{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2022/09/15/o-lider-da-resistencia-afega-ve-oportunidade-de-sucesso" }, "headline": "O l\u00edder da resist\u00eancia afeg\u00e3 v\u00ea \u0022oportunidade de sucesso\u0022", "description": "O l\u00edder da Frente Nacional de Resist\u00eancia do Afeganist\u00e3o, Ahmad Massoud, apelou \u00e0 comunidade internacional para ajudar a proporcionar um novo futuro ao seu pa\u00eds, afirmando que existe agora uma oportunidade \u00fanica para provocar mudan\u00e7as.", "articleBody": "No Global Conversation desta semana, Anelise Borges conversou com Ahmad Massoud, l\u00edder da Frente Nacional de Resist\u00eancia do Afeganist\u00e3o . A conversa foi gravada em Viena, na \u00faltima ter\u00e7a-feira, dia 13 de setembro. Euronews (Anelise Borges) - O seu pa\u00eds ou por uma mudan\u00e7a s\u00edsmica. Depois de 20 anos de presen\u00e7a de tropas estrangeiras, o Afeganist\u00e3o est\u00e1 agora novamente nas m\u00e3os dos Talib\u00e3s. A sua vida foi arruinada a sua prov\u00edncia, Panshir, foi oficialmente tomada pelos talib\u00e3s. Lembra-se do dia 15 de agosto de 2021? O que estava a fazer nesse dia? Ahmad Massoud : Eu estava em Cabul. Fiquei em Cabul at\u00e9 aos \u00faltimos momentos. E muitas pessoas ficaram com uma esperan\u00e7a: apesar de tudo, esper\u00e1vamos uma transi\u00e7\u00e3o pac\u00edfica da Rep\u00fablica do Afeganist\u00e3o: lentamente, para uma situa\u00e7\u00e3o de governo provis\u00f3rio que proporcionasse uma situa\u00e7\u00e3o de paz e di\u00e1logo e depois, talvez outra elei\u00e7\u00e3o ou um novo governo - de que os Talib\u00e3s pudessem fazer parte - e assim por diante. Contudo, infelizmente, o colapso do governo, o erro de c\u00e1lculo e a inten\u00e7\u00e3o dos Talib\u00e3s de n\u00e3o resolver o problema do Afeganist\u00e3o atrav\u00e9s da paz e do di\u00e1logo, de perder tempo, e de optar pelas armas - terminou nesta cat\u00e1strofe. Euronews - Tentou negociar com os Talib\u00e3s tal como o seu pai fez no ado. E soube que lhe ofereceram uma posi\u00e7\u00e3o no governo. Pode falar-nos mais sobre isso? Ahmad Massoud: Quando fui para o Vale Panjshir, uma coisa era muito clara. Os Talib\u00e3s estavam a fazer publicidade e a dizer que \u0022o Sr. (Ashraf) Ghani \u0022n\u00e3o queria a paz\u0022. Eu n\u00e3o estava contente com a forma como o Sr. Ghani governava, e sabia que a sua forma de governar resultaria no colapso. Pensei que talvez fosse culpa de Ghani o facto de as negocia\u00e7\u00f5es de paz n\u00e3o estarem a funcionar. 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Ahmad Massoud: Falei com o Sr. Muttaqi (Amir Khan Muttaqi, Ministro interino dos Neg\u00f3cios Estrangeiros), falei com Shahabuddin Delaware (Ministro interino dos Minerais e Petr\u00f3leo), falei com o Sr. Khias, falei com o Sr. Anas Haqqani (l\u00edder s\u00e9nior dos Talib\u00e3s), falei com o Sr. Khalil Haqqani (Ministro interino dos Refugiados). Porque uma coisa que eu sei \u00e9 que existem divis\u00f5es dentro dos Talib\u00e3s. Por vezes, quando falava com um dos lados, eles diziam: \u0022N\u00e3o, n\u00e3o somos n\u00f3s, esse \u00e9 outro grupo\u0022. Quando falava com o outro grupo, eles diziam: \u0022N\u00e3o, n\u00e3o somos n\u00f3s, esse \u00e9 o outro grupo\u0022. Mas, infelizmente, esta hipocrisia esteve sempre presente. Euronews - Alguns dias ap\u00f3s a queda de Cabul, de Panjshir, escreveu para o Washington Post\u2013 e o a citar \u2013 \u0022Estou pronto para seguir as pisadas do meu pai (...) os combatentes mujahideen est\u00e3o preparados para voltar a enfrentar os Talib\u00e3s. Temos armaz\u00e9ns de muni\u00e7\u00f5es e armas que recolhemos desde o tempo do meu pai\u0022. O que aconteceu \u00e0 promessa daquela luta? Onde est\u00e1 a resist\u00eancia neste momento? Ahmad Massoud: Os Talib\u00e3s n\u00e3o reconhecem a exist\u00eancia da resist\u00eancia.\u00a0 Vemos que conseguimos captur\u00e1-los, conseguimos at\u00e9 derrubar os seus helic\u00f3pteros, conseguimos sobreviver aos duros invernos do Hindu Kush, conseguimos sobreviver com zero ajudas do exterior. Euronews - \u00c9 uma escolha? Ou a comunidade internacional simplesmente n\u00e3o est\u00e1 a prestar aten\u00e7\u00e3o \u00e0 sua causa? Ahmad Massoud: Nenhuma mente s\u00e3 diria: \u0022N\u00e3o, n\u00f3s n\u00e3o precisamos de nada\u0022. Claro, precisamos de apoio. \u00c9 claro, precisamos de ajuda. Mas a quest\u00e3o \u00e9 que ainda acredito firmemente que precisamos de vir, todos n\u00f3s - como uma equipa coletiva: a comunidade internacional, ao lado das elites afeg\u00e3s que n\u00e3o est\u00e3o satisfeitas com a situa\u00e7\u00e3o atual - para encontrar verdadeiramente um caminho para o futuro Afeganist\u00e3o. Euronews - Ent\u00e3o, basicamente, est\u00e1 \u00e0 procura de uma solu\u00e7\u00e3o afeg\u00e3 para o Afeganist\u00e3o Ahmad Massoud: Sim, sem d\u00favida Euronews -\u00a0 Os Estados Unidos disseram que \u0022acabaram com a sua guerra intermin\u00e1vel\u0022, mas que a guerra, a guerra contra o terrorismo, est\u00e1 longe de terminar. Vimos o que est\u00e1 a acontecer na regi\u00e3o. O senhor j\u00e1 alertou para os perigos do regresso dos Talib\u00e3s relativamente a este aspeto. Referiu anteriormente que a Al-Qaeda est\u00e1 a operar no seu pa\u00eds e que, talvez, outros grupos estejam a ser acolhidos no Afeganist\u00e3o pelos Talib\u00e3s. Porque acha que o mundo simplesmente n\u00e3o est\u00e1 a ouvir? Porque \u00e9 que ningu\u00e9m faz nada? Ahmad Massoud: Bem, penso que h\u00e1 duas raz\u00f5es para isso. N\u00e3o estamos a viver no mesmo mundo que em 2001. Vivemos num mundo em que o interesse nacional \u00e9 agora muito mais importante do que os interesses globais. As pessoas costumavam pensar a longo prazo em vez de a curto prazo. E eu acredito que algumas coisas mudaram. Primeiro, nessa altura, a gera\u00e7\u00e3o que estava mais pr\u00f3xima da experi\u00eancia ou da era dos p\u00f3s Segunda Guerra Mundial, recordava e compreendia a import\u00e2ncia da luta pela liberdade e democracia. E n\u00e3o olhavam realmente para a liberdade, a democracia e o mundo moderno como garantidos. Sabiam o sangue que tinha sido derramado, o sangue que sacrific\u00e1mos. Foi por isso que o mundo ficou com o povo do Afeganist\u00e3o durante a invas\u00e3o sovi\u00e9tica, o mundo ficou com o Afeganist\u00e3o na luta contra o terrorismo. Os \u00faltimos 20 anos, especialmente as novas gera\u00e7\u00f5es, creio eu, e as novas fases, trouxeram uma pequena mudan\u00e7a, especialmente na Europa. Tom\u00e1mos tudo por garantido: vida, democracia, liberdade. E esquecemo-nos do mal que todos n\u00f3s, como humanidade, sacrific\u00e1mos muito para derrotar. Portanto, isso \u00e9 uma coisa. E \u00e9 a minha experi\u00eancia pessoal, vivendo na Europa h\u00e1 muitos, muitos anos. O segundo aspeto foram os \u00faltimos 20 anos de guerra no Afeganist\u00e3o. O mundo aplicou todos os seus esfor\u00e7os nos \u00faltimos 20 anos para fazer algo, mas falhou. E agora pensam que n\u00e3o h\u00e1 esperan\u00e7a. No entanto, o Afeganist\u00e3o ainda pode ser salvo, mas n\u00e3o por muito tempo. Euronews - Como se salva o Afeganist\u00e3o? O que tem de acontecer para salvar o seu pa\u00eds? Ahmad Massoud: \u00a0 Bem, creio que o mundo deve manter-se firme contra as exig\u00eancias dos Talib\u00e3s. E o mundo enquanto grupo coletivo precisa de, em conjunto, n\u00e3o se envolver individualmente com os Talib\u00e3s, deve envolver-se coletivamente com o Afeganist\u00e3o - todos os seus lados, todas as suas partes, todos os seus tipos e setores - para encontrar verdadeiramente uma solu\u00e7\u00e3o para o Afeganist\u00e3o: uma solu\u00e7\u00e3o pol\u00edtica ou um processo para preparar a situa\u00e7\u00e3o do Afeganist\u00e3o para um governo leg\u00edtimo. Porque \u00e9 que vai funcionar agora? Por causa de algumas raz\u00f5es. Primeiro, os Talib\u00e3s, ap\u00f3s um ano no poder, mostraram verdadeiramente que n\u00e3o s\u00e3o capazes de governar. Em segundo lugar, as pessoas percebem. No in\u00edcio, havia muitas pessoas esperan\u00e7osas - chamavam-lhes mesmo Talib\u00e3s 2.0, Talib\u00e3s moderados - mas vimos que era tudo falso. Eles s\u00e3o a mesma coisa. Em terceiro lugar, existem algumas divis\u00f5es internas no seio dos Talib\u00e3s, existem alguns grupos que n\u00e3o est\u00e3o satisfeitos com a situa\u00e7\u00e3o. Mas eles est\u00e3o em minoria. E por \u00faltimo, alguns dos outros pa\u00edses, que eram contra a presen\u00e7a de for\u00e7as internacionais americanas no Afeganist\u00e3o, e por essa raz\u00e3o apoiaram os Talib\u00e3s, n\u00e3o o fazem agora. Por conseguinte, esta \u00e9 uma oportunidade que pode levar ao sucesso. Porque \u00e9 que o meu pai, quando veio para Fran\u00e7a em 2001, sugeriu fortemente o apoio ao governo afeg\u00e3o nessa altura e a luta contra o terrorismo sem a presen\u00e7a de for\u00e7as internacionais? Porque ele sabia que a presen\u00e7a de for\u00e7as internacionais no Afeganist\u00e3o faria do pa\u00eds uma esp\u00e9cie de campo de batalha para outros rivais. Porque todos sabemos que muitas superpot\u00eancias, que n\u00e3o gostam umas das outras, t\u00eam os seus pr\u00f3prios jogos e as suas agendas. Assim, quando est\u00e3o presentes num pa\u00eds, o outro pa\u00eds far\u00e1 tudo o que estiver ao seu alcance contra os seus inimigos. Para fazer algo contra ele. Agora n\u00e3o existe presen\u00e7a das for\u00e7as internacionais no Afeganist\u00e3o, por isso a oportunidade est\u00e1 l\u00e1 para um esfor\u00e7o conjunto e para criar o m\u00e1ximo de press\u00e3o. E acima de tudo, o povo, a nova gera\u00e7\u00e3o, e especialmente as mulheres, n\u00e3o querem que a situa\u00e7\u00e3o continue. Portanto, prevaleceremos, seremos bem-sucedidos, mas precisamos da aten\u00e7\u00e3o e apoio do mundo agora, antes que se torne tarde demais. Euronews - Falou do seu pai, que continua a ser um s\u00edmbolo extraordin\u00e1rio de uma luta em nome de valores que, e j\u00e1 o disse, o seu pa\u00eds partilha com o Ocidente. Acha que se o seu pai estivesse vivo, as coisas seriam diferentes? Ahmad Massoud: Absolutamente. SAntes de mais, no seu tempo com a sua capacidade, com tudo o que tinha,seria um governador leg\u00edtimo, um g\u00e9nio militar. Ele sabia, na fase mais recente da sua vida e da sua luta contra os Talib\u00e3s. Em diferentes reuni\u00f5es, especialmente com a imprensa e tamb\u00e9m quando fez uma viagem \u00e0 Europa, mencionou que os Talib\u00e3s j\u00e1 n\u00e3o tinham a capacidade de nos derrotar militarmente. Ele sabia que militarmente n\u00e3o seria derrotado. \u00c9 por isso que a sua visita \u00e0 Europa foi para iniciar uma nova fase, uma nova era, um novo tipo de processo - tal como estou a dizer, para que todas as partes se reunissem para formar um novo governo no Afeganist\u00e3o. Ele n\u00e3o queria ir e capturar Cabul e estabelecer o seu pr\u00f3prio governo. Resistiu, basicamente, at\u00e9 que toda a di\u00e1spora do Afeganist\u00e3o estivesse pronta para se reunir e fazer parte de um processo de estabelecimento de um governo que todos pudessem aceitar e com o qual todos pudessem concordar. E era isto que ele estava a fazer e foi capaz de sustentar. Mas os Talib\u00e3s sabiam-no, a Al-Qaeda sabia-o, e outros: que se ele estivesse vivo, \u0022n\u00e3o seriam bem-sucedidos\u0022. E a Al-Qaeda sabia que \u0022se ele estivesse vivo, nem sequer seriam capazes de prejudicar o Ocidente ou qualquer outro pa\u00eds\u0022. Assim, eliminaram-no e depois atacaram as Torres G\u00e9meas. Se Ahmed Shah Massoud n\u00e3o tivesse sido eliminado e assassinado, a trag\u00e9dia do 11 de setembro n\u00e3o teria acontecido e n\u00f3s n\u00e3o estar\u00edamos de todo nesta situa\u00e7\u00e3o. Euronews - Que tipo de pai era Ahmad Shah Massoud? Do que \u00e9 que se lembra? Ahmad Massoud: Lembro-me da sua gentileza. Lembro-me dele ser um professor muito rigoroso e ensinar-me arte, ensinar-me poesia e ensinar-me literatura. Ele adorava literatura persa, adorava poesia Sufista... E era um homem muito forte.\u00a0 Quando estava com ele, sentia-me calmo \u0022n\u00e3o vai acontecer nada, ele est\u00e1 aqui\u0022. Lembro-me de tempos muito dif\u00edceis, quando Panjshir estava completamente rodeado pelos Talib\u00e3s. Eles vieram\u00a0 e foi um momento muito, muito dif\u00edcil. Mas as pessoas em Panjshir estavam felizes, estavam a sorrir. E eu perguntei :Porqu\u00ea?\u0022. E eles tinham uma express\u00e3o em dari que significa \u0022Ele est\u00e1 aqui!\u0022. Do g\u00e9nero: \u0022 ele est\u00e1 aqui! Ele vai resolver isto! Se ele conseguiu derrotar os russos, certamente conseguir\u00e1 aguentar toda esta press\u00e3o!\u0022.\u00a0 Ele era assim. Era um farol de esperan\u00e7a. Era um farol de amor e era muito am\u00e1vel e muito moderado. Euronews \u00a0 - Tinha 12 anos quando perdeu o seu pai, a sua fam\u00edlia sofreu muito, a sua vida n\u00e3o tem nada de a ver com a de um homem comum da sua idade. Ainda vale a pena lutar? Ahmad Massoud: Antes da nossa entrevista, mencionou algo sobre o Afeganist\u00e3o: que se apaixonou instantaneamente pelo pa\u00eds. Bem, eu sou dessa terra. E tenho sido aben\u00e7oado, algumas pessoas chamam-lhe maldi\u00e7\u00e3o, mas sinto-me verdadeiramente aben\u00e7oado, por ter nascido naquela terra, por ter nascido com aquele povo. E aquele povo merece que as pessoas morram por ele. 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O líder da resistência afegã vê "oportunidade de sucesso"

O líder da resistência afegã vê "oportunidade de sucesso"
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De Anelise Borges
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O líder da Frente Nacional de Resistência do Afeganistão, Ahmad Massoud, apelou à comunidade internacional para ajudar a proporcionar um novo futuro ao seu país, afirmando que existe agora uma oportunidade única para provocar mudanças.

No Global Conversation desta semana, Anelise Borges conversou com Ahmad Massoud, líder da Frente Nacional de Resistência do Afeganistão. A conversa foi gravada em Viena, na última terça-feira, dia 13 de setembro.

Euronews (Anelise Borges) - O seu país ou por uma mudança sísmica. Depois de 20 anos de presença de tropas estrangeiras, o Afeganistão está agora novamente nas mãos dos Talibãs. A sua vida foi arruinada a sua província, Panshir, foi oficialmente tomada pelos talibãs. Lembra-se do dia 15 de agosto de 2021? O que estava a fazer nesse dia?

Ahmad Massoud: Eu estava em Cabul. Fiquei em Cabul até aos últimos momentos. E muitas pessoas ficaram com uma esperança: apesar de tudo, esperávamos uma transição pacífica da República do Afeganistão: lentamente, para uma situação de governo provisório que proporcionasse uma situação de paz e diálogo e depois, talvez outra eleição ou um novo governo - de que os Talibãs pudessem fazer parte - e assim por diante. Contudo, infelizmente, o colapso do governo, o erro de cálculo e a intenção dos Talibãs de não resolver o problema do Afeganistão através da paz e do diálogo, de perder tempo, e de optar pelas armas - terminou nesta catástrofe.

Euronews - Tentou negociar com os Talibãs tal como o seu pai fez no ado. E soube que lhe ofereceram uma posição no governo. Pode falar-nos mais sobre isso?

Ahmad Massoud: Quando fui para o Vale Panjshir, uma coisa era muito clara. Os Talibãs estavam a fazer publicidade e a dizer que "o Sr. (Ashraf) Ghani "não queria a paz". Eu não estava contente com a forma como o Sr. Ghani governava, e sabia que a sua forma de governar resultaria no colapso. Pensei que talvez fosse culpa de Ghani o facto de as negociações de paz não estarem a funcionar. Assim que surgiu a oportunidade de podermos representar o nosso próprio povo, iniciei o caminho para o diálogo, a negociação e o diálogo em primeiro lugar. Neste sentido, fizemos alguns esforços.

Antes de mais, pensei que talvez porque os Talibãs falam da sharia, do Islão e  de religião, os estudiosos do Afeganistão poderiam ser bons embaixadores e mediadores. E pedi-lhes ajuda. E eles tentaram o seu melhor. Mas, infelizmente, os Talibãs não os ouviram. Depois, pensei que talvez os estudiosos não fossem muito diplomáticos, não fossem muito eficazes. E foi enviada uma delegação política. Sem resultado, eles recusaram. E depois pensei que talvez eu próprio o devesse fazer diretamente. Falei com pessoas diferentes dos Talibãs, para que pudesse encontrar uma forma de acabar com a violência e iniciar a paz.

Euronews - Com quem falou? Pode partilhar connosco?

Ahmad Massoud: Falei com o Sr. Muttaqi (Amir Khan Muttaqi, Ministro interino dos Negócios Estrangeiros), falei com Shahabuddin Delaware (Ministro interino dos Minerais e Petróleo), falei com o Sr. Khias, falei com o Sr. Anas Haqqani (líder sénior dos Talibãs), falei com o Sr. Khalil Haqqani (Ministro interino dos Refugiados).

Porque uma coisa que eu sei é que existem divisões dentro dos Talibãs. Por vezes, quando falava com um dos lados, eles diziam: "Não, não somos nós, esse é outro grupo". Quando falava com o outro grupo, eles diziam: "Não, não somos nós, esse é o outro grupo". Mas, infelizmente, esta hipocrisia esteve sempre presente.

Euronews - Alguns dias após a queda de Cabul, de Panjshir, escreveu para o Washington Post– e o a citar – "Estou pronto para seguir as pisadas do meu pai (...) os combatentes mujahideen estão preparados para voltar a enfrentar os Talibãs. Temos armazéns de munições e armas que recolhemos desde o tempo do meu pai". O que aconteceu à promessa daquela luta? Onde está a resistência neste momento?

Ahmad Massoud: Os Talibãs não reconhecem a existência da resistência. Vemos que conseguimos capturá-los, conseguimos até derrubar os seus helicópteros, conseguimos sobreviver aos duros invernos do Hindu Kush, conseguimos sobreviver com zero ajudas do exterior.

Euronews - É uma escolha? Ou a comunidade internacional simplesmente não está a prestar atenção à sua causa?

Ahmad Massoud: Nenhuma mente sã diria: "Não, nós não precisamos de nada". Claro, precisamos de apoio. É claro, precisamos de ajuda. Mas a questão é que ainda acredito firmemente que precisamos de vir, todos nós - como uma equipa coletiva: a comunidade internacional, ao lado das elites afegãs que não estão satisfeitas com a situação atual - para encontrar verdadeiramente um caminho para o futuro Afeganistão.

Euronews - Então, basicamente, está à procura de uma solução afegã para o Afeganistão

Ahmad Massoud: Sim, sem dúvida

Euronews -Os Estados Unidos disseram que "acabaram com a sua guerra interminável", mas que a guerra, a guerra contra o terrorismo, está longe de terminar. Vimos o que está a acontecer na região. O senhor já alertou para os perigos do regresso dos Talibãs relativamente a este aspeto. Referiu anteriormente que a Al-Qaeda está a operar no seu país e que, talvez, outros grupos estejam a ser acolhidos no Afeganistão pelos Talibãs. Porque acha que o mundo simplesmente não está a ouvir? Porque é que ninguém faz nada?

Ahmad Massoud: Bem, penso que há duas razões para isso. Não estamos a viver no mesmo mundo que em 2001. Vivemos num mundo em que o interesse nacional é agora muito mais importante do que os interesses globais. As pessoas costumavam pensar a longo prazo em vez de a curto prazo. E eu acredito que algumas coisas mudaram.

Primeiro, nessa altura, a geração que estava mais próxima da experiência ou da era dos pós Segunda Guerra Mundial, recordava e compreendia a importância da luta pela liberdade e democracia.

E não olhavam realmente para a liberdade, a democracia e o mundo moderno como garantidos. Sabiam o sangue que tinha sido derramado, o sangue que sacrificámos. Foi por isso que o mundo ficou com o povo do Afeganistão durante a invasão soviética, o mundo ficou com o Afeganistão na luta contra o terrorismo.

Os últimos 20 anos, especialmente as novas gerações, creio eu, e as novas fases, trouxeram uma pequena mudança, especialmente na Europa. Tomámos tudo por garantido: vida, democracia, liberdade. E esquecemo-nos do mal que todos nós, como humanidade, sacrificámos muito para derrotar. Portanto, isso é uma coisa. E é a minha experiência pessoal, vivendo na Europa há muitos, muitos anos.

O segundo aspeto foram os últimos 20 anos de guerra no Afeganistão. O mundo aplicou todos os seus esforços nos últimos 20 anos para fazer algo, mas falhou. E agora pensam que não há esperança. No entanto, o Afeganistão ainda pode ser salvo, mas não por muito tempo.

Euronews - Como se salva o Afeganistão? O que tem de acontecer para salvar o seu país?

Ahmad Massoud:  Bem, creio que o mundo deve manter-se firme contra as exigências dos Talibãs. E o mundo enquanto grupo coletivo precisa de, em conjunto, não se envolver individualmente com os Talibãs, deve envolver-se coletivamente com o Afeganistão - todos os seus lados, todas as suas partes, todos os seus tipos e setores - para encontrar verdadeiramente uma solução para o Afeganistão: uma solução política ou um processo para preparar a situação do Afeganistão para um governo legítimo.

Porque é que vai funcionar agora? Por causa de algumas razões.

Primeiro, os Talibãs, após um ano no poder, mostraram verdadeiramente que não são capazes de governar.

Em segundo lugar, as pessoas percebem. No início, havia muitas pessoas esperançosas - chamavam-lhes mesmo Talibãs 2.0, Talibãs moderados - mas vimos que era tudo falso. Eles são a mesma coisa.

Em terceiro lugar, existem algumas divisões internas no seio dos Talibãs, existem alguns grupos que não estão satisfeitos com a situação. Mas eles estão em minoria.

E por último, alguns dos outros países, que eram contra a presença de forças internacionais americanas no Afeganistão, e por essa razão apoiaram os Talibãs, não o fazem agora. Por conseguinte, esta é uma oportunidade que pode levar ao sucesso.

Porque é que o meu pai, quando veio para França em 2001, sugeriu fortemente o apoio ao governo afegão nessa altura e a luta contra o terrorismo sem a presença de forças internacionais? Porque ele sabia que a presença de forças internacionais no Afeganistão faria do país uma espécie de campo de batalha para outros rivais. Porque todos sabemos que muitas superpotências, que não gostam umas das outras, têm os seus próprios jogos e as suas agendas. Assim, quando estão presentes num país, o outro país fará tudo o que estiver ao seu alcance contra os seus inimigos. Para fazer algo contra ele.

Agora não existe presença das forças internacionais no Afeganistão, por isso a oportunidade está lá para um esforço conjunto e para criar o máximo de pressão. E acima de tudo, o povo, a nova geração, e especialmente as mulheres, não querem que a situação continue. Portanto, prevaleceremos, seremos bem-sucedidos, mas precisamos da atenção e apoio do mundo agora, antes que se torne tarde demais.

Euronews - Falou do seu pai, que continua a ser um símbolo extraordinário de uma luta em nome de valores que, e já o disse, o seu país partilha com o Ocidente. Acha que se o seu pai estivesse vivo, as coisas seriam diferentes?

Ahmad Massoud: Absolutamente. SAntes de mais, no seu tempo com a sua capacidade, com tudo o que tinha,seria um governador legítimo, um génio militar. Ele sabia, na fase mais recente da sua vida e da sua luta contra os Talibãs. Em diferentes reuniões, especialmente com a imprensa e também quando fez uma viagem à Europa, mencionou que os Talibãs já não tinham a capacidade de nos derrotar militarmente. Ele sabia que militarmente não seria derrotado.

É por isso que a sua visita à Europa foi para iniciar uma nova fase, uma nova era, um novo tipo de processo - tal como estou a dizer, para que todas as partes se reunissem para formar um novo governo no Afeganistão. Ele não queria ir e capturar Cabul e estabelecer o seu próprio governo. Resistiu, basicamente, até que toda a diáspora do Afeganistão estivesse pronta para se reunir e fazer parte de um processo de estabelecimento de um governo que todos pudessem aceitar e com o qual todos pudessem concordar.

E era isto que ele estava a fazer e foi capaz de sustentar.

Mas os Talibãs sabiam-no, a Al-Qaeda sabia-o, e outros: que se ele estivesse vivo, "não seriam bem-sucedidos". E a Al-Qaeda sabia que "se ele estivesse vivo, nem sequer seriam capazes de prejudicar o Ocidente ou qualquer outro país". Assim, eliminaram-no e depois atacaram as Torres Gémeas. Se Ahmed Shah Massoud não tivesse sido eliminado e assassinado, a tragédia do 11 de setembro não teria acontecido e nós não estaríamos de todo nesta situação.

Euronews - Que tipo de pai era Ahmad Shah Massoud? Do que é que se lembra?

**Ahmad Massoud:**Lembro-me da sua gentileza. Lembro-me dele ser um professor muito rigoroso e ensinar-me arte, ensinar-me poesia e ensinar-me literatura. Ele adorava literatura persa, adorava poesia Sufista... E era um homem muito forte.  Quando estava com ele, sentia-me calmo "não vai acontecer nada, ele está aqui".

Lembro-me de tempos muito difíceis, quando Panjshir estava completamente rodeado pelos Talibãs. Eles vieram  e foi um momento muito, muito difícil. Mas as pessoas em Panjshir estavam felizes, estavam a sorrir. E eu perguntei :Porquê?". E eles tinham uma expressão em dari que significa "Ele está aqui!". Do género: " ele está aqui! Ele vai resolver isto! Se ele conseguiu derrotar os russos, certamente conseguirá aguentar toda esta pressão!". Ele era assim. Era um farol de esperança. Era um farol de amor e era muito amável e muito moderado.

Euronews  - Tinha 12 anos quando perdeu o seu pai, a sua família sofreu muito, a sua vida não tem nada de a ver com a de um homem comum da sua idade. Ainda vale a pena lutar?

Ahmad Massoud: Antes da nossa entrevista, mencionou algo sobre o Afeganistão: que se apaixonou instantaneamente pelo país. Bem, eu sou dessa terra. E tenho sido abençoado, algumas pessoas chamam-lhe maldição, mas sinto-me verdadeiramente abençoado, por ter nascido naquela terra, por ter nascido com aquele povo. E aquele povo merece que as pessoas morram por ele.

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