{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2022/06/07/globsec-2022-solucoes-para-a-crise-na-ucrania-analise-por-heger-e-nehammer" }, "headline": "GLOBSEC 2022: solu\u00e7\u00f5es para a crise na Ucr\u00e2nia - an\u00e1lise por Heger e Nehammer ", "description": "O primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia e o chanceler austr\u00edaco abordam, em conjunto, a situa\u00e7\u00e3o atual na Ucr\u00e2nia e discutem poss\u00edveis solu\u00e7\u00f5es para a crise no pa\u00eds.", "articleBody": "O GLOBSEC Bratislava F\u00f3rum \u00e9 uma das confer\u00eancias estrat\u00e9gicas mais importantes do mundo, especialmente no campo da seguran\u00e7a e das rela\u00e7\u00f5es internacionais. O encontro junta convidados de v\u00e1rias \u00e1reas, que se re\u00fanem todos os anos para discutir quest\u00f5es prementes sobre o futuro. Para al\u00e9m do programa principal, dividido em duas fases interativas, o F\u00f3rum organiza uma s\u00e9rie de diferentes eventos tem\u00e1ticos. Desde 2020, o programa completo da confer\u00eancia tem sido transmitido em direto nos meios de comunica\u00e7\u00e3o social. As perguntas podem ser colocadas aos oradores, em tempo real, atrav\u00e9s da aplica\u00e7\u00e3o GLOBSEC. Assim, o p\u00fablico interessado pode tamb\u00e9m participar nos debates. A jornalista da Euronews, Sasha Vakulina , mediou a conversa entre o primeiro-ministro eslovaco, Eduard Heger , e o chanceler austr\u00edaco,\u00a0 Karl Nehammer , que responderam a v\u00e1rias perguntas na sess\u00e3o \u0022 Queimar o cesto do p\u00e3o, amplo impacto da agress\u00e3o da R\u00fassia na Ucr\u00e2nia \u0022. Sasha Vakulina, Euronews:\u00a0Esta sess\u00e3o chama-se \u0022Queimar o cesto do p\u00e3o. O impacto mais amplo da agress\u00e3o da R\u00fassia na Ucr\u00e2nia. \u00c9 uma grande honra e um privil\u00e9gio apresentar Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia e Karl Nehammer, chanceler austr\u00edaco.\u00a0Primeiro-ministro, deixe-me come\u00e7ar por si. Quais s\u00e3o as quest\u00f5es mais urgentes que acha que est\u00e3o na agenda para resolver? J\u00e1 aram mais de 100 dias, desde que a guerra come\u00e7ou. Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia: \u00a0Ouvimos ontem do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, que, antes de mais, eles precisam de ajuda com armas para se protegerem. A segunda quest\u00e3o importante s\u00e3o os cereais que t\u00eam na Ucr\u00e2nia e est\u00e3o bloqueados. \u00c9 tamb\u00e9m sobre isso que Ursula Von der Leyen estava a falar. E t\u00eam de ser distribu\u00eddos pelo mundo rapidamente porque, caso contr\u00e1rio, enfrentaremos uma grande fome.\u00a0E, na minha opini\u00e3o, n\u00e3o pens\u00e1mos nisso no in\u00edcio.\u00a0 Quando Putin come\u00e7ou a agress\u00e3o, vimos o impacto na Ucr\u00e2nia. Depois, come\u00e7\u00e1mos imediatamente a sentir o impacto na Uni\u00e3o Europeia. Mas agora vemos como ele est\u00e1, eu diria, a aterrorizar as pessoas em outras partes do mundo, que n\u00e3o t\u00eam nada a ver com esta guerra e est\u00e1 a empurr\u00e1-las para a amea\u00e7a de uma grande fome, que pode causar uma onda de migra\u00e7\u00e3o, etc. \u00c9 uma grande instabilidade. \u00c9 por isso que temos de agir muito r\u00e1pido. A primeira prioridade \u00e9 ajudar os ucranianos a defender os portos mar\u00edtimos para poderem come\u00e7ar a exportar cereais nos barcos, nos navios porque n\u00f3s sabemos que se usarmos comboios, ser\u00e1 mais lento exportar os cereais, atrav\u00e9s das rotas de cereais. SV:\u00a0Qual \u00e9 a sua opini\u00e3o sobre isso? \u00c9 algo ligeiramente diferente quando se trata de Europa porque \u00e9 claro, j\u00e1 ouvimos o aviso severo da ONU sobre a crise alimentar e a seguran\u00e7a alimentar, que poder\u00e1 durar durante anos se n\u00e3o for abordado e resolvido agora. Mas ouvimos tamb\u00e9m da Uni\u00e3o Europeia, desde o in\u00edcio de abril, que \u00e9 autosuficiente em termos alimentares, por agora. Karl Nehammer, chanceler austr\u00edaco: \u00a0\u00a0Eu considero que o que precisamos agora \u00e9 de retirar o trigo da Ucr\u00e2nia. Por exemplo, o secret\u00e1rio-geral da ONU come\u00e7ou duas miss\u00f5es para ajudar a criar corredores seguros para retirar o milho. E, numa chamada, o Presidente Putin garantiu que o ex\u00e9rcito russo n\u00e3o iria atacar qualquer transporte de milho.\u00a0 O Porto de Odessa, por exemplo, foi armadilhado e ele disse-me que agora os ucranianos t\u00eam de fazer a desminagem. Eu disse-lhe que sim, que \u00e9 uma boa ideia, mas que ele tinha de garantir que as for\u00e7as russas n\u00e3o atacar\u00e3o o centro de Odessa. Ele disse-me que garantiria isso, mas, s\u00e3o apenas palavras. N\u00e3o sabemos se \u00e9 verdade ou n\u00e3o. Acho que agora precisamos das Na\u00e7\u00f5es Unidas nesta quest\u00e3o porque talvez no futuro haja a possibilidade de libertar os portos, mas agora precisamos de exportar as sementes, o trigo e o milho da Ucr\u00e2nia. SV:\u00a0Como \u00e9 que podemos, de algum modo, garantir uma solu\u00e7\u00e3o instant\u00e2nea agora e tamb\u00e9m uma que funcione, n\u00e3o a longo prazo, porque as infraestruturas s\u00e3o uma quest\u00e3o diferente, quando se trata de entregas ferrovi\u00e1rias, mas daqui a um m\u00eas ou em seis meses para a pr\u00f3xima colheita de cereais? Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia: \u00a0A primeira coisa \u00e9 assegurar os portos, o de Odessa e os outros, e depois encontrar a solu\u00e7\u00e3o onde teremos russos de um lado e ucranianos do outro, e depois tirar as exporta\u00e7\u00f5es do pa\u00eds. Significa tamb\u00e9m que esperamos que a seguran\u00e7a dentro do pa\u00eds possa ser assegurada, de modo a que a replanta\u00e7\u00e3o de uma nova colheita esteja pronta a ser efetuada. Como a Ucr\u00e2nia \u00e9 o celeiro do mundo, estas s\u00e3o prioridades mais elevadas do que as prioridades nacionais.\u00a0 Acho que isto \u00e9 o que temos de salientar tamb\u00e9m a Vladimir Putin: ele deve entender que estas s\u00e3o prioridades globais e que a press\u00e3o dos pa\u00edses sobre esta quest\u00e3o global tem de estar presente. Temos de estar unidos e dizer-lhe que ele \u00e9 a causa de v\u00e1rios problemas, de modo a libertar o caminho para garantir a seguran\u00e7a alimentar para o resto do mundo. Este \u00e9 o segundo o e depois podemos falar sobre a reconstru\u00e7\u00e3o das infraestruturas na Ucr\u00e2nia porque n\u00e3o queremos que este pa\u00eds morra diante dos nossos olhos porque n\u00e3o tem recursos suficientes. N\u00e3o pode ser autosustent\u00e1vel. SV:\u00a0Porque \u00e9 que os governos africanos permanecem neutros na agress\u00e3o contra a Ucr\u00e2nia quando s\u00e3o os que mais sofrem com o bloqueio alimentar? Como \u00e9 que ajudaria se os pa\u00edses africanos se tivessem envolvido em solu\u00e7\u00f5es mais amplas quando se trata de san\u00e7\u00f5es, chanceler? Karl Nehammer, chanceler austr\u00edaco: \u00c9 uma boa quest\u00e3o porque temos de aceitar que temos opini\u00f5es fortes no chamado mundo ocidental, mas n\u00e3o no resto do mundo. E este resto do mundo \u00e9 enorme. Falamos da China, \u00cdndia ou \u00c1frica. O que temos de fazer agora \u00e9 encontrar aliados. Temos de os convencer e tamb\u00e9m proteger. Fal\u00e1mos sobre o milho, a exporta\u00e7\u00e3o de milho e de trigo da Ucr\u00e2nia. N\u00e3o fal\u00e1mos sobre fertilizantes. Foi uma quest\u00e3o muito importante quando estivemos no conselho em Bruxelas. Tamb\u00e9m fal\u00e1mos com o Presidente da Uni\u00e3o Africana em videoconfer\u00eancia e ele disse-nos que precisam de fertilizantes. Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia: \u00a0Temos tamb\u00e9m de atrair os outros parceiros globais e dizer que eles t\u00eam de se juntar a n\u00f3s porque se a \u00cdndia n\u00e3o for parte da solu\u00e7\u00e3o, se os EUA n\u00e3o forem parte da solu\u00e7\u00e3o, se os pa\u00edses africanos n\u00e3o forem parte das solu\u00e7\u00f5es, ent\u00e3o n\u00e3o teremos a solu\u00e7\u00e3o. Especialmente porque a crise alimentar \u00e9 a primeira etapa de uma crise de seguran\u00e7a e n\u00f3s n\u00e3o queremos isso. E \u00e9 por isso que os temos de incluir e acho que isso poder\u00e1 ajudar. Karl Nehammer, chanceler austr\u00edaco: \u00a0Quando a guerra contra a Ucr\u00e2nia come\u00e7ou, a solidariedade na Europa era muito forte e acho que, pela primeira vez, n\u00f3s mostr\u00e1mos uni\u00e3o contra a agress\u00e3o russa. Mas o mundo olha para n\u00f3s neste momento e os Estados africanos dizem: \u0022oh, isso \u00e9 interessante, se alguma coisa acontecer na Europa, voc\u00eas vivem em solidariedade. Voc\u00eas mant\u00e9m-se fortes. N\u00f3s tivemos tantas crises em \u00c1frica nos anos anteriores. Onde \u00e9 que voc\u00eas estiveram? Qual \u00e9 o valor de uma vida em \u00c1frica, em compara\u00e7\u00e3o com a Europa?\u0022 Acho que devemos refletir sobre isto. A raz\u00e3o pela qual estes pa\u00edses n\u00e3o apoiam isto \u00e9 porque dizem \u2018agora, voc\u00eas querem que n\u00f3s apoiemos as san\u00e7\u00f5es contra a R\u00fassia, mas n\u00f3s tamb\u00e9m precisamos do milho russo. Ent\u00e3o, porque devemos faz\u00ea-lo? Precisamos dos fertilizantes russos, ent\u00e3o porque devemos fazer isso?' Considero que temos de demonstrar o nosso interesse pelo continente de uma forma que lhes permita acreditar em n\u00f3s. Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia: \u00a0N\u00f3s dizemos aos pa\u00edses \u00e0 nossa volta, se eles se querem juntar a n\u00f3s, ter\u00e3o de reformar-se. Mas vemos, com estes desafios globais, que ter\u00e3o de existir reformas das organiza\u00e7\u00f5es globais porque \u00e9 o que o Karl acabou de dizer. Os pa\u00edses de outros continentes est\u00e3o a perguntar porque n\u00e3o se comportavam assim quando eles estavam em apuros. \u00c9 uma quest\u00e3o justa porque n\u00f3s somos aqueles que honram a democracia e os valores de liberdade, as regras do direito, a justi\u00e7a e o tratamento justo. Depois eles perguntam: \u0022Como podemos ser fi\u00e9is e dar um tratamento justo e depois n\u00e3o agir de forma justa para todos?\u0022 SV:\u00a0No in\u00edcio da invas\u00e3o russa, quando se tratava de usar coisas como armas, havia a energia russa. Fal\u00e1vamos de utilizar a energia como arma como uma alavanca da R\u00fassia. Agora, a pergunta de Henrik (por email): \u2018Ser\u00e1 que Putin est\u00e1 a utilizar os alimentos como arma? A S\u00edria, o L\u00edbano, o Egito s\u00e3o mais dependentes dos cereais da Ucr\u00e2nia e da R\u00fassia. Poder\u00e1 a escassez de alimentos conduzir a uma nova vaga de refugiados? E ser\u00e1 isto utilizar a comida como arma?\u2019 Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia: \u00a0Ele est\u00e1 a usar tudo como arma. Antes de ter usado os alimentos, estava a utilizar a informa\u00e7\u00e3o porque repare como uma guerra h\u00edbrida estava a ser conduzida na Eslov\u00e1quia, em outros pa\u00edses do flanco oriental.\u00a0Tanta desinforma\u00e7\u00e3o, tantos embustes, que nunca enfrent\u00e1mos tanto como nos \u00faltimos dois meses. Portanto, sim, ele est\u00e1 a usar as armas.\u00a0 Ele vai usar qualquer coisa que seja uma arma para nos perturbar, para nos desunir porque esta \u00e9 a \u00fanica ferramenta que ele tem neste momento. Ele n\u00e3o tem um ex\u00e9rcito t\u00e3o forte como se pensava e como ele pr\u00f3prio pensava. Portanto, ele n\u00e3o pode derrotar a Ucr\u00e2nia t\u00e3o rapidamente como pensava. Por isso, ele vai acrescentar todos os meios poss\u00edveis para obter progressos. Mas n\u00e3o devemos ter medo disso porque penso que somos t\u00e3o fortes. S\u00f3 temos de compreender os princ\u00edpios para os quais temos de trabalhar e procurar solu\u00e7\u00f5es. Basta olhar para a Finl\u00e2ndia, Su\u00e9cia e Dinamarca, o que lhes aconteceu durante as \u00faltimas semanas.\u00a0 N\u00e3o ser\u00edamos capazes de tomar estas decis\u00f5es sobre seguran\u00e7a, se n\u00e3o fosse por isto. Portanto, vemos que mesmo n\u00e3o gostando e achando que n\u00e3o est\u00e1 certo, esta agress\u00e3o est\u00e1 na verdade a ativar um p\u00f3s-processo que n\u00e3o est\u00e1vamos dispostos a fazer ou n\u00e3o t\u00ednhamos coragem de fazer. E isto d\u00e1-nos uma grande esperan\u00e7a. Se seguirmos os mesmos princ\u00edpios, eles ser\u00e3o capazes de o conseguir. E a comida, como est\u00e1vamos a discutir, h\u00e1 solu\u00e7\u00f5es, mas precisamos de mais parceiros porque o Porto de Odessa ser\u00e1 um bom treino para n\u00f3s, para que sejamos capazes de garantir a seguran\u00e7a da Ucr\u00e2nia e, ao mesmo tempo, permitir que os ucranianos exportem. Se o conseguirmos, ser\u00e1 um grande o em frente. Mas precisaremos de outros parceiros que assegurem a seguran\u00e7a do mar. SV: Uma pergunta de Alexandra Berezovsky, as minhas desculpas pela pron\u00fancia incorreta, uma pergunta para os dois oradores. Putin vai pedir um pre\u00e7o para desbloquear os portos do Mar Negro. Estariam prontos para levantar as san\u00e7\u00f5es da Uni\u00e3o Europeia em troca? Chanceler, voc\u00ea esteve numa chamada recente com Vladimir Putin e ele disse que estava inteiramente consciente da quest\u00e3o da seguran\u00e7a alimentar e disse que tinha dado sinais de que estava preparado para permitir algumas exporta\u00e7\u00f5es nos portos mar\u00edtimos, mas isso depende do levantamento das san\u00e7\u00f5es. Karl Nehammer, chanceler austr\u00edaco: \u00a0Ele disse o mesmo a Olaf Sholz e a Emmanuel Macron que lhe telefonaram depois da minha chamada. Ele n\u00e3o mencionou as san\u00e7\u00f5es quando falou sobre permitir a exporta\u00e7\u00e3o de milho para fora dos portos do Mar Negro. Mas a quest\u00e3o \u00e9 sempre a mesma, quando se fala com o Presidente Putin, at\u00e9 que ponto podemos confiar nele. Eu acho que temos de fazer coisas diferentes, tal como o Eduard disse. \u00c9 muito importante libertar Odessa. Por outro lado, nenhum de n\u00f3s sabe quanto tempo a guerra vai durar. O mundo precisa de milho agora. Temos duas coisas paralelas. N\u00f3s temos de perceber se ele \u00e9 realmente um parceiro nesta quest\u00e3o da exporta\u00e7\u00e3o do milho. SV:\u00a0Como \u00e9 que se descobre isso? \u00c9 um pre\u00e7o muito alto a pagar para um teste, ver se h\u00e1 ou n\u00e3o confian\u00e7a. E se isso n\u00e3o resultar, qual seria o pre\u00e7o? Karl Nehammer, chanceler austr\u00edaco : N\u00e3o se trata de san\u00e7\u00f5es. E a quest\u00e3o da exporta\u00e7\u00e3o do milho, eu acho que isto pode ser importante neste cen\u00e1rio e considero que precisamos das Na\u00e7\u00f5es Unidas e do secret\u00e1rio-geral agora, que est\u00e1 a dar o seu melhor. E vamos ver at\u00e9 onde podemos chegar. SV: primeiro-ministro, \u00e9 a sua vez de dar opini\u00e3o. Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia: \u00a0Eu creio que as san\u00e7\u00f5es n\u00e3o devem ser a quest\u00e3o para libertar ou n\u00e3o o porto. Este \u00e9 um assunto distinto. Estas s\u00e3o quest\u00f5es diferentes devido \u00e0 sua agress\u00e3o. Duas quest\u00f5es totalmente distintas. N\u00f3s precisamos de outros parceiros que se juntem a n\u00f3s e vamos separar as \u00e1guas e dizer, n\u00e3o se trata de com\u00e9rcio entre a UE e a R\u00fassia. O que \u00e9 que se negoceia? E isso abrir\u00e1 o espa\u00e7o no mercado?\u00a0 H\u00e1 a seguran\u00e7a de outros parceiros que entram e dizem, est\u00e1 bem, porque neste momento n\u00e3o estamos a negociar. N\u00e3o h\u00e1 realmente quaisquer negocia\u00e7\u00f5es porque Vladimir Putin n\u00e3o est\u00e1 a permitir negocia\u00e7\u00f5es com ningu\u00e9m. Ele n\u00e3o est\u00e1 a negociar. Ele est\u00e1 a cumprir o seu plano. N\u00e3o vi qualquer sinal de esperan\u00e7a de que poderia negociar.\u00a0 Portanto, precisamos de libertar o porto por uma terceira for\u00e7a, que permita a seguran\u00e7a, como \u00e1rbitro e \u00e9 assim que podemos obter os cereais e temos de o fazer ao mesmo tempo que obtemos os cereais atrav\u00e9s dos corredores seguros porque temos de contemplar todos os cen\u00e1rios. N\u00e3o podemos escolher. Ent\u00e3o, vamos concentrar-nos num \u00fanico cen\u00e1rio. Todos os cen\u00e1rios que podermos fazer juntos, temos de o fazer ao mesmo tempo porque s\u00f3 assim poderemos ter \u00eaxito. \u00c9 uma situa\u00e7\u00e3o muito dif\u00edcil. H\u00e1 poucas respostas, tantas perguntas, mas s\u00f3 se trabalharmos arduamente e procurarmos juntos novas respostas, ent\u00e3o poderemos ser bem sucedidos\u0022. Quest\u00e3o do p\u00fablico:\u00a0\u00a0O meu nome \u00e9 Pavel, sou um analista de pol\u00edtica externa eslovaca e gostaria de lhe fazer, Chanceler, uma pergunta que ser\u00e1 um pouco pessoal sobre si e Vladimir Putin? Tem rela\u00e7\u00f5es especiais com Vladimir Putin? Karl Nehammer, chanceler austr\u00edaco : N\u00e3o, n\u00e3o tenho quaisquer rela\u00e7\u00f5es especiais com ele, mas acho que \u00e9 necess\u00e1rio, em conflitos, falar com ambos os lados. Quando eu decidi ir \u00e0 Ucr\u00e2nia, depois do Presidente Putin, eu falei sobre o assunto com o Presidente da Comiss\u00e3o, com o Presidente do Concelho, com o chanceler alem\u00e3o e com o Presidente da Pol\u00f3nia porque ele \u00e9 um dos maiores cr\u00edticos sobre o assunto. Quando eu estava l\u00e1, vi um homem que est\u00e1 na sua pr\u00f3pria l\u00f3gica de guerra.\u00a0 Antes de ir para Moscovo, estive em Bucha e esta foi a primeira vez na minha vida que eu vi uma vala comum e penso que foi necess\u00e1rio e depois foi correto confront\u00e1-lo com isso. Acho que \u00e9 necess\u00e1rio falar, n\u00e3o s\u00f3 por telefone. \u00c9 necess\u00e1rio olharmo-nos nos olhos. E agora, a posi\u00e7\u00e3o austr\u00edaca \u00e9 nova porque em tempos ados n\u00f3s sempre, ou com muita frequ\u00eancia, declar\u00e1vamos a nossa neutralidade, mas n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel fazer isso ou as outras coisas. Agora somos claros. Decidimos sobre todas as san\u00e7\u00f5es. Apoiamos a entrega de muni\u00e7\u00f5es e armas. N\u00e3o podemos faz\u00ea-lo n\u00f3s pr\u00f3prios, mas damos apoio.\u00a0 Eu j\u00e1 disse antes: n\u00e3o temos tempo. Temos de encontrar solu\u00e7\u00f5es agora. E \u00e9, de facto, uma grande quest\u00e3o do que isso significa para a seguran\u00e7a na Europa? Vou dizer-vos uma coisa. Estamos numa posi\u00e7\u00e3o especial na \u00c1ustria, mais do que na Eslov\u00e1quia. Agora protegemos mais de 75 mil ucranianos. E, ao mesmo tempo, tenho 21 mil requerentes de asilo de todo o mundo. Da S\u00edria, Afeganist\u00e3o, 21 mil agora. O que significa isto no final do ano? \u00c9 uma quest\u00e3o de seguran\u00e7a. O que significa se existir fome no mundo, se o Norte de \u00c1frica est\u00e1 destabilizado? Eu penso que \u00e9 necess\u00e1rio, aqui, partilhar toda a informa\u00e7\u00e3o e todos t\u00eam de fazer mais para acabar com a guerra. Primeiro que tudo, Putin e todos n\u00f3s temos de tentar pression\u00e1-lo para o levar a isto, para dizer basta, mais n\u00e3o. SV: Primeiro-ministro, uma conclus\u00e3o breve. Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslov\u00e1quia: Vemos, at\u00e9 mesmo com esta discuss\u00e3o, que estamos a enfrentar desafios cada vez maiores. N\u00e3o estou a dizer problemas porque temos de encar\u00e1-los como desafios. Mas o que vemos \u00e9 tamb\u00e9m a import\u00e2ncia de f\u00f3runs como este porque este f\u00f3rum abriu dois grandes t\u00f3picos. Abriu o t\u00f3pico da reconstru\u00e7\u00e3o da Ucr\u00e2nia, que pens\u00e1vamos que seria a discuss\u00e3o final que ter\u00edamos: guerra na Ucr\u00e2nia e depois reconstru\u00e7\u00e3o. A quest\u00e3o est\u00e1 a ganhar amplitude e podemos n\u00e3o ver o que vai acontecer no futuro porque vimos a quest\u00e3o da energia, agora vemos a guerra, e estamos a come\u00e7ar a ver fome, que \u00e9 um problema global.\u00a0 Portanto, \u00e9 muito bom que tenhamos come\u00e7ado a falar sobre a reconstru\u00e7\u00e3o pois \u00e9 uma discuss\u00e3o muito necess\u00e1ria para a dimens\u00e3o europeia. Mas a dimens\u00e3o global que foi aberta neste f\u00f3rum deve repercutir-se e precisamos de f\u00f3runs como este, onde pessoas de todo o mundo se re\u00fanam, procurem solu\u00e7\u00f5es e tragam respostas aos desafios, de forma r\u00e1pida e abrangente. Essa \u00e9 a nossa tarefa.\u00a0 Penso que no pr\u00f3ximo ano vamos ver muitos f\u00f3runs como este onde temos de ser muito s\u00e9rios sobre o assunto porque, no ado, os f\u00f3runs eram mais como uma discuss\u00e3o e estamos agora a pensar numa vis\u00e3o. Estamos a construir uma vis\u00e3o enquanto a vivemos. Essa \u00e9 uma dimens\u00e3o totalmente diferente. Obrigado tamb\u00e9m ao f\u00f3rum e obrigado a todos por nos terem aberto estas importantes quest\u00f5es. Mas voc\u00eas tamb\u00e9m ouviram. Vamos procurar as solu\u00e7\u00f5es em conjunto e vamos envolver muitos mais atores globais. SV: Muito obrigada. Quero agradecer aos oradores. Muito obrigada por estarem aqui a participar nesta sess\u00e3o. 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GLOBSEC 2022: soluções para a crise na Ucrânia - análise por Heger e Nehammer

GLOBSEC 2022: soluções para a crise na Ucrânia - análise por Heger e Nehammer
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O primeiro-ministro da Eslováquia e o chanceler austríaco abordam, em conjunto, a situação atual na Ucrânia e discutem possíveis soluções para a crise no país.

O GLOBSEC Bratislava Fórum é uma das conferências estratégicas mais importantes do mundo, especialmente no campo da segurança e das relações internacionais. O encontro junta convidados de várias áreas, que se reúnem todos os anos para discutir questões prementes sobre o futuro.

Para além do programa principal, dividido em duas fases interativas, o Fórum organiza uma série de diferentes eventos temáticos.

Desde 2020, o programa completo da conferência tem sido transmitido em direto nos meios de comunicação social. As perguntas podem ser colocadas aos oradores, em tempo real, através da aplicação GLOBSEC. Assim, o público interessado pode também participar nos debates.

A jornalista da Euronews, Sasha Vakulina, mediou a conversa entre o primeiro-ministro eslovaco, Eduard Heger, e o chanceler austríaco, Karl Nehammer, que responderam a várias perguntas na sessão "Queimar o cesto do pão, amplo impacto da agressão da Rússia na Ucrânia".

"Putin vai usar qualquer arma para nos perturbar, para nos desunir porque esta é a única ferramenta que ele tem neste momento"
Eduard Heger
Primeiro-ministro da Eslováquia

Sasha Vakulina, Euronews: Esta sessão chama-se "Queimar o cesto do pão. O impacto mais amplo da agressão da Rússia na Ucrânia. É uma grande honra e um privilégio apresentar Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia e Karl Nehammer, chanceler austríaco. Primeiro-ministro, deixe-me começar por si. Quais são as questões mais urgentes que acha que estão na agenda para resolver? Já aram mais de 100 dias, desde que a guerra começou.

Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia: Ouvimos ontem do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, que, antes de mais, eles precisam de ajuda com armas para se protegerem. A segunda questão importante são os cereais que têm na Ucrânia e estão bloqueados. É também sobre isso que Ursula Von der Leyen estava a falar. E têm de ser distribuídos pelo mundo rapidamente porque, caso contrário, enfrentaremos uma grande fome. E, na minha opinião, não pensámos nisso no início. 

Quando Putin começou a agressão, vimos o impacto na Ucrânia. Depois, começámos imediatamente a sentir o impacto na União Europeia. Mas agora vemos como ele está, eu diria, a aterrorizar as pessoas em outras partes do mundo, que não têm nada a ver com esta guerra e está a empurrá-las para a ameaça de uma grande fome, que pode causar uma onda de migração, etc. É uma grande instabilidade. É por isso que temos de agir muito rápido. A primeira prioridade é ajudar os ucranianos a defender os portos marítimos para poderem começar a exportar cereais nos barcos, nos navios porque nós sabemos que se usarmos comboios, será mais lento exportar os cereais, através das rotas de cereais.

SV: Qual é a sua opinião sobre isso? É algo ligeiramente diferente quando se trata de Europa porque é claro, já ouvimos o aviso severo da ONU sobre a crise alimentar e a segurança alimentar, que poderá durar durante anos se não for abordado e resolvido agora. Mas ouvimos também da União Europeia, desde o início de abril, que é autosuficiente em termos alimentares, por agora.

Karl Nehammer, chanceler austríaco:  Eu considero que o que precisamos agora é de retirar o trigo da Ucrânia. Por exemplo, o secretário-geral da ONU começou duas missões para ajudar a criar corredores seguros para retirar o milho. E, numa chamada, o Presidente Putin garantiu que o exército russo não iria atacar qualquer transporte de milho. 

O Porto de Odessa, por exemplo, foi armadilhado e ele disse-me que agora os ucranianos têm de fazer a desminagem. Eu disse-lhe que sim, que é uma boa ideia, mas que ele tinha de garantir que as forças russas não atacarão o centro de Odessa. Ele disse-me que garantiria isso, mas, são apenas palavras. Não sabemos se é verdade ou não. Acho que agora precisamos das Nações Unidas nesta questão porque talvez no futuro haja a possibilidade de libertar os portos, mas agora precisamos de exportar as sementes, o trigo e o milho da Ucrânia.

SV: Como é que podemos, de algum modo, garantir uma solução instantânea agora e também uma que funcione, não a longo prazo, porque as infraestruturas são uma questão diferente, quando se trata de entregas ferroviárias, mas daqui a um mês ou em seis meses para a próxima colheita de cereais?

Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia: A primeira coisa é assegurar os portos, o de Odessa e os outros, e depois encontrar a solução onde teremos russos de um lado e ucranianos do outro, e depois tirar as exportações do país. Significa também que esperamos que a segurança dentro do país possa ser assegurada, de modo a que a replantação de uma nova colheita esteja pronta a ser efetuada. Como a Ucrânia é o celeiro do mundo, estas são prioridades mais elevadas do que as prioridades nacionais. 

Acho que isto é o que temos de salientar também a Vladimir Putin: ele deve entender que estas são prioridades globais e que a pressão dos países sobre esta questão global tem de estar presente. Temos de estar unidos e dizer-lhe que ele é a causa de vários problemas, de modo a libertar o caminho para garantir a segurança alimentar para o resto do mundo. Este é o segundo o e depois podemos falar sobre a reconstrução das infraestruturas na Ucrânia porque não queremos que este país morra diante dos nossos olhos porque não tem recursos suficientes. Não pode ser autosustentável.

SV: Porque é que os governos africanos permanecem neutros na agressão contra a Ucrânia quando são os que mais sofrem com o bloqueio alimentar? Como é que ajudaria se os países africanos se tivessem envolvido em soluções mais amplas quando se trata de sanções, chanceler?

Karl Nehammer, chanceler austríaco: É uma boa questão porque temos de aceitar que temos opiniões fortes no chamado mundo ocidental, mas não no resto do mundo. E este resto do mundo é enorme. Falamos da China, Índia ou África. O que temos de fazer agora é encontrar aliados. Temos de os convencer e também proteger. Falámos sobre o milho, a exportação de milho e de trigo da Ucrânia. Não falámos sobre fertilizantes. Foi uma questão muito importante quando estivemos no conselho em Bruxelas. Também falámos com o Presidente da União Africana em videoconferência e ele disse-nos que precisam de fertilizantes.

Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia: Temos também de atrair os outros parceiros globais e dizer que eles têm de se juntar a nós porque se a Índia não for parte da solução, se os EUA não forem parte da solução, se os países africanos não forem parte das soluções, então não teremos a solução. Especialmente porque a crise alimentar é a primeira etapa de uma crise de segurança e nós não queremos isso. E é por isso que os temos de incluir e acho que isso poderá ajudar.

Karl Nehammer, chanceler austríaco: Quando a guerra contra a Ucrânia começou, a solidariedade na Europa era muito forte e acho que, pela primeira vez, nós mostrámos união contra a agressão russa. Mas o mundo olha para nós neste momento e os Estados africanos dizem: "oh, isso é interessante, se alguma coisa acontecer na Europa, vocês vivem em solidariedade. Vocês mantém-se fortes. Nós tivemos tantas crises em África nos anos anteriores. Onde é que vocês estiveram? Qual é o valor de uma vida em África, em comparação com a Europa?" Acho que devemos refletir sobre isto. A razão pela qual estes países não apoiam isto é porque dizem ‘agora, vocês querem que nós apoiemos as sanções contra a Rússia, mas nós também precisamos do milho russo. Então, porque devemos fazê-lo? Precisamos dos fertilizantes russos, então porque devemos fazer isso?' Considero que temos de demonstrar o nosso interesse pelo continente de uma forma que lhes permita acreditar em nós.

Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia: Nós dizemos aos países à nossa volta, se eles se querem juntar a nós, terão de reformar-se. Mas vemos, com estes desafios globais, que terão de existir reformas das organizações globais porque é o que o Karl acabou de dizer. Os países de outros continentes estão a perguntar porque não se comportavam assim quando eles estavam em apuros. É uma questão justa porque nós somos aqueles que honram a democracia e os valores de liberdade, as regras do direito, a justiça e o tratamento justo. Depois eles perguntam: "Como podemos ser fiéis e dar um tratamento justo e depois não agir de forma justa para todos?"

SV: No início da invasão russa, quando se tratava de usar coisas como armas, havia a energia russa. Falávamos de utilizar a energia como arma como uma alavanca da Rússia. Agora, a pergunta de Henrik (por email): ‘Será que Putin está a utilizar os alimentos como arma? A Síria, o Líbano, o Egito são mais dependentes dos cereais da Ucrânia e da Rússia. Poderá a escassez de alimentos conduzir a uma nova vaga de refugiados? E será isto utilizar a comida como arma?’

Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia: Ele está a usar tudo como arma. Antes de ter usado os alimentos, estava a utilizar a informação porque repare como uma guerra híbrida estava a ser conduzida na Eslováquia, em outros países do flanco oriental. Tanta desinformação, tantos embustes, que nunca enfrentámos tanto como nos últimos dois meses. Portanto, sim, ele está a usar as armas. 

Ele vai usar qualquer coisa que seja uma arma para nos perturbar, para nos desunir porque esta é a única ferramenta que ele tem neste momento. Ele não tem um exército tão forte como se pensava e como ele próprio pensava. Portanto, ele não pode derrotar a Ucrânia tão rapidamente como pensava. Por isso, ele vai acrescentar todos os meios possíveis para obter progressos. Mas não devemos ter medo disso porque penso que somos tão fortes. Só temos de compreender os princípios para os quais temos de trabalhar e procurar soluções. Basta olhar para a Finlândia, Suécia e Dinamarca, o que lhes aconteceu durante as últimas semanas. 

Não seríamos capazes de tomar estas decisões sobre segurança, se não fosse por isto. Portanto, vemos que mesmo não gostando e achando que não está certo, esta agressão está na verdade a ativar um pós-processo que não estávamos dispostos a fazer ou não tínhamos coragem de fazer. E isto dá-nos uma grande esperança. Se seguirmos os mesmos princípios, eles serão capazes de o conseguir. E a comida, como estávamos a discutir, há soluções, mas precisamos de mais parceiros porque o Porto de Odessa será um bom treino para nós, para que sejamos capazes de garantir a segurança da Ucrânia e, ao mesmo tempo, permitir que os ucranianos exportem. Se o conseguirmos, será um grande o em frente. Mas precisaremos de outros parceiros que assegurem a segurança do mar.

**SV: Uma pergunta de Alexandra Berezovsky, as minhas desculpas pela pronúncia incorreta, uma pergunta para os dois oradores. Putin vai pedir um preço para desbloquear os portos do Mar Negro. Estariam prontos para levantar as sanções da União Europeia em troca? Chanceler, você esteve numa chamada recente com Vladimir Putin e ele disse que estava inteiramente consciente da questão da segurança alimentar e disse que tinha dado sinais de que estava preparado para permitir algumas exportações nos portos marítimos, mas isso depende do levantamento das sanções.
**

"É muito importante libertar Odessa"
Karl Nehammer,
Chanceler austríaco

Karl Nehammer, chanceler austríaco: Ele disse o mesmo a Olaf Sholz e a Emmanuel Macron que lhe telefonaram depois da minha chamada. Ele não mencionou as sanções quando falou sobre permitir a exportação de milho para fora dos portos do Mar Negro. Mas a questão é sempre a mesma, quando se fala com o Presidente Putin, até que ponto podemos confiar nele. Eu acho que temos de fazer coisas diferentes, tal como o Eduard disse. É muito importante libertar Odessa. Por outro lado, nenhum de nós sabe quanto tempo a guerra vai durar. O mundo precisa de milho agora. Temos duas coisas paralelas. Nós temos de perceber se ele é realmente um parceiro nesta questão da exportação do milho.

SV: Como é que se descobre isso? É um preço muito alto a pagar para um teste, ver se há ou não confiança. E se isso não resultar, qual seria o preço?

Karl Nehammer, chanceler austríaco: Não se trata de sanções. E a questão da exportação do milho, eu acho que isto pode ser importante neste cenário e considero que precisamos das Nações Unidas e do secretário-geral agora, que está a dar o seu melhor. E vamos ver até onde podemos chegar.

SV: primeiro-ministro, é a sua vez de dar opinião.

Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia: Eu creio que as sanções não devem ser a questão para libertar ou não o porto. Este é um assunto distinto. Estas são questões diferentes devido à sua agressão. Duas questões totalmente distintas. Nós precisamos de outros parceiros que se juntem a nós e vamos separar as águas e dizer, não se trata de comércio entre a UE e a Rússia. O que é que se negoceia? E isso abrirá o espaço no mercado? 

Há a segurança de outros parceiros que entram e dizem, está bem, porque neste momento não estamos a negociar. Não há realmente quaisquer negociações porque Vladimir Putin não está a permitir negociações com ninguém. Ele não está a negociar. Ele está a cumprir o seu plano. Não vi qualquer sinal de esperança de que poderia negociar. 

Portanto, precisamos de libertar o porto por uma terceira força, que permita a segurança, como árbitro e é assim que podemos obter os cereais e temos de o fazer ao mesmo tempo que obtemos os cereais através dos corredores seguros porque temos de contemplar todos os cenários. Não podemos escolher. Então, vamos concentrar-nos num único cenário. Todos os cenários que podermos fazer juntos, temos de o fazer ao mesmo tempo porque só assim poderemos ter êxito. É uma situação muito difícil. Há poucas respostas, tantas perguntas, mas só se trabalharmos arduamente e procurarmos juntos novas respostas, então poderemos ser bem sucedidos".

"Não tenho quaisquer relações especiais com Putin, mas acho que é necessário, em conflitos, falar com ambos os lados"
Karl Nehammer
Chanceler austríaco

Questão do público:  O meu nome é Pavel, sou um analista de política externa eslovaca e gostaria de lhe fazer, Chanceler, uma pergunta que será um pouco pessoal sobre si e Vladimir Putin? Tem relações especiais com Vladimir Putin?

Karl Nehammer, chanceler austríaco: Não, não tenho quaisquer relações especiais com ele, mas acho que é necessário, em conflitos, falar com ambos os lados. Quando eu decidi ir à Ucrânia, depois do Presidente Putin, eu falei sobre o assunto com o Presidente da Comissão, com o Presidente do Concelho, com o chanceler alemão e com o Presidente da Polónia porque ele é um dos maiores críticos sobre o assunto. Quando eu estava lá, vi um homem que está na sua própria lógica de guerra. 

Antes de ir para Moscovo, estive em Bucha e esta foi a primeira vez na minha vida que eu vi uma vala comum e penso que foi necessário e depois foi correto confrontá-lo com isso. Acho que é necessário falar, não só por telefone. É necessário olharmo-nos nos olhos. E agora, a posição austríaca é nova porque em tempos ados nós sempre, ou com muita frequência, declarávamos a nossa neutralidade, mas não é possível fazer isso ou as outras coisas. Agora somos claros. Decidimos sobre todas as sanções. Apoiamos a entrega de munições e armas. Não podemos fazê-lo nós próprios, mas damos apoio. 

Eu já disse antes: não temos tempo. Temos de encontrar soluções agora. E é, de facto, uma grande questão do que isso significa para a segurança na Europa? Vou dizer-vos uma coisa. Estamos numa posição especial na Áustria, mais do que na Eslováquia. Agora protegemos mais de 75 mil ucranianos. E, ao mesmo tempo, tenho 21 mil requerentes de asilo de todo o mundo. Da Síria, Afeganistão, 21 mil agora. O que significa isto no final do ano? É uma questão de segurança. O que significa se existir fome no mundo, se o Norte de África está destabilizado? Eu penso que é necessário, aqui, partilhar toda a informação e todos têm de fazer mais para acabar com a guerra. Primeiro que tudo, Putin e todos nós temos de tentar pressioná-lo para o levar a isto, para dizer basta, mais não.

SV: Primeiro-ministro, uma conclusão breve.

Eduard Heger, primeiro-ministro da Eslováquia: Vemos, até mesmo com esta discussão, que estamos a enfrentar desafios cada vez maiores. Não estou a dizer problemas porque temos de encará-los como desafios. Mas o que vemos é também a importância de fóruns como este porque este fórum abriu dois grandes tópicos. Abriu o tópico da reconstrução da Ucrânia, que pensávamos que seria a discussão final que teríamos: guerra na Ucrânia e depois reconstrução. A questão está a ganhar amplitude e podemos não ver o que vai acontecer no futuro porque vimos a questão da energia, agora vemos a guerra, e estamos a começar a ver fome, que é um problema global. 

Portanto, é muito bom que tenhamos começado a falar sobre a reconstrução pois é uma discussão muito necessária para a dimensão europeia. Mas a dimensão global que foi aberta neste fórum deve repercutir-se e precisamos de fóruns como este, onde pessoas de todo o mundo se reúnam, procurem soluções e tragam respostas aos desafios, de forma rápida e abrangente. Essa é a nossa tarefa. 

Penso que no próximo ano vamos ver muitos fóruns como este onde temos de ser muito sérios sobre o assunto porque, no ado, os fóruns eram mais como uma discussão e estamos agora a pensar numa visão. Estamos a construir uma visão enquanto a vivemos. Essa é uma dimensão totalmente diferente. Obrigado também ao fórum e obrigado a todos por nos terem aberto estas importantes questões. Mas vocês também ouviram. Vamos procurar as soluções em conjunto e vamos envolver muitos mais atores globais.

SV: Muito obrigada. Quero agradecer aos oradores. Muito obrigada por estarem aqui a participar nesta sessão. Obrigada pelo vosso ponto de vista. Muito obrigada a todos aqui na sala e a quem está a acompanhar-nos via streaming. Muito obrigada, chanceler, primeiro-ministro.

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