O novo presidente do Líbano nomeou o presidente do Tribunal Internacional de Justiça, Nawaf Salam, como novo primeiro-ministro do país.
O novo presidente do Líbano, Joseph Aoun, nomeou Nawaf Salam, diplomata de renome e presidente do Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, como novo primeiro-ministro do Líbano.
Salam foi convidado a formar governo depois de ter sido nomeado primeiro-ministro por um grande número de deputados na segunda-feira, numa ação que aparentemente irritou o Hezbollah e os seus aliados.
A nomeação de Salam foi feita por grupos apoiados pelo Ocidente, bem como por independentes no parlamento libanês. Salam conta também com o apoio da Arábia Saudita e de países ocidentais. Os deputados do Hezbollah abstiveram-se de nomear qualquer candidato ao cargo de primeiro-ministro.
A nomeação de Salam é considerada por muitos como um vislumbre de esperança após a guerra de 14 meses entre Israel e o Hezbollah, que matou pelo menos 4.000 pessoas e feriu cerca de 20.000.
A guerra também causou uma destruição generalizada em todo o país, principalmente no sul, mas também atingiu a capital Beirute. Os prejuízos estão estimados em centenas de milhões de euros.
A guerra cessou temporariamente no final de novembro, quando entrou em vigor uma trégua de 60 dias mediada pelos Estados Unidos.
Pouco depois de Salam ter obtido o apoio maioritário dos legisladores libaneses, as pessoas festejaram nas ruas de Beirute com fogo de artifício, na esperança de que a sua nomeação e a eleição de Joseph Aoun como presidente, na semana ada, ajudassem a libertar milhares de milhões de euros de investimentos e empréstimos de doadores estrangeiros, aliviando uma crise económica profunda que assola o país há anos.
Nem Aoun nem Salam são considerados parte da classe política do país, acusada de corrupção e má gestão generalizadas nas últimas décadas.
Tensões com o Hezbollah
Nos últimos anos, o Hezbollah impediu repetidamente Salam de se tornar primeiro-ministro, rotulando-o como um candidato apoiado pelos EUA.
"Veremos os seus atos quando se tratar de obrigar os ocupantes a abandonar o nosso país, de trazer de volta os prisioneiros, da reconstrução" e da aplicação da resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que pôs fim à guerra entre Israel e o Hezbollah, afirmou o chefe do bloco parlamentar do Hezbollah, Mohammed Raad, após uma reunião com Aoun.
Raad acrescentou que o Hezbollah estendeu a mão na semana ada ao eleger Aoun e que esperava encontrar uma mão estendida do outro lado, "mas esta mão foi cortada".
O que se segue?
Após um dia de consultas entre Aoun e os deputados, Salam obteve o apoio de 84 deputados, enquanto o primeiro-ministro cessante, Najib Mikati, recebeu nove votos. Trinta e quatro deputados dos 128 membros da legislatura abstiveram-se.
O primeiro-ministro interino Najib Mikati felicitou Salam pouco depois da divulgação dos resultados, desejando-lhe boa sorte para o novo cargo.
Espera-se que Salam regresse ao Líbano agora que é o primeiro-ministro indigitado. Está prevista para esta terça-feira uma reunião no palácio presidencial de Beirute entre Aoun, Salam e o presidente do parlamento, Nabih Berri, para iniciar formalmente o processo de formação de um novo governo.
Não ficou imediatamente claro se Salam tenciona demitir-se do cargo de presidente do Tribunal Internacional de Justiça.
A sua nomeação surge após mais de dois anos em que o Líbano foi dirigido por um governo provisório chefiado por Najib Mikati.
Salam tem pela frente uma tarefa difícil após a trégua com Israel que causou uma destruição generalizada no país mediterrânico. O principal objetivo será reconstruir os danos e iniciar o processo de recuperação.
Nawaf terá também de trabalhar para que a pequena nação de menos de seis milhões de habitantes, dos quais cerca de um milhão foram deslocados durante a guerra, saia da sua crise económica de cinco anos, que paralisou a população e as infraestruturas e serviços do país.
Quem é Nawaf Salam?
Salam, de 71 anos, é membro de uma importante família muçulmana sunita de Beirute. O seu tio, Saeb Salam, foi um dos líderes do país que lutou pela independência de França e, mais tarde, foi primeiro-ministro durante vários mandatos. O primo de Salam, Tammam Salam, também foi primeiro-ministro durante dois anos, em 2014.
Salam é doutorado em ciências políticas pela prestigiada universidade sa Sciences Po e em história pela Universidade da Sorbonne. Tem também um mestrado em Direito pela Faculdade de Direito de Harvard. Trabalhou em várias universidades como professor em várias áreas.
Em 2007, foi nomeado embaixador do Líbano nas Nações Unidas, onde exerceu as suas funções durante 10 anos. Em 2018, Salam foi eleito juiz do Tribunal Internacional de Justiça e, em fevereiro do ano ado, foi eleito presidente do principal tribunal da ONU, tornando-se o primeiro cidadão libanês a ocupar esse cargo.