{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2022/09/05/ninguem-na-ucrania-concordara-com-uma-capitulacao-yulia-tymoshenko" }, "headline": "\u0022Ningu\u00e9m na Ucr\u00e2nia concordar\u00e1 com uma capitula\u00e7\u00e3o\u0022 - Yulia Tymoshenko", "description": "A an\u00e1lise dos 6 meses de guerra na Ucr\u00e2nia pela ex-primeira-ministra ucraniana Yulia Tymoshenko, pelo vice-presidente da comiss\u00e3o dos neg\u00f3cios estrangeiros do Parlamento ucraniano, Hryhoriy Nemyria, e pelos ex-presidentes da Cro\u00e1cia, Kolinda Grabar-Kitarovi\u0107 , e da Pol\u00f3nia, Aleksander Kwa\u015bniewski", "articleBody": "Paz na Europa. Um tema muito pertinente dada a guerra na Ucr\u00e2nia, que entrou no sexto m\u00eas, no mesmo dia em que a Ucr\u00e2nia assinalou o Dia da Independ\u00eancia.\u00a0 Este epis\u00f3dio de Global Conversation foi gravado na Nova School of Business and Economics (Nova SBE), em Oeiras, em Portugal, na mesma altura em que decorre a s\u00e9tima edi\u00e7\u00e3o das Confer\u00eancias do Estoril, que este ano tiveram como mote\u00a0\u0022Futuro de Esperan\u00e7a\u0022. Como convidados temos Yulia Tymoshenko , a antiga primeira-ministra, ucraniana, por duas vezes, e um dos principais rostos da revolu\u00e7\u00e3o laranja;\u00a0 Hryhoriy Nemyria , o primeiro vice-presidente da comiss\u00e3o dos neg\u00f3cios estrangeiros do parlamento da Ucr\u00e2nia; e \u00a0para ter,os a vis\u00e3o e a perspetiva da Uni\u00e3o Europeia, da Cro\u00e1cia e da Pol\u00f3nia, Kolinda Grabar-Kitarovi\u0107 - a antiga presidente da Cro\u00e1cia \u2013 e a Aleksander Kwa\u015bniewski - o antigo presidente da Pol\u00f3nia. Meabh Mc Mahon, euronews:\u00a0Essa ideia de uma Ucr\u00e2nia pac\u00edfica para onde milh\u00f5es de fam\u00edlias ucranianas possam voltar parece ainda muito distante. Portanto, a minha pergunta \u00e9, quando \u00e9 que pensa que isso poder\u00e1 ser uma realidade? Yulia Tymoshenko: \u0022 Agora, a quest\u00e3o mais dif\u00edcil \u00e9: quando terminar\u00e1 a guerra e onde est\u00e1 o caminho para a paz. Hoje, no mundo, considera-se que existem dois caminhos para a paz: o primeiro, \u00e9 o caminho da vit\u00f3ria no campo de batalha; e o segundo caminho, \u00e9 o de apaziguar o Kremlin e Putin, e chegar a acordo. Em muitos pa\u00edses europeus come\u00e7am a ter-se alguns ind\u00edcios de que, devido \u00e0 guerra, t\u00eam uma infla\u00e7\u00e3o elevada, dificuldades sociais, econ\u00f3micas e pol\u00edticas. Portanto, vamos terminar esta guerra com um tratado de paz, mas quero ser muito clara - infelizmente n\u00e3o h\u00e1 dois caminhos. Apenas existe um e \u00e9 uma vit\u00f3ria no campo de batalha. Agora vou explicar porqu\u00ea. Porque \u00e9 assim? Porque o acordo de paz oferecido pelo agressor \u00e0 Ucr\u00e2nia consiste em quatro pontos principais: temos de lhes dar os territ\u00f3rios que conquistaram e aceitar este facto, ceder e agradecer-lhes por nos terem tirado parte do nosso territ\u00f3rio. Conv\u00e9m n\u00e3o esquecer que o que hoje est\u00e1 temporariamente ocupado, na Ucr\u00e2nia, \u00e9 essencialmente um territ\u00f3rio igual \u00e0 \u00e1rea de Portugal. Por conseguinte, isto \u00e9 inaceit\u00e1vel para a Ucr\u00e2nia, e para todo o mundo livre, ser-se privado de territ\u00f3rios atrav\u00e9s da guerra. O seu segundo requisito \u00e9 que a Ucr\u00e2nia nunca se torne membro da NATO e permane\u00e7a indefesa para sempre. O terceiro requisito \u00e9 o de reduzir o ex\u00e9rcito ucraniano a um n\u00famero tal que este seja incapaz de defender a Ucr\u00e2nia. Isto \u00e9, essencialmente, um desarmamento unilateral. Isto significaria uma rendi\u00e7\u00e3o da Ucr\u00e2nia no futuro e \u00e9 nisto que o Kremlin insiste. E o quarto requisito \u00e9 humanit\u00e1rio. Temos de renunciar \u00e0 nossa l\u00edngua a favor do russo, temos de renunciar \u00e0 nossa hist\u00f3ria e cultura, e seguir o caminho da russifica\u00e7\u00e3o. O Kremlin n\u00e3o vai desistir destas condi\u00e7\u00f5es e, por conseguinte, isto n\u00e3o \u00e9 um acordo de paz. Trata-se, de facto, de uma capitula\u00e7\u00e3o que eles querem fixar com a participa\u00e7\u00e3o ucraniana. Ningu\u00e9m na Ucr\u00e2nia, desde o presidente at\u00e9 a uma crian\u00e7a comum, alguma vez concordar\u00e1 com estas condi\u00e7\u00f5es. \u00c9 imposs\u00edvel. E quero dizer-vos que este n\u00e3o \u00e9 um caminho para a paz, \u00e9 um caminho para a continua\u00e7\u00e3o da guerra. Por isso, juntamente com 50 pa\u00edses unidos na coliga\u00e7\u00e3o de Ramstein para ajudar a Ucr\u00e2nia, alcan\u00e7aremos definitivamente a vit\u00f3ria. Neste momento, o ex\u00e9rcito ucraniano est\u00e1 a conduzir uma contraofensiva.\u0022 MM:\u00a0Sr. Nemyria, a mesma pergunta para si: acredita que estamos, agora, em modo de guerra longa? Hryhoriy Nemyria: \u0022 Muitas pessoas pensaram de forma semelhante, em 2008, quando a Federa\u00e7\u00e3o Russa atacou a Ge\u00f3rgia e ocupou, e ainda ocupa, 25% do territ\u00f3rio georgiano. Muitas pessoas pensaram o mesmo, em 2014, quando a R\u00fassia anexou a Crimeia e ocupou uma parte significativa da minha terra natal, o Donbass. Assim, isso seria suficiente para Putin, pois a \u00fanica coisa que lhe interessa realmente \u00e9 a Crimeia. Se a Crimeia \u00e9 negoci\u00e1vel, ent\u00e3o ele n\u00e3o avan\u00e7ar\u00e1 mais. N\u00e3o \u00e9 o caso. Ele est\u00e1 a ir mais longe. Portanto, respondendo \u00e0 sua pergunta, n\u00e3o \u00e9 sobre dist\u00e2ncia, n\u00e3o \u00e9 sobre tempo. \u00c9 sobre as conclus\u00f5es certas e as li\u00e7\u00f5es certas a serem aprendidas. E h\u00e1 duas li\u00e7\u00f5es que creio que s\u00e3o muito vi\u00e1veis. A primeira conclus\u00e3o, a primeira li\u00e7\u00e3o, o 24 de fevereiro trouxe um acontecimento fenomenal, a zona cinzenta desapareceu. N\u00e3o h\u00e1 mais zonas cinzentas na Europa. O que s\u00e3o zonas cinzentas? Aqueles pa\u00edses entre eles? Os diplomatas na altura da Guerra Fria estavam a jogar. Que papel \u00e9 melhor para estes pa\u00edses entre pontes, zonas tamp\u00e3o ou qualquer outra coisa? Mas o pr\u00f3prio facto de a Finl\u00e2ndia e a Su\u00e9cia, quando a guerra come\u00e7ou, terem decidido aderir \u00e0 NATO e n\u00e3o estarem mais dispostos a estar no vazio de seguran\u00e7a, \u00e9 uma li\u00e7\u00e3o muito poderosa a ser aprendida por outros e n\u00e3o apenas pela Europa, mas tamb\u00e9m em regi\u00f5es como a do Pac\u00edfico. A segunda conclus\u00e3o, e li\u00e7\u00e3o, a ser tirada: qual \u00e9 o valor de algo que se chama garantia de seguran\u00e7a para a Ucr\u00e2nia? \u00c9 muito importante porque em 1994, a Ucr\u00e2nia desistiu do terceiro maior arsenal nuclear do mundo, maior do que o Reino Unido, Fran\u00e7a e China juntos. Em troca da ades\u00e3o ao Tratado de N\u00e3o-Prolifera\u00e7\u00e3o de Armas Nucleares. O terceiro maior arsenal nuclear consiste em 2000 ogivas estrat\u00e9gicas, ou 176 ICBMs, m\u00edsseis bal\u00edsticos intercontinentais, 44 bombardeiros estrat\u00e9gicos, e 2500 bombas nucleares t\u00e1ticas. Foi tudo transferido para a R\u00fassia e destru\u00eddo. Em troca, a Ucr\u00e2nia recebeu garantias de seguran\u00e7a no antigo Memorando de Budapeste assinado pelo Presidente da Federa\u00e7\u00e3o Russa, Ieltsin na altura, pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e pelo primeiro-ministro do Reino Unido, John Major. Mas quando a guerra come\u00e7ou e a Ucr\u00e2nia disse que tinha garantias de seguran\u00e7a da integridade territorial, soberania e independ\u00eancia, e um dos garantes atacou a Ucr\u00e2nia. Ent\u00e3o, a institui\u00e7\u00e3o internacional e os garantes, n\u00e3o foram de facto capazes de cumprir a promessa. Portanto, este \u00e9 um precedente n\u00e3o apenas sobre a Ucr\u00e2nia, como se poderia ousar negociar ou assegurar algo s\u00e9rio com pa\u00edses como o Ir\u00e3o, Coreia do Norte ou outros. Quando o pressuposto dado a pa\u00edses que foram desnuclearizados voluntariamente de que a promessa foi quebrada e a garantia de seguran\u00e7a provou ser uma garantia v\u00e3. Portanto, estas s\u00e3o as li\u00e7\u00f5es que aprendemos, n\u00e3o s\u00f3 a Ucr\u00e2nia, mas todos os outros. Penso que estamos condenados a repetir o mesmo, mas de uma forma mais horr\u00edvel e feia no futuro.\u0022 MM:\u00a0Um alerta e tanto. S\u00f3 em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s li\u00e7\u00f5es a serem aprendidas, olhando talvez para 2014, poderia a Europa ter feito mais? Kolinda Grabar-Kitarovi\u0107: \u0022 Oh, absolutamente. Penso que temos uma responsabilidade coletiva pelo que se a na Ucr\u00e2nia, por esta invas\u00e3o aberta que come\u00e7ou a 24 de fevereiro. Penso que a nossa rea\u00e7\u00e3o coletiva ou rea\u00e7\u00e3o, em 2014 foi lenta. N\u00e3o foi suficientemente forte. Em contraste com isso, penso que a rea\u00e7\u00e3o que vimos ap\u00f3s a invas\u00e3o de 24 de fevereiro, a guerra aberta da R\u00fassia contra a Ucr\u00e2nia, um dos elementos que Putin, o Presidente Putin, tinha calculado mal foi a rapidez e a profundidade da rea\u00e7\u00e3o da Uni\u00e3o Europeia da NATO e da comunidade global coletivamente. Agora, \u00e9 claro, a quest\u00e3o \u00e9 saber se isso vai permanecer, olhando para a situa\u00e7\u00e3o atual na Ucr\u00e2nia. \u00c9 claro que, sem uma vit\u00f3ria militar direta, a \u00fanica forma de acabar com uma guerra \u00e9 uma solu\u00e7\u00e3o diplom\u00e1tica para a qual neste momento n\u00e3o vejo incentivos de nenhum dos lados e especialmente n\u00e3o da parte do Presidente Putin, pois penso que o tempo est\u00e1 do seu lado. Ele tem os meios para travar uma guerra longa. As san\u00e7\u00f5es atingiram a economia russa. T\u00eam de ser analisadas em combina\u00e7\u00e3o com meios militares, diplom\u00e1ticos e outros. Ele prepara-se para uma longa guerra de atrito, de desgaste na Ucr\u00e2nia, esta guerra de desgaste de rendimentos a um pre\u00e7o muito elevado, mas tamb\u00e9m de desgaste, da nossa unidade e do nosso prop\u00f3sito e determina\u00e7\u00e3o no Ocidente e noutras partes do mundo. Porque, com o aumento dos pre\u00e7os da energia, com a infla\u00e7\u00e3o, com a militariza\u00e7\u00e3o dos alimentos e da energia, s em qualquer d\u00favida, haver\u00e1 insatisfa\u00e7\u00e3o nas nossas pr\u00f3prias sociedades com o que vamos enfrentar este inverno. Portanto, penso que \u00e9 da maior import\u00e2ncia que os Governos atenuem os efeitos da crise nas nossas respetivas sociedades, especialmente para as pessoas mais vulner\u00e1veis da popula\u00e7\u00e3o. Mas quando penso na minha pr\u00f3pria experi\u00eancia, eu tinha 23 anos quando a guerra eclodiu, e na altura em que ia para a cama \u00e0 noite e ouvia explos\u00f5es a cerca de 20 quil\u00f3metros de Zagreb, estava grata pela cama quente em que podia dormir nessa noite. No entanto, rapidamente esquecemos essa experi\u00eancia, e durante demasiado tempo na Europa, fomos embalados por este sentimento de que a paz estar\u00e1 l\u00e1, que a seguran\u00e7a estar\u00e1 l\u00e1. Tom\u00e1mos a paz como certa, especialmente as gera\u00e7\u00f5es jovens que n\u00e3o viram a guerra e a destrui\u00e7\u00e3o. Portanto, penso que a principal mensagem que devemos enviar hoje \u00e9 que todos pensem na situa\u00e7\u00e3o, que os ucranianos est\u00e3o na realidade a perder as vidas e o sangue e que devemos ser capazes de perder algum do conforto que temos nas nossas pr\u00f3prias vidas para apreciar e proteger os valores, mesmo que n\u00e3o acreditemos na democracia liberal. No entanto, temos de proteger o direito internacional, a soberania dos Estados, a integridade territorial e o direito de cada na\u00e7\u00e3o e indiv\u00edduo a escolher o seu pr\u00f3prio futuro. A minha mensagem, \u00e0 gera\u00e7\u00e3o jovem e \u00e0 gera\u00e7\u00e3o de prop\u00f3sitos \u00e9 que n\u00e3o devemos deixar que os rufi\u00f5es governem o mundo.\u0022 MM:\u00a0Aleksander Kwa\u015bniewski, gostaria de ter a sua opini\u00e3o agora. Sobre essa quest\u00e3o da unidade, vimos em mar\u00e7o, uma unidade sem precedentes por parte dos estados-membros e capitais europeias, todos juntos, a tomar decis\u00f5es a uma velocidade que j\u00e1 n\u00e3o v\u00edamos h\u00e1 anos. Ser\u00e1 que o \u00edmpeto ainda existe? Aleksander Kwa\u015bniewski: \u0022 Este \u00e9, digamos, o pr\u00f3ximo, \u00eaxito de Putin, por assim dizer. Nunca estivemos t\u00e3o unidos. Devido a esta agress\u00e3o sem precedentes contra a Ucr\u00e2nia estamos unidos e este \u00e9 um primeiro valor novo muito importante. Temos de continuar com esta unidade. Temos aqui muitos jovens. Portanto, lembrem-se que a Europa unida n\u00e3o s\u00f3 \u00e9 mais forte, como \u00e9 melhor. Se a Europa estiver desintegrada n\u00e3o temos quaisquer hip\u00f3teses no s\u00e9culo XXI neste processo global. Temos concorrentes fortes, por vezes inimigos. A R\u00fassia \u00e9 inimiga. A China \u00e9 um forte rival. Provavelmente nos pr\u00f3ximos meses veremos a China tamb\u00e9m como um inimigo, devido \u00e0 agress\u00e3o bastante prov\u00e1vel contra Taiwan. Portanto, a primeira mensagem \u00e9 que uma Europa unida \u00e9 mais forte, \u00e9 melhor, e isso \u00e9 um bom espa\u00e7o para todos n\u00f3s e tamb\u00e9m para a vossa gera\u00e7\u00e3o jovem. Tenho medo, claro, porque sabem como a vida \u00e9 e n\u00f3s sabemos que as pessoas t\u00eam uma paci\u00eancia muito limitada. Por isso, tenho muito medo de tudo. O que ir\u00e1 acontecer durante o inverno, porque a crise energ\u00e9tica est\u00e1 a chegar. N\u00e3o temos qualquer hip\u00f3tese de a evitar. Teremos provavelmente alguns apag\u00f5es de energia em alguns lugares. Teremos infla\u00e7\u00e3o, pre\u00e7os elevados, etc., etc... E \u00e9 muito importante compreender neste per\u00edodo dif\u00edcil que estamos a lutar juntamente com a Ucr\u00e2nia pelos valores mais importantes como a democracia, soberania, respeito, Direitos Humanos, dignidade, etc.. Assim, \u00e9 claro, a Europa Ocidental, mas tamb\u00e9m a Pol\u00f3nia, enquanto pa\u00eds, ap\u00f3s 30 anos de transforma\u00e7\u00e3o muito positiva e bem-sucedida, \u00e9 cada vez mais uma sociedade orientada para o consumo. Assim, para n\u00f3s, n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil aceitar que as condi\u00e7\u00f5es de vida ser\u00e3o piores ou podem ser piores, mas \u00e9 necess\u00e1rio compreender que este \u00e9 um momento, um per\u00edodo da hist\u00f3ria em que temos de sofrer porque estamos a lutar por valores muito mais importantes, por coisas muito mais importantes. A minha gera\u00e7\u00e3o, a vossa gera\u00e7\u00e3o, nunca foram confrontadas com tal desafio. As gera\u00e7\u00f5es dos meus pais, dos meus av\u00f3s, foram confrontadas a cada 10, 20 anos com guerras, com conflitos, com pobreza, fome, etc., etc. Portanto, isto \u00e9 para todos n\u00f3s um desafio realmente dif\u00edcil, mas muito importante. Temos de ar este exame com \u00eaxito, porque isso \u00e9 importante para o nosso futuro. Por \u00faltimo, \u00e9 a R\u00fassia, digo-vos, participei em algumas discuss\u00f5es e um dos elementos de tal controv\u00e9rsia foi a guerra de Putin contra a Ucr\u00e2nia ou a guerra da R\u00fassia contra a Ucr\u00e2nia, porque seria mais f\u00e1cil, provavelmente para todos n\u00f3s, dizer, bem, esta \u00e9 uma guerra de Putin, porque a sua obsess\u00e3o \u00e9 reconstruir a grande R\u00fassia e, claro, reconstruir o imp\u00e9rio. Ele precisa de um pa\u00eds t\u00e3o grande e grandioso como a Ucr\u00e2nia, como a Bielorr\u00fassia e alguns pa\u00edses da \u00c1sia Central. Seria provavelmente mais f\u00e1cil compreender que se mudarmos, ou se um dia Putin for mudado, o Kremlin ter\u00e1 uma situa\u00e7\u00e3o melhor, podemos abrir um novo cap\u00edtulo nas rela\u00e7\u00f5es com a R\u00fassia. Mas digo-vos, conhecendo a R\u00fassia bastante bem, j\u00e1 li muitos livros, e tiveram h\u00e1 poucas horas aqui a Anne Applebaum\u2026 E ela contou-nos que a hist\u00f3ria liberal da R\u00fassia, que \u00e9 esse per\u00edodo e talvez per\u00edodo zero, nunca existiu. \u00c9 claro que tivemos algumas novas ideias liberais ou l\u00edderes, mas nunca foram bem-sucedidos. Portanto, infelizmente, na minha opini\u00e3o, isso \u00e9 um problema porque essa \u00e9 a guerra da R\u00fassia que est\u00e1 muito ligada \u00e0 compreens\u00e3o russa do mundo, \u00e0 compreens\u00e3o russa da posi\u00e7\u00e3o da R\u00fassia neste mundo. Isso s\u00e3o muitos sentimentos imperialistas. E a R\u00fassia nunca decidiu discutir abertamente dentro deste pa\u00eds o problema do ado, da \u00e9poca mais triste da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, etc., esta ideia da grandeza russa dos territ\u00f3rios. Isso \u00e9 algo que infelizmente \u00e9 muito profundo na mentalidade russa. Falo disso porque temos de estar preparados para que um dia, Putin termine a sua presid\u00eancia e tenhamos uma pr\u00f3xima gera\u00e7\u00e3o de l\u00edderes. A situa\u00e7\u00e3o, especialmente em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Ucr\u00e2nia, pode ser a mesma porque para quem tem esta ideia de Grande R\u00fassia, do papel do pr\u00f3prio pa\u00eds no mundo, a Ucr\u00e2nia \u00e9 uma parte crucial, crucial. E porque eles querem, a R\u00fassia quer, com Putin ou sem Putin, ou com algum sucessor de Putin, a R\u00fassia quer ter controlo total sobre a Ucr\u00e2nia. Este conflito prolongar-se-\u00e1 por muito, muito tempo, mas n\u00f3s podemos vencer. N\u00f3s podemos ganhar. A Yulia disse coisas muito importantes. Se apoiarmos a Ucr\u00e2nia, se entregarmos fornecimentos de armas, se dermos um forte apoio financeiro \u00e0 Ucr\u00e2nia, vendo a determina\u00e7\u00e3o dos ucranianos, vendo como s\u00e3o corajosos, como s\u00e3o habilidosos, como usam todas estas novas armas, \u00e9 uma hip\u00f3tese de que nesta luta entre a democracia e o autoritarismo, a Ucr\u00e2nia nos ajude a todos a vencer e a democracia ter\u00e1 uma oportunidade para as pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. E este \u00e9 um elemento de apoio total \u00e0 Ucr\u00e2nia. E o segundo \u00e9, evidentemente, a nossa uni\u00e3o. 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"Ninguém na Ucrânia concordará com uma capitulação" - Yulia Tymoshenko

"Ninguém na Ucrânia concordará com uma capitulação" - Yulia Tymoshenko
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A análise dos 6 meses de guerra na Ucrânia pela ex-primeira-ministra ucraniana Yulia Tymoshenko, pelo vice-presidente da comissão dos negócios estrangeiros do Parlamento ucraniano, Hryhoriy Nemyria, e pelos ex-presidentes da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarović , e da Polónia, Aleksander Kwaśniewski

Paz na Europa. Um tema muito pertinente dada a guerra na Ucrânia, que entrou no sexto mês, no mesmo dia em que a Ucrânia assinalou o Dia da Independência. 

Este episódio de Global Conversation foi gravado na Nova School of Business and Economics (Nova SBE), em Oeiras, em Portugal, na mesma altura em que decorre a sétima edição das Conferências do Estoril, que este ano tiveram como mote "Futuro de Esperança".

Como convidados temos Yulia Tymoshenko, a antiga primeira-ministra, ucraniana, por duas vezes, e um dos principais rostos da revolução laranja; Hryhoriy Nemyria, o primeiro vice-presidente da comissão dos negócios estrangeiros do parlamento da Ucrânia; epara ter,os a visão e a perspetiva da União Europeia, da Croácia e da Polónia, Kolinda Grabar-Kitarović - a antiga presidente da Croácia – e a Aleksander Kwaśniewski - o antigo presidente da Polónia.

Meabh Mc Mahon, euronews: Essa ideia de uma Ucrânia pacífica para onde milhões de famílias ucranianas possam voltar parece ainda muito distante. Portanto, a minha pergunta é, quando é que pensa que isso poderá ser uma realidade?

Yulia Tymoshenko: "Agora, a questão mais difícil é: quando terminará a guerra e onde está o caminho para a paz. Hoje, no mundo, considera-se que existem dois caminhos para a paz: o primeiro, é o caminho da vitória no campo de batalha; e o segundo caminho, é o de apaziguar o Kremlin e Putin, e chegar a acordo. Em muitos países europeus começam a ter-se alguns indícios de que, devido à guerra, têm uma inflação elevada, dificuldades sociais, económicas e políticas. Portanto, vamos terminar esta guerra com um tratado de paz, mas quero ser muito clara - infelizmente não há dois caminhos. Apenas existe um e é uma vitória no campo de batalha. Agora vou explicar porquê.

Porque é assim? Porque o acordo de paz oferecido pelo agressor à Ucrânia consiste em quatro pontos principais: temos de lhes dar os territórios que conquistaram e aceitar este facto, ceder e agradecer-lhes por nos terem tirado parte do nosso território. Convém não esquecer que o que hoje está temporariamente ocupado, na Ucrânia, é essencialmente um território igual à área de Portugal.

Por conseguinte, isto é inaceitável para a Ucrânia, e para todo o mundo livre, ser-se privado de territórios através da guerra. O seu segundo requisito é que a Ucrânia nunca se torne membro da NATO e permaneça indefesa para sempre. O terceiro requisito é o de reduzir o exército ucraniano a um número tal que este seja incapaz de defender a Ucrânia. Isto é, essencialmente, um desarmamento unilateral. Isto significaria uma rendição da Ucrânia no futuro e é nisto que o Kremlin insiste. E o quarto requisito é humanitário. Temos de renunciar à nossa língua a favor do russo, temos de renunciar à nossa história e cultura, e seguir o caminho da russificação. O Kremlin não vai desistir destas condições e, por conseguinte, isto não é um acordo de paz. Trata-se, de facto, de uma capitulação que eles querem fixar com a participação ucraniana. Ninguém na Ucrânia, desde o presidente até a uma criança comum, alguma vez concordará com estas condições. É impossível. E quero dizer-vos que este não é um caminho para a paz, é um caminho para a continuação da guerra.

Por isso, juntamente com 50 países unidos na coligação de Ramstein para ajudar a Ucrânia, alcançaremos definitivamente a vitória. Neste momento, o exército ucraniano está a conduzir uma contraofensiva."

MM: Sr. Nemyria, a mesma pergunta para si: acredita que estamos, agora, em modo de guerra longa?

Hryhoriy Nemyria: "Muitas pessoas pensaram de forma semelhante, em 2008, quando a Federação Russa atacou a Geórgia e ocupou, e ainda ocupa, 25% do território georgiano. Muitas pessoas pensaram o mesmo, em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia e ocupou uma parte significativa da minha terra natal, o Donbass. Assim, isso seria suficiente para Putin, pois a única coisa que lhe interessa realmente é a Crimeia. Se a Crimeia é negociável, então ele não avançará mais. Não é o caso. Ele está a ir mais longe. Portanto, respondendo à sua pergunta, não é sobre distância, não é sobre tempo. É sobre as conclusões certas e as lições certas a serem aprendidas.

E há duas lições que creio que são muito viáveis. A primeira conclusão, a primeira lição, o 24 de fevereiro trouxe um acontecimento fenomenal, a zona cinzenta desapareceu. Não há mais zonas cinzentas na Europa. O que são zonas cinzentas? Aqueles países entre eles? Os diplomatas na altura da Guerra Fria estavam a jogar. Que papel é melhor para estes países entre pontes, zonas tampão ou qualquer outra coisa?

Mas o próprio facto de a Finlândia e a Suécia, quando a guerra começou, terem decidido aderir à NATO e não estarem mais dispostos a estar no vazio de segurança, é uma lição muito poderosa a ser aprendida por outros e não apenas pela Europa, mas também em regiões como a do Pacífico.

A segunda conclusão, e lição, a ser tirada: qual é o valor de algo que se chama garantia de segurança para a Ucrânia? É muito importante porque em 1994, a Ucrânia desistiu do terceiro maior arsenal nuclear do mundo, maior do que o Reino Unido, França e China juntos. Em troca da adesão ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. O terceiro maior arsenal nuclear consiste em 2000 ogivas estratégicas, ou 176 ICBMs, mísseis balísticos intercontinentais, 44 bombardeiros estratégicos, e 2500 bombas nucleares táticas. Foi tudo transferido para a Rússia e destruído. Em troca, a Ucrânia recebeu garantias de segurança no antigo Memorando de Budapeste assinado pelo Presidente da Federação Russa, Ieltsin na altura, pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e pelo primeiro-ministro do Reino Unido, John Major.

Mas quando a guerra começou e a Ucrânia disse que tinha garantias de segurança da integridade territorial, soberania e independência, e um dos garantes atacou a Ucrânia. Então, a instituição internacional e os garantes, não foram de facto capazes de cumprir a promessa. Portanto, este é um precedente não apenas sobre a Ucrânia, como se poderia ousar negociar ou assegurar algo sério com países como o Irão, Coreia do Norte ou outros. Quando o pressuposto dado a países que foram desnuclearizados voluntariamente de que a promessa foi quebrada e a garantia de segurança provou ser uma garantia vã. Portanto, estas são as lições que aprendemos, não só a Ucrânia, mas todos os outros. Penso que estamos condenados a repetir o mesmo, mas de uma forma mais horrível e feia no futuro."

MM: Um alerta e tanto. Só em relação às lições a serem aprendidas, olhando talvez para 2014, poderia a Europa ter feito mais?

Tomámos a paz como certa, especialmente as gerações jovens que não viram a guerra e a destruição.
Kolinda Grabar-Kitarović
Ex-presidente da Croácia

Kolinda Grabar-Kitarović: "Oh, absolutamente. Penso que temos uma responsabilidade coletiva pelo que se a na Ucrânia, por esta invasão aberta que começou a 24 de fevereiro. Penso que a nossa reação coletiva ou reação, em 2014 foi lenta. Não foi suficientemente forte. Em contraste com isso, penso que a reação que vimos após a invasão de 24 de fevereiro, a guerra aberta da Rússia contra a Ucrânia, um dos elementos que Putin, o Presidente Putin, tinha calculado mal foi a rapidez e a profundidade da reação da União Europeia da NATO e da comunidade global coletivamente. Agora, é claro, a questão é saber se isso vai permanecer, olhando para a situação atual na Ucrânia.

É claro que, sem uma vitória militar direta, a única forma de acabar com uma guerra é uma solução diplomática para a qual neste momento não vejo incentivos de nenhum dos lados e especialmente não da parte do Presidente Putin, pois penso que o tempo está do seu lado. Ele tem os meios para travar uma guerra longa.

As sanções atingiram a economia russa. Têm de ser analisadas em combinação com meios militares, diplomáticos e outros. Ele prepara-se para uma longa guerra de atrito, de desgaste na Ucrânia, esta guerra de desgaste de rendimentos a um preço muito elevado, mas também de desgaste, da nossa unidade e do nosso propósito e determinação no Ocidente e noutras partes do mundo. Porque, com o aumento dos preços da energia, com a inflação, com a militarização dos alimentos e da energia, sem qualquer dúvida, haverá insatisfação nas nossas próprias sociedades com o que vamos enfrentar este inverno. Portanto, penso que é da maior importância que os Governos atenuem os efeitos da crise nas nossas respetivas sociedades, especialmente para as pessoas mais vulneráveis da população.

Mas quando penso na minha própria experiência, eu tinha 23 anos quando a guerra eclodiu, e na altura em que ia para a cama à noite e ouvia explosões a cerca de 20 quilómetros de Zagreb, estava grata pela cama quente em que podia dormir nessa noite. No entanto, rapidamente esquecemos essa experiência, e durante demasiado tempo na Europa, fomos embalados por este sentimento de que a paz estará lá, que a segurança estará lá. Tomámos a paz como certa, especialmente as gerações jovens que não viram a guerra e a destruição.

Portanto, penso que a principal mensagem que devemos enviar hoje é que todos pensem na situação, que os ucranianos estão na realidade a perder as vidas e o sangue e que devemos ser capazes de perder algum do conforto que temos nas nossas próprias vidas para apreciar e proteger os valores, mesmo que não acreditemos na democracia liberal. No entanto, temos de proteger o direito internacional, a soberania dos Estados, a integridade territorial e o direito de cada nação e indivíduo a escolher o seu próprio futuro. A minha mensagem, à geração jovem e à geração de propósitos é que não devemos deixar que os rufiões governem o mundo."

MM: Aleksander Kwaśniewski, gostaria de ter a sua opinião agora. Sobre essa questão da unidade, vimos em março, uma unidade sem precedentes por parte dos estados-membros e capitais europeias, todos juntos, a tomar decisões a uma velocidade que já não víamos há anos. Será que o ímpeto ainda existe?

Tenho medo, claro, porque sabem como a vida é e nós sabemos que as pessoas têm uma paciência muito limitada.
Aleksander Kwaśniewski
Ex-presidente da Polónia

Aleksander Kwaśniewski: "Este é, digamos, o próximo, êxito de Putin, por assim dizer. Nunca estivemos tão unidos. Devido a esta agressão sem precedentes contra a Ucrânia estamos unidos e este é um primeiro valor novo muito importante. Temos de continuar com esta unidade. Temos aqui muitos jovens. Portanto, lembrem-se que a Europa unida não só é mais forte, como é melhor. Se a Europa estiver desintegrada não temos quaisquer hipóteses no século XXI neste processo global. Temos concorrentes fortes, por vezes inimigos. A Rússia é inimiga. A China é um forte rival. Provavelmente nos próximos meses veremos a China também como um inimigo, devido à agressão bastante provável contra Taiwan. Portanto, a primeira mensagem é que uma Europa unida é mais forte, é melhor, e isso é um bom espaço para todos nós e também para a vossa geração jovem.

Tenho medo, claro, porque sabem como a vida é e nós sabemos que as pessoas têm uma paciência muito limitada.

Por isso, tenho muito medo de tudo. O que irá acontecer durante o inverno, porque a crise energética está a chegar. Não temos qualquer hipótese de a evitar. Teremos provavelmente alguns apagões de energia em alguns lugares. Teremos inflação, preços elevados, etc., etc... E é muito importante compreender neste período difícil que estamos a lutar juntamente com a Ucrânia pelos valores mais importantes como a democracia, soberania, respeito, Direitos Humanos, dignidade, etc..

Assim, é claro, a Europa Ocidental, mas também a Polónia, enquanto país, após 30 anos de transformação muito positiva e bem-sucedida, é cada vez mais uma sociedade orientada para o consumo. Assim, para nós, não é fácil aceitar que as condições de vida serão piores ou podem ser piores, mas é necessário compreender que este é um momento, um período da história em que temos de sofrer porque estamos a lutar por valores muito mais importantes, por coisas muito mais importantes.

A minha geração, a vossa geração, nunca foram confrontadas com tal desafio. As gerações dos meus pais, dos meus avós, foram confrontadas a cada 10, 20 anos com guerras, com conflitos, com pobreza, fome, etc., etc. Portanto, isto é para todos nós um desafio realmente difícil, mas muito importante. Temos de ar este exame com êxito, porque isso é importante para o nosso futuro.

Por último, é a Rússia, digo-vos, participei em algumas discussões e um dos elementos de tal controvérsia foi a guerra de Putin contra a Ucrânia ou a guerra da Rússia contra a Ucrânia, porque seria mais fácil, provavelmente para todos nós, dizer, bem, esta é uma guerra de Putin, porque a sua obsessão é reconstruir a grande Rússia e, claro, reconstruir o império. Ele precisa de um país tão grande e grandioso como a Ucrânia, como a Bielorrússia e alguns países da Ásia Central. Seria provavelmente mais fácil compreender que se mudarmos, ou se um dia Putin for mudado, o Kremlin terá uma situação melhor, podemos abrir um novo capítulo nas relações com a Rússia.

Mas digo-vos, conhecendo a Rússia bastante bem, já li muitos livros, e tiveram há poucas horas aqui a Anne Applebaum… E ela contou-nos que a história liberal da Rússia, que é esse período e talvez período zero, nunca existiu. É claro que tivemos algumas novas ideias liberais ou líderes, mas nunca foram bem-sucedidos. Portanto, infelizmente, na minha opinião, isso é um problema porque essa é a guerra da Rússia que está muito ligada à compreensão russa do mundo, à compreensão russa da posição da Rússia neste mundo. Isso são muitos sentimentos imperialistas. E a Rússia nunca decidiu discutir abertamente dentro deste país o problema do ado, da época mais triste da União Soviética, etc., esta ideia da grandeza russa dos territórios. Isso é algo que infelizmente é muito profundo na mentalidade russa.

Falo disso porque temos de estar preparados para que um dia, Putin termine a sua presidência e tenhamos uma próxima geração de líderes. A situação, especialmente em relação à Ucrânia, pode ser a mesma porque para quem tem esta ideia de Grande Rússia, do papel do próprio país no mundo, a Ucrânia é uma parte crucial, crucial. E porque eles querem, a Rússia quer, com Putin ou sem Putin, ou com algum sucessor de Putin, a Rússia quer ter controlo total sobre a Ucrânia. Este conflito prolongar-se-á por muito, muito tempo, mas nós podemos vencer. Nós podemos ganhar.

A Yulia disse coisas muito importantes. Se apoiarmos a Ucrânia, se entregarmos fornecimentos de armas, se dermos um forte apoio financeiro à Ucrânia, vendo a determinação dos ucranianos, vendo como são corajosos, como são habilidosos, como usam todas estas novas armas, é uma hipótese de que nesta luta entre a democracia e o autoritarismo, a Ucrânia nos ajude a todos a vencer e a democracia terá uma oportunidade para as próximas décadas. E este é um elemento de apoio total à Ucrânia.

E o segundo é, evidentemente, a nossa união. Sem a união do Ocidente, e penso na União Europeia e nos Estados Unidos, não temos hipóteses de vencer este confronto global entre a democracia e as ideias autoritárias."

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