Muitos apoiantes da oposição receiam que esta seja a última eleição livre, caso o partido no poder "Sonho Georgiano", considerado amigo da Rússia, obtenha a maioria.
Os georgianos vão às urnas este sábado, numa votação que muitos cidadãos consideram decisiva para a oportunidade de aderir à União Europeia.
A campanha pré-eleitoral no país do Cáucaso do Sul, com 3,7 milhões de habitantes, tem sido dominada pela política externa e marcada por uma luta acesa pelos votos e por alegações de uma campanha de difamação. Alguns georgianos queixaram-se de intimidação e de terem sido pressionados a votar no partido no poder, o "Sonho Georgiano", enquanto a oposição acusou o partido de levar a cabo uma "guerra híbrida" contra os seus cidadãos.
Antes das eleições legislativas, Bidzina Ivanishvili - um bilionário obscuro que criou o "Sonho Georgiano" e fez fortuna na Rússia - prometeu novamente proibir os partidos da oposição caso o seu partido ganhe.
O "Sonho Georgiano" responsabilizará os partidos da oposição "com toda a força da lei" pelos "crimes de guerra" cometidos contra o povo da Geórgia, disse Ivanishvili num comício pró-governamental na capital Tbilíssi, na quarta-feira. Não explicou que crimes considera que a oposição cometeu.
Os georgianos elegem 150 deputados e há 18 partidos a concorrer. Se nenhum partido obtiver os 76 lugares necessários para formar um governo para um mandato de quatro anos, a presidente convidará o maior partido a formar uma coligação.
Muitos acreditam que as eleições poderão ser o voto mais crucial das suas vidas; determinarão se a Geórgia regressa ao caminho da adesão à UE ou se abraça o autoritarismo e cai na órbita da Rússia. "É uma eleição existencial", disse a presidente da Geórgia, Salome Zourabichvili.
Os georgianos querem "a integração europeia, querem avançar e querem políticas que nos tragam um futuro melhor e mais estável", disse Qristine Tordia, 29 anos, à Associated Press pouco depois de ter votado na capital, Tbilíssi.
De acordo com as sondagens, cerca de 80% dos georgianos são favoráveis à adesão à UE e a Constituição do país obriga os seus dirigentes a aderir a esse bloco e à NATO.
Mas Bruxelas suspendeu indefinidamente o processo de adesão da Geórgia à UE depois de o partido no poder ter aprovado, em junho, uma chamada "lei russa" que reprime a liberdade de expressão. Muitos georgianos receiam que o partido esteja a arrastar o país para o autoritarismo e a matar as esperanças de adesão à UE.
Os partidos da oposição ignoraram o pedido de Zourabichvili para se unirem num único partido, mas subscreveram a sua "carta" para levar a cabo as reformas exigidas pela UE para a adesão.
Zourabichvili disse à AP na quinta-feira que acredita que a maioria dos georgianos se mobilizaria para votar "apesar de alguns casos de intimidação, apesar do uso de recursos estatais (...) e do uso de recursos financeiros" pelo governo.
O "Sonho Georgiano" colocou cartazes em todo o país contrastando imagens a preto e branco da destruição na Ucrânia com imagens coloridas da vida na Geórgia, juntamente com o slogan: "Diga não à guerra - escolha a paz".
Os partidos do governo e da oposição disseram aos eleitores que iriam tentar aderir à UE, apesar de as leis aprovadas pelo "Sonho Georgiano" terem posto essa esperança em suspenso.
"A UE decidiu parar unilateralmente o processo de integração da Geórgia", disse Vakhtang Asanidze, que falou à AP num comício pró-governamental em Tbilíssi. Vakhtang Asanidze disse não ver qualquer razão para que a Geórgia não possa aderir à UE, apesar das leis.
Na cimeira da UE na semana ada, os líderes da UE afirmaram ter "sérias preocupações em relação ao curso de ação do governo da Geórgia".
Embora o "Sonho Georgiano" tenha adotado leis semelhantes às utilizadas pelo Kremlin para reprimir os seus críticos, os eleitores presentes na manifestação pró-governamental afirmaram que não viam as eleições como uma escolha entre a Rússia e a Europa.
"Lembramo-nos de tudo sobre a Rússia, incluindo a Abcásia e a Ossétia do Sul", disse Latavra Dashniani no comício, referindo-se à ocupação russa de 20% do território georgiano depois de os dois países terem travado uma curta guerra em 2008.
Segundo Latavra Dashniani, votar no partido no poder garantiria que a Geórgia entraria na Europa "com dignidade", aludindo aos seus valores conservadores, incluindo a oposição aos direitos das pessoas LGBTQ+.
As urnas para as eleições legislativas abriram às 8h00 locais e encerram 12 horas mais tarde.
O "Sonho Georgiano" concorre contra três coligações: o Movimento Nacional Unitário, a Coligação para a Mudança de Lelo e o Geórgia Forte.
O partido "Gakharia para a Geórgia", criado pelo antigo primeiro-ministro Giorgi Gakharia, declarou que não fará aliança com ninguém, mas apoiará a oposição na formação de um governo.