O presidente dos Estados Unidos instou a Espanha a aumentar as suas despesas com a defesa e ameaçou impor uma taxa alfandegária de 100%. A Euronews fala com Daniel del Valle, antigo embaixador do OIJ junto das Nações Unidas, sobre a alegada confusão do presidente.
Donald Trump demorou menos de 24 horas a gerar polémica. Pouco depois de tomar posse como Presidente dos Estados Unidos, fez declarações que não caíram bem junto do Governo espanhol. Questionado sobre o investimento feito pelos países da NATO na Aliança, o presidente criticou a Espanha por não contribuir mais.
Não é a primeira vez que Trump insiste que todos os países do Tratado do Atlântico devem contribuir mais para os fundos, a fim de reduzir a desvantagem comparativa em relação ao que os Estados Unidos atribuem. A controvérsia, portanto, vem do facto de se falar de Espanha como se fosse um Estado membro dos BRICS.
O que são os BRICS?
BRICS significa Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Trata-se de uma associação política e financeira de países emergentes que não fazem parte do G7. Este bloco defende interesses contrários aos das principais economias do mundo, a fim de favorecer o seu próprio crescimento.
"A Espanha é uma nação BRICS. Sabe o que é uma nação BRICS? Vão descobrir. Se os países BRICS quiserem fazer isso, tudo bem, mas nós vamos impor pelo menos uma tarifa de 100% sobre os negócios que eles fizerem com os Estados Unidos", respondeu Trump ao jornalista espanhol David Alandete.
Ironia ou erro?
Muitos meios de comunicação social espanhóis acusaram o novo ocupante da Casa Branca de ter caído na confusão ao pensar que a Espanha é membro dos BRICS. No entanto, tudo indica que se trata de um comentário irónico de Trump para mostrar que a Espanha, ao investir tão pouco na defesa da NATO, parece estar mais ao serviço destes países (Brasil, Rússia, Índia, China...) do que do bloco ocidental.
O próprio Alandete, que lhe fez a pergunta na Sala Oval enquanto Trump assinava as primeiras ordens executivas, esclareceu o seu ponto de vista sobre este comentário polémico. Nas suas redes sociais, o jornalista explicou que tudo não a de um comentário irónico.
"Quando perguntei a Trump sobre Espanha e ele mencionou os BRICS, o seu olhar e sorriso deram-me a impressão de que ele estava a ser irónico, sugerindo uma ligação entre o governo espanhol e países como a China, a Rússia ou a Índia. No entanto, quando voltei a perguntar, fiquei com a sensação de que ele estava mais interessado em falar dos BRICS do que da própria Espanha", explicou.
Espanha não tem nada a ver com os BRICS e parece estranho pensar que o homem que conseguiu chegar à Casa Branca, tendo-a ocupado durante quatro anos, não tenha consciência disso. Daniel del Valle é um dos diplomatas mais jovens do mundo, foi embaixador da Agência Internacional da Juventude na ONU e faz parte de algumas das instituições mais importantes do mundo. Em declarações à "Euronews", esclarece o papel de Espanha no mundo e o papel desempenhado, por outro lado, pelos BRICS.
"Não partilham estruturas económicas, nem objectivos geopolíticos, nem alianças estratégicas semelhantes. Espanha é um membro ativo da NATO, da União Europeia e de outras organizações internacionais importantes, e tem demonstrado constantemente o seu empenho na segurança coletiva", explicou Del Valle.
Embora o investimento da Espanha na defesa pareça insuficiente para Donald Trump, Daniel del Valle, que conhece pessoalmente o presidente, explica que a participação da Espanha em missões-chave da NATO, "como no Afeganistão ou no flanco oriental da Europa, bem como a expansão da base naval de Rota, são provas tangíveis da nossa contribuição para a estabilidade global".
Estará a Espanha a gastar muito pouco em defesa, como sugere Donald Trump?
Espanha gasta 1,3 por cento do seu Produto Interno Bruto (PIB) no financiamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte. No entanto, tendo em conta a atual situação geopolítica, não é descabido pensar que talvez seja altura de aumentar este investimento."Não há dúvida de que é necessário aumentar as despesas com a defesa para garantir a nossa segurança e cumprir os nossos compromissos com a NATO", afirma Daniel del Valle.
A questão é saber quanto dinheiro deve ser afetado. De acordo com o jovem diplomata," poderiam ser atingidosníveis de cerca de quatro ou cinco por cento do PIB, como foi recentemente referido pelo Secretário-Geral Mark Rutte". No entanto, Del Valle esclarece que "para além da percentagem da despesa, é essencial reconhecer o valor das Forças Armadas espanholas e o seu papel na proteção e apoio à população".
Um momento de reflexão
Apesar da grande comoção que se gerou, Daniel del Valle convida-nos a fugir do ruído para nos concentrarmos na reflexão. "As palavras de Trump devem ser vistas como um convite para melhorar. A Espanha tem um compromisso sólido com os seus aliados e, embora haja espaço para aumentar as despesas com a defesa, isso deve ser gerido numa perspetiva estratégica e proporcional".
"Estou convencido de que Espanha continuará a reforçar a sua posição no seio da NATO e a demonstrar, como tem feito até agora, que é um parceiro fiável e empenhado na paz e na segurança internacional", conclui Del Valle. As suas palavras inspiram milhares de jovens em todo o mundo. Com mais de 100.000 seguidores nas suas redes sociais, tornou-se uma voz que convida os jovens a participar ativamente na vida política.