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O lixo \u00e9 tratado durante 24 horas e depois deixado em repouso durante 14 dias. Depois disso, \u00e9 transformado em composto.\u0022 O iftar zero res\u00edduos \u00e9 uma das muitas iniciativas verdes a acontecer na cidade. Aisha Al Maadeed acredita que pequenos gestos como este, feitos por muitas pessoas, podem ter um grande impacto. Em 2018 fundou a iniciativa juvenil catari \u201cFuturo mais Verde\u201d, incentivando as pessoas a colocar em primeiro lugar o planeta. \u0022Transferimos pl\u00e1stico e pap\u00e9is reciclados para uma pe\u00e7a de arte, para mostrar \u00e0s crian\u00e7as que podemos reutilizar as nossas coisas - em vez de as atirar para o lixo - para recicl\u00e1-las\u0022, sublinhou Aisha Al Maadeed. \u0022Envia a mensagem de que \u00e9 preciso cuidar do meio ambiente e espalhar essa consci\u00eancia. Mas n\u00e3o julgando as pessoas. Serve para explicar porque \u00e9 que \u00e9 importante: porque \u00e9 o nosso meio ambiente e o nosso planeta. N\u00e3o temos outro planeta, n\u00e3o h\u00e1 um planeta B.\u0022 Proteger o planeta \u00e9 um dos principais objetivos dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel das Na\u00e7\u00f5es Unidas , adotados em 2015. Para atingir esses objetivos localmente, Oweis Al Salahi ajudou a lan\u00e7ar a \u00fanica Iniciativa de Boas Pr\u00e1ticas da ONU liderada por jovens no Golfo, a SDGeneration Network . \u0022Come\u00e7ou em 2019 como uma plataforma juvenil orientada para os jovens, para amplificar a voz dos que querem realmente promover mudan\u00e7as\u0022, explicou. \u0022Tudo come\u00e7a com a consci\u00eancia dos objetivos. Tudo come\u00e7a sabendo qual \u00e9 o problema, sabendo como podemos trazer solu\u00e7\u00f5es para cima da mesa. Ter os jovens \u00e0 mesa \u00e9 algo em que acredito firmemente. E, claro, colaborar e alinhar com os mesmos objetivos \u00e9, obviamente, um grande primeiro o para o desenvolvimento sustent\u00e1vel.\u0022 De volta \u00e0 tenda do Ramad\u00e3o, a meta de desperd\u00edcio zero ainda \u00e9 um trabalho em andamento, mas os l\u00edderes comunit\u00e1rios comprometeram-se a proteger o planeta. \u0022H\u00e1 um h\u00e1dice que diz que ningu\u00e9m realmente acredita at\u00e9 que ame e queira para o seu irm\u00e3o ou irm\u00e3 o que ama e quer para si mesmo. Ent\u00e3o, assim como podemos querer \u00e1gua, querer uma refei\u00e7\u00e3o, temos de pensar que pessoa atr\u00e1s ou ao lado tamb\u00e9m pode querer\u0022, explicou Sulaiman Timbo Bah, Coordenador de Engagement e Extens\u00e3o na Mesquita da Cidade da Educa\u00e7\u00e3o. \u0022Penso que \u00e9 isso que estamos a tentar ajudar as pessoas a lembrar com este exerc\u00edcio de ser sustent\u00e1veis quando comem, n\u00e3o desperdi\u00e7ando e acabando o que t\u00eam.\u0022 Sulaiman Bah ajudou a organizar o iftar comunit\u00e1rio. Diz que \u00e9 um pilar de f\u00e9. \u0022Desde que pensemos nos outros, penso que s\u00f3 tiramos o que precisamos. Existem muitos vers\u00edculos no Cor\u00e3o que dizem 'kulu washrabu' - coma e beba. Isto \u00e9 tudo o que se precisa, mas sem desperd\u00edcio.\u0022 Viver em harmonia com a natureza A ideia de tirar apenas o que precisamos do meio ambiente sem prejudic\u00e1-lo tem ra\u00edzes muito profundas no Isl\u00e3o. \u00c9 por isso que um ativista ambiental bedu\u00edno est\u00e1 a pedir a cada pessoa no Catar que plante ou preserve uma \u00e1rvore. Ali Taleb Al Henzab \u00e9 dono de uma quinta a cerca de uma hora a oeste de Doha. Acredita que o conhecimento ind\u00edgena pode ser usado para proteger o planeta. \u0022Olhamos para as plantas como f\u00e1bricas de oxig\u00e9nio. O nosso gado estaria em perigo sem vegeta\u00e7\u00e3o\u0022, disse \u00e0 Euronews. \u0022Hoje, cultivamos uma variedade de plantas e \u00e1rvores para garantir um seguro para o gado. Um seguro face ao clima e purifica\u00e7\u00e3o do ar.\u0022 \u0022As pessoas que v\u00e3o para o deserto n\u00e3o devem prejudicar o meio ambiente ou ser inimigas do meio ambiente. Devemos deixar o local como estava. Em segundo lugar, plantamos as plantas no solo com base na sua origem. As plantas das montanhas pertencem \u00e0s montanhas, as plantas do deserto pertencem ao deserto e assim por diante. Em terceiro lugar, selecionamos as \u00e1rvores durante a esta\u00e7\u00e3o agr\u00edcola considerando as posi\u00e7\u00f5es das estrelas e as \u00e1reas com chuva. Esta abordagem reduz a quantidade de aten\u00e7\u00e3o e cuidado que precisam\u0022, acrescentou. Ali Taleb Al Henzab aprendeu muitas t\u00e9cnicas com o pai e o av\u00f4, que tamb\u00e9m lhe ensinou a import\u00e2ncia de viver em harmonia com a natureza. \u0022Vivi toda a minha vida com meu av\u00f4, que considero uma escola em movimento. Ele ensinou-me muitas coisas. A primeira coisa que aprendi foi que o nosso ambiente natural \u00e9 o nosso lar, o nosso modo de vida e o n\u00facleo da nossa exist\u00eancia. Ent\u00e3o, tanto quanto pod\u00edamos, t\u00ednhamos de manter o abastecimento original de \u00e1gua e o pr\u00f3prio len\u00e7ol fre\u00e1tico e preservar as \u00e1rvores, sem necessariamente ter de derrub\u00e1-las. Tir\u00e1vamos da terra o que precis\u00e1vamos e deix\u00e1vamos o resto para as gera\u00e7\u00f5es futuras, que \u00e9 exatamente o que a sustentabilidade implica. Faz\u00edamos isso instintivamente.\u0022 \u0022Os jovens de hoje s\u00e3o o centro da exist\u00eancia. Eles s\u00e3o a nossa gera\u00e7\u00e3o futura e a for\u00e7a de trabalho. Hoje, os jovens est\u00e3o por toda parte. \u00c9 fundamental esclarecer que o ambiente lhes pertence e \u00e0s futuras gera\u00e7\u00f5es. Quando os nossos filhos enfrentarem desafios ambientais no futuro, pode n\u00e3o haver solu\u00e7\u00f5es imediatas dispon\u00edveis. Por isso, tenho uma mensagem para todos no mundo: plantem \u00e1rvores. Seja \u00e0 beira do rio, nos campos floridos ou mesmo nos telhados. Plantar \u00e1rvores \u00e9 essencial porque a nossa vida est\u00e1 ligada a elas.\u0022 Largar os pl\u00e1sticos em nome do planeta Os pl\u00e1sticos de uso \u00fanico e os res\u00edduos de embalagens s\u00e3o os maiores culpados pelos milh\u00f5es de toneladas de lixo que acabam nos oceanos e aterros sanit\u00e1rios de todo o mundo. A solu\u00e7\u00e3o para cortar isso \u00e9 bastante simples - mudar para op\u00e7\u00f5es ecol\u00f3gicas ou biodegrad\u00e1veis. No Catar, mais empresas est\u00e3o a encontrar formas de descartar os pl\u00e1sticos de vez. A start-up catari Enavra faz talheres biodegrad\u00e1veis a partir de compostagem e res\u00edduos alimentares. A ideia come\u00e7ou em 2019, quando os co-fundadores Saoud Al Emadi e Abdullah Shaat ainda eram estudantes de engenharia. \u0022Fomos a alguns caf\u00e9s que tinham palhas de cart\u00e3o e era muito dif\u00edcil de beber\u0022, referiu Saoud Al Emadi. \u0022Propusemos a ideia de fornecer um bom substituto ecol\u00f3gico aos propriet\u00e1rios, e eles ficaram muito interessados.\u0022 Depois de testar diferentes materiais, o momento \u0022eureka\u0022 de Saoud e Abdullah surgiu quando os dois descobriram que as sementes de abacate demoram muito menos tempo do que as outras para se decompor naturalmente. Os jovens empreendedores tiveram uma ideia. \u0022As sementes de abacate s\u00e3o um dos principais res\u00edduos com o componente fundamental que as torna um biopl\u00e1stico que tamb\u00e9m \u00e9 compost\u00e1vel e biodegrad\u00e1vel, acrescentou Emadi. At\u00e9 ao momento o neg\u00f3cio est\u00e1 a dar frutos. Da f\u00e1brica, os talheres biodegrad\u00e1veis da Enavra seguem para caf\u00e9s e restaurantes em todo o Catar. E \u00e0 medida que mais empresas mudam para abandonar os pl\u00e1sticos descart\u00e1veis, a decis\u00e3o de fazer parceria com a Enavra \u00e9 \u00f3bvia para os empres\u00e1rios. \u0022Ao mudar para os produtos Enavra, est\u00e1-se a escolher um produto ecol\u00f3gico de alta qualidade que \u00e9 biodegrad\u00e1vel no espa\u00e7o de um ano. Assim contribui-se para salvar o meio ambiente e reduzir o desperd\u00edcio de pl\u00e1stico\u0022, insistiu Abdullah Shaat. Al\u00e9m disso, est\u00e1-se a escolher um produto com pre\u00e7os muito competitivos em compara\u00e7\u00e3o com o restante dos produtos ecol\u00f3gicos. Do reaproveitamento \u00e0 reutiliza\u00e7\u00e3o Em outra parte de Doha, Victoria Hamade est\u00e1 ocupada a lidar com pedidos do seu neg\u00f3cio ecol\u00f3gico, Refill2Save. A start-up incentiva as pessoas a reutilizar garrafas de pl\u00e1stico, recarregando-as com produtos de limpeza, que vende. De sab\u00e3o para as m\u00e3os ao sab\u00e3o em p\u00f3, ando por detergentes para limpar o ch\u00e3o, Victoria facilita a vida dos clientes, fazendo-lhes chegar os produtos. \u0022Porque queremos ser m\u00f3veis, queremos estar dispon\u00edveis n\u00e3o apenas em Doha, mas tamb\u00e9m em outros munic\u00edpios pr\u00f3ximos. \u00c9 importante ser conveniente para os nossos clientes porque estamos a pedir-lhes que mudem a sua mentalidade\u0022, referiu. Estacionou a esta\u00e7\u00e3o de recarga m\u00f3vel na Academia Awsaj , da Funda\u00e7\u00e3o do Catar, onde alunos e professores trouxeram as pr\u00f3prias garrafas pl\u00e1sticas vazias para reabastecer com o produto de limpeza da sua escolha. Para a escola, fazer parceria com Victoria tamb\u00e9m \u00e9 uma forma de educar os alunos e de incutir pequenos h\u00e1bitos ecol\u00f3gicos desde pequenos. 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Projetos de sustentabilidade ganham tração no Catar

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Há cada vez mais iniciativas e pessoas conscientes da importância de proteger o ambiente

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"Quem guarda sempre tem." "O lixo de uma pessoa é o tesouro de outra." Estes são alguns provérbios que mostram como cuidar do meio ambiente através de uma vida sustentável não é um conceito novo. Na verdade, é algo que vem sendo transmitido ao longo de gerações, transcendendo cultura e etnia.

Neste último episódio do Qatar 365, descobrimos algumas iniciativas que estão a acontecer no Catar, inclusive durante o Ramadão, o mês sagrado muçulmano que começou em março deste ano.

Cidade da Educação: combate ao desperdício de alimentos

À medida que o sol se põe na Cidade da Educação de Doha, 1500 pessoas juntam-se numa tenda para quebrar o jejum em conjunto - com um toque ecológico.

Participam de um iftar, a refeição rápida da noite que quebra o jejum no Ramadão, agora mais especial porque tem como objetivo "o desperdício zero", explicou, em entrevista à Euronews, Simon Jones, especialista em engagement e ativação na Fundação do Catar.

"Não haverá desperdício neste evento e também não haverá desperdício de embalagens. Durante todo o ciclo, as embalagens são compostáveis e biodegradáveis e todo o excesso de resíduos de comida vai para um depósito separado e será usado para compostagem. Mais tarde, haverá aproveitamento para embelezar a paisagem à volta da Cidade da Educação", acrescentou Jones.

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Simon Jones, especialista em engagement e ativação na Fundação do Catar.Euronews

Além do tempo pessoal para reflexão durante o Ramadão, há também um importante processo de construção da comunidade, em que os muçulmanos literalmente partem o pão juntos.

Num Iftar de Resíduos Zero na Cidade da Educação, é preciso haver um esforço comunitário para garantir que todos os materiais alimentares sejam compostados e reciclados, reduzindo a pegada de carbono da comunidade.

"Assim que as pessoas terminam a refeição, levantam-se, saem e há dois baldes do lixo separados. Um é para o lixo seco, as embalagens da comida. O outro é para a comida que sobrou", referiu Simon Jones, ressalvando que "os restos de comida serão recolhidos e levados, depois para uma máquina de compostagem. O lixo é tratado durante 24 horas e depois deixado em repouso durante 14 dias. Depois disso, é transformado em composto."

O nosso ambiente é a nossa casa, o nosso modo de vida e o núcleo da nossa existência.
Ali Taleb Al Henzab
Ativista ambiental

O iftar zero resíduos é uma das muitas iniciativas verdes a acontecer na cidade.

Aisha Al Maadeed acredita que pequenos gestos como este, feitos por muitas pessoas, podem ter um grande impacto. Em 2018 fundou a iniciativa juvenil catari “Futuro mais Verde”, incentivando as pessoas a colocar em primeiro lugar o planeta.

"Transferimos plástico e papéis reciclados para uma peça de arte, para mostrar às crianças que podemos reutilizar as nossas coisas - em vez de as atirar para o lixo - para reciclá-las", sublinhou Aisha Al Maadeed.

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Aisha Al Maadeed, fundadora da iniciativa "Futuro mais Verde" fala a Aadel Haleem da EuronewsEuronews

"Envia a mensagem de que é preciso cuidar do meio ambiente e espalhar essa consciência. Mas não julgando as pessoas. Serve para explicar porque é que é importante: porque é o nosso meio ambiente e o nosso planeta. Não temos outro planeta, não há um planeta B."

Proteger o planeta é um dos principais objetivos dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, adotados em 2015. Para atingir esses objetivos localmente, Oweis Al Salahi ajudou a lançar a única Iniciativa de Boas Práticas da ONU liderada por jovens no Golfo, a SDGeneration Network.

"Começou em 2019 como uma plataforma juvenil orientada para os jovens, para amplificar a voz dos que querem realmente promover mudanças", explicou.

"Tudo começa com a consciência dos objetivos. Tudo começa sabendo qual é o problema, sabendo como podemos trazer soluções para cima da mesa. Ter os jovens à mesa é algo em que acredito firmemente. E, claro, colaborar e alinhar com os mesmos objetivos é, obviamente, um grande primeiro o para o desenvolvimento sustentável."

Euronews
Oweis Al-Salahi, Fundador, SDGeneration NetworkEuronews

De volta à tenda do Ramadão, a meta de desperdício zero ainda é um trabalho em andamento, mas os líderes comunitários comprometeram-se a proteger o planeta.

"Há um hádice que diz que ninguém realmente acredita até que ame e queira para o seu irmão ou irmã o que ama e quer para si mesmo. Então, assim como podemos querer água, querer uma refeição, temos de pensar que pessoa atrás ou ao lado também pode querer", explicou Sulaiman Timbo Bah, Coordenador de Engagement e Extensão na Mesquita da Cidade da Educação.

"Penso que é isso que estamos a tentar ajudar as pessoas a lembrar com este exercício de ser sustentáveis quando comem, não desperdiçando e acabando o que têm."

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Iftar comunitário na mesquita da Cidade da Educação, Fundação do CatarEuronews

Sulaiman Bah ajudou a organizar o iftar comunitário. Diz que é um pilar de fé.

"Desde que pensemos nos outros, penso que só tiramos o que precisamos. Existem muitos versículos no Corão que dizem 'kulu washrabu' - coma e beba. Isto é tudo o que se precisa, mas sem desperdício."

Viver em harmonia com a natureza

A ideia de tirar apenas o que precisamos do meio ambiente sem prejudicá-lo tem raízes muito profundas no Islão. É por isso que um ativista ambiental beduíno está a pedir a cada pessoa no Catar que plante ou preserve uma árvore.

Ali Taleb Al Henzab é dono de uma quinta a cerca de uma hora a oeste de Doha. Acredita que o conhecimento indígena pode ser usado para proteger o planeta.

"Olhamos para as plantas como fábricas de oxigénio. O nosso gado estaria em perigo sem vegetação", disse à Euronews. "Hoje, cultivamos uma variedade de plantas e árvores para garantir um seguro para o gado. Um seguro face ao clima e purificação do ar."

"As pessoas que vão para o deserto não devem prejudicar o meio ambiente ou ser inimigas do meio ambiente. Devemos deixar o local como estava. Em segundo lugar, plantamos as plantas no solo com base na sua origem. As plantas das montanhas pertencem às montanhas, as plantas do deserto pertencem ao deserto e assim por diante. Em terceiro lugar, selecionamos as árvores durante a estação agrícola considerando as posições das estrelas e as áreas com chuva. Esta abordagem reduz a quantidade de atenção e cuidado que precisam", acrescentou.

Euronews
Ali Taleb Al Henzab, Ativista AmbientalEuronews

Ali Taleb Al Henzab aprendeu muitas técnicas com o pai e o avô, que também lhe ensinou a importância de viver em harmonia com a natureza.

"Vivi toda a minha vida com meu avô, que considero uma escola em movimento. Ele ensinou-me muitas coisas. A primeira coisa que aprendi foi que o nosso ambiente natural é o nosso lar, o nosso modo de vida e o núcleo da nossa existência. Então, tanto quanto podíamos, tínhamos de manter o abastecimento original de água e o próprio lençol freático e preservar as árvores, sem necessariamente ter de derrubá-las. Tirávamos da terra o que precisávamos e deixávamos o resto para as gerações futuras, que é exatamente o que a sustentabilidade implica. Fazíamos isso instintivamente."

"Os jovens de hoje são o centro da existência. Eles são a nossa geração futura e a força de trabalho. Hoje, os jovens estão por toda parte. É fundamental esclarecer que o ambiente lhes pertence e às futuras gerações. Quando os nossos filhos enfrentarem desafios ambientais no futuro, pode não haver soluções imediatas disponíveis. Por isso, tenho uma mensagem para todos no mundo: plantem árvores. Seja à beira do rio, nos campos floridos ou mesmo nos telhados. Plantar árvores é essencial porque a nossa vida está ligada a elas."

Largar os plásticos em nome do planeta

Os plásticos de uso único e os resíduos de embalagens são os maiores culpados pelos milhões de toneladas de lixo que acabam nos oceanos e aterros sanitários de todo o mundo. A solução para cortar isso é bastante simples - mudar para opções ecológicas ou biodegradáveis. No Catar, mais empresas estão a encontrar formas de descartar os plásticos de vez.

A start-up catari Enavra faz talheres biodegradáveis a partir de compostagem e resíduos alimentares. A ideia começou em 2019, quando os co-fundadores Saoud Al Emadi e Abdullah Shaat ainda eram estudantes de engenharia.

"Fomos a alguns cafés que tinham palhas de cartão e era muito difícil de beber", referiu Saoud Al Emadi. "Propusemos a ideia de fornecer um bom substituto ecológico aos proprietários, e eles ficaram muito interessados."

Depois de testar diferentes materiais, o momento "eureka" de Saoud e Abdullah surgiu quando os dois descobriram que as sementes de abacate demoram muito menos tempo do que as outras para se decompor naturalmente. Os jovens empreendedores tiveram uma ideia.

"As sementes de abacate são um dos principais resíduos com o componente fundamental que as torna um bioplástico que também é compostável e biodegradável, acrescentou Emadi.

Euronews
Saoud Al Emadi, Co-fundador, EnavraEuronews

Até ao momento o negócio está a dar frutos. Da fábrica, os talheres biodegradáveis da Enavra seguem para cafés e restaurantes em todo o Catar. E à medida que mais empresas mudam para abandonar os plásticos descartáveis, a decisão de fazer parceria com a Enavra é óbvia para os empresários.

"Ao mudar para os produtos Enavra, está-se a escolher um produto ecológico de alta qualidade que é biodegradável no espaço de um ano. Assim contribui-se para salvar o meio ambiente e reduzir o desperdício de plástico", insistiu Abdullah Shaat.

Além disso, está-se a escolher um produto com preços muito competitivos em comparação com o restante dos produtos ecológicos.

Do reaproveitamento à reutilização

Em outra parte de Doha, Victoria Hamade está ocupada a lidar com pedidos do seu negócio ecológico, Refill2Save.

A start-up incentiva as pessoas a reutilizar garrafas de plástico, recarregando-as com produtos de limpeza, que vende. De sabão para as mãos ao sabão em pó, ando por detergentes para limpar o chão, Victoria facilita a vida dos clientes, fazendo-lhes chegar os produtos.

"Porque queremos ser móveis, queremos estar disponíveis não apenas em Doha, mas também em outros municípios próximos. É importante ser conveniente para os nossos clientes porque estamos a pedir-lhes que mudem a sua mentalidade", referiu.

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Victoria Marie Domini Hamade, Fundadora, Refill2SaveEuronews

Estacionou a estação de recarga móvel na Academia Awsaj, da Fundação do Catar, onde alunos e professores trouxeram as próprias garrafas plásticas vazias para reabastecer com o produto de limpeza da sua escolha.

Para a escola, fazer parceria com Victoria também é uma forma de educar os alunos e de incutir pequenos hábitos ecológicos desde pequenos. Educar os jovens também é uma grande parte da missão de Victoria, esperando trazer a sociedade de volta a uma época em que se consumia menos.

"O que realmente quero alcançar aqui é fazer com que as pessoas voltem à cultura de reutilização, porque há décadas atrás, era isso que costumávamos fazer. Reutilizávamos as garrafas de vidro para leite e outros consumíveis. Depois veio a cultura de deitar fora que se tornou predominante. Quero que voltemos a reutilizar", concluiu.

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