{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/cultura/2019/11/19/morreu-jose-mario-branco" }, "headline": "Morreu Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco (1942-2019)", "description": "O cantautor foi uma das figuras mais importantes da m\u00fasica portuguesa na segunda metade do s\u00e9culo XX. Morreu aos 77 anos.", "articleBody": "O cantor, m\u00fasico, compositor e poeta portugu\u00eas Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco morreu aos 77 anos, segundo uma informa\u00e7\u00e3o dada pelo agente do artista \u00e0 ag\u00eancia LUSA. Nascido no Porto, em maio de 1942, Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco \u00e9 considerado um dos mais importantes autores e renovadores da m\u00fasica portuguesa, em particular no per\u00edodo da Revolu\u00e7\u00e3o de abril de 1974 , cujo trabalho se estende tamb\u00e9m ao cinema, ao teatro e \u00e0 a\u00e7\u00e3o cultural. Foi fundador do Grupo de A\u00e7\u00e3o Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a Uni\u00e3o Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produ\u00e7\u00e3o musical para outros artistas, nomeadamente Caman\u00e9, Am\u00e9lia Muge, Samuel e Nathalie. Em 2018, Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco cumpriu meio s\u00e9culo de carreira e lan\u00e7ou um duplo \u00e1lbum com in\u00e9ditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edi\u00e7\u00e3o sucedeu \u00e0 reedi\u00e7\u00e3o, no ano anterior, de sete \u00e1lbuns de originais e um ao vivo, abrangendo um per\u00edodo entre 1971 e 2004. Dos trabalhos mais importantes de Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco, contam-se \u0022Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades\u0022 (1971), \u0022Margem de certa maneira\u0022 (1973) ou \u0022Ser solid\u00e1rio\u0022 (1982). Emblem\u00e1tico \u00e9 tamb\u00e9m o texto cantado intitulado \u0022FMI\u0022. Os tributos de quem inspirou V\u00e1rias figuras das Artes usaram as respetivas contas nas redes sociais para recordar o m\u00fasico, compositor e produtor. Ao longo do dia foram surgindo v\u00e1rias publica\u00e7\u00f5es no Facebook, Instagram e Twitter, algumas apenas com fotografias de Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco ou v\u00eddeos com temas seus, outros acompanhados de textos com hist\u00f3rias envolvendo o autor de m\u00fasicas como \u201cFMI\u201d, \u201cEu vim de longe\u201d ou \u201cInquieta\u00e7\u00e3o\u201d. O contrabaixista Carlos Bica , defendendo que Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco \u201cfoi e continua a ser um dos melhores compositores portugueses de todos os tempos\u201d, refere que guardar\u00e1 \u201ara sempre\u201d, na mem\u00f3ria e no cora\u00e7\u00e3o, \u201ca pessoa excecional que ele foi\u201d. Carlos Bica recorda que foi em crian\u00e7a que ouviu o \u00e1lbum \u201cMudam-se os tempos, mudam-se as vontades\u201d (1971), que \u201cde imediato\u201d o apaixonou e mais tarde considerou \u201cum marco important\u00edssimo na hist\u00f3ria da m\u00fasica portuguesa\u201d. O m\u00fasico conta como em 1981 teve \u201co privil\u00e9gio de conhecer pessoalmente Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco\u201d, que lhe deu \u201ca oportunidade de participar no \u00e1lbum do Carlos do Carmo \u2018Um homem no pa\u00eds\u2019, o primeiro disco de fado que contou com a participa\u00e7\u00e3o de um m\u00fasico contrabaixista, o que nessa altura foi um ato deveras ousado perante a postura conservadora do Fado\u201d. Essa foi apenas a primeira de \u201cmuitas outras mais colabora\u00e7\u00f5es musicais\u201d. O m\u00fasico e compositor Pedro Silva Martins, dos Deolinda , fala no \u201cimenso prazer\u201d que teve de conhecer pessoalmente Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco. \u201cNas conversas que tivemos aprendi muito sobre a M\u00fasica e o seu fundamento, palavras que nunca mais esquecerei\u201d, escreveu sobre o homem a quem chama \u201cmestre\u201d. Parte da carreira de Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco est\u00e1 ligada ao fado, por isso n\u00e3o s\u00e3o de estranhar as v\u00e1rias rea\u00e7\u00f5es de fadistas, como Caman\u00e9 , que agradece ao m\u00fasico \u201or tudo\u201d, Gisela Jo\u00e3o , Katia Guerreiro , que ir\u00e1 fazer do concerto que tem marcado na quinta-feira no Coliseu do Porto \u201cuma homenagem\u201d ao seu \u201cmestrinho\u201d, Ricardo Ribeiro , que fala em \u201cmais uma estrela no c\u00e9u\u201d, ou Aldina Duarte . Cristina Branco partilha que hoje s\u00f3 consegue \u201cestar triste e deixar cair sobre a terra um pouco de m\u00fasica e algumas palavras\u201d. \u201cAos vivos resta-nos continuar. Nas palavras estar\u00e1 sempre a nossa luta\u201d, escreveu. Os Linda Martini lembram que, em 2006, Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco deu-lhes \u201co privil\u00e9gio de poder usar um peda\u00e7o de uma obra maior\u201d num tema da banda, \u201artir para ficar\u201d. \u201cHoje partiu, mas fica para sempre\u201d, escreveram. Por seu lado, Carl\u00e3o recorda que trabalhou com Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco \u201cuma boa temporada em Guimar\u00e3es no espet\u00e1culo de encerramento da Capital Europeia da Cultura 2012\u201d, confidenciando que \u201cfoi uma honra privar com este pensador combativo e homem doce\u201d. \u201artiu hoje, mas vive para sempre na obra que nos deixa\u201d. Ainda no mundo do \u2018hip-hop\u2019, Capicua , Nerve , Virtus , Mundo Segundo e C\u00e1lculo foram alguns dos \u2018rappers\u2019 que usaram as redes sociais para homenagear Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco. \u201cMorreu o Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco, se nunca ouviram ou n\u00e3o conhecem deviam pesquisar e tirar algum do vosso tempo para ouvir\u201d, aconselhou C\u00e1lculo no Twitter, lembrando que \u201cantes do \u2018rap\u2019 a palavra j\u00e1 era uma arma\u201d. Jo\u00e3o Pedro Pais , os Amor Electro , os Anaquim , os Lavoisier , El\u00edsio Donas (Ornatos Violeta) e o pianista Tiago Sousa tamb\u00e9m recorreram \u00e0s redes sociais para homenagearem o \u201chomem e ex\u00edmio cantautor\u201d, \u201cgrande refer\u00eancia e inspira\u00e7\u00e3o\u201d, \u201cg\u00e9nio compositor, instrumentista e produtor de m\u00fasica\u201d que foi Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco. Outros tributos N\u00e3o foi s\u00f3 no mundo da m\u00fasica que Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco teve impacto. O m\u00e1gico H\u00e9lder Guimar\u00e3es , numa mensagem escrita em ingl\u00eas, relata aos seus seguidores que hoje \u201cmorreu uma grande parte da Hist\u00f3ria portuguesa\u201d. \u201cJos\u00e9 M\u00e1rio Branco foi respons\u00e1vel por muitas das can\u00e7\u00f5es que convidaram a sociedade a pensar e a agir, uma gera\u00e7\u00e3o que levou Portugal a libertar-se de uma ditadura e mostrou-nos que quando h\u00e1 vontade h\u00e1 caminho\u201d, escreveu. O ator Albano Jer\u00f3nimo partilhou parte da letra do tema \u201cincontorn\u00e1vel\u201d \u201cFMI\u201d. \u201orra M\u00e1rio, que maravilha e que tremenda pena. Fica a inquieta\u00e7\u00e3o, sempre! Obrigado\u201d, escreveu. O humorista Bruno Nogueira fala em Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco como algu\u00e9m que \u201cfoi e ser\u00e1 sempre m\u00fasculo fundamental\u201d da m\u00fasica portuguesa e o escritor Valter Hugo M\u00e3e considera que, com a morte do m\u00fasico, \u201ctoda a m\u00fasica portuguesa empalidece\u201d, visto que morreu um \u201cg\u00e9nio\u201d. O ilustrador e \u2018cartoonista\u2019 Andr\u00e9 Carrilho partilhou a \u00fanica caricatura que fez do m\u00fasico, referindo que \u201cum dos pontos altos\u201d da sua carreira foi \u201articipar como \u2018video jack\u2019 na homenagem \u00e0 m\u00fasica \u2018FMI\u2019, h\u00e1 uns anos no Musicbox\u201d, em Lisboa. \u201cO Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco estava l\u00e1 e pude testemunhar a express\u00e3o de surpresa e contentamento em ver pessoas mais jovens a ouvirem a m\u00fasica e a identificarem-se com ela, a sentirem afeto pela obra e pelo artista. \u00c9 com essa express\u00e3o que o vou recordar\u201d, partilhou. Entre as muitas homenagens e testemunhos deixados por figuras e institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas nas redes sociais contam-se ainda os do escritor Francisco Jos\u00e9 Viegas , do argumentista Filipe Homem Fonseca , do jornalista Carlos Vaz Marques , do psiquiatra J\u00falio Machado Vaz , do Festival Iminente , do Museu do Fado , da Dire\u00e7\u00e3o-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLAB) , do fotojornalista Jo\u00e3o Pina , do artista Alexandre Farto (Vhils) , do ator Nuno Lopes e do humorista Nuno Markl . O \u00faltimo projeto de JMB Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco estava atualmente a colaborar num projeto de investiga\u00e7\u00e3o com o Instituto de Etnomusicologia (INET) sobre os processos de produ\u00e7\u00e3o fonogr\u00e1fica de toda a carreira. \u0022Era um trabalho que est\u00e1vamos a desenvolver com ele. T\u00ednhamos uma s\u00e9rie de encontros aqui na faculdade [Universidade Nova de Lisboa], onde \u00edamos ouvir os discos dele e convers\u00e1vamos sobre tudo. (...) Ele cedeu-nos um conjunto de fitas que estavam guardadas num s\u00f3t\u00e3o h\u00e1 bastantes anos, e n\u00f3s fizemos o tratamento, a digitaliza\u00e7\u00e3o desse material fonogr\u00e1fico\u0022, disse \u00e0 ag\u00eancia Lusa o investigador Hugo Castro. O projeto estava a ser desenvolvido desde finais de 2016 pelos investigadores Hugo Castro, Ricardo Andrade e Ant\u00f3nio Tilly, do INET, n\u00e3o tem ainda prazo de conclus\u00e3o e tem como objetivo a publica\u00e7\u00e3o de um livro sobre esses processos de produ\u00e7\u00e3o fonogr\u00e1fica de Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco. O material de investiga\u00e7\u00e3o \u00e9, n\u00e3o s\u00f3, do arquivo de composi\u00e7\u00f5es de Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco, mas tamb\u00e9m de m\u00fasicos com quem ele trabalhou enquanto produtor e arranjador, como, por exemplo, Caman\u00e9 e Jos\u00e9 Afonso. Questionado pela Lusa sobre a exist\u00eancia de material \u00e1udio in\u00e9dito nesses arquivos, Hugo Castro afirmou que os registos cont\u00eam \u0022alguns processos da grava\u00e7\u00e3o do disco que n\u00e3o saem no fonograma final. Do Jos\u00e9 Afonso em particular n\u00e3o existe\u0022. \u0022Em rela\u00e7\u00e3o ao 'Cantigas do Maio' [\u00e1lbum de Jos\u00e9 Afonso de 1971] n\u00e3o, mas em rela\u00e7\u00e3o a outros materiais, sim. Havia coisas em que est\u00e1vamos a trabalhar com ele e a pensar numa forma de isso ficar dispon\u00edvel ao p\u00fablico\u0022, disse. Hugo Castro explicou ainda: \u0022Estamos a falar de can\u00e7\u00f5es, vers\u00f5es para can\u00e7\u00f5es, trabalhos de grava\u00e7\u00f5es em est\u00fadio no qual estavam a ser discutidos os arranjos das can\u00e7\u00f5es, ou can\u00e7\u00f5es com arranjos diferentes. Esse material estava em fitas magn\u00e9ticas e em cassetes, que ele nos cedeu para digitalizar\u0022. Algum do material de arquivo digitalizado neste processo j\u00e1 foi publicado por Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco em 2018, num duplo \u00e1lbum com in\u00e9ditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. Na altura, Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco explicou \u00e0 ag\u00eancia Lusa que a escolha de temas para esse duplo \u00e1lbum era variada e diversa. \u0022Eu acho que, de facto, o resultado final \u00e9 uma prova de uma certa polival\u00eancia da minha parte, mas houve crit\u00e9rios, apesar de tudo, porque era muito material e teve que se fazer uma sele\u00e7\u00e3o\u0022, afirmou. Entre as novidades inclu\u00eddas nesse \u00e1lbum est\u00e3o, por exemplo, a m\u00fasica \u0022Fim de Festa\u0022, inclu\u00edda num EP de marchas da Comuna-Cooparte, \u0022Quantos \u00e9 que n\u00f3s somos\u0022, feito para um disco de homenagem a Otelo Saraiva de Carvalho, e \u0022Le Proscrit de 1871\u0022, retirado de um EP gravado com a cooperativa art\u00edstica sa Groupe Organon, nos anos 1960, em Paris. Sobre o projeto, Hugo Castro explicou que os investigadores estavam atualmente na fase de audi\u00e7\u00e3o dos discos dele, dos de artistas com quem colaborou e produziu, do material digitalizado e tamb\u00e9m de grava\u00e7\u00e3o de entrevistas e conversas, nas visitas regulares que o m\u00fasico fazia ao instituto. \u0022H\u00e1 duas semanas estivemos a ouvir algum material que trabalhou com Caman\u00e9, por exemplo, e t\u00ednhamos uma nova sess\u00e3o para ser marcada sobre os discos do Carlos do Carmo\u0022, contou Hugo Castro. O investigador elogiou a total abertura e sintonia de Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco com o projeto e lamenta a perda de algu\u00e9m que era \u0022um elemento da equipa\u0022. \u0022Mas o nosso trabalho como investigadores pode continuar. N\u00e3o vai terminar por aqui\u0022, disse. Este trabalho de investiga\u00e7\u00e3o est\u00e1 a ser feito em paralelo ao que decorreu no Centro de Estudos de Sociologia e Est\u00e9tica Musical (CESEM), tamb\u00e9m da Universidade Nova de Lisboa, e que permitiu, em 2018, a disponibiliza\u00e7\u00e3o 'online' de quase todo o arquivo documental de Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco. \u0022\u00c9 um reposit\u00f3rio de informa\u00e7\u00e3o muito importante, porque ilustra a trajet\u00f3ria de um cantautor com muito peso na m\u00fasica portuguesa, e documenta a rede de rela\u00e7\u00f5es art\u00edsticas, como a m\u00fasica, o teatro, a interven\u00e7\u00e3o\u0022, afirmou na altura \u00e0 ag\u00eancia Lusa o investigador Manuel Pedro Ferreira, que preside ao CESEM, da Universidade Nova de Lisboa. O trabalho foi feito em molde semelhantes ao do INET, com digitaliza\u00e7\u00e3o de caixas de documenta\u00e7\u00e3o do m\u00fasico, como partituras, cartas, letras de can\u00e7\u00f5es, alinhamentos de espet\u00e1culos, fotografias, material de trabalho, maquetas. \u0022Foi-nos emprestando o material, faz\u00edamos a limpeza, o tratamento, a digitaliza\u00e7\u00e3o e devolv\u00edamos. Foi um processo lento\u0022, recordou o investigador. Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco, que morreu aos 77 anos, \u00e9 um dos mais importantes autores da m\u00fasica portuguesa e deixa um legado de 50 anos de m\u00fasica e de inquieta\u00e7\u00e3o, interventiva e militante. Nascido a 25 de maio de 1942, no Porto, Jos\u00e9 M\u00e1rio Branco foi um renovador da m\u00fasica portuguesa, em particular a partir dos anos imediatamente anteriores \u00e0 Revolu\u00e7\u00e3o de Abril de 1974, e cujo trabalho se estendeu tamb\u00e9m ao cinema, ao teatro e \u00e0 a\u00e7\u00e3o cultural. ", "dateCreated": "2019-11-19T11:39:20+01:00", "dateModified": "2019-11-19T20:56:13+01:00", "datePublished": "2019-11-19T19:40:37+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F04%2F30%2F91%2F56%2F1440x810_cmsv2_f6f8a5a6-d552-5200-b5a7-49a8bf31db9c-4309156.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "O cantautor foi uma das figuras mais importantes da m\u00fasica portuguesa na segunda metade do s\u00e9culo XX. Morreu aos 77 anos.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F04%2F30%2F91%2F56%2F432x243_cmsv2_f6f8a5a6-d552-5200-b5a7-49a8bf31db9c-4309156.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "JOS\u00c9 SENA GOUL\u00c3O", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "As not\u00edcias da Cultura" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Morreu José Mário Branco (1942-2019)

Morreu José Mário Branco (1942-2019)
Direitos de autor JOSÉ SENA GOULÃO/LUSAJOSÉ SENA GOULÃO
Direitos de autor JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
De LUSA
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

O cantautor foi uma das figuras mais importantes da música portuguesa na segunda metade do século XX. Morreu aos 77 anos.

PUBLICIDADE

O cantor, músico, compositor e poeta português José Mário Branco morreu aos 77 anos, segundo uma informação dada pelo agente do artista à agência LUSA.

Marco Lemos/ Euronews
O registo fonográfico de "FMI", de JMBMarco Lemos/ Euronews

Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período da Revolução de abril de 1974, cujo trabalho se estende também ao cinema, ao teatro e à ação cultural.

Foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge, Samuel e Nathalie.

Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira e lançou um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.

A edição sucedeu à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, abrangendo um período entre 1971 e 2004.

Dos trabalhos mais importantes de José Mário Branco, contam-se "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (1971), "Margem de certa maneira" (1973) ou "Ser solidário" (1982). Emblemático é também o texto cantado intitulado "FMI".

Os tributos de quem inspirou

Várias figuras das Artes usaram as respetivas contas nas redes sociais para recordar o músico, compositor e produtor.

Ao longo do dia foram surgindo várias publicações no Facebook, Instagram e Twitter, algumas apenas com fotografias de José Mário Branco ou vídeos com temas seus, outros acompanhados de textos com histórias envolvendo o autor de músicas como “FMI”, “Eu vim de longe” ou “Inquietação”.

O contrabaixista Carlos Bica, defendendo que José Mário Branco “foi e continua a ser um dos melhores compositores portugueses de todos os tempos”, refere que guardará “para sempre”, na memória e no coração, “a pessoa excecional que ele foi”.

Eu era ainda uma criança quando o vizinho da casa dos meus pais me convidou a ir a sua casa para ouvir o álbum „Mudam-se...

Publiée par Carlos Bica sur Mardi 19 novembre 2019

Carlos Bica recorda que foi em criança que ouviu o álbum “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” (1971), que “de imediato” o apaixonou e mais tarde considerou “um marco importantíssimo na história da música portuguesa”.

O músico conta como em 1981 teve “o privilégio de conhecer pessoalmente José Mário Branco”, que lhe deu “a oportunidade de participar no álbum do Carlos do Carmo ‘Um homem no país’, o primeiro disco de fado que contou com a participação de um músico contrabaixista, o que nessa altura foi um ato deveras ousado perante a postura conservadora do Fado”. Essa foi apenas a primeira de “muitas outras mais colaborações musicais”.

Obrigado por tudo José Mário

Publiée par Camané - Página oficial sur Mardi 19 novembre 2019

O músico e compositor Pedro Silva Martins, dos Deolinda, fala no “imenso prazer” que teve de conhecer pessoalmente José Mário Branco. “Nas conversas que tivemos aprendi muito sobre a Música e o seu fundamento, palavras que nunca mais esquecerei”, escreveu sobre o homem a quem chama “mestre”.

Parte da carreira de José Mário Branco está ligada ao fado, por isso não são de estranhar as várias reações de fadistas, como Camané, que agradece ao músico “por tudo”, Gisela João, Katia Guerreiro, que irá fazer do concerto que tem marcado na quinta-feira no Coliseu do Porto “uma homenagem” ao seu “mestrinho”, Ricardo Ribeiro, que fala em “mais uma estrela no céu”, ou Aldina Duarte.

Cristina Branco partilha que hoje só consegue “estar triste e deixar cair sobre a terra um pouco de música e algumas palavras”. “Aos vivos resta-nos continuar. Nas palavras estará sempre a nossa luta”, escreveu.

Os Linda Martini lembram que, em 2006, José Mário Branco deu-lhes “o privilégio de poder usar um pedaço de uma obra maior” num tema da banda, “Partir para ficar”. “Hoje partiu, mas fica para sempre”, escreveram.

Por seu lado, Carlão recorda que trabalhou com José Mário Branco “uma boa temporada em Guimarães no espetáculo de encerramento da Capital Europeia da Cultura 2012”, confidenciando que “foi uma honra privar com este pensador combativo e homem doce”. “Partiu hoje, mas vive para sempre na obra que nos deixa”.

Ainda no mundo do ‘hip-hop’, Capicua, Nerve, Virtus, Mundo Segundo e Cálculo foram alguns dos ‘rappers’ que usaram as redes sociais para homenagear José Mário Branco. “Morreu o José Mário Branco, se nunca ouviram ou não conhecem deviam pesquisar e tirar algum do vosso tempo para ouvir”, aconselhou Cálculo no Twitter, lembrando que “antes do ‘rap’ a palavra já era uma arma”.

João Pedro Pais, os Amor Electro, os Anaquim, os Lavoisier, Elísio Donas (Ornatos Violeta) e o pianista Tiago Sousa também recorreram às redes sociais para homenagearem o “homem e exímio cantautor”, “grande referência e inspiração”, “génio compositor, instrumentista e produtor de música” que foi José Mário Branco.

Outros tributos

Não foi só no mundo da música que José Mário Branco teve impacto.

Today, a big part of Portuguese history died. José Mário Branco was responsible for many of the songs that invited...

Publiée par Helder Guimaraes sur Mardi 19 novembre 2019

O mágico Hélder Guimarães, numa mensagem escrita em inglês, relata aos seus seguidores que hoje “morreu uma grande parte da História portuguesa”.

“José Mário Branco foi responsável por muitas das canções que convidaram a sociedade a pensar e a agir, uma geração que levou Portugal a libertar-se de uma ditadura e mostrou-nos que quando há vontade há caminho”, escreveu.

O ator Albano Jerónimo partilhou parte da letra do tema “incontornável” “FMI”. “Porra Mário, que maravilha e que tremenda pena. Fica a inquietação, sempre! Obrigado”, escreveu.

O humorista Bruno Nogueira fala em José Mário Branco como alguém que “foi e será sempre músculo fundamental” da música portuguesa e o escritor Valter Hugo Mãe considera que, com a morte do músico, “toda a música portuguesa empalidece”, visto que morreu um “génio”.

O ilustrador e ‘cartoonista’ André Carrilho partilhou a única caricatura que fez do músico, referindo que “um dos pontos altos” da sua carreira foi “participar como ‘video jack’ na homenagem à música ‘FMI’, há uns anos no Musicbox”, em Lisboa.

Publiée par Vhils sur Mardi 19 novembre 2019

“O José Mário Branco estava lá e pude testemunhar a expressão de surpresa e contentamento em ver pessoas mais jovens a ouvirem a música e a identificarem-se com ela, a sentirem afeto pela obra e pelo artista. É com essa expressão que o vou recordar”, partilhou.

Entre as muitas homenagens e testemunhos deixados por figuras e instituições públicas nas redes sociais contam-se ainda os do escritor Francisco José Viegas, do argumentista Filipe Homem Fonseca, do jornalista Carlos Vaz Marques, do psiquiatra Júlio Machado Vaz, do Festival Iminente, do Museu do Fado, da Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLAB), do fotojornalista João Pina, do artista Alexandre Farto (Vhils), do ator Nuno Lopes e do humorista Nuno Markl.

O último projeto de JMB

José Mário Branco estava atualmente a colaborar num projeto de investigação com o Instituto de Etnomusicologia (INET) sobre os processos de produção fonográfica de toda a carreira.

"Era um trabalho que estávamos a desenvolver com ele. Tínhamos uma série de encontros aqui na faculdade [Universidade Nova de Lisboa], onde íamos ouvir os discos dele e conversávamos sobre tudo. (...) Ele cedeu-nos um conjunto de fitas que estavam guardadas num sótão há bastantes anos, e nós fizemos o tratamento, a digitalização desse material fonográfico", disse à agência Lusa o investigador Hugo Castro.

O projeto estava a ser desenvolvido desde finais de 2016 pelos investigadores Hugo Castro, Ricardo Andrade e António Tilly, do INET, não tem ainda prazo de conclusão e tem como objetivo a publicação de um livro sobre esses processos de produção fonográfica de José Mário Branco.

O material de investigação é, não só, do arquivo de composições de José Mário Branco, mas também de músicos com quem ele trabalhou enquanto produtor e arranjador, como, por exemplo, Camané e José Afonso.

Questionado pela Lusa sobre a existência de material áudio inédito nesses arquivos, Hugo Castro afirmou que os registos contêm "alguns processos da gravação do disco que não saem no fonograma final. Do José Afonso em particular não existe".

"Em relação ao 'Cantigas do Maio' [álbum de José Afonso de 1971] não, mas em relação a outros materiais, sim. Havia coisas em que estávamos a trabalhar com ele e a pensar numa forma de isso ficar disponível ao público", disse.

Hugo Castro explicou ainda: "Estamos a falar de canções, versões para canções, trabalhos de gravações em estúdio no qual estavam a ser discutidos os arranjos das canções, ou canções com arranjos diferentes. Esse material estava em fitas magnéticas e em cassetes, que ele nos cedeu para digitalizar".

Algum do material de arquivo digitalizado neste processo já foi publicado por José Mário Branco em 2018, num duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.

Na altura, José Mário Branco explicou à agência Lusa que a escolha de temas para esse duplo álbum era variada e diversa.

"Eu acho que, de facto, o resultado final é uma prova de uma certa polivalência da minha parte, mas houve critérios, apesar de tudo, porque era muito material e teve que se fazer uma seleção", afirmou.

Entre as novidades incluídas nesse álbum estão, por exemplo, a música "Fim de Festa", incluída num EP de marchas da Comuna-Cooparte, "Quantos é que nós somos", feito para um disco de homenagem a Otelo Saraiva de Carvalho, e "Le Proscrit de 1871", retirado de um EP gravado com a cooperativa artística sa Groupe Organon, nos anos 1960, em Paris.

Sobre o projeto, Hugo Castro explicou que os investigadores estavam atualmente na fase de audição dos discos dele, dos de artistas com quem colaborou e produziu, do material digitalizado e também de gravação de entrevistas e conversas, nas visitas regulares que o músico fazia ao instituto.

"Há duas semanas estivemos a ouvir algum material que trabalhou com Camané, por exemplo, e tínhamos uma nova sessão para ser marcada sobre os discos do Carlos do Carmo", contou Hugo Castro.

O investigador elogiou a total abertura e sintonia de José Mário Branco com o projeto e lamenta a perda de alguém que era "um elemento da equipa".

"Mas o nosso trabalho como investigadores pode continuar. Não vai terminar por aqui", disse.

Este trabalho de investigação está a ser feito em paralelo ao que decorreu no Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM), também da Universidade Nova de Lisboa, e que permitiu, em 2018, a disponibilização 'online' de quase todo o arquivo documental de José Mário Branco.

"É um repositório de informação muito importante, porque ilustra a trajetória de um cantautor com muito peso na música portuguesa, e documenta a rede de relações artísticas, como a música, o teatro, a intervenção", afirmou na altura à agência Lusa o investigador Manuel Pedro Ferreira, que preside ao CESEM, da Universidade Nova de Lisboa.

O trabalho foi feito em molde semelhantes ao do INET, com digitalização de caixas de documentação do músico, como partituras, cartas, letras de canções, alinhamentos de espetáculos, fotografias, material de trabalho, maquetas.

"Foi-nos emprestando o material, fazíamos a limpeza, o tratamento, a digitalização e devolvíamos. Foi um processo lento", recordou o investigador.

José Mário Branco, que morreu aos 77 anos, é um dos mais importantes autores da música portuguesa e deixa um legado de 50 anos de música e de inquietação, interventiva e militante.

Nascido a 25 de maio de 1942, no Porto, José Mário Branco foi um renovador da música portuguesa, em particular a partir dos anos imediatamente anteriores à Revolução de Abril de 1974, e cujo trabalho se estendeu também ao cinema, ao teatro e à ação cultural.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Morreu Freitas do Amaral

Cerca de 30.000 pessoas no sul da Polónia ficam sem eletricidade após fortes tempestades

Ataques em grande escala da Rússia a cidades ucranianas deixam rasto de destruição