-803d-02a1835f4349-4089854.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Person", "familyName": "Loctier", "givenName": "Denis", "name": "Denis Loctier", "url": "/perfis/136", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@Loctier", "jobTitle": "Journaliste Producer", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Producers Magazine" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9ries" ] }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Heroínas no mar, valentes em terra

Em parceria comthe European Commission
Heroínas no mar, valentes em terra
Direitos de autor 
De Denis Loctier com Pedro Sacadura
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notícia
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Nesta edição de "Ocean" debruçamo-nos sobre as desigualdades endémicas do setor das pescas e sobre a forma como as mulheres estão a promover gradualmente uma mudança de paradigmas

As mulheres desempenham um papel crucial no setor da pesca e na aquacultura mas são frequentemente mal remuneradas e o trabalho que desempenham é pouco reconhecido.

Com escolhas limitadas de carreira e disparidades salariais injustas, muitas mulheres enfrentam dificuldades para fazer um percurso num setor predominantemente masculino. Na Galiza, apesar das barreiras, as coisas parecem começar gradualmente a mudar para as apanhadoras de marisco.

"A apanha do marisco foi sempre um trabalho de mulheres. Antigamente era o que as mulheres faziam para levar dinheiro extra para casa e complementar o salário do marido. Agora é como uma empresa", explicou, em entrevista à Euronews, María Rosa Vilán Blanco, presidente da associação Mariscadoras, integrada no grémio de pescadores Arcadia.

Ao colher amêijoas e berbigões nas margens das praias da Galiza, as apanhadoras de marisco ganham cerca de 1000 euros mensais. No ado, esta atividade nem sequer era considerada um trabalho. Faltavam a estabilidade financeira e os direitos laborais.

"Havia pessoas que não tinham seguro. Quando chegava a altura da reforma tinham problemas porque o tempo de descontos não era suficiente para receber o dinheiro", acrescentou María Rosa Blanco.

Uma atividade em mudança

As coisas começaram a mudar na década de 90, quando as organizações de apanhadoras de marisco se juntaram aos grémios de pescadores.

O reconhecimento como trabalhadoras do setor do marisco trouxe com ele a proteção legal, segurança social e quotas restritas para gerir stocks.

Atualmente, as apanhadoras de amêijoas defendem os direitos através da vigorosa Associação Nacional de Mulheres da Pesca (ANMUPESCA), que representa mais de 30 mil mulheres em Espanha.

"Lutamos pelas mesmas regras de reforma dos que trabalham na apanha de marisco em barcos. Pelas doenças profissionais, que não são reconhecidas como tal. Para estar nos órgãos de decisão e nas comissões onde se discute o nosso trabalho", explicou Rita Míguez de la Iglesia, presidente da ANMUPESCA.

Na Europa e em todo o mundo, muitas mulheres que trabalham no setor pesqueiro permanecem legal e estatísticamente invisíveis.

As que se dedicam ao remendo das redes de pesca no porto de Vigo, trabalham no exterior, sob um solo de betão, enquanto cozem redes por seis euros à hora. Ao contribuir para o setor pesqueiro, mas sem ser reconhecidas como parte dele, estas mulheres vêm-lhes ser negados direitos de empregados formais.

"Não é lógico que uma pessoa que trabalha num escritório tenha direito a uma reforma antecipada e nós não. Não é lógico. Essas pessoas não estão tão expostas ao risco. Nós, por outro lado, temos problemas de salubridade, de calor, de frio, de tudo. Infeções, problemas posturais, lombares, cervicais e nas mãos. Temos muitos problemas que não são reconhecidos como tal", lamenta Manola Bamio, que se dedica a reparar redes de pesca.

Estima-se que mais de cem mil mulheres contribuem para o setor das pescas da União Europeia. Há falta de estatísticas exatas, mas de acordo com dados disponíveis, as mulheres representam 13% dos empregados da pesca, um quarto da força de trabalho em aquacultura e mais de metade no processamento de frutos do mar.

As tripulações de navios são quase totalmente compostas por homens. São as respetivas mulheres, irmãs e filhas que remendam frequentemente as redes, limpam os barcos ou auxiliam com as tarefas istrativas, em particular nos negócios de pequena escala.

A FUNDAMAR, Fundação Galega para a Pesca e Apanha do Marisco, desenvolve vários projetos apoiados pela União Europeia para contrariar a invisibilidade das mulheres e promover a igualdade de género no setor, como explica a diretora María Caldeiro: "A invisibilidade está associada ao facto de as mulheres terem sempre ocupado determinados lugares pouco valorizados. Era o homem que navegava enquanto a mulher ficava em terra, desempenhando funções tão necessárias como a dos homens, mas vistas como complementares. Não eram social nem economicamente reconhecidas."

No setor do processamento de frutos do mar, as mulheres desempenham frequentemente trabalhos mais masculinos nas fábricas detidas e geridas por homens.

A conserveira Currimar, no norte da Galiza foi fundada por três mulheres, com algum apoio da FARNET, uma rede comunitária de desenvolvimento local no âmbito do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (EMFF).

Especializada na produção de atum de origem sustentável conservado em azeite, a fábrica de conservas está a crescer, com o lançamento de uma nova marca de refeições prontas.

Histórias de sucesso como esta são inspiradoras mas ainda são precisos mais esforços em nome de uma maior visibilidade das mulheres, da redução das desigualdades salariais e para superar outras desigualdades e matéria de género na economia azul.

"Penso que o fundamental é que o grande público veja como há mulheres que estão a apanhar marisco, conduzindo uma lancha e transportando muitos quilos de frutos do mar às costas. Como há empresas lideradas e trabalhadas por mulheres. Para que as novas gerações conheçam os testemunhos e se lancem à aventura", sublinha Nieves Medina, cofundadora da conserveira Currimar.

Nome do jornalista • Denis Loctier

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notícia

Notícias relacionadas

Neal Kermode e a energia das marés

Aquacultura, uma alternativa sustentável