O primeiro-ministro eslovaco tem acusado repetidamente o Ocidente de alimentar o conflito, afirmando que a guerra deve ser resolvida através da diplomacia e não dos combates.
Robert Fico, da Eslováquia, prometeu que não permitirá que a Ucrânia se torne membro da NATO enquanto for primeiro-ministro, o que constitui um novo golpe para as aspirações de Kiev de aderir à aliança, no contexto da invasão russa em curso.
"Vou dar instruções aos legisladores sob o meu controlo, enquanto presidente do partido (Smer, no poder), para nunca concordarem com a adesão da Ucrânia à NATO", disse numa entrevista ao canal de televisão STVR, no domingo.
"A adesão da Ucrânia à NATO seria uma boa base para uma terceira guerra mundial", acrescentou Fico, que tem sido um crítico vocal do apoio militar e financeiro do Ocidente à Ucrânia desde que a Rússia lançou a sua invasão total no início de 2022.
Estas observações foram feitas antes da reunião de segunda-feira de Fico com o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal, que deverá centrar-se na cooperação em matéria de segurança energética e infraestruturas.
Referindo-se à sua posição sobre a adesão da Ucrânia à NATO, Fico afirmou ser transparente: "Isto é algo que eu disse abertamente ao primeiro-ministro Shmyhal, aos americanos e a todos os outros".
O primeiro-ministro eslovaco tem acusado sistematicamente o Ocidente e os Estados Unidos de alimentarem o conflito, colocando as culpas na Europa.
"Há um conflito militar num país vizinho, onde os eslavos se estão a matar uns aos outros, e a Europa está a apoiar significativamente esta matança, o que eu não consigo compreender", afirmou Fico no domingo.
Fico: A guerra não pode ser resolvida militarmente
Fico - que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em maio - é um dos aliados mais próximos de Moscovo na NATO e na União Europeia, juntamente com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.
Em outubro de 2023, Fico - que anteriormente se demitiu do cargo de primeiro-ministro da Eslováquia após o assassinato do jornalista de investigação Ján Kuciak e do seu companheiro - voltou ao poder como parte de uma coligação com os partidos de centro-esquerda Hlas e nacionalista SNS.
Durante a sua campanha eleitoral, insistiu que não seria enviada "uma única munição" para a Ucrânia. No entanto, uma investigação publicada pelo Slovak Spectator na semana ada revelou que o governo de Fico exportou, de facto, armas, munições e outros materiais no valor de, pelo menos, 112 milhões de euros para a Ucrânia.
Fico tem apelado repetidamente a soluções "diplomáticas", afirmando na entrevista de domingo que "toda a gente pensa que, através da Ucrânia, vamos pôr os russos de joelhos, mas este problema não pode ser resolvido militarmente".
Estes comentários surgem apesar de os stocks de artilharia, mísseis e drones da Ucrânia estarem a diminuir e a afetar a sua capacidade de combate.
Apesar de o Kremlin ter afirmado, em julho, que estava "aberto a negociações com a Ucrânia", as autoridades russas e os meios de comunicação social estatais têm tentado repetidamente deslegitimar o líder ucraniano, lançando uma série de alegações contra Zelenskyy, como o facto de ser "nazi" ou "consumidor de drogas".
No início deste ano, os meios de comunicação social eslovacos noticiaram que o governo de Fico estava a apresentar queixas-crime contra os seus antecessores por causa da doação de caças à Ucrânia, alegando que as transferências foram feitas ilegalmente.
Tendo sido primeiro-ministro por duas vezes, de 2006 a 2010 e de 2012 a 2018, Fico está agora no seu terceiro mandato, que bateu o recorde, apesar de uma série de controvérsias e escândalos.
O primeiro-ministro eslovaco também aproveitou o momento para anunciar a sua viagem a Moscovo, em maio do próximo ano, classificando as comemorações russas do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa como um "comício pela paz".
A atual candidatura da Ucrânia à NATO
Na frente da NATO, o novo chefe da aliança, Mark Rutte - que tomou posse na semana ada - prometeu reforçar o apoio ocidental à Ucrânia. A sua primeira viagem no cargo foi a Kiev, onde se encontrou com Zelenskyy.
A Ucrânia apresentou a sua candidatura oficial à NATO em 30 de setembro de 2022, sete meses depois de a Rússia ter iniciado a sua invasão em grande escala.
Apesar de os 32 membros da NATO terem afirmado que a Ucrânia estava num caminho "irreversível" para a adesão durante uma cimeira em julho, a nação da Europa Oriental ainda não recebeu um convite formal.
Numa entrevista à televisão estatal do Kremlin, transmitida em setembro, o presidente Vladimir Putin afirmou que "os países da NATO, os EUA e os países europeus estão em guerra com a Rússia" se o Ocidente permitir que a Ucrânia utilize armas de longo alcance para combater dentro da Rússia.