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Sai de cena numa altura em que a economia do velho continente continua a evidenciar dificuldades, particularmente em alguns pa\u00edses da zona euro, penalizados com o desemprego em massa e a estagna\u00e7\u00e3o.Fr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: A Uni\u00e3o Europeia \u00e9 atualmente mal amada por parte dos cidad\u00e3os porque \u00e9 sin\u00f3nimo de austeridade. Numa altura em que se prepara para deixar o lugar, n\u00e3o considera que esta insatisfa\u00e7\u00e3o pode representar, de certa forma, um falhan\u00e7o?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cEvidentemente. Fico muito insatisfeito quando vejo os sacrif\u00edcios que grande parte dos europeus enfrenta. Mas ao mesmo tempo, tenho o dever de dizer aos europeus que a Europa n\u00e3o \u00e9 a respons\u00e1vel por esta situa\u00e7\u00e3o. Este cen\u00e1rio foi criado pelos respons\u00e1veis dos mercados financeiros \u2013 at\u00e9 porque a crise n\u00e3o come\u00e7ou na Europa \u2013 e tamb\u00e9m por erros acumulados por alguns Governos, que n\u00e3o pensaram em termos de equil\u00edbrio, que acumularam d\u00edvidas excessivas. Por isso, a Europa n\u00e3o \u00e9 a causa da crise, pelo contr\u00e1rio, \u00e9 uma parte da solu\u00e7\u00e3o. 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Na minha opini\u00e3o, mas de um ponto de vista pol\u00edtico, n\u00e3o havia muita margem porque t\u00ednhamos de agir, quero dizer a Comiss\u00e3o, num quadro complexo colocado pelos governos, que por vezes n\u00e3o quiseram, por exemplo, ser mais generosos com os Estados em dificuldade.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Fala na falta de solidariedade de alguns Estados-membros em rela\u00e7\u00e3o a outros Estados com dificuldades?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cTeria preferido assistir a uma solidariedade mais evidente.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: O que responde aos que lhe dizem que n\u00e3o foi suficientemente firme, que poderia ter tido mais iniciativa e que poderia ter levantado a voz quando alguns Estados mostravam falta de solidariedade, como por exemplo a Alemanha que tardou em reagir?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201ara come\u00e7ar tom\u00e1mos as iniciativas. A Comiss\u00e3o esteve na origem de todas as iniciativas legislativas. Se atualmente existe uma Uni\u00e3o Banc\u00e1ria \u00e9 gra\u00e7as \u00e0 Comiss\u00e3o. Lembro-me que da primeira vez em que falei da Uni\u00e3o Banc\u00e1ria algumas capitais me disseram que n\u00e3o podia faz\u00ea-lo porque n\u00e3o consta dos Tratados. Respondi que isso era verdade, mas que precis\u00e1vamos de uma Uni\u00e3o Banc\u00e1ria para atingir os objetivos dos Tratados. \u00c9 verdade que durante a crise, por causa de temas sens\u00edveis com efeito nos mercados, n\u00e3o quis juntar a minha voz \u00e0 cacofonia.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: N\u00e3o acredita que deveria ter tomado posi\u00e7\u00e3o como Presidente da Comiss\u00e3o Europeia?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cFi-lo quando foi preciso. Fiz declara\u00e7\u00f5es firmes exigindo \u00e0 Alemanha a ajuda \u00e0 Gr\u00e9cia, lembrando o efeito dram\u00e1tico que se produziria \u00e0 falta de uma decis\u00e3o favor\u00e1vel para a Gr\u00e9cia. Ao mesmo tempo fui \u00e0 Gr\u00e9cia dizer ao Governo que deveria por termo \u00e0 confus\u00e3o pol\u00edtica se quisesse merecer a confian\u00e7a dos outros Estados-membros. O que fiz, discretamente, com os nossos Governos, com os nossos parceiros, foi trabalhar para uma solu\u00e7\u00e3o e no final encontr\u00e1mos. Atualmente estes pa\u00edses est\u00e3o muito melhores do que h\u00e1 dois anos.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Foi bastante criticado pela gest\u00e3o da crise na zona euro. Como reage a essas cr\u00edticas?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cQuando as coisas est\u00e3o bem, os homens pol\u00edticos nacionais vangloriam-se, mas quando est\u00e3o mal dizem que a culpa \u00e9 de Bruxelas. \u00c9 a realidade. Ainda n\u00e3o temos um sentido de responsabilidade verdadeiramente europeu e lamento. Disse a todos os chefes de Estado e de Governo que devem abandonar esta perspetiva, porque um dia v\u00e3o precisar do apoio do povo \u00e0 Europa, para que eles continuem na Uni\u00e3o Europeia. N\u00e3o o conseguir\u00e3o se continuarem sistematicamente a valorizar o que fazem a n\u00edvel nacional e a desvalorizar o trabalho das institui\u00e7\u00f5es europeias.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Recentemente, durante a cimeira europeia, David Cameron disse que n\u00e3o pagar\u00e1 o contributo adicional para o or\u00e7amento comunit\u00e1rio exigido pela Comiss\u00e3o Europeia e justificado com o desempenho positivo da economia brit\u00e2nica. O que tem a dizer?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201c\u00c9 um caso exemplar do que n\u00e3o devemos fazer. A Comiss\u00e3o limitou-se a aplicar as regras que os pr\u00f3prios Governos definiram e existem regras objetivas para o c\u00e1lculo das contribui\u00e7\u00f5es dos Estados-membros em fun\u00e7\u00e3o do Produto Interno Bruto. Nos \u00faltimos anos \u2013 desde j\u00e1 parab\u00e9ns \u00e0 Gr\u00e3-Bretanha \u2013 eles aumentaram o Produto Interno Bruto, por isso devem aumentar proporcionalmente a contribui\u00e7\u00e3o. Em vez de apresentar isso como uma quest\u00e3o que dever\u00edamos resolver, o primeiro-minsitro brit\u00e2nico saiu da reuni\u00e3o a atacar violentamente as institui\u00e7\u00f5es europeias.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Como reagiu a esta atitude?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cN\u00e3o \u00e9 aceit\u00e1vel.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: N\u00e3o est\u00e1 cansado de ser tratado desta forma?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cN\u00e3o concordo com este tipo de comportamento. Julgo que \u00e9 um erro. Porqu\u00ea? Porque Cameron, que diz sempre querer que a Gr\u00e3-Bretanha continue na Uni\u00e3o Europeia, quer tamb\u00e9m organizar um referendo para confirmar a perman\u00eancia do Reino Unido na Uni\u00e3o Europeia. Est\u00e1 a atuar talvez contra a vontade e por raz\u00f5es pol\u00edticas devido a outro partido que o amea\u00e7a. Assim refor\u00e7a-se o sentimento anti-europeu. \u00c9 um erro b\u00e1sico.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Um sentimento anti-europeu que j\u00e1 \u00e9 bastante forte.Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cQue j\u00e1 \u00e9 bastante forte e que se refor\u00e7a. Quando os respons\u00e1veis pol\u00edticos de um pa\u00eds atacam constantemente a Comiss\u00e3o e a Uni\u00e3o Europeia, \u00e9 certo que as pessoas v\u00e3o acabar por dizer que a Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o \u00e9 boa.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Fran\u00e7a apresentou uma retifica\u00e7\u00e3o do projeto or\u00e7amental para evitar pontos de fric\u00e7\u00e3o com Bruxelas. It\u00e1lia tamb\u00e9m. Est\u00e1 satisfeito com esta atitude?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cVimos por parte das autoridades sas e italianas, apesar do que disseram os meios de comunica\u00e7\u00e3o social, um atitude positiva. Significa que reconhecem que a Comiss\u00e3o tem o direito, diria at\u00e9 o dever, de dizer alguma coisa quando considera que os or\u00e7amentos nacionais n\u00e3o se ajustam \u00e0s regras.\u201d Fr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Tem o dever, est\u00e1 no Tratado.Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cTemos o dever. Um poder que nos foi conferido pelos Estados-membros. Justamente porque na zona euro, em que estamos integrados, n\u00e3o podemos ter uma moeda comum quando cada pa\u00eds faz o que quer.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: \u00c9 preciso respeitar as regras e essas regras preveem multas. Acredita que ser\u00e1 bom aplicar multas a Estados que saem do pacto de estabilidade e que j\u00e1 est\u00e3o a atravessar dificuldades econ\u00f3micas?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201c\u00c9 por isso que \u00e9 preciso que os Estados respeitem as regras, para evitar este cen\u00e1rio, que \u00e9 bastante negativo. A pr\u00f3xima Comiss\u00e3o deve continuar o trabalho e verificar as coisas com as autoridades dos diferentes pa\u00edses. S\u00e3o cinco pa\u00edses. Fala-se de Fran\u00e7a e de It\u00e1lia, mas s\u00e3o cinco os pa\u00edses que suscitaram reservas por parte da Comiss\u00e3o.\u201dFr\u00e9d\u00e9ric Bouchard, Euronews: Falou no seu sucessor. Tem algum conselho a dar \u00e0 nova Comiss\u00e3o?Jos\u00e9 Manuel Dur\u00e3o Barroso, Presidente cessante da Comiss\u00e3o Europeia: \u201cN\u00e3o dou conselhos em p\u00fablico. Os sucessores n\u00e3o gostam de receber conselhos em p\u00fablico. 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Durão Barroso: "Ainda não temos um sentido de responsabilidade verdadeiramente europeu"

Durão Barroso: "Ainda não temos um sentido de responsabilidade verdadeiramente europeu"
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Ao fim de uma década à frente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso deixa a cadeira da Presidência. Sai de cena numa altura em que a economia do velho continente continua a evidenciar dificuldades, particularmente em alguns países da zona euro, penalizados com o desemprego em massa e a estagnação.

Frédéric Bouchard, Euronews: A União Europeia é atualmente mal amada por parte dos cidadãos porque é sinónimo de austeridade. Numa altura em que se prepara para deixar o lugar, não considera que esta insatisfação pode representar, de certa forma, um falhanço?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Evidentemente. Fico muito insatisfeito quando vejo os sacrifícios que grande parte dos europeus enfrenta. Mas ao mesmo tempo, tenho o dever de dizer aos europeus que a Europa não é a responsável por esta situação. Este cenário foi criado pelos responsáveis dos mercados financeiros – até porque a crise não começou na Europa – e também por erros acumulados por alguns Governos, que não pensaram em termos de equilíbrio, que acumularam dívidas excessivas. Por isso, a Europa não é a causa da crise, pelo contrário, é uma parte da solução. Graças à União Europeia salvámos alguns países que estavam perto da bancarrota.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Com um custo social considerável.

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “A situação continua a ser difícil, mas estamos muito melhor agora do que há dois anos, altura em que grande parte dos nossos parceiros colocava como cenário mais possível a rutura da zona euro.”

Frédéric Bouchard, Euronews: O que faria de diferente se pudesse voltar atrás?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Desde logo, julgo que houve um problema de comunicação e nesse sentido devo assumir a minha responsabilidade, porque apesar de todos os esforços julgo que não conseguimos – também porque, é preciso dizê-lo, muitas vezes os governos não colaboraram connosco – explicar aos europeus a origem da crise, as causas, o que estávamos a fazer. Na minha opinião, mas de um ponto de vista político, não havia muita margem porque tínhamos de agir, quero dizer a Comissão, num quadro complexo colocado pelos governos, que por vezes não quiseram, por exemplo, ser mais generosos com os Estados em dificuldade.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Fala na falta de solidariedade de alguns Estados-membros em relação a outros Estados com dificuldades?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Teria preferido assistir a uma solidariedade mais evidente.”

Frédéric Bouchard, Euronews: O que responde aos que lhe dizem que não foi suficientemente firme, que poderia ter tido mais iniciativa e que poderia ter levantado a voz quando alguns Estados mostravam falta de solidariedade, como por exemplo a Alemanha que tardou em reagir?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Para começar tomámos as iniciativas. A Comissão esteve na origem de todas as iniciativas legislativas. Se atualmente existe uma União Bancária é graças à Comissão. Lembro-me que da primeira vez em que falei da União Bancária algumas capitais me disseram que não podia fazê-lo porque não consta dos Tratados. Respondi que isso era verdade, mas que precisávamos de uma União Bancária para atingir os objetivos dos Tratados. É verdade que durante a crise, por causa de temas sensíveis com efeito nos mercados, não quis juntar a minha voz à cacofonia.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Não acredita que deveria ter tomado posição como Presidente da Comissão Europeia?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Fi-lo quando foi preciso. Fiz declarações firmes exigindo à Alemanha a ajuda à Grécia, lembrando o efeito dramático que se produziria à falta de uma decisão favorável para a Grécia. Ao mesmo tempo fui à Grécia dizer ao Governo que deveria por termo à confusão política se quisesse merecer a confiança dos outros Estados-membros. O que fiz, discretamente, com os nossos Governos, com os nossos parceiros, foi trabalhar para uma solução e no final encontrámos. Atualmente estes países estão muito melhores do que há dois anos.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Foi bastante criticado pela gestão da crise na zona euro. Como reage a essas críticas?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Quando as coisas estão bem, os homens políticos nacionais vangloriam-se, mas quando estão mal dizem que a culpa é de Bruxelas. É a realidade. Ainda não temos um sentido de responsabilidade verdadeiramente europeu e lamento. Disse a todos os chefes de Estado e de Governo que devem abandonar esta perspetiva, porque um dia vão precisar do apoio do povo à Europa, para que eles continuem na União Europeia. Não o conseguirão se continuarem sistematicamente a valorizar o que fazem a nível nacional e a desvalorizar o trabalho das instituições europeias.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Recentemente, durante a cimeira europeia, David Cameron disse que não pagará o contributo adicional para o orçamento comunitário exigido pela Comissão Europeia e justificado com o desempenho positivo da economia britânica. O que tem a dizer?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “É um caso exemplar do que não devemos fazer. A Comissão limitou-se a aplicar as regras que os próprios Governos definiram e existem regras objetivas para o cálculo das contribuições dos Estados-membros em função do Produto Interno Bruto. Nos últimos anos – desde já parabéns à Grã-Bretanha – eles aumentaram o Produto Interno Bruto, por isso devem aumentar proporcionalmente a contribuição. Em vez de apresentar isso como uma questão que deveríamos resolver, o primeiro-minsitro britânico saiu da reunião a atacar violentamente as instituições europeias.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Como reagiu a esta atitude?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Não é aceitável.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Não está cansado de ser tratado desta forma?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Não concordo com este tipo de comportamento. Julgo que é um erro. Porquê? Porque Cameron, que diz sempre querer que a Grã-Bretanha continue na União Europeia, quer também organizar um referendo para confirmar a permanência do Reino Unido na União Europeia. Está a atuar talvez contra a vontade e por razões políticas devido a outro partido que o ameaça. Assim reforça-se o sentimento anti-europeu. É um erro básico.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Um sentimento anti-europeu que já é bastante forte.

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Que já é bastante forte e que se reforça. Quando os responsáveis políticos de um país atacam constantemente a Comissão e a União Europeia, é certo que as pessoas vão acabar por dizer que a União Europeia não é boa.”

Frédéric Bouchard, Euronews: França apresentou uma retificação do projeto orçamental para evitar pontos de fricção com Bruxelas. Itália também. Está satisfeito com esta atitude?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Vimos por parte das autoridades sas e italianas, apesar do que disseram os meios de comunicação social, um atitude positiva. Significa que reconhecem que a Comissão tem o direito, diria até o dever, de dizer alguma coisa quando considera que os orçamentos nacionais não se ajustam às regras.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Tem o dever, está no Tratado.

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Temos o dever. Um poder que nos foi conferido pelos Estados-membros. Justamente porque na zona euro, em que estamos integrados, não podemos ter uma moeda comum quando cada país faz o que quer.”

Frédéric Bouchard, Euronews: É preciso respeitar as regras e essas regras preveem multas. Acredita que será bom aplicar multas a Estados que saem do pacto de estabilidade e que já estão a atravessar dificuldades económicas?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “É por isso que é preciso que os Estados respeitem as regras, para evitar este cenário, que é bastante negativo. A próxima Comissão deve continuar o trabalho e verificar as coisas com as autoridades dos diferentes países. São cinco países. Fala-se de França e de Itália, mas são cinco os países que suscitaram reservas por parte da Comissão.”

Frédéric Bouchard, Euronews: Falou no seu sucessor. Tem algum conselho a dar à nova Comissão?

José Manuel Durão Barroso, Presidente cessante da Comissão Europeia: “Não dou conselhos em público. Os sucessores não gostam de receber conselhos em público. O trabalho cabe agora ao novo Presidente, não a mim. Confio nele e desejo o melhor, a ele, à Comissão e à Europa.”

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