Existe uma grande diferença na forma como os residentes de toda a Europa avaliam as suas hipóteses de encontrar um bom emprego nas suas cidades. A Euronews Business examina esta questão e explora as possíveis razões que estão na sua origem.
É fácil encontrar um bom emprego na sua cidade? A sua resposta dependerá provavelmente do local onde vive. Fatores como a situação económica do país, as taxas de desemprego e ser ou não uma capital podem influenciar significativamente as oportunidades de emprego.
Em 83 cidades da Europa, menos de metade dos residentes considera que é fácil encontrar um bom emprego, mas as opiniões variam muito, de acordo com o relatório da Comissão Europeia sobre a qualidade de vida nas cidades europeias em 2023.
Em Palermo, por exemplo, apenas 4% das pessoas partilham este otimismo, enquanto, em Praga, uns impressionantes 79% sentem-se confiantes quanto às perspetivas de emprego.
Como é que as perceções dos residentes locais diferem nesta questão e quais poderão ser as razões por detrás destas enormes disparidades?
O inquérito abrangeu a União Europeia, a EFTA, vários países candidatos e o Reino Unido. Enquanto alguns países estão representados por apenas uma cidade, outros têm várias cidades incluídas, sendo que alguns chegam a ter seis ou sete cidades. Por conseguinte, as comparações por país podem não refletir o quadro completo.
Qual a melhor capital europeia para encontrar um bom emprego?
Olhando para as capitais, a percentagem de pessoas que acreditam que é fácil encontrar um bom emprego varia substancialmente. Praga lidera com a taxa mais elevada, com 79%, seguida de Bratislava (72%), Oslo (69%) e Estocolmo (68%).
Roma regista a taxa mais baixa, com 20%, seguida de Atenas (21%) e Madrid (24%).
Entre as cinco principais economias da Europa, Paris e Londres lideram com 61% dos residentes a manifestar otimismo em relação às oportunidades de emprego, seguidas de perto por Berlim com 57%. Em contrapartida, as capitais de Portugal, Espanha e Itália situam-se no terço inferior, refletindo uma confiança muito menor na disponibilidade de bons empregos.
Ao nível das capitais, os países do sul e do sudeste da Europa revelam uma confiança significativamente menor em encontrar bons empregos, ao o que os países do norte e do centro-leste da Europa tendem a ter uma visão mais otimista da disponibilidade de emprego.
Estas tendências tornam-se ainda mais evidentes quando se consideram as 83 cidades, com um fosso ainda maior entre elas.
Cidades italianas dominam últimos lugares do ranking
Praga (79%) continua a ter a percentagem mais elevada de pessoas que acreditam que é fácil encontrar um bom emprego na sua cidade, ao o que em Palermo, Itália, quase ninguém partilha desta perspetiva, com apenas 4% a sentirem o mesmo.
Para além de Palermo, outras cidades italianas dominam as classificações mais baixas, com quatro das cinco últimas a terem 20% ou menos de residentes que acreditam que é fácil encontrar um bom emprego.
Os habitantes das cidades espanholas acreditam, em grande medida, que não é fácil conseguir um bom emprego no local onde vivem, uma vez que menos de um em cada quatro residentes pensa o contrário nas quatro cidades incluídas no inquérito.
Entre as cinco principais economias, a Alemanha regista a taxa média mais elevada de 60% nas suas cidades, liderada por Munique, com 72%, que ocupa o terceiro lugar na lista.
Esta média é de 63% no Reino Unido, 47% em França, 24% em Itália e 21% em Espanha, estando todos os países representados por, pelo menos, quatro cidades.
De acordo com o relatório, em geral, apenas uma em cada quatro pessoas nas cidades do sul dos Estados-membros da UE considera fácil conseguir um emprego. Em contrapartida, mais de metade dos habitantes das cidades ocidentais (53%) e setentrionais (55%) partilhavam esta opinião. Nas cidades do Leste, cerca de metade dos residentes tem a mesma opinião.
Possíveis razões para a diferença significativa entre as cidades
“As taxas de desemprego tendem a ser mais elevadas nas cidades onde a pontuação é mais baixa”, disse Pawel Adrjan, economista e diretor da EMEA & APAC Economic Research no Indeed, à Euronews Business.
Por exemplo, sublinhou Adrjan, Palermo, com a pontuação mais baixa do inquérito (4%), tem também a taxa de desemprego mais elevada, com 17% em 2023, quando existem dados disponíveis. Em contrapartida, Praga, que obteve a pontuação mais elevada de 79%, registou uma taxa de desemprego de apenas 1,9%, a segunda mais baixa entre as cidades inquiridas.
“Globalmente, existe uma relação negativa estatisticamente significativa entre as cidades. Cerca de 49% (quase metade) desta variação é explicada pelas diferenças de desemprego”, acrescentou.
De acordo com o Eurostat, as cidades italianas e espanholas registaram, em geral, taxas de desemprego mais elevadas em 2023.
Quantidade e qualidade dos empregos
De acordo com o economista, a metade restante das diferenças pode ser devida a outros fatores. A quantidade e a qualidade dos empregos disponíveis podem explicar parte desta diferença. O nível de ofertas de emprego varia.
Uma vez que o inquérito perguntava quais eram os “bons” empregos, esta questão pode ser interpretada de forma diferente consoante as culturas.
“Fatores como os salários reais, a segurança do emprego, o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e as oportunidades de progressão na carreira não se refletem nas estatísticas globais da taxa de desemprego, mas têm impacto na perceção que as pessoas têm do que o mercado de trabalho lhes pode oferecer”, afirmou Pawel Adrjan.
O responsável referiu ainda que o sentimento económico local e os fatores políticos, incluindo a cobertura mediática, podem influenciar ainda mais as percepções dos residentes.
Disparidades entre cidades de um mesmo país
O relatório sublinha que as cidades oferecem empregos mais especializados e mais bem pagos do que as zonas rurais. Nalguns países, a percentagem de pessoas que pensam que é fácil encontrar um bom emprego varia substancialmente entre cidades.
Por exemplo, na Chéquia, na Eslováquia e na Polónia, as capitais estão entre as mais bem classificadas no inquérito, enquanto outras cidades destes países têm resultados significativamente mais baixos. Em alguns casos, a diferença é superior a 35 pontos percentuais.
Do mesmo modo, existem grandes disparidades entre cidades em Itália, Bélgica, Hungria e Turquia.
Bons empregos associados à satisfação com a vida e a satisfação financeira
O relatório indica que a perceção de boas oportunidades de emprego está correlacionada com a satisfação geral de viver numa cidade. Nas cidades onde mais pessoas acreditam que é fácil encontrar um bom emprego, observam-se níveis mais elevados de satisfação com a vida na cidade. No entanto, esta correlação é moderada, com 51%.
A Euronews Business encontrou uma ligação mais forte entre a perceção de boas oportunidades de emprego e a satisfação com a situação profissional pessoal, com uma correlação de 70%. Quando as pessoas sentem que é fácil encontrar um bom emprego, a sua satisfação com a sua situação financeira também tende a melhorar.
O inquérito recolheu respostas de mais de 71 000 pessoas em 83 cidades europeias, com a participação de, pelo menos, 839 residentes de cada cidade.