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Máfia: Escondidos à vista de todos

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A captura de Matteo Messina Denaro na Scicília natal 30 anos depois de ser condenado a uma pena de prisão perpétua levanta questões que Anna Sergi, especialista em crime organizado, dá resposta

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Matteo Messina Denaro, o "Último Padrinho", deve comparecer num tribunal de L'Aquila na quinta-feira num caso de recurso de uma sentença de prisão perpétua pelo assassinato, em 1992, de um procurador.

A sua captura, trinta anos depois da condenação, levantou várias questões. Embora estivesse na lista dos "mais procurados" em Itália há décadas, a polícia não precisou ir muito longe para encontrá-lo.

Foi detido na sua terra natal, a Sicília, em frente ao centro médico onde costumava ir sem nenhuma precaução ou disfarce particular, exceto os documentos falsos.

Era conhecido na cidade. Em casa a polícia encontrou recibos de restaurantes. Testemunhas dizem que costumava ir ao supermercado. Ele estava fora de casa, mas nunca foi incomodado pela polícia até 16 de janeiro de 2023.

A Euronews perguntou a Anna Sergi, professora de Criminologia e Crime Organizado da Universidade de Essex, como foi isso possível.

Dinheiro não compra prestígio

"Em primeiro lugar", diz Sergi, "para algumas gerações de mafiosos, como Matteo Messina Denaro, o reconhecimento social importa mais do que o dinheiro. É uma questão de orgulho. Se foge e e deixa a sua terra, também abandona a reputação. Faz parte do estilo de vida da máfia. Fugir para o Brasil ou para as Caraíbas não seria honesto para estas pessoas. Além disso, montar uma rede de proteção no estrangeiro é mais caro e complicado. Claro que podem contar sempre com muito dinheiro e apoio logístico lá fora, mas não é a mesma coisa."

Um círculo vicioso de poder e reconhecimento social

“É por isso que todos os sistemas mafiosos precisam criar um vínculo com seu território. Fazem isso por meio de extorsão e medo e construem um clima de intimidação e consentimento. Além disso, ao abrir mão de um território, abre-se mão do poder. Veja-se o caso do tráfico de drogas".

Outras organizações criminosas também escondem os líderes em casa?

"Em alguns casos, sim. Lembro-me do líder de um cartel mexicano, Nazario Moreno González, que foi dado como morto quando, na verdade, estava vivo e em casa. Ficou lá porque se sentia protegido."

Como explica o facto de que padrinhos italianos podem ficar décadas em liberdade?

"Itália, ou mais precisamente, a Sicília, tem um histórico nesse sentido. Mas lembre-se de que perseguir essas pessoas é um desafio e muito caro para um Estado. Itália gastou milhões. Em outros lugares, os criminosos podem dar-se ao luxo de não desaparecer completamente porque sabem que o Estado vai acabar por desistir. Alguns vão ser encontrados mortos antes mesmo de a polícia chegar os apanhar. O histórico de Itália é também é um histórico em termos de dinheiro gasto."

Os grandes mafiosos parecem desfrutar de um certo nível de proteção. Como funciona esta rede de proteção?

“É algo que se ativa em vários níveis e graus. Primeiro é preciso ter alguém que saiba sempre onde está, e se está vivo, muito perto de você. Isto é o básico. Isto envolve pagamentos recorrentes que devem sair de contas bancárias acima de qualquer suspeita. No caso de Messina Denaro era a irmã a cúmplice. Na verdade, ela foi presa há alguns dias. Ela tratava da contabilidade da família."

“Depois, há a rotina do dia-a-dia, que é particularmente importante para os padrinhos mais velhos, que já não são autossuficientes, por exemplo, para cuidar da casa ou mesmo da alimentação. Estão sempre bem alimentados e comem bem, porque é claro que querem comer bem. E é preciso garantir que têm um esconderijo seguro, um lugar que e despercebido e impossível de estabeler uma ligação. Até o pagamento das contas de gás ou luz exige cuidados e procedimentos especiais. Se for feito num lugar que conhece bem, é mais fácil."

Alguém vai ocupar o lugar de Matteo Messina Denaro agora que está preso?

"É provável que sim. Não ficaria surpreendido que a polícia já tivesse identificado essa pessoa. Mas, de um modo geral, a máfia italiana estava em crise antes mesmo da prisão de Messina Denaro."

"O que a máfia realmente perdeu com a prisão de Matteo Messina Denaro é o ethos 'mitológico' da organização. Estavam orgulhosos de ter o chefe a monte há tanto tempo."

Quando diz que a máfia está em crise, refere-se a uma crise militar, de prestígio ou crise financeira?

"Todas essas coisas juntas. Nos anos 90 a máfia siciliana foi severamente prejudicada não apenas pelo Estado, mas pelas ações de seu próprio chefe Totó Riina [que lançou uma guerra contra o poder central mas acabou preso em 1993] e cuja visão da máfia não beneficiou muito a organização."

"A máfia siciliana perdeu muito poder criminoso. Hoje em dia, já não domina o narcotráfico e, ao perder isso, também perdeu muito dinheiro"

"Ainda lavam dinheiro no mercado da energia eólica, por exemplo, ou no setor da hospitalidade, mas o lado militar da máfia siciliana não é mais predominante, porque quase levou à autodestruição da organização. As antigas famílias ainda existem e têm algum poder no território, mas é principalmente um poder local."

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