Chanceler Karl Nehammer, do Partido Popular, demitiu-se depois de falhar as negociações para uma coligação de governo e o líder interino do partido mostrou abertura para governar com a extrema-direita.
O presidente da Áustria recebeu esta segunda-feira Herbert Fickl, o líder do Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema-direita e, após uma reunião que durou mais de uma hora no palácio presidencial (Hofburg) em Viena, convidou-o a formar governo.
“O Sr. Kickl tem a confiança necessária para encontrar uma maioria viável. Por conseguinte, dei-lhe instruções no sentido de encetar conversações com o ÖVP [Partido Popular] para formar um governo”, declarou Alexander Van der Bellen, citado pelo jornal austríaco Österreich.
O chefe de Estado afirma que o Partido Popular Austríaco, o ÖVP, agora sob a liderança de Christian Stocker, nomeado presidente interino no domingo de manhã após a demissão do chanceler Karl Nehammer, acabou com o "cordão sanitário" à extrema-direita.
“O ÖVP renunciou ao seu categórico não a Herbert Kickl”, disse Van der Bellen, acrescentando que é seu dever respeitar a vontade da maioria dos eleitores. “Posso ter certos desejos, mas o respeito pelos eleitores obriga-me a aceitar esta maioria", frisou.
O presidente da Áustria sublinha que o “governo tem de ser robusto” e que “precisa de mais de 50% dos lugares no Conselho Nacional”, até porque o "ambiente económico é difícil".
“A Áustria está em recessão, o desemprego está a aumentar. O orçamento tem de ser reorganizado, sem esquecer a ameaça geopolítica que a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia representa".
“Não dei este o de ânimo leve”, confessou Van der Bellen.
"Fora Nazis"
Centenas de manifestantes reuniram-se no exterior do Palácio de Hofburg durante as conversações entre Kickl e Van der Bellen, gritando “fora nazis”.
Foi também possível ouvir vaias dirigidas ao líder do Partido da Liberdade. Depois de Kickl ter abandonado o Hofburg, os manifestantes dispersaram.
"Continuarei a assegurar que os princípios e as regras da nossa Constituição serão corretamente respeitados e cumpridos", notou o presidente da Áustria após a reunião com Fickl.
Nehammer falhou tentativa de coligação
O ainda chanceler Karl Nehammer, do Partido Popular, falhou as negociações com os sociais-democratas e os liberais para criar um executivo moderado, e o líder interino dos populares mostrou-se disposto a governar com a extrema-direita.
Mais de três meses após as legislativas que deram vitória com maioria relativa ao FPÖ, a extrema-direita parece pronta para assumir os destinos da Áustria.