{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2022/09/15/a-crise-grega-da-falencia-iminente-a-recuperacao" }, "headline": "A crise grega: da fal\u00eancia iminente \u00e0 recupera\u00e7\u00e3o", "description": "Que li\u00e7\u00f5es se podem tirar da crise grega? As respostas neste epis\u00f3dio do \u201cThe Global Conversation\u201d.", "articleBody": "H\u00e1 12 anos, eclodiu na Gr\u00e9cia , uma das maiores crises da Uni\u00e3o Europeia (UE).\u00a0Em 2010, o pa\u00eds itiu poder entrar em incumprimento quanto ao pagamento da d\u00edvida, amea\u00e7ando a viabilidade da pr\u00f3pria zona euro.\u00a0Para o evitar, a Uni\u00e3o Europeia e o Fundo Monet\u00e1rio Internacional emprestaram centenas de milhares de milh\u00f5es de euros em fundos de emerg\u00eancia, o que n\u00e3o foi atribu\u00eddo de forma gratuita. Os credores exigiram que Atenas implementasse pol\u00edticas de austeridade , o que levou a um aumento substancial da pobreza.\u00a0A economia encolheu em mais de um quarto, o rendimento dispon\u00edvel m\u00e9dio dos cidad\u00e3os em um ter\u00e7o e o desemprego subiu para quase 30%. Agora, alguns l\u00edderes europeus item que foram demasiado duros com a Gr\u00e9cia, que finalmente conseguiu prosperar.\u00a0Em 2018, a Gr\u00e9cia come\u00e7ou a abandonar este per\u00edodo sombrio, ap\u00f3s ter terminado o seu terceiro e \u00faltimo programa de resgate. E quatro anos depois, a Comiss\u00e3o Europeia cessou, como previsto, a monitoriza\u00e7\u00e3o do or\u00e7amento grego, o que marcou um fim formal da crise da d\u00edvida. Mas o que \u00e9 que foi deixado para tr\u00e1s? E quais s\u00e3o as li\u00e7\u00f5es que a Uni\u00e3o Europeia aprendeu, agora que enfrenta outra crise que pode testar, uma vez mais, a sua unidade e estabilidade? Para discutir estes temas, fal\u00e1mos com dois intervenientes chave na gest\u00e3o da crise grega: o antigo Presidente da Comiss\u00e3o Europeia, Jean-Claude Juncker e o \u00faltimo ministro das finan\u00e7as da era do resgate, Euclid Tsakalotos , e, mais tarde, com o atual chefe da economia grega, Christos Staikouras . Efi Koutsokosta, Euronews:\u00a0A Gr\u00e9cia saiu oficialmente do seu programa de vigil\u00e2ncia refor\u00e7ada, ap\u00f3s 12 anos de dor e de uma crise esmagadora da d\u00edvida. O que \u00e9 que isto significa para os cidad\u00e3os gregos e para a Uni\u00e3o Europeia? Jean-Claude Juncker, antigo Presidente da Comiss\u00e3o Europeia: Os cidad\u00e3os gregos t\u00eam muitos motivos para se sentir orgulhosos porque sofreram muito durante este per\u00edodo horr\u00edvel. A sua dignidade nem sempre foi respeitada. As medidas impostas \u00e0 sociedade grega foram demasiado austeras. E o facto da Gr\u00e9cia n\u00e3o ter sa\u00eddo do euro, mas sim do programa, \u00e9 uma boa not\u00edcia para a Gr\u00e9cia. S\u00e3o tamb\u00e9m boas not\u00edcias para a Europa porque demonstram que, independentemente de todos os erros que foram cometidos, a solidariedade europeia existe e que, aqueles que defendiam a Gr\u00e9cia, como era o meu caso, tinham raz\u00e3o em dizer n\u00e3o \u00e0queles que queriam excluir a Gr\u00e9cia da zona Euro. Efi Koutsokosta:\u00a0Vemos que, ainda hoje, existem alguns partidos populistas na Europa que usam o exemplo da Gr\u00e9cia e a forma como a Uni\u00e3o Europeia se comportou com o povo grego para culpar Bruxelas por todos os problemas das pessoas. O que \u00e9 que \u00e9 real e o que \u00e9 mito nesta situa\u00e7\u00e3o? Jean-Claude Juncker: \u00a0A Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o era o problema, a Gr\u00e9cia sim porque, durante muitos anos, n\u00e3o se preocupou com os or\u00e7amentos, com a d\u00edvida p\u00fablica, etc. Portanto, a culpa era da Gr\u00e9cia. Mas a forma como a Uni\u00e3o Europeia estava a lidar com o pa\u00eds n\u00e3o era a melhor. Apesar disso, ap\u00f3s tantos esfor\u00e7os, o sucesso \u00e9 vis\u00edvel. Portanto, os populistas est\u00e3o a ficar sem argumentos quando se referem \u00e0 Gr\u00e9cia. Eles deveriam, tal como eu estou a fazer, irar a coragem do povo grego e n\u00e3o tentar manipular os resultados e a hist\u00f3ria. Efi Koutsokosta:\u00a0Nessa altura, existia a perce\u00e7\u00e3o de que o processo de tomada de decis\u00f5es estava nas m\u00e3os dos alem\u00e3es. Considera que a Uni\u00e3o Europeia \u00e9 demasiado dominada pela Alemanha? Jean-Claude Juncker: A Alemanha n\u00e3o \u00e9 o \u00fanico pa\u00eds que se tem mostrado muito cr\u00edtico em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Gr\u00e9cia. Os neerlandeses, os austr\u00edacos, os eslovacos os eslovenos, os finlandeses e outros nunca deixaram de atacar a Gr\u00e9cia durante a chamada crise grega. A Alemanha n\u00e3o foi a \u00fanica. E a Alemanha n\u00e3o dominou nem est\u00e1 a dominar toda a Uni\u00e3o Europeia. \u00c0s vezes, os alem\u00e3es d\u00e3o internamente a impress\u00e3o de que s\u00e3o os donos da Europa, o que n\u00e3o \u00e9 o caso. Efi Koutsokosta:\u00a0Quando os alem\u00e3es mudam de ideia sobre alguma coisa, todos, de alguma forma, acabam por mudar tamb\u00e9m e estamos mais perto de uma solu\u00e7\u00e3o paneuropeia. Foi o caso da Gr\u00e9cia e tamb\u00e9m o \u00e9 agora. Jean-Claude Juncker: \u00a0Sim, mas n\u00e3o se deve apenas ao facto de os alem\u00e3es se estarem a tornar cada vez mais europeus. \u00c9 o caso de todos os pa\u00edses porque os 27 estados-membros aprenderam uma li\u00e7\u00e3o. A melhor maneira da Europa lidar com crises deste g\u00e9nero \u00e9 atrav\u00e9s da uni\u00e3o dos governos europeus e \u00e9 importante que todos fa\u00e7am mais ou menos as mesmas coisas. Efi Koutsokosta:\u00a0A Uni\u00e3o Europeia emprestou muito dinheiro \u00e0 Gr\u00e9cia, o que veio associado a dolorosas restri\u00e7\u00f5es. Consegue lembrar-se de momentos em que a UE demonstrou solidariedade de forma tang\u00edvel? Jean-Claude Juncker: \u00a0Muitos momentos. Quando o primeiro-ministro, Al\u00e9xis Ts\u00edpras, decidiu realizar um referendo sobre o programa de resgate. Tive de lutar afincadamente para evitar que outros estados membros pedissem oficialmente a sa\u00edda da Gr\u00e9cia da zona Euro porque este referendo foi um esc\u00e2ndalo, em grande medida, porque a popula\u00e7\u00e3o grega disse n\u00e3o, mas o programa foi implementado, tal como foi decidido. O programa foi exatamente... Efi Koutsokosta:\u00a0...o mesmo. Era igual ao que tinha sido rejeitado em referendo? Jean-Claude Juncker: \u00a0Sim. Foi um erro para os pr\u00f3prios gregos porque estavam a votar em algo que j\u00e1 n\u00e3o existia. Era desnecess\u00e1rio e criou turbul\u00eancias nos mercados financeiros. A Gr\u00e9cia ficou sob uma press\u00e3o ainda maior do que antes, pelo que gostaria de esquecer esse cap\u00edtulo. Euclid Tsakalotos, antigo ministro das Finan\u00e7as da Gr\u00e9cia: Quando cheg\u00e1mos ao poder, n\u00e3o houve muita solidariedade nos primeiros seis meses, de janeiro at\u00e9 ao ver\u00e3o, quando assumimos o compromisso. O memorando Juncker original, que lev\u00e1mos a referendo, era completamente inaceit\u00e1vel. Era punitivo e n\u00e3o enfrentava o problema da d\u00edvida. Conseguimos um compromisso melhor. E penso que quando o governo Syriza demonstrou a sua seriedade, de que queria, de facto, deixar o Memorando, enquanto fazia o seu melhor para proteger os mais vulner\u00e1veis, penso que lentamente os europeus se aperceberam: \u201cIsto \u00e9 algo exequ\u00edvel\u201d. Eu acho que eles pensaram que isto seria uma vit\u00f3ria para a Gr\u00e9cia. Penso que ouvi o Presidente Juncker dizer isso. Ele apostou imenso. Ele n\u00e3o era como Wolfgang Sch\u00e4uble, o ministro das finan\u00e7as da Alemanha da altura, que, na verdade, penso que nos queria fora da UE. O facto de termos abandonado o programa, algo que os governos anteriores n\u00e3o tinham conseguido fazer. Temos este corredor para a d\u00edvida, tivemos o amortecedor que nos deu alguma prote\u00e7\u00e3o. Isto foi algo de que os europeus se podem orgulhar no final, mas que teve um custo enorme. N\u00e3o nos esque\u00e7amos disso. Porque \u00e9 difi\u00edcil para qualquer economia perder 26% do PIB, o que aconteceu no primeiro e segundo memorando, 26% do PIB! N\u00e3o sei se as pessoas que nos est\u00e3o a ouvir entendem bem a grandeza de uma percentagem de 26%. Nenhuma outra economia sofreu assim fora de uma guerra. Fim do programa de vigil\u00e2ncia refor\u00e7ada da UE Efi Koutsokosta:\u00a0A Gr\u00e9cia saiu recentemente do chamado quadro de vigil\u00e2ncia refor\u00e7ada da UE. O que \u00e9 que isto significa para os cidad\u00e3os gregos? Euclid Tsakalotos: Sa\u00edmos do acordo no Ver\u00e3o de 2018 e foi estipulado que deixar\u00edamos a vigil\u00e2ncia refor\u00e7ada dentro de tr\u00eas/quatro anos. Portanto, s\u00e3o boas not\u00edcias. Agora a grande quest\u00e3o \u00e9, se o que conseguimos alcan\u00e7ar, em 2018, que foi um caminho claro, atrav\u00e9s da estrutura\u00e7\u00e3o da d\u00edvida, para evitar elevados pedidos de financiamento anual \u2013 mais baixos do que Espanha ou Portugal \u2013 se se pode utilizar esse espa\u00e7o, esse corredor, para reduzir o valor da d\u00edvida, para reduzir o crescimento da percentagem da d\u00edvida no PIB. Eu n\u00e3o estou muito otimista com a forma como este governo abordou essa tarefa, mas \u00e9 aqui que estamos. O que conseguimos no ver\u00e3o de 2018 foi deixar de uma vez por todas o memorando, ter um amortecedor para dar algum conforto aos mercados financeiros, um caminho para restrutura\u00e7\u00e3o da d\u00edvida, o que nos deu 10- 12 anos para nos posicionarmos no lado da economia real. Efi Koutsokosta:\u00a0Atualmente, o exemplo grego e a forma como a Uni\u00e3o Europeia se comportou com a Gr\u00e9cia e com os cidad\u00e3os gregos continua a ser utilizada por algumas for\u00e7as pol\u00edticas em toda a UE para dizer o qu\u00e3o m\u00e1 \u00e9 a Uni\u00e3o Europeia e para culpar Bruxelas pelos problemas das pessoas. O que \u00e9 que \u00e9 real e o que \u00e9 mito? Euclid Tsakalotos: \u00a0E com raz\u00e3o. A Europa esteve sempre atrasada. Tamb\u00e9m o est\u00e1 agora na quest\u00e3o da crise energ\u00e9tica. Foi preciso um grande desastre para se ver os primeiros ind\u00edcios de uma pol\u00edtica energ\u00e9tica unida a n\u00edvel europeu. Penso tamb\u00e9m que existe uma ame\u00e7a real para a Uni\u00e3o Europeia, que \u00e9 esta diverg\u00eancia no destino das economias entre a Europa do Norte e a Europa do Sul. Se quiseres compreender Salvini e Meloni, se quiser entender a Aurora Dourada, se quiser compreender a ascens\u00e3o da nova direita, ent\u00e3o as pol\u00edticas econ\u00f3micas que conduzem \u00e0 desigualdade, que restringem os servi\u00e7os p\u00fablicos, o o das pessoas \u00e0 sa\u00fade, aos transportes e \u00e0 educa\u00e7\u00e3o s\u00e3o parte da resposta. Efi Koutsokosta:\u00a0Mas estamos a chegar ao mesmo ponto. Temos o Norte, temos o Sul. Eles t\u00eam abordagens diferentes das coisas, como podemos constatar hoje tamb\u00e9m. Ent\u00e3o, quais s\u00e3o as li\u00e7\u00f5es que foram aprendidas? Euclid Tsakalotos: \u00a0Deixe-me ser franco. N\u00e3o se pode ter uma moeda e alguns pa\u00edses a avan\u00e7ar e outros n\u00e3o. Se se quer uma moeda comum, \u00e9 preciso que exista converg\u00eancia. E para tal, \u00e9 preciso uma harmoniza\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas e \u00e9 preciso que os europeus do Norte compreendam que, tal como os Estados Unidos, se o Texas ou o Mississipi estiverem em apuros, ou qualquer outro estado, haver\u00e1 solidariedade ao n\u00edvel das pol\u00edticas fiscais ou das pol\u00edticas de estabiliza\u00e7\u00e3o. Faz parte da l\u00f3gica de uma moeda \u00fanica. Efi Koutsokosta:\u00a0Que li\u00e7\u00f5es foram aprendidas e n\u00e3o esquecidas com esta crise, especialmente agora que outra grande crise se est\u00e1 a aproximar? Jean-Claude Juncker: N\u00e3o devemos repetir os mesmos erros que cometemos durante a crise grega. E eu sempre considerei que a distribui\u00e7\u00e3o de esfor\u00e7os entre ricos e pobres n\u00e3o era suficientemente equilibrada. Parte deste erro deve-se \u00e0 Uni\u00e3o Europeia porque... No Fundo Monet\u00e1rio Internacional (FMI), no Banco Central Europeu e na Comiss\u00e3o Europeia, nos anos anteriores ao tempo em que estive l\u00e1, coloc\u00e1mos em pr\u00e1tica um or\u00e7amento de austeridade cego, o que foi um erro. Gostaria que a Comiss\u00e3o assumisse as consequ\u00eancias sociais dos instrumentos anti-crise que s\u00e3o postos em pr\u00e1tica. Esta n\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o para altos funcion\u00e1rios. \u00c9 um assunto para os pol\u00edticos. Economia grega em crescimento A economia grega est\u00e1 a crescer rapidamente, mas o pa\u00eds ainda tem a maior percentagem de d\u00edvida no PIB na zona euro, equivalente a 189%.\u00a0A taxa de desemprego encontra-se entre as mais elevadas e, ao mesmo tempo, o sal\u00e1rio m\u00ednimo situa-se entre os mais baixos na zona euro. A crise atual est\u00e1 de novo a virar as aten\u00e7\u00f5es para o Sul. A minha colega Symela Touchtidou falou com o atual ministro das Finan\u00e7as grego, Christos Staikouras . Symela Touchtidou:\u00a0A Gr\u00e9cia saiu recentemente do programa de vigil\u00e2ncia refor\u00e7ada. O que \u00e9 que isto significa, na pr\u00e1tica, para o povo grego? Christos Staikouras, atual ministro das Finan\u00e7as grego : \u00c9 um grande \u00eaxito para a Gr\u00e9cia, ap\u00f3s os sacrif\u00edcios, os enormes sacrif\u00edcios dos cidad\u00e3os gregos. Isto \u00e9, coletivamente, um sucesso da boa governa\u00e7\u00e3o e dos nossos parceiros. Isso significa que estamos de volta \u00e0 normalidade pela primeira vez desde 2010. Isto ter\u00e1 efeitos positivos, diretos e indiretos, na economia e sociedade gregas. Melhor\u00e1mos o nosso o aos mercados internacionais. Refor\u00e7\u00e1mos as condi\u00e7\u00f5es pr\u00e9vias para obter um crescimento econ\u00f3mico mais elevado, forte e robusto, com o objetivo de atrair muito mais investimentos. E estamos muito perto de alcan\u00e7ar o objetivo final, o marco final da nossa pol\u00edtica econ\u00f3mica, que \u00e9 o grau de investimento. Symela Touchtidou: A Gr\u00e9cia tem agora mais liberdade econ\u00f3mica, mas isto acontece numa altura em que as perspectivas para a economia europeia e global s\u00e3o bastante sombrias. Que margem tem para ajudar as pessoas, as fam\u00edlias e as empresas na Gr\u00e9cia? Christos Staikouras: \u00a0Tent\u00e1mos criar uma margem no espa\u00e7o fiscal, a fim de criar uma rede de seguran\u00e7a, em torno dos pre\u00e7os que s\u00e3o sens\u00edveis para as fam\u00edlias. E tamb\u00e9m conseguimos, nos \u00faltimos tr\u00eas anos, implementar medidas fiscais eficientes, com o objetivo de, n\u00e3o s\u00f3 recuperar fortemente, em 2021, mas tamb\u00e9m para reduzir o desemprego, o que \u00e9 crucial, tendo em conta que tivemos o desemprego mais elevado entre todos os estados membros da Uni\u00e3o Europeia. Ao mesmo tempo, parece que temos um crescimento econ\u00f3mico robusto. Teremos em conta este desempenho econ\u00f3mico para criar as condi\u00e7\u00f5es pr\u00e9vias para reduzir ainda mais as taxas e contribui\u00e7\u00f5es sociais e, ao mesmo tempo, para estarmos muito pr\u00f3ximos da sociedade grega, para que possamos implementar as medidas fiscais que s\u00e3o necess\u00e1rias, de modo a resgatar parte dos sacrif\u00edcios causados pela crise econ\u00f3mica: a crise energ\u00e9tica que estamos a enfrentar recentemente a n\u00edvel europeu. Symela Touchtidou:\u00a0E a fatura de todas as medidas de apoio. Preocupa-o que possam pesar muito na d\u00edvida p\u00fablica da Gr\u00e9cia, que j\u00e1 \u00e9 elevada? Christos Staikouras: \u00a0Em primeiro lugar, a d\u00edvida p\u00fablica, em percentagem do PIB, caiu 13%, em 2021, a maior queda desde o in\u00edcio da zona Euro.\u00a0E esperamos que esta queda seja muito maior em 2022. Temos reservas de capital de cerca de 49 mil milh\u00f5es que est\u00e3o entre as mais elevadas a n\u00edvel europeu. Ao mesmo tempo, uma parte significativa da d\u00edvida est\u00e1 no sector oficial com taxas fixas. E a quest\u00e3o mais importante \u00e9 que as necessidades anuais de financiamento bruto rondam os 10% do PIB \u2013 metade da m\u00e9dia europeia. Estas s\u00e3o todas vantagens competitivas da d\u00edvida grega, em compara\u00e7\u00e3o com muitos outros pares europeus. Symela Touchtidou:\u00a0E, olhando para o futuro, h\u00e1 uma discuss\u00e3o na UE sobre regras fiscais e governa\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica. Acredita que as regras sobre a d\u00edvida devem ser repensadas? E qual seria a sua proposta para os seus hom\u00f3logos? Christos Staikouras: \u00a0Sem d\u00favida. Devemos incorporar a experi\u00eancia da grave crise que enfrentamos a n\u00edvel europeu nos \u00faltimos tr\u00eas anos.\u00a0A componente b\u00e1sica \u00e9 que devemos ter disciplina fiscal, que \u00e9 um pr\u00e9-requisito para o crescimento econ\u00f3mico, mas, ao mesmo tempo, flexibilidade fiscal para ter em conta o ciclo econ\u00f3mico.\u00a0Ao mesmo tempo, devemos incorporar a experi\u00eancia que adquirimos, tirando partido do Plano de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia e da independ\u00eancia que temos a n\u00edvel europeu, a fim de implementar pol\u00edticas coerentes e sustent\u00e1veis a n\u00edvel nacional. Gr\u00e9cia ainda enfrenta dificuldades Efi Koutsokosta:\u00a0Ap\u00f3s ter sobrevivido a tudo isto, como est\u00e3o as coisas hoje? Acha que a situa\u00e7\u00e3o na Gr\u00e9cia, n\u00e3o s\u00f3 financeira, mas tamb\u00e9m social e pol\u00edtica \u00e9 melhor? Jean-Claude Juncker: \u00a0Penso que n\u00e3o existe comparac\u00e3o poss\u00edvel entre a situa\u00e7\u00e3o atual e aquela com que me debati no in\u00edcio do s\u00e9culo, at\u00e9 2015, quando finalmente definimos a resposta certa para o problema grego.\u00a0Mas a Gr\u00e9cia ainda enfrenta grandes dificuldades, pois est\u00e1 numa regi\u00e3o turbulenta da Europa. A Turquia, as incurs\u00f5es da avia\u00e7\u00e3o turca, os problemas de perfura\u00e7\u00e3o e a vizinhan\u00e7a pr\u00f3xima com a parte norte do continente africano, os refugiados... Isto continua a ser o principal problema na Gr\u00e9cia. Os tempos ainda s\u00e3o complicados. Penso que o maior problema \u00e9 o facto da Gr\u00e9cia n\u00e3o est\u00e1 a desempenhar o papel que deveria na Europa. Sem a Gr\u00e9cia, a Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o estaria completa e eu gostaria que o pa\u00eds ecoasse de forma mais forte a sua voz particular. 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A crise grega: da falência iminente à recuperação

A crise grega: da falência iminente à recuperação
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Que lições se podem tirar da crise grega? As respostas neste episódio do “The Global Conversation”.

Há 12 anos, eclodiu na Grécia, uma das maiores crises da União Europeia (UE). Em 2010, o país itiu poder entrar em incumprimento quanto ao pagamento da dívida, ameaçando a viabilidade da própria zona euro. Para o evitar, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional emprestaram centenas de milhares de milhões de euros em fundos de emergência, o que não foi atribuído de forma gratuita.

Os credores exigiram que Atenas implementasse políticas de austeridade, o que levou a um aumento substancial da pobreza. A economia encolheu em mais de um quarto, o rendimento disponível médio dos cidadãos em um terço e o desemprego subiu para quase 30%.

Agora, alguns líderes europeus item que foram demasiado duros com a Grécia, que finalmente conseguiu prosperar. Em 2018, a Grécia começou a abandonar este período sombrio, após ter terminado o seu terceiro e último programa de resgate. E quatro anos depois, a Comissão Europeia cessou, como previsto, a monitorização do orçamento grego, o que marcou um fim formal da crise da dívida.

Mas o que é que foi deixado para trás? E quais são as lições que a União Europeia aprendeu, agora que enfrenta outra crise que pode testar, uma vez mais, a sua unidade e estabilidade?

Para discutir estes temas, falámos com dois intervenientes chave na gestão da crise grega: o antigo Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker e o último ministro das finanças da era do resgate, Euclid Tsakalotos, e, mais tarde, com o atual chefe da economia grega, Christos Staikouras.

Efi Koutsokosta, Euronews: A Grécia saiu oficialmente do seu programa de vigilância reforçada, após 12 anos de dor e de uma crise esmagadora da dívida. O que é que isto significa para os cidadãos gregos e para a União Europeia?

Jean-Claude Juncker, antigo Presidente da Comissão Europeia: Os cidadãos gregos têm muitos motivos para se sentir orgulhosos porque sofreram muito durante este período horrível. A sua dignidade nem sempre foi respeitada. As medidas impostas à sociedade grega foram demasiado austeras. E o facto da Grécia não ter saído do euro, mas sim do programa, é uma boa notícia para a Grécia. São também boas notícias para a Europa porque demonstram que, independentemente de todos os erros que foram cometidos, a solidariedade europeia existe e que, aqueles que defendiam a Grécia, como era o meu caso, tinham razão em dizer não àqueles que queriam excluir a Grécia da zona Euro.

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Jean-Claude Juncker, antigo Presidente da Comissão EuropeiaEuronews

Efi Koutsokosta: Vemos que, ainda hoje, existem alguns partidos populistas na Europa que usam o exemplo da Grécia e a forma como a União Europeia se comportou com o povo grego para culpar Bruxelas por todos os problemas das pessoas. O que é que é real e o que é mito nesta situação?

Jean-Claude Juncker: A União Europeia não era o problema, a Grécia sim porque, durante muitos anos, não se preocupou com os orçamentos, com a dívida pública, etc. Portanto, a culpa era da Grécia. Mas a forma como a União Europeia estava a lidar com o país não era a melhor. Apesar disso, após tantos esforços, o sucesso é visível. Portanto, os populistas estão a ficar sem argumentos quando se referem à Grécia. Eles deveriam, tal como eu estou a fazer, irar a coragem do povo grego e não tentar manipular os resultados e a história.

Efi Koutsokosta: Nessa altura, existia a perceção de que o processo de tomada de decisões estava nas mãos dos alemães. Considera que a União Europeia é demasiado dominada pela Alemanha?

Jean-Claude Juncker: A Alemanha não é o único país que se tem mostrado muito crítico em relação à Grécia. Os neerlandeses, os austríacos, os eslovacos os eslovenos, os finlandeses e outros nunca deixaram de atacar a Grécia durante a chamada crise grega. A Alemanha não foi a única. E a Alemanha não dominou nem está a dominar toda a União Europeia. Às vezes, os alemães dão internamente a impressão de que são os donos da Europa, o que não é o caso.

Efi Koutsokosta: Quando os alemães mudam de ideia sobre alguma coisa, todos, de alguma forma, acabam por mudar também e estamos mais perto de uma solução paneuropeia. Foi o caso da Grécia e também o é agora.

Jean-Claude Juncker: Sim, mas não se deve apenas ao facto de os alemães se estarem a tornar cada vez mais europeus. É o caso de todos os países porque os 27 estados-membros aprenderam uma lição. A melhor maneira da Europa lidar com crises deste género é através da união dos governos europeus e é importante que todos façam mais ou menos as mesmas coisas.

Efi Koutsokosta: A União Europeia emprestou muito dinheiro à Grécia, o que veio associado a dolorosas restrições. Consegue lembrar-se de momentos em que a UE demonstrou solidariedade de forma tangível?

Jean-Claude Juncker: Muitos momentos. Quando o primeiro-ministro, Aléxis Tsípras, decidiu realizar um referendo sobre o programa de resgate. Tive de lutar afincadamente para evitar que outros estados membros pedissem oficialmente a saída da Grécia da zona Euro porque este referendo foi um escândalo, em grande medida, porque a população grega disse não, mas o programa foi implementado, tal como foi decidido. O programa foi exatamente...

Efi Koutsokosta: ...o mesmo. Era igual ao que tinha sido rejeitado em referendo?

Jean-Claude Juncker: Sim. Foi um erro para os próprios gregos porque estavam a votar em algo que já não existia. Era desnecessário e criou turbulências nos mercados financeiros. A Grécia ficou sob uma pressão ainda maior do que antes, pelo que gostaria de esquecer esse capítulo.

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Euclid Tsakalotos, antigo ministro das Finanças da GréciaEuronews

Euclid Tsakalotos, antigo ministro das Finanças da Grécia: Quando chegámos ao poder, não houve muita solidariedade nos primeiros seis meses, de janeiro até ao verão, quando assumimos o compromisso. O memorando Juncker original, que levámos a referendo, era completamente inaceitável. Era punitivo e não enfrentava o problema da dívida. Conseguimos um compromisso melhor. E penso que quando o governo Syriza demonstrou a sua seriedade, de que queria, de facto, deixar o Memorando, enquanto fazia o seu melhor para proteger os mais vulneráveis, penso que lentamente os europeus se aperceberam: “Isto é algo exequível”.

Eu acho que eles pensaram que isto seria uma vitória para a Grécia. Penso que ouvi o Presidente Juncker dizer isso. Ele apostou imenso. Ele não era como Wolfgang Schäuble, o ministro das finanças da Alemanha da altura, que, na verdade, penso que nos queria fora da UE.

O facto de termos abandonado o programa, algo que os governos anteriores não tinham conseguido fazer. Temos este corredor para a dívida, tivemos o amortecedor que nos deu alguma proteção. Isto foi algo de que os europeus se podem orgulhar no final, mas que teve um custo enorme. Não nos esqueçamos disso. Porque é difiícil para qualquer economia perder 26% do PIB, o que aconteceu no primeiro e segundo memorando, 26% do PIB! Não sei se as pessoas que nos estão a ouvir entendem bem a grandeza de uma percentagem de 26%. Nenhuma outra economia sofreu assim fora de uma guerra.

Fim do programa de vigilância reforçada da UE

Efi Koutsokosta: A Grécia saiu recentemente do chamado quadro de vigilância reforçada da UE. O que é que isto significa para os cidadãos gregos?

Euclid Tsakalotos: Saímos do acordo no Verão de 2018 e foi estipulado que deixaríamos a vigilância reforçada dentro de três/quatro anos. Portanto, são boas notícias.

Agora a grande questão é, se o que conseguimos alcançar, em 2018, que foi um caminho claro, através da estruturação da dívida, para evitar elevados pedidos de financiamento anual – mais baixos do que Espanha ou Portugal – se se pode utilizar esse espaço, esse corredor, para reduzir o valor da dívida, para reduzir o crescimento da percentagem da dívida no PIB.

Eu não estou muito otimista com a forma como este governo abordou essa tarefa, mas é aqui que estamos. O que conseguimos no verão de 2018 foi deixar de uma vez por todas o memorando, ter um amortecedor para dar algum conforto aos mercados financeiros, um caminho para restruturação da dívida, o que nos deu 10- 12 anos para nos posicionarmos no lado da economia real.

Efi Koutsokosta: Atualmente, o exemplo grego e a forma como a União Europeia se comportou com a Grécia e com os cidadãos gregos continua a ser utilizada por algumas forças políticas em toda a UE para dizer o quão má é a União Europeia e para culpar Bruxelas pelos problemas das pessoas. O que é que é real e o que é mito?

Euclid Tsakalotos: E com razão. A Europa esteve sempre atrasada. Também o está agora na questão da crise energética. Foi preciso um grande desastre para se ver os primeiros indícios de uma política energética unida a nível europeu.

Penso também que existe uma ameça real para a União Europeia, que é esta divergência no destino das economias entre a Europa do Norte e a Europa do Sul.

Se quiseres compreender Salvini e Meloni, se quiser entender a Aurora Dourada, se quiser compreender a ascensão da nova direita, então as políticas económicas que conduzem à desigualdade, que restringem os serviços públicos, o o das pessoas à saúde, aos transportes e à educação são parte da resposta.

Efi Koutsokosta: Mas estamos a chegar ao mesmo ponto. Temos o Norte, temos o Sul. Eles têm abordagens diferentes das coisas, como podemos constatar hoje também. Então, quais são as lições que foram aprendidas?

Euclid Tsakalotos: Deixe-me ser franco. Não se pode ter uma moeda e alguns países a avançar e outros não. Se se quer uma moeda comum, é preciso que exista convergência. E para tal, é preciso uma harmonização de políticas e é preciso que os europeus do Norte compreendam que, tal como os Estados Unidos, se o Texas ou o Mississipi estiverem em apuros, ou qualquer outro estado, haverá solidariedade ao nível das políticas fiscais ou das políticas de estabilização. Faz parte da lógica de uma moeda única.

Efi Koutsokosta: Que lições foram aprendidas e não esquecidas com esta crise, especialmente agora que outra grande crise se está a aproximar?

Jean-Claude Juncker: Não devemos repetir os mesmos erros que cometemos durante a crise grega.

E eu sempre considerei que a distribuição de esforços entre ricos e pobres não era suficientemente equilibrada.

Parte deste erro deve-se à União Europeia porque... No Fundo Monetário Internacional (FMI), no Banco Central Europeu e na Comissão Europeia, nos anos anteriores ao tempo em que estive lá, colocámos em prática um orçamento de austeridade cego, o que foi um erro.

Gostaria que a Comissão assumisse as consequências sociais dos instrumentos anti-crise que são postos em prática. Esta não é uma questão para altos funcionários. É um assunto para os políticos.

Economia grega em crescimento

A economia grega está a crescer rapidamente, mas o país ainda tem a maior percentagem de dívida no PIB na zona euro, equivalente a 189%. A taxa de desemprego encontra-se entre as mais elevadas e, ao mesmo tempo, o salário mínimo situa-se entre os mais baixos na zona euro.

A crise atual está de novo a virar as atenções para o Sul. A minha colega Symela Touchtidou falou com o atual ministro das Finanças grego, Christos Staikouras.

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Christos Staikouras, atual ministro das Finanças da GréciaEuronews

Symela Touchtidou: A Grécia saiu recentemente do programa de vigilância reforçada. O que é que isto significa, na prática, para o povo grego?

Christos Staikouras, atual ministro das Finanças grego: É um grande êxito para a Grécia, após os sacrifícios, os enormes sacrifícios dos cidadãos gregos. Isto é, coletivamente, um sucesso da boa governação e dos nossos parceiros.

Isso significa que estamos de volta à normalidade pela primeira vez desde 2010. Isto terá efeitos positivos, diretos e indiretos, na economia e sociedade gregas.

Melhorámos o nosso o aos mercados internacionais. Reforçámos as condições prévias para obter um crescimento económico mais elevado, forte e robusto, com o objetivo de atrair muito mais investimentos. E estamos muito perto de alcançar o objetivo final, o marco final da nossa política económica, que é o grau de investimento.

Symela Touchtidou: A Grécia tem agora mais liberdade económica, mas isto acontece numa altura em que as perspectivas para a economia europeia e global são bastante sombrias. Que margem tem para ajudar as pessoas, as famílias e as empresas na Grécia?

Christos Staikouras: Tentámos criar uma margem no espaço fiscal, a fim de criar uma rede de segurança, em torno dos preços que são sensíveis para as famílias.

E também conseguimos, nos últimos três anos, implementar medidas fiscais eficientes, com o objetivo de, não só recuperar fortemente, em 2021, mas também para reduzir o desemprego, o que é crucial, tendo em conta que tivemos o desemprego mais elevado entre todos os estados membros da União Europeia.

Ao mesmo tempo, parece que temos um crescimento económico robusto. Teremos em conta este desempenho económico para criar as condições prévias para reduzir ainda mais as taxas e contribuições sociais e, ao mesmo tempo, para estarmos muito próximos da sociedade grega, para que possamos implementar as medidas fiscais que são necessárias, de modo a resgatar parte dos sacrifícios causados pela crise económica: a crise energética que estamos a enfrentar recentemente a nível europeu.

Symela Touchtidou: E a fatura de todas as medidas de apoio. Preocupa-o que possam pesar muito na dívida pública da Grécia, que já é elevada?

Christos Staikouras: Em primeiro lugar, a dívida pública, em percentagem do PIB, caiu 13%, em 2021, a maior queda desde o início da zona Euro. E esperamos que esta queda seja muito maior em 2022. Temos reservas de capital de cerca de 49 mil milhões que estão entre as mais elevadas a nível europeu.

Ao mesmo tempo, uma parte significativa da dívida está no sector oficial com taxas fixas. E a questão mais importante é que as necessidades anuais de financiamento bruto rondam os 10% do PIB – metade da média europeia. Estas são todas vantagens competitivas da dívida grega, em comparação com muitos outros pares europeus.

Symela Touchtidou: E, olhando para o futuro, há uma discussão na UE sobre regras fiscais e governação económica. Acredita que as regras sobre a dívida devem ser repensadas? E qual seria a sua proposta para os seus homólogos?

Christos Staikouras: Sem dúvida. Devemos incorporar a experiência da grave crise que enfrentamos a nível europeu nos últimos três anos. A componente básica é que devemos ter disciplina fiscal, que é um pré-requisito para o crescimento económico, mas, ao mesmo tempo, flexibilidade fiscal para ter em conta o ciclo económico. Ao mesmo tempo, devemos incorporar a experiência que adquirimos, tirando partido do Plano de Recuperação e Resiliência e da independência que temos a nível europeu, a fim de implementar políticas coerentes e sustentáveis a nível nacional.

Grécia ainda enfrenta dificuldades

Efi Koutsokosta: Após ter sobrevivido a tudo isto, como estão as coisas hoje? Acha que a situação na Grécia, não só financeira, mas também social e política é melhor?

Jean-Claude Juncker: Penso que não existe comparacão possível entre a situação atual e aquela com que me debati no início do século, até 2015, quando finalmente definimos a resposta certa para o problema grego. Mas a Grécia ainda enfrenta grandes dificuldades, pois está numa região turbulenta da Europa.

A Turquia, as incursões da aviação turca, os problemas de perfuração e a vizinhança próxima com a parte norte do continente africano, os refugiados... Isto continua a ser o principal problema na Grécia. Os tempos ainda são complicados.

Penso que o maior problema é o facto da Grécia não está a desempenhar o papel que deveria na Europa. Sem a Grécia, a União Europeia não estaria completa e eu gostaria que o país ecoasse de forma mais forte a sua voz particular.

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