A visita marcou a primeira visita de Lavrov a um país membro da UE desde a invasão em larga escala da Ucrânia por parte da Rússia em fevereiro de 2022. Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Polónia e Estónia abandonaram a sala durante o discurso do chefe da diplomacia russa.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros ocidentais, incluindo o Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, repreenderam o homólogo russo, Serguei Lavrov, sobre o conflito na Ucrânia, numa reunião anual de segurança em Malta.
A invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em 2022 dominou as discussões na cimeira ministerial da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha, afirmou que o seu país está a lutar pelo seu direito à existência e chamou a Lavrov "criminoso de guerra", questionando o envolvimento da Rússia no evento.
"A Rússia não é um parceiro, é a maior ameaça à nossa segurança comum. A participação da Rússia na OSCE é uma ameaça à cooperação na Europa", disse Sybiha na reunião do organismo de segurança e direitos humanos, composto por 57 membros.
O ministro ucraniano boicotou a cimeira da OSCE do ano ado em Skopje, na Macedónia do Norte, devido à presença de Lavrov.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski, um aliado próximo de Kiev, apoiou o discurso de Sybiha e lançou um aviso à delegação russa durante o seu discurso na cimeira.
"Estão a tentar reconstruir o império russo e nós não o permitiremos. Vamos resistir-vos até ao fim", disse Sikorski.
Sybiha e Sikorski abandonaram a sala antes do discurso de Lavrov, tal como o ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia e vários outros diplomatas e funcionários, um gesto que se tornou comum desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
Lavrov acusou o Ocidente de provocar um conflito direto com a Rússia, tratando-a como "um inimigo comum", e avisou que as tensões poderiam aumentar ainda mais.
"O resultado é a reencarnação da Guerra Fria, mas agora com um risco muito maior de escalada para a fase quente", disse Lavrov durante a sua primeira visita a um país da UE desde fevereiro de 2022. Embora o principal diplomata russo esteja sob sanções da UE - incluindo o congelamento de bens - não está sujeito a uma proibição de viajar.
"Tsunami de desinformação"
Lavrov, que era o quarto orador, abandonou a sala após o seu discurso e Blinken criticou o ministro russo na sua ausência.
"Lamento que o nosso colega Lavrov tenha abandonado a sala, não tendo tido a cortesia de nos ouvir como nós ouvimos o seu colega. E, claro, o nosso colega russo é muito hábil a afogar os ouvintes num tsunami de desinformação", disse Blinken.
Blinken referiu-se ao comentário de Lavrov sobre a "escalada", ao destacamento de forças norte-coreanas para a Rússia, à utilização de um míssil balístico de alcance intermédio para atacar a Ucrânia, à decisão de Moscovo de baixar o limiar para a utilização de armas nucleares e aos ataques às infraestruturas energéticas ucranianas.
"O Sr. Lavrov falou sobre o direito soberano de cada Estado-membro fazer as suas próprias escolhas", disse Blinken. "É exatamente disso que se trata: o direito soberano da Ucrânia e do povo ucraniano a fazer as suas próprias escolhas sobre o futuro, e não que essas escolhas sejam feitas em Moscovo e por Moscovo."
Não estava previsto qualquer encontro entre Lavrov e Blinken à margem do evento.
Blinken viajou de Bruxelas, onde participou na última reunião da NATO da istração Biden, para Malta. O Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que toma posse a 20 de janeiro, afirmou que poderia acabar com a guerra na Ucrânia "num dia", suscitando receios de que Washington possa cortar a ajuda a Kiev e ceder território à Rússia como parte de um acordo de paz.
A OSCE é a sucessora de um organismo criado em 1975 para facilitar as relações entre a União Soviética e o Ocidente durante a Guerra Fria. A OSCE envia observadores para acompanhar conflitos e eleições em todo o mundo e ajuda os membros a coordenarem-se em questões que vão do controlo de armas aos direitos humanos.
Desde a invasão russa da Ucrânia em 2022, a organização tem sido prejudicada pela utilização de vetos por parte de Moscovo para bloquear várias decisões importantes. Lavrov afirmou no ano ado que a OSCE estava "essencialmente a ser transformada num apêndice da NATO e da UE".