{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/cultura/2012/06/01/a-juventude-de-manoel-oliveira" }, "headline": "A eterna juventude de Manoel de Oliveira", "description": "A eterna juventude de Manoel de Oliveira", "articleBody": "Gera\u00e7\u00e3o \u00cdpsilon esteve \u00e0 conversa com Manoel de Oliveira. Aos 103 anos, o realizador portugu\u00eas continua a fazer filmes e a reflectir sobre o mundo, com serenidade e muito humor. Oliveira \u00e9 o mais velho cineasta do mundo em atividade. Uma boa raz\u00e3o para tentar descobrir os segredos de tanta juventude!A longevidade de Manoel Oliveira talvez esteja ligada \u00e0 forma como encara a vida e (a morte).\u201cQuer queiramos quer n\u00e3o, ela (a morte) chega um dia, embora geralmente as pessoas n\u00e3o tenham pressa e eu tamb\u00e9m nunca fui apressado na minha vida, talvez por isso tenha chegado a esta idade\u201d, afirmou o realizador portuense.Por outras palavras, n\u00e3o corra, n\u00e3o vale a pena!Gera\u00e7\u00e3o Ips\u00edlon recolheu algumas curiosidades sobre o autor de \u201cAniki Bob\u00f3\u201d:o cineasta portugu\u00eas tem um olho azul e outro castanho (o que talvez ajude a compreender a forma peculiar como olha para o mundo;)\u00c9 o \u00fanico realizador cuja carreira vai do cinema mudo \u00e0 era digitalNa juventude, Oliveira foi campe\u00e3o nacional de salto \u00e0 vara e praticou automobilismo (o atletismo deu-lhe \u201cendurance\u201d)Durante a ditadura de Salazar, o realizador portugu\u00eas ou dez dias na cadeia por causa de um di\u00e1logo.ENTREVISTA:euronews: Como \u00e9 trabalhar com jovens no cinema?Manoel Oliveira: \u201c\u00c9 trabalhar! Sabe, a natureza deu fome ao homem e esse acontecimento da fome \u00e9 que obriga a trabalhar, sen\u00e3o ele n\u00e3o fazia nada. Toda a gente tem fome em qualquer idade. Portanto, a\u00ed, o velho n\u00e3o se distingue do novo porque ambos t\u00eam fome\u201d.euronews: O Manoel viu o cinema nascer. E viu o cinema crescer e mudar. O cinema hoje \u00e9 velho?Manoel Oliveira: \u201cN\u00e3o! \u00c9 mais novo do que nunca. O cinema \u00e9 uma s\u00edntese de todas as artes. Engloba-as todas. Tal qual a vida. 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Se n\u00e3o estiver aqui ningu\u00e9m, j\u00e1 n\u00e3o filma.O presente cont\u00e9m toda a sabedoria que vem do ado. Est\u00e1 guardada no ado. Quanto ao futuro, n\u00e3o se sabe nada.No romance \u201cA guerra e a paz\u201d do Tolstoi, h\u00e1 um nobre ferido a morrer na sua cama e est\u00e1 preocupado em saber o que \u00e9 a morte. E nisto, olha em volta e d\u00e1 com uma porta e diz \u2018ah, \u00e9 uma porta\u2019! (risos). Bom, \u00e9 uma porta onde ningu\u00e9m quer entrar. Quer dizer, alguns for\u00e7am a entrada\u2026Ningu\u00e9m nasceu por vontade pr\u00f3pria e por essa raz\u00e3o quem n\u00e3o estiver contente pode se matar, escusa de continuar a viver.PARTE II \u2013 O CINEMA EUROPEUeuronews: Existe um cinema europeu?Manoel Oliveira: \u201cO Fernando Pessoa dizia que os descobrimentos s\u00e3o portugueses. Mesmo os que foram feitos por estrangeiros, porque o sistema \u00e9 portugu\u00eas. Agora, ando isso para o cinema, \u00e9 a mesma coisa. O cinema \u00e9 franc\u00eas. Mesmo aqueles que fazem filmes fora da Fran\u00e7a. mas sistema \u00e9 franc\u00eas. Ele nasceu com tudo o que era preciso quando nasceu\u201d.O Lumi\u00e8re quando fez o primeiro filme, \u201cLa Sortie de l\u2019usine Lumi\u00e8re \u00e0 Lyon\u201d criou o realismo cinematogr\u00e1fico e logo a seguir veio o M\u00e9li\u00e8s e fez a fantasia cinematogr\u00e1fica, e logo a seguir, logo, logo, veio o Max Linder e fez o cinema c\u00f3mico. De maneira que o cinema, n\u00e3o h\u00e1 outra coisa, est\u00e1 tudo no primeiro dia em que foi inventado. A vida nossa \u00e9 sempre a mesma, comemos para viver, vivemos para comer e depois morrermos. \u00e9 o programa.euronews: No seu programa identifica-se com esses tr\u00eas momentos do cinema, a parte realista, fantasista e c\u00f3mica?Manoel Oliveira: \u201cSabe o Coppola a certa altura faliu e foi para uma quinta que tinha e fez uns vinhos durante dez anos e ganhou uma fortuna fort\u00edssima com esses vinhos que ele l\u00e1 fez. De maneira que quando retomou o cinema com a nova juventude, ele disse que a televis\u00e3o contava hist\u00f3rias de uma forma muito apressada, a correr, a correr, e pior do que isso Hollywood copiou a mesma coisa, sem dar sequer tempo para pensar. A coisa mais rica que o Homem tem \u00e9 o pensamento. foram precisos milhares e milhares de anos para que o homem chegasse \u00e0 intelig\u00eancia e ao pensamento. o pensamento \u00e9 a coisa mais refinada que o homem tem em si pr\u00f3prio\u201d. PARTE III \u2013 O NOVO FILMEeuronews: Podes-nos falar do novo filme?Manoel Oliveira: \u201cO Gebo e a sombra\u201d. Sombra \u00e9 o contr\u00e1rio do gebo. Sabe porque fiz o filme? Fiz o filme porque uma pessoa me encontrou e disse que gostava muito dos meus filmes e perguntou-me porque n\u00e3o faz um filme sobre a pobreza, sobre os pobres. Eu disse que n\u00e3o era f\u00e1cil, se fosse um document\u00e1rio seria mais f\u00e1cil fazer um document\u00e1rio,vai-se buscar um caso ou outro caso.mas depois lembrei-me do Raul Brand\u00e3o. Aqui est\u00e1 um homem pobre que morre pobre mas digno, com toda a sua dignidade, \u00e9 o que \u00e9 o filme. De maneira que \u00e9 um filme que vale tanto hoje como ontem.euronews: \u00c9 um filme jovem?Manoel Oliveira: \u201cTodos os filmes s\u00e3o jovens quando nascem, depois \u00e9 que envelhecem, \u00e9 como n\u00f3s\u201d.euronews: \u201cO filme foi feito relativamente rapidamente. H\u00e1 pouco dizia que o tempo era importante para si. Mas tem trabalhado a um ritmo sustentado. E mais f\u00e1cil para si fazer filmes agora, v\u00ea as coisas de forma mais clara?Manoel Oliveira: \u201cTudo nasceu no primeiro dia. e a pr\u00f3pria vida tamb\u00e9m nasceu no primeiro dia. o que modifica a vida \u00e9 a ci\u00eancia, o conhecimento.Mas no final, nasce-se, vive-se e morre.se. daqui n\u00e3o sa\u00edmos, de onde vimos, de onde viemos, \u00e9 a pergunta , para onde vamos n\u00f3s no fim disto? \u00e9 claro que para os religiosos, como eu sou, h\u00e1 esperan\u00e7a do c\u00e9u. O papa Jo\u00e3o Paulo Segundo disse \u201adre nosso que estais no c\u00e9u. mas como o c\u00e9u tem sido muito explorado com as balas que p\u00f5em l\u00e1 vigiam o que se a ele disse que o c\u00e9u era uma palavra simb\u00f3lica. Na vida tudo \u00e9 simb\u00f3lico, n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 o c\u00e9u.euronews: \u201cEste \u00faltimo filme, baseado no Raul Brand\u00e3o, tamb\u00e9m \u00e9 um s\u00edmbolo da \u00e9poca em que vivemos?Manoel Oliveira: N\u00e3o, porque o filme faz uma cr\u00edtica muito severa \u00e0 situa\u00e7\u00e3o. E o facto de eu o representar no tempo em que ele foi escrito, no principio do s\u00e9culo XX, n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o agressivo como se fosse representado no tempo de hoje. O filme n\u00e3o \u00e9 agressivo, agora p\u00f5em os pontos nos is\u201d.euronews: O ado e o presente confundem-se?Manoel Oliveira: \u201cO homem do ado n\u00e3o \u00e9 diferente do homem de hoje. O homem tem as mesma caracter\u00edsticas. Um grande fil\u00f3sofo espanhol Garcia e Ortega dizia \u201co Homem e a sua circunst\u00e2ncia\u201d. A circunst\u00e2ncia \u00e9 que lhe determina as situa\u00e7\u00f5es. 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A eterna juventude de Manoel de Oliveira

A eterna juventude de Manoel de Oliveira
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Geração Ípsilon esteve à conversa com Manoel de Oliveira. Aos 103 anos, o realizador português continua a fazer filmes e a reflectir sobre o mundo, com serenidade e muito humor. Oliveira é o mais velho cineasta do mundo em atividade. Uma boa razão para tentar descobrir os segredos de tanta juventude!

A longevidade de Manoel Oliveira talvez esteja ligada à forma como encara a vida e (a morte).

“Quer queiramos quer não, ela (a morte) chega um dia, embora geralmente as pessoas não tenham pressa e eu também nunca fui apressado na minha vida, talvez por isso tenha chegado a esta idade”, afirmou o realizador portuense.

Por outras palavras, não corra, não vale a pena!

Geração Ipsílon recolheu algumas curiosidades sobre o autor de “Aniki Bobó”:

  • o cineasta português tem um olho azul e outro castanho (o que talvez ajude a compreender a forma peculiar como olha para o mundo;)

  • É o único realizador cuja carreira vai do cinema mudo à era digital

  • Na juventude, Oliveira foi campeão nacional de salto à vara e praticou automobilismo (o atletismo deu-lhe “endurance”)

  • Durante a ditadura de Salazar, o realizador português ou dez dias na cadeia por causa de um diálogo.

ENTREVISTA:

euronews: Como é trabalhar com jovens no cinema?

Manoel Oliveira: “É trabalhar! Sabe, a natureza deu fome ao homem e esse acontecimento da fome é que obriga a trabalhar, senão ele não fazia nada. Toda a gente tem fome em qualquer idade. Portanto, aí, o velho não se distingue do novo porque ambos têm fome”.

euronews: O Manoel viu o cinema nascer e viu o cinema crescer e mudar. O cinema hoje é velho?

Manoel Oliveira: “Não! É mais novo do que nunca. O cinema é uma síntese de todas as artes. Engloba-as todas. Tal qual a vida. A vida é de onde se tiram os argumentos, as ações que se vão depois projetar fora, como se fossem verdadeiras, só que não são verdadeiras, são inventadas, são feitas à sombra e à imagem da realidade mas não são reais, são ficção. Há muita diferença entre o real, o que se a aqui e agora (neste bocado am-se milhões de coisas pelo mundo fora, coisas diferentes, impossíveis de gravar) e o romance. O romance inventa e põe à sombra da realidade mas não é realidade. Eu digo que o cinema não envelheceu porque, repito, é a síntese do todas as artes e portanto tinha que aparecer em último lugar, é a sétima arte, que beneficia do romance, da poesia, da vida e com isso tudo se joga para fazer cinema. O cinema é atual. A máquina de filmar só filma o presente. Se não estiver aqui ninguém, já não filma. O presente contém toda a sabedoria que vem do ado. Está guardada no ado. Quanto ao futuro, não se sabe nada. No romance “A guerra e a paz” do Tolstoi, há um nobre ferido a morrer na sua cama e está preocupado em saber o que é a morte. E nisto, olha em volta e dá com uma porta e diz ‘ah, é uma porta’! (risos). Bom, é uma porta onde ninguém quer entrar. Quer dizer, alguns forçam a entrada…Ninguém nasceu por vontade própria e por essa razão quem não estiver contente pode matar-se, escusa de continuar a viver.”

PARTE II – O CINEMA EUROPEU

euronews: Existe um cinema europeu?

Manoel Oliveira: “O Fernando Pessoa dizia que os descobrimentos são portugueses. Mesmo os que foram feitos por estrangeiros, porque o sistema é português. Agora, ando isso para o cinema, é a mesma coisa. O cinema é francês, mesmo para os filmes feitos fora da França, porque o sistema é francês. Ele nasceu com tudo o que era preciso quando nasceu. O Lumière quando fez o primeiro filme, “La Sortie de l’usine Lumière à Lyon” criou o realismo cinematográfico e logo a seguir veio o Méliès e fez a fantasia cinematográfica, e logo a seguir, logo, logo, veio o Max Linder e fez o cinema cómico. De maneira que o cinema, não há outra coisa, está tudo no primeiro dia em que foi inventado. A vida nossa é sempre a mesma: comemos para viver, vivemos para comer e depois morrermos. é o programa.

euronews: No seu programa identifica-se com esses três momentos do cinema, a parte realista, fantasista e cómica?

Manoel Oliveira: “Sabe o Coppola a certa altura faliu e foi para uma quinta que tinha e fez uns vinhos durante dez anos e ganhou uma fortuna fortíssima com esses vinhos que ele lá fez. De maneira que quando retomou o cinema com a nova juventude, ele disse que a televisão contava histórias de uma forma muito apressada, a correr, a correr, e pior do que isso Hollywood copiou a mesma coisa, sem dar sequer tempo para pensar. A coisa mais rica que o Homem tem é o pensamento. foram precisos milhares e milhares de anos para que o homem chegasse à inteligência e ao pensamento. o pensamento é a coisa mais refinada que o homem tem em si próprio”.

PARTE III – O NOVO FILMEeuronews: Pode falar-nos do novo filme?

Manoel Oliveira: “O Gebo e a sombra”. Sombra é o contrário do gebo. Sabe porque fiz o filme? Fiz o filme porque uma pessoa me encontrou e disse que gostava muito dos meus filmes e perguntou-me porque não faz um filme sobre a pobreza, sobre os pobres. Eu disse que não era fácil, se fosse um documentário seria mais fácil fazer um documentário,vai-se buscar um caso ou outro caso. Mas depois lembrei-me do Raul Brandão. Aqui está um homem pobre que morre pobre mas digno, com toda a sua dignidade, é o que é o filme. De maneira que é um filme que vale tanto hoje como ontem.

euronews: É um filme jovem?

Manoel Oliveira: “Todos os filmes são jovens quando nascem, depois é que envelhecem, é como nós”.

euronews: “O filme foi feito relativamente rapidamente. Há pouco dizia que o tempo era importante para si. Mas tem trabalhado a um ritmo sustentado. E mais fácil para si fazer filmes agora, vê as coisas de forma mais clara?

Manoel Oliveira: “Tudo nasceu no primeiro dia. e a própria vida também nasceu no primeiro dia. o que modifica a vida é a ciência, o conhecimento. Mas no final, nasce-se, vive-se e morre.se. daqui não saímos, de onde vimos, de onde viemos, é a pergunta , para onde vamos nós no fim disto? é claro que para os religiosos, como eu sou, há esperança do céu. O papa João Paulo Segundo disse “padre nosso que estais no céu. mas como o céu tem sido muito explorado com as balas que põem lá vigiam o que se a ele disse que o céu era uma palavra simbólica. Na vida tudo é simbólico, não é só o céu.

euronews: “Este último filme, baseado no Raul Brandão, também é um símbolo da época em que vivemos?

Manoel Oliveira: Não, porque o filme faz uma crítica muito severa à situação. E o facto de eu o representar no tempo em que ele foi escrito, no principio do século XX, não é tão agressivo como se fosse representado no tempo de hoje. O filme não é agressivo, agora põem os pontos nos is”.

euronews: O ado e o presente confundem-se?

Manoel Oliveira: “O homem do ado não é diferente do homem de hoje. O homem tem as mesma características. Um grande filósofo espanhol Garcia e Ortega dizia “o Homem e a sua circunstância”. A circunstância é que lhe determina as situações. De maneira que a técnica tem evoluído muito, agora os telemóveis fazem tudo, só não é para almoçar, que é o essencial. O homem tem de matar o bichinho ou comer as ervinhas, etc. Nós de certa maneira, somos condenados a viver. E vivemos satisfeitos, contentes por viver, só pelo facto de estar vivo.

euronews: Como é que trabalha com os atores nos filmes? Dirige muito ou dá-lhes liberdade? Aproveita o que eles são ou dá-lhes algumas indicações?

Manoel Oliveira: “Olhe nunca lhes bati… :) Dou-lhes inteira liberdade porque não gosto que os atores representem , gosto que eles vivam o papel. Representar não é bonito, é mais falso.
de maneira que lhes dou inteira liberdade, é claro que tenho de determinar a marcação. Eles já sabem o papel são pessoas inteligentes como nós. Cada à sua maneira, com o seu papel.

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