{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2021/06/29/antonio-costa-so-esta-na-uniao-quem-quer-fazer-parte-da-uniao" }, "headline": "Ant\u00f3nio Costa: \u0022S\u00f3 est\u00e1 na Uni\u00e3o quem quer fazer parte da Uni\u00e3o\u0022", "description": "O primeiro-ministro portugu\u00eas falou com a Euronews para fazer um balan\u00e7o da presid\u00eancia portuguesa da Uni\u00e3o Europeia, ap\u00f3s a \u00faltima cimeira que reuniu os l\u00edderes dos 27 Estados-membros.", "articleBody": "A presid\u00eancia portuguesa do Conselho da Uni\u00e3o Europeia come\u00e7ou num dos momentos mais dif\u00edceis da gest\u00e3o da pandemia, em que todos os trabalhos foram condicionados. A falta de uniformiza\u00e7\u00e3o das regras para a vacina\u00e7\u00e3o e para o certificado digital continua a merecer muitas cr\u00edticas. Mas, por outro lado, a forte press\u00e3o portuguesa para a aprova\u00e7\u00e3o do plano de recupera\u00e7\u00e3o e resili\u00eancia \u00e9 vista como uma das grandes conquistas dos primeiros seis meses do ano. O primeiro-ministro portugu\u00eas, Ant\u00f3nio Costa , falou, em Bruxelas, com o The Global Conversation sobre o que ainda une e divide os 27 Estados-membros, sobretudo ap\u00f3s a mais recente Cimeira Europeia , e fez um balan\u00e7o da presid\u00eancia . S\u00e9rgio Ferreira de Almeida, Euronews: A presid\u00eancia portuguesa terminou com uma cimeira europeia marcada por alguns momentos muito tensos. Comecemos por falar da pol\u00e9mica lei h\u00fangara anti-direitos LGBTQ+. Como foi o seu confronto com Viktor Orb\u00e1n? J\u00e1 n\u00e3o houve necessidade de manter a neutralidade? Ant\u00f3nio Costa: As presid\u00eancias, enquanto fator de agrega\u00e7\u00e3o, devem procurar agir de forma imparcial quanto aos m\u00e9todos de trabalho e quando se pronunciam em p\u00fablico. Mas obviamente, quando temos reuni\u00f5es, temos de falar com toda a franqueza e com toda a clareza. E eu acho que este debate (com Viktor Orban) foi muito importante, porque foi muito frontal, muito aberto, todos os Estados-membros se expressaram com muita clareza na defesa dos valores da Uni\u00e3o Europeia, sublinhando que a Uni\u00e3o Europeia \u00e9, acima de tudo, uma comunidade de valores, mais que uma uni\u00e3o aduaneira, mais que um mercado interno, mais que uma moeda \u00fanica, \u00e9 sobretudo uma comunidade de valores e portanto esses valores t\u00eam de estar no centro da nossa a\u00e7\u00e3o. S.F.A.: Podemos saber o que \u00e9 que disse a Viktor Orb\u00e1n? A.C.: As reuni\u00f5es do Conselho s\u00e3o sigilosas. N\u00e3o vou dizer o que disse l\u00e1 dentro. Vou dizer que obviamente os tratados s\u00e3o muito claros. S\u00f3 est\u00e1 na Uni\u00e3o quem quer fazer parte da Uni\u00e3o. E quem est\u00e1 na Uni\u00e3o est\u00e1 porque partilha aqueles valores e esses valores n\u00e3o s\u00e3o condicion\u00e1veis, t\u00eam de ser respeitados. \u00c9 por isso que o artigo 7.\u00ba existe, para garantir o cumprimento dos tratados. Estavam abertos dois processos, um sobre a Pol\u00f3nia, outro sobre Hungria, com base no artigo 7.\u00ba, processos esses que estavam relativamente. Na Presid\u00eancia portuguesa houve avan\u00e7os, h\u00e1 duas semanas realizaram-se as audi\u00e7\u00f5es quer da Pol\u00f3nia, quer da Hungria e s\u00e3o processos que est\u00e3o a decorrer. Neste caso, a Comiss\u00e3o Europeia j\u00e1 notificou a Hungria para o dever dar explica\u00e7\u00f5es e, tendo em conta as explica\u00e7\u00f5es dadas, a Comiss\u00e3o Europeia avaliar\u00e1 se abre ou n\u00e3o um processo por viola\u00e7\u00e3o do artigo 7.\u00b0. S.F.A.: A Hungria continua a ter lugar nesta Uni\u00e3o Europeia em que vivemos hoje? A.C.: O nosso desejo \u00e9 que todos os povos dos 27 Estados-membros continuem a fazer parte da Uni\u00e3o Europeia. Agora cada um \u00e9 livre de escolher o seu caminho. Uma coisa que n\u00e3o vale a pena esconder. Felizmente temos agora a confer\u00eancia sobre o futuro da Europa para que esse debate se fa\u00e7a de forma franca. Hoje os Estados n\u00e3o partilham todos os mesmos valores nem t\u00eam a mesma vis\u00e3o sobre a Uni\u00e3o que tinham quando foi aprovado o Tratado de Lisboa. As maiorias mudaram, as din\u00e2micas pol\u00edticas mudaram, portanto h\u00e1 Estados que t\u00eam uma posi\u00e7\u00e3o diferente. E acho que a Confer\u00eancia sobre o Futuro da Europa \u00e9 um bom momento tamb\u00e9m para fazermos um balan\u00e7o, sendo que o Tratado de Lisboa tem a flexibilidade necess\u00e1ria para permitir um pouco de tudo: quem quiser ir mais r\u00e1pido pode utilizar as cl\u00e1usulas erelle, que, por exemplo, nos permitem alterar maiorias sobre certas mat\u00e9rias; quem quiser ir a um ritmo mais lento pode criar coopera\u00e7\u00f5es refor\u00e7adas e existe a flexibilidade suficiente para que n\u00e3o estejamos sempre entre o risco de paralisia e o risco de rutura. Se houver um acordo entre todos, maravilhoso. Se isso n\u00e3o for poss\u00edvel, n\u00e3o podemos ficar a meio da ponte, nem uns paralisados, nem os outros em risco de rutura. Portanto, h\u00e1 aqui v\u00e1rios caminhos que podem ser seguidos. S.F.A.: J\u00e1 assistimos a um div\u00f3rcio do Reino Unido com a Uni\u00e3o Europeia, mas ainda n\u00e3o assistimos a nenhuma expuls\u00e3o da Uni\u00e3o Europeia. A.C.: N\u00e3o est\u00e1 previsto. O que est\u00e1 previsto nos termos do artigo 7.\u00ba \u00e9 a suspens\u00e3o do exerc\u00edcio de direitos de voto como san\u00e7\u00e3o m\u00e1xima aplic\u00e1vel a um pa\u00eds. S.F.A.: Outro dos temas em que n\u00e3o houve consenso nesta cimeira europeia, um tema da pol\u00edtica externa, foi a proposta sa e alem\u00e3 de uma cimeira com o presidente russo Vladimir Putin, que foi recusada. J\u00e1 n\u00e3o h\u00e1 margem para negociar com Vladimir Putin e \u00e9 por isso que n\u00e3o avan\u00e7amos para uma cimeira? A.C.: Houve v\u00e1rios motivos pelos quais se chegou \u00e0quela decis\u00e3o. Quando se trata da rela\u00e7\u00e3o com a R\u00fassia, h\u00e1 uma posi\u00e7\u00e3o comum a todos os Estados-membros. Uma proposta desta dimens\u00e3o, que surge um pouco em cima da hora, sem a devida prepara\u00e7\u00e3o, sem o devido enquadramento, torna-se muito dif\u00edcil de ar. Acho que todos t\u00eam bem a no\u00e7\u00e3o de que a R\u00fassia \u00e9 o nosso maior vizinho. N\u00f3s temos de desejar ter uma rela\u00e7\u00e3o pr\u00f3xima, amig\u00e1vel, positiva, construtiva com a R\u00fassia. Para que isso aconte\u00e7a, \u00e9 fundamental que a R\u00fassia respeite princ\u00edpios fundamentais do direito internacional e tamb\u00e9m do relacionamento justo com a Uni\u00e3o Europeia e com cada um dos seus Estados-membros. Essa \u00e9 a vis\u00e3o de conjunto que temos. Agora, h\u00e1 uma vontade de ver um novo quadro de relacionamento com a R\u00fassia. Para que isso aconte\u00e7a tem de ser devidamente preparado. Somos 27, n\u00e3o temos todos a mesma hist\u00f3ria de relacionamento com a R\u00fassia, n\u00e3o temos todos a mesma a dist\u00e2ncia geogr\u00e1fica relativamente a Moscovo e isso tem de ser tido em conta num momento em que se toma decis\u00f5es sobre esta mat\u00e9ria. S.F.A.: Outro dos temas em que o consenso tem sido dif\u00edcil dentro da Uni\u00e3o Europeia \u00e9 o pacto das migra\u00e7\u00f5es que foi apresentado e proposto em 2020, mas que at\u00e9 agora ainda n\u00e3o foi assinado. Essa era uma das prioridades da presid\u00eancia portuguesa. A.C.: O pacto decomp\u00f5e-se em diferentes instrumentos. Houve dois em que demos os importantes. Um muito importante \u00e9 a diretiva sobre o cart\u00e3o azul, criando canais legais de imigra\u00e7\u00e3o que s\u00e3o absolutamente fundamentais. Outro, que estamos esta semana a concluir, \u00e9 a negocia\u00e7\u00e3o com o Parlamento Europeu para a instala\u00e7\u00e3o da Ag\u00eancia Europeia de Asilo, que \u00e9 uma pe\u00e7a fundamental para a revis\u00e3o do regime de asilo na Uni\u00e3o Europeia. S.F.A.: Tamb\u00e9m j\u00e1 se fala numa nova possibilidade de dar mais dinheiro \u00e0 Turquia, tr\u00eas mil milh\u00f5es de euros que se juntam aos seis mil milh\u00f5es que j\u00e1 foram dados nos \u00faltimos seis anos, para travar a vaga de migra\u00e7\u00f5es. H\u00e1 organiza\u00e7\u00f5es n\u00e3o governamentais, como a Amnistia Internacional, que acusam a Uni\u00e3o Europeia de estar ref\u00e9m de pa\u00edses como a Turquia e Marrocos, por exemplo, com os recentes epis\u00f3dios em Ceuta, dando dinheiro, mas n\u00e3o conseguindo travar efetivamente a origem da crise migrat\u00f3ria. A.C.: S\u00e3o situa\u00e7\u00f5es diversas. A proposta agora discutida no Conselho, n\u00e3o tem a ver com a Turquia, mas tem a ver com a solidariedade que a Uni\u00e3o Europeia deve ter com pa\u00edses exteriores que est\u00e3o hoje a ar um encargo extremamente pesado no acolhimento de refugiados, muito superior ao da Uni\u00e3o Europeia. Pa\u00edses como a Jord\u00e2nia, por exemplo, ou pa\u00edses como o Egito, que podem e devem ser destinat\u00e1rios de apoio da Uni\u00e3o Europeia. E foi esse o debate, n\u00e3o se falou sobre a Turquia nessa mat\u00e9ria. S.F.A.: Mas se continuarmos a dar dinheiro \u00e0 Turquia, n\u00e3o considera que ca\u00edmos mesmo nessa situa\u00e7\u00e3o de estarmos ref\u00e9ns da vontade de terceiros. A.C.: H\u00e1 uma coisa que \u00e9 absolutamente clara: nenhum pa\u00eds tem o direito de utilizar os refugiados como forma de press\u00e3o sobre os pa\u00edses vizinhos. A Europa n\u00e3o pode ignorar que ela pr\u00f3pria \u00e9 um fator de atra\u00e7\u00e3o. Os refugiados t\u00eam m\u00faltiplas origens e para que todo o tema migrat\u00f3rio possa ser enfrentado, n\u00f3s temos que agir nos pa\u00edses de origem, nos pa\u00edses de tr\u00e2nsito, na nossa fronteira e na capacidade de integra\u00e7\u00e3o dos que entram na Europa. Devemos tamb\u00e9m distinguir situa\u00e7\u00e3o de imigra\u00e7\u00e3o dos refugiados. Isso implica uma abordagem global da estrat\u00e9gia das migra\u00e7\u00f5es e n\u00e3o uma medida \u00fanica que pode ter um efeito relativamente a algo, al\u00e9m disso, \u00e9 preciso percebermos que as migra\u00e7\u00f5es existem desde que existe humanidade e enquanto existir humanidade v\u00e3o continuar a existir migra\u00e7\u00f5es, \u00e9 um processo natural de vida da humanidade e, portanto, \u00e9 um fen\u00f3meno que tem de ser regulado como todos os outros fen\u00f3menos humanos. S.F.A.: amos agora ao tema que tem dominado a atualidade neste \u00faltimo ano e meio: arrancou a presid\u00eancia portuguesa a bra\u00e7os com uma situa\u00e7\u00e3o muito complicada em Portugal em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 pandemia. Houve melhorias e agora voltamos a assistir a uma situa\u00e7\u00e3o bem mais complicada. A falta de uniformiza\u00e7\u00e3o das regras de circula\u00e7\u00e3o no espa\u00e7o europeu podem complicar o combate e a gest\u00e3o de uma poss\u00edvel quarta vaga na Europa? A.C.: As regras e os crit\u00e9rios de harmoniza\u00e7\u00e3o est\u00e3o fixados nas recomenda\u00e7\u00f5es. Houve um pacote de regras aprovado em outubro e, a 14 de junho, entrou em vigor uma nova recomenda\u00e7\u00e3o para harmoniza\u00e7\u00e3o dos crit\u00e9rios e esses crit\u00e9rios permitem uma gest\u00e3o dos fluxos de circula\u00e7\u00e3o. N\u00e3o creio que sejam os fluxos dentro da Europa o fator contamina\u00e7\u00e3o. O fator de contamina\u00e7\u00e3o existe cada vez que duas pessoas se encontram, quanto mais pessoas se encontrarem, maior \u00e9 o risco de contamina\u00e7\u00e3o, venham de fora, ou estejam c\u00e1 dentro. Portanto, esse crit\u00e9rio n\u00e3o faz sentido. Portanto, os crit\u00e9rios de harmoniza\u00e7\u00e3o existem, aquilo que \u00e9 fundamental \u00e9 aceleramos o processo de vacina\u00e7\u00e3o. O que tem estado a ser demonstrado \u00e9 que esta nova variante delta tem uma enorme capacidade de transmiss\u00e3o, n\u00e3o est\u00e1 demonstrado que ven\u00e7a a imuniza\u00e7\u00e3o oferecida pelas vacinas. Por outro lado, estando hoje grande parte da popula\u00e7\u00e3o mais vulner\u00e1vel j\u00e1 protegida, tem tido um efeito quer na mortalidade, quer na gravidade da doen\u00e7a muit\u00edssimo inferior ao que tivemos noutras noutras vagas. Isto n\u00e3o quer dizer que n\u00e3o tenhamos de ter aten\u00e7\u00e3o. Temos de fazer um esfor\u00e7o na sequencia\u00e7\u00e3o da identifica\u00e7\u00e3o das variantes e temos todos de continuar a manter as boas pr\u00e1ticas para nos protegermos uns aos outros. S.F.A.: Como \u00e9 que recebeu as cr\u00edticas da chanceler alem\u00e3 Angela Merkel ao facto de Portugal ter aberto as portas aos brit\u00e2nicos? A.C.: Primeiro, [Merkel] n\u00e3o fez cr\u00edticas. Depois, n\u00f3s n\u00e3o abrimos as portas aos brit\u00e2nicos, n\u00f3s seguimos as recomenda\u00e7\u00f5es europeias. Os brit\u00e2nicos, para entrarem em Portugal, tendo em conta o n\u00edvel de infe\u00e7\u00e3o em que se encontram, t\u00eam de realizar um teste obrigat\u00f3rio para entrar em Portugal e n\u00e3o entrou nenhum brit\u00e2nico em Portugal que n\u00e3o tivesse previamente apresentado um teste negativo. S.F.A.: Essas regras v\u00e3o se manter agora que a ilha da Madeira entrou para a \u201clista verde\u201d do Reino Unido? A.C.: N\u00f3s n\u00e3o temos regras por pa\u00edses. Temos regras quantificadas que se aplicam a qualquer pa\u00eds, em fun\u00e7\u00e3o da situa\u00e7\u00e3o em que est\u00e1. Se a B\u00e9lgica estiver acima determinado n\u00edvel, aplicam-se essas regras, se estiver abaixo, aplicam-se outras regras. As regras s\u00e3o as mesmas para a B\u00e9lgica, para o Reino Unido, para Fran\u00e7a, para Espanha, para qualquer pa\u00eds. S.F.A.: Muita gente relaciona o agravamento da situa\u00e7\u00e3o com v\u00e1rios eventos, festas desportivas, o caso da final da Liga dos Campe\u00f5es. A.C.: Mas isso est\u00e1 demonstrado que n\u00e3o \u00e9 verdade. A final da Champions aconteceu no Porto e dois ter\u00e7os do crescimento de casos que verific\u00e1mos agora est\u00e3o exclusivamente concentrados na regi\u00e3o de Lisboa, n\u00e3o tem nada a ver com a Champions . Mesmo em rela\u00e7\u00e3o aos turistas \u00e9 dif\u00edcil que isso aconte\u00e7a, os locais de destino dos turistas brit\u00e2nicos s\u00e3o sobretudo a ilha da Madeira, onde o crescimento \u00e9 m\u00ednimo, e o Algarve. Portanto, dois ter\u00e7os do problema est\u00e3o concentrados na regi\u00e3o de Lisboa e n\u00e3o t\u00eam a ver com os turistas. Poder\u00e1 haver outros fatores. \u00c9 preciso tamb\u00e9m esclarecer que o crescimento da pandemia nesta fase, n\u00e3o tem nada a ver com o que aconteceu em fases anteriores, designadamente do ponto de vista sanit\u00e1rio, da press\u00e3o do Servi\u00e7o Nacional de Sa\u00fade ou do ponto de vista da mortalidade da nossa popula\u00e7\u00e3o. S.F.A.: Falemos agora do Plano de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia. A presidente da Comiss\u00e3o Europeia tem andado num p\u00e9riplo europeu a dar a boa nova da aprova\u00e7\u00e3o dos v\u00e1rios planos. Portugal deve receber mais de 16 mil milh\u00f5es de euros, Espanha, quase 80 mil milh\u00f5es de euros, a Gr\u00e9cia, 30 mil milh\u00f5es de euros. It\u00e1lia \u00e9 recordista, com 200 mil milh\u00f5es de euros. O facto de ter a presid\u00eancia da Uni\u00e3o Europeia f\u00ea-lo ser mais modesto na altura de apresentar o plano? Portugal tem menos necessidade que os outros pa\u00edses? A.C.: A chave de reparti\u00e7\u00e3o dos fundos foi fixada ainda na presid\u00eancia alem\u00e3, foi fixada em julho ado, quando aprov\u00e1mos este instrumento, e tinha a ver com o impacto da pandemia naquilo que eram as previs\u00f5es do crescimento das diferentes economias. Nessa fase, est\u00e1vamos a trabalhar com previs\u00f5es, por isso ficou logo previsto que, em 2022, haveria uma revis\u00e3o, uma atualiza\u00e7\u00e3o dos crit\u00e9rios e desta chave de reparti\u00e7\u00e3o. A cada pa\u00eds foi atribu\u00edda uma verba tendo em conta aquela chave de reparti\u00e7\u00e3o, tendo em conta a popula\u00e7\u00e3o e tamb\u00e9m o impacto da crise. Como \u00e9 sabido, na primeira vaga, It\u00e1lia e Espanha foram os dois pa\u00edses mais atingidos e portanto foram aqueles que tiveram uma maior compensa\u00e7\u00e3o do Fundo de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia. S.F.A.: Esta entrada de dinheiro nos Estados-membros \u00e9 quase t\u00e3o importante como os fundos europeus recebidos por alguns dos Estados-membros na altura da ades\u00e3o. Foram registados v\u00e1rios erros, v\u00e1rios desperd\u00edcios que provocaram uma crise agravada em muitos pa\u00edses europeus. Neste momento existe um mecanismo de controlo de como o dinheiro deste Plano de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia vai ser gasto, para evitar erros no futuro? A.C.: Em primeiro lugar, conv\u00e9m ter no\u00e7\u00e3o de que o relat\u00f3rio do Tribunal de Contas Europeu fez em 2019 sobre o historial de fundos europeus demonstra que as fraudes com fundos europeus s\u00e3o residuais, representam 0,75% da totalidade dos fundos. Portanto, n\u00e3o h\u00e1 um problema com os fundos, existem v\u00e1rios mecanismos de controlos que t\u00eam sido eficazes. Desta vez, at\u00e9 existe mecanismo de controlo bastante mais exigente, visto que todos os planos s\u00e3o feitos numa base contratualizada, com metas, marcos e calend\u00e1rios. E a disponibiliza\u00e7\u00e3o das verbas \u00e9 feita \u00e0 medida que v\u00e3o sendo atingidos esses objetivos e marcos e cumprido esse calend\u00e1rio. O controlo \u00e9 muito rigoroso. Nestes seis meses [de presid\u00eancia] conseguimos, em primeiro lugar, que todos os Estados-membros tivessem ratificado a decis\u00e3o que permitiu \u00e0 Comiss\u00e3o Europeia proceder \u00e0 emiss\u00e3o da d\u00edvida. Em segundo lugar, a Comiss\u00e3o Europeia emitiu d\u00edvida com condi\u00e7\u00f5es muit\u00edssimo melhores, com menores custos financeiros do que se tivesse sido uma emiss\u00e3o repartida por v\u00e1rios Estados. Em terceiro lugar, 24 Estados-membros j\u00e1 apresentaram os seus Planos de recupera\u00e7\u00e3o e resili\u00eancia. Doze j\u00e1 t\u00eam a luz verde da Comiss\u00e3o Europeia. No dia 13 de julho, no primeiro Ecofin da presid\u00eancia eslovena, devem ser aprovados esses 12 Planos de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia. Isso vai ser fundamental para que a Europa, desta vez, cumpra a sua capacidade de dar uma resposta robusta e conjunta a esta crise econ\u00f3mica, n\u00e3o repetindo os erros que cometeu h\u00e1 10 anos e ter uma resposta que em vez de andar pelos caminhos da austeridade, deve andar pelo caminho da reforma e do investimento. S.F.A.: Qual foi o momento mais dif\u00edcil desta presid\u00eancia portuguesa, destes \u00faltimos seis meses? A.C.: Ainda n\u00e3o tenho o distanciamento suficiente para lhe poder responder. Foram tempos muito exigentes do ponto de vista do combate \u00e0 pandemia, sobretudo para p\u00f4r em marcha todos os Planos de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia. Conseguimos aprovar toda a legisla\u00e7\u00e3o em mat\u00e9ria de fundos comunit\u00e1rios, o pr\u00f3ximo quadro financeiro plurianual, o \u00faltimo pacote - a reforma da PAC - foi aprovado esta semana, incorporando pela primeira vez a dimens\u00e3o social e refor\u00e7ando a dimens\u00e3o verde da Pol\u00edtica Agr\u00edcola Comum. [Aprov\u00e1mos] a ado\u00e7\u00e3o da flexibiliza\u00e7\u00e3o das regras or\u00e7amentais e das regras em mat\u00e9ria de ajudas de Estado para permitir uma resposta eficaz a esta crise. O momento mais marcante para o futuro \u00e9 termos conseguido ar dos princ\u00edpios gerais do pilar europeu dos direitos sociais para o plano de a\u00e7\u00e3o do pilar europeu dos direitos sociais, havendo agora um calend\u00e1rio e a\u00e7\u00f5es concretas previstas para transformar numa realidade esta dimens\u00e3o social da Europa e fazer da Europa verdadeiramente uma Uni\u00e3o Europeia que protege, valoriza e desenvolve o seu modelo social, que \u00e9 fundamental para apoiar a dupla transi\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica e digital. Outro marco fundamental foi a aprova\u00e7\u00e3o da nova lei do clima. Pela primeira vez, temos um continente que tem um compromisso conjunto de neutralidade carb\u00f3nica para 2050. Portanto, eu acho que esta presid\u00eancia portuguesa deixa um conjunto de marcas muito significativas, de que nos devemos orgulhar. Mas significa sobretudo que cumprimos - e que a Uni\u00e3o Europeia cumpriu - o objetivo a que nos t\u00ednhamos proposto: \u00e9 tempo de agir para uma recupera\u00e7\u00e3o justa, verde e digital. S.F.A.: A Eslov\u00e9nia assume a 1 de julho a presid\u00eancia da Uni\u00e3o Europeia. Que conselhos d\u00e1 \u00e0 presid\u00eancia do governo esloveno para os pr\u00f3ximos seis meses? A.C.: N\u00e3o dou conselhos, apenas ofereci ao meu colega Janez Jan\u0161a (primeiro-ministro da Eslov\u00e9nia) uma r\u00e9plica das b\u00fassolas que usavam os navegadores portugueses, um instrumento de navega\u00e7\u00e3o, que \u00e9 sempre \u00fatil. Ali\u00e1s, o primeiro-ministro esloveno vai realizar a segunda presid\u00eancia, a primeira foi em 2008, j\u00e1 tem experi\u00eancia e far\u00e1 seguramente uma boa presid\u00eancia. ", "dateCreated": "2021-06-23T10:35:37+02:00", "dateModified": "2022-01-09T20:22:28+01:00", "datePublished": "2021-06-29T19:50:56+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F05%2F79%2F99%2F58%2F1440x810_cmsv2_3a5e7d22-eccb-557d-a1e1-2e9ff8fb6c02-5799958.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "O primeiro-ministro portugu\u00eas falou com a Euronews para fazer um balan\u00e7o da presid\u00eancia portuguesa da Uni\u00e3o Europeia, ap\u00f3s a \u00faltima cimeira que reuniu os l\u00edderes dos 27 Estados-membros.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F05%2F79%2F99%2F58%2F432x243_cmsv2_3a5e7d22-eccb-557d-a1e1-2e9ff8fb6c02-5799958.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Ferreira de Almeida", "givenName": "S\u00e9rgio", "name": "S\u00e9rgio Ferreira de Almeida", "url": "/perfis/1118", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@SergioFAlmeida", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Equipe de langue portugaise" } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

António Costa: "Só está na União quem quer fazer parte da União"

António Costa: "Só está na União quem quer fazer parte da União"
Direitos de autor euronews
Direitos de autor euronews
De Sérgio Ferreira de Almeida
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

O primeiro-ministro português falou com a Euronews para fazer um balanço da presidência portuguesa da União Europeia, após a última cimeira que reuniu os líderes dos 27 Estados-membros.

A presidência portuguesa do Conselho da União Europeia começou num dos momentos mais difíceis da gestão da pandemia, em que todos os trabalhos foram condicionados. A falta de uniformização das regras para a vacinação e para o certificado digital continua a merecer muitas críticas. Mas, por outro lado, a forte pressão portuguesa para a aprovação do plano de recuperação e resiliência é vista como uma das grandes conquistas dos primeiros seis meses do ano.

O primeiro-ministro português, António Costa, falou, em Bruxelas, com o The Global Conversation sobre o que ainda une e divide os 27 Estados-membros, sobretudo após a mais recente Cimeira Europeia, e fez um balanço dapresidência.

Sérgio Ferreira de Almeida, Euronews: A presidência portuguesa terminou com uma cimeira europeia marcada por alguns momentos muito tensos. Comecemos por falar da polémica lei húngara anti-direitos LGBTQ+. Como foi o seu confronto com Viktor Orbán? Já não houve necessidade de manter a neutralidade?

António Costa: As presidências, enquanto fator de agregação, devem procurar agir de forma imparcial quanto aos métodos de trabalho e quando se pronunciam em público. Mas obviamente, quando temos reuniões, temos de falar com toda a franqueza e com toda a clareza. E eu acho que este debate (com Viktor Orban) foi muito importante, porque foi muito frontal, muito aberto, todos os Estados-membros se expressaram com muita clareza na defesa dos valores da União Europeia, sublinhando que a União Europeia é, acima de tudo, uma comunidade de valores, mais que uma união aduaneira, mais que um mercado interno, mais que uma moeda única, é sobretudo uma comunidade de valores e portanto esses valores têm de estar no centro da nossa ação.

S.F.A.: Podemos saber o que é que disse a Viktor Orbán?

A.C.: As reuniões do Conselho são sigilosas. Não vou dizer o que disse lá dentro. Vou dizer que obviamente os tratados são muito claros. Só está na União quem quer fazer parte da União. E quem está na União está porque partilha aqueles valores e esses valores não são condicionáveis, têm de ser respeitados. É por isso que o artigo 7.º existe, para garantir o cumprimento dos tratados. Estavam abertos dois processos, um sobre a Polónia, outro sobre Hungria, com base no artigo 7.º, processos esses que estavam relativamente. Na Presidência portuguesa houve avanços, há duas semanas realizaram-se as audições quer da Polónia, quer da Hungria e são processos que estão a decorrer.

Neste caso, a Comissão Europeia já notificou a Hungria para o dever dar explicações e, tendo em conta as explicações dadas, a Comissão Europeia avaliará se abre ou não um processo por violação do artigo 7.°.

S.F.A.: A Hungria continua a ter lugar nesta União Europeia em que vivemos hoje?

A.C.: O nosso desejo é que todos os povos dos 27 Estados-membros continuem a fazer parte da União Europeia. Agora cada um é livre de escolher o seu caminho. Uma coisa que não vale a pena esconder. Felizmente temos agora a conferência sobre o futuro da Europa para que esse debate se faça de forma franca. Hoje os Estados não partilham todos os mesmos valores nem têm a mesma visão sobre a União que tinham quando foi aprovado o Tratado de Lisboa.

As maiorias mudaram, as dinâmicas políticas mudaram, portanto há Estados que têm uma posição diferente. E acho que a Conferência sobre o Futuro da Europa é um bom momento também para fazermos um balanço, sendo que o Tratado de Lisboa tem a flexibilidade necessária para permitir um pouco de tudo: quem quiser ir mais rápido pode utilizar as cláusulas erelle, que, por exemplo, nos permitem alterar maiorias sobre certas matérias; quem quiser ir a um ritmo mais lento pode criar cooperações reforçadas e existe a flexibilidade suficiente para que não estejamos sempre entre o risco de paralisia e o risco de rutura. Se houver um acordo entre todos, maravilhoso. Se isso não for possível, não podemos ficar a meio da ponte, nem uns paralisados, nem os outros em risco de rutura. Portanto, há aqui vários caminhos que podem ser seguidos.

Temos de desejar ter uma relação próxima, amigável, positiva, construtiva com a Rússia. Para que isso aconteça, é fundamental que a Rússia respeite princípios fundamentais do direito internacional e também do relacionamento justo com a União Europeia
António Costa
Primeiro-ministro de Portugal

S.F.A.: Já assistimos a um divórcio do Reino Unido com a União Europeia, mas ainda não assistimos a nenhuma expulsão da União Europeia.

A.C.: Não está previsto. O que está previsto nos termos do artigo 7.º é a suspensão do exercício de direitos de voto como sanção máxima aplicável a um país.

S.F.A.: Outro dos temas em que não houve consenso nesta cimeira europeia, um tema da política externa, foi a proposta sa e alemã de uma cimeira com o presidente russo Vladimir Putin, que foi recusada. Já não há margem para negociar com Vladimir Putin e é por isso que não avançamos para uma cimeira?

A.C.: Houve vários motivos pelos quais se chegou àquela decisão. Quando se trata da relação com a Rússia, há uma posição comum a todos os Estados-membros. Uma proposta desta dimensão, que surge um pouco em cima da hora, sem a devida preparação, sem o devido enquadramento, torna-se muito difícil de ar.

Acho que todos têm bem a noção de que a Rússia é o nosso maior vizinho. Nós temos de desejar ter uma relação próxima, amigável, positiva, construtiva com a Rússia. Para que isso aconteça, é fundamental que a Rússia respeite princípios fundamentais do direito internacional e também do relacionamento justo com a União Europeia e com cada um dos seus Estados-membros. Essa é a visão de conjunto que temos. Agora, há uma vontade de ver um novo quadro de relacionamento com a Rússia. Para que isso aconteça tem de ser devidamente preparado. Somos 27, não temos todos a mesma história de relacionamento com a Rússia, não temos todos a mesma a distância geográfica relativamente a Moscovo e isso tem de ser tido em conta num momento em que se toma decisões sobre esta matéria.

S.F.A.: Outro dos temas em que o consenso tem sido difícil dentro da União Europeia é o pacto das migrações que foi apresentado e proposto em 2020, mas que até agora ainda não foi assinado. Essa era uma das prioridades da presidência portuguesa.

A.C.: O pacto decompõe-se em diferentes instrumentos. Houve dois em que demos os importantes. Um muito importante é a diretiva sobre o cartão azul, criando canais legais de imigração que são absolutamente fundamentais. Outro, que estamos esta semana a concluir, é a negociação com o Parlamento Europeu para a instalação da Agência Europeia de Asilo, que é uma peça fundamental para a revisão do regime de asilo na União Europeia.

Nenhum país tem o direito de utilizar os refugiados como forma de pressão sobre os países vizinhos
António Costa
Primeiro-ministro de Portugal

S.F.A.: Também já se fala numa nova possibilidade de dar mais dinheiro à Turquia, três mil milhões de euros que se juntam aos seis mil milhões que já foram dados nos últimos seis anos, para travar a vaga de migrações. Há organizações não governamentais, como a Amnistia Internacional, que acusam a União Europeia de estar refém de países como a Turquia e Marrocos, por exemplo, com os recentes episódios em Ceuta, dando dinheiro, mas não conseguindo travar efetivamente a origem da crise migratória.

A.C.: São situações diversas. A proposta agora discutida no Conselho, não tem a ver com a Turquia, mas tem a ver com a solidariedade que a União Europeia deve ter com países exteriores que estão hoje a ar um encargo extremamente pesado no acolhimento de refugiados, muito superior ao da União Europeia. Países como a Jordânia, por exemplo, ou países como o Egito, que podem e devem ser destinatários de apoio da União Europeia. E foi esse o debate, não se falou sobre a Turquia nessa matéria.

S.F.A.: Mas se continuarmos a dar dinheiro à Turquia, não considera que caímos mesmo nessa situação de estarmos reféns da vontade de terceiros.

A.C.: Há uma coisa que é absolutamente clara: nenhum país tem o direito de utilizar os refugiados como forma de pressão sobre os países vizinhos. A Europa não pode ignorar que ela própria é um fator de atração. Os refugiados têm múltiplas origens e para que todo o tema migratório possa ser enfrentado, nós temos que agir nos países de origem, nos países de trânsito, na nossa fronteira e na capacidade de integração dos que entram na Europa. Devemos também distinguir situação de imigração dos refugiados. Isso implica uma abordagem global da estratégia das migrações e não uma medida única que pode ter um efeito relativamente a algo, além disso, é preciso percebermos que as migrações existem desde que existe humanidade e enquanto existir humanidade vão continuar a existir migrações, é um processo natural de vida da humanidade e, portanto, é um fenómeno que tem de ser regulado como todos os outros fenómenos humanos.

(...) não entrou nenhum britânico em Portugal que não tivesse previamente apresentado um teste negativo
António Costa
Primeiro-ministro de Portugal

S.F.A.: amos agora ao tema que tem dominado a atualidade neste último ano e meio: arrancou a presidência portuguesa a braços com uma situação muito complicada em Portugal em relação à pandemia. Houve melhorias e agora voltamos a assistir a uma situação bem mais complicada. A falta de uniformização das regras de circulação no espaço europeu podem complicar o combate e a gestão de uma possível quarta vaga na Europa?

A.C.: As regras e os critérios de harmonização estão fixados nas recomendações. Houve um pacote de regras aprovado em outubro e, a 14 de junho, entrou em vigor uma nova recomendação para harmonização dos critérios e esses critérios permitem uma gestão dos fluxos de circulação. Não creio que sejam os fluxos dentro da Europa o fator contaminação. O fator de contaminação existe cada vez que duas pessoas se encontram, quanto mais pessoas se encontrarem, maior é o risco de contaminação, venham de fora, ou estejam cá dentro. Portanto, esse critério não faz sentido.

Portanto, os critérios de harmonização existem, aquilo que é fundamental é aceleramos o processo de vacinação. O que tem estado a ser demonstrado é que esta nova variante delta tem uma enorme capacidade de transmissão, não está demonstrado que vença a imunização oferecida pelas vacinas. Por outro lado, estando hoje grande parte da população mais vulnerável já protegida, tem tido um efeito quer na mortalidade, quer na gravidade da doença muitíssimo inferior ao que tivemos noutras noutras vagas. Isto não quer dizer que não tenhamos de ter atenção. Temos de fazer um esforço na sequenciação da identificação das variantes e temos todos de continuar a manter as boas práticas para nos protegermos uns aos outros.

S.F.A.: Como é que recebeu as críticas da chanceler alemã Angela Merkel ao facto de Portugal ter aberto as portas aos britânicos?

A.C.: Primeiro, [Merkel] não fez críticas. Depois, nós não abrimos as portas aos britânicos, nós seguimos as recomendações europeias. Os britânicos, para entrarem em Portugal, tendo em conta o nível de infeção em que se encontram, têm de realizar um teste obrigatório para entrar em Portugal e não entrou nenhum britânico em Portugal que não tivesse previamente apresentado um teste negativo.

S.F.A.: Essas regras vão se manter agora que a ilha da Madeira entrou para a “lista verde” do Reino Unido?

A.C.: Nós não temos regras por países. Temos regras quantificadas que se aplicam a qualquer país, em função da situação em que está. Se a Bélgica estiver acima determinado nível, aplicam-se essas regras, se estiver abaixo, aplicam-se outras regras. As regras são as mesmas para a Bélgica, para o Reino Unido, para França, para Espanha, para qualquer país.

S.F.A.: Muita gente relaciona o agravamento da situação com vários eventos, festas desportivas, o caso da final da Liga dos Campeões.

A.C.: Mas isso está demonstrado que não é verdade. A final da Champions aconteceu no Porto e dois terços do crescimento de casos que verificámos agora estão exclusivamente concentrados na região de Lisboa, não tem nada a ver com a Champions. Mesmo em relação aos turistas é difícil que isso aconteça, os locais de destino dos turistas britânicos são sobretudo a ilha da Madeira, onde o crescimento é mínimo, e o Algarve. Portanto, dois terços do problema estão concentrados na região de Lisboa e não têm a ver com os turistas. Poderá haver outros fatores. É preciso também esclarecer que o crescimento da pandemia nesta fase, não tem nada a ver com o que aconteceu em fases anteriores, designadamente do ponto de vista sanitário, da pressão do Serviço Nacional de Saúde ou do ponto de vista da mortalidade da nossa população.

A cada país foi atribuída uma verba tendo em conta (...) a população e também o impacto da crise. Como é sabido, na primeira vaga, Itália e Espanha foram os dois países mais atingidos
António Costa
Primeiro-ministro de Portugal

S.F.A.: Falemos agora do Plano de Recuperação e Resiliência. A presidente da Comissão Europeia tem andado num périplo europeu a dar a boa nova da aprovação dos vários planos. Portugal deve receber mais de 16 mil milhões de euros, Espanha, quase 80 mil milhões de euros, a Grécia, 30 mil milhões de euros. Itália é recordista, com 200 mil milhões de euros. O facto de ter a presidência da União Europeia fê-lo ser mais modesto na altura de apresentar o plano? Portugal tem menos necessidade que os outros países?

A.C.: A chave de repartição dos fundos foi fixada ainda na presidência alemã, foi fixada em julho ado, quando aprovámos este instrumento, e tinha a ver com o impacto da pandemia naquilo que eram as previsões do crescimento das diferentes economias. Nessa fase, estávamos a trabalhar com previsões, por isso ficou logo previsto que, em 2022, haveria uma revisão, uma atualização dos critérios e desta chave de repartição.

A cada país foi atribuída uma verba tendo em conta aquela chave de repartição, tendo em conta a população e também o impacto da crise. Como é sabido, na primeira vaga, Itália e Espanha foram os dois países mais atingidos e portanto foram aqueles que tiveram uma maior compensação do Fundo de Recuperação e Resiliência.

S.F.A.: Esta entrada de dinheiro nos Estados-membros é quase tão importante como os fundos europeus recebidos por alguns dos Estados-membros na altura da adesão. Foram registados vários erros, vários desperdícios que provocaram uma crise agravada em muitos países europeus. Neste momento existe um mecanismo de controlo de como o dinheiro deste Plano de Recuperação e Resiliência vai ser gasto, para evitar erros no futuro?

A.C.: Em primeiro lugar, convém ter noção de que o relatório do Tribunal de Contas Europeu fez em 2019 sobre o historial de fundos europeus demonstra que as fraudes com fundos europeus são residuais, representam 0,75% da totalidade dos fundos. Portanto, não há um problema com os fundos, existem vários mecanismos de controlos que têm sido eficazes. Desta vez, até existe mecanismo de controlo bastante mais exigente, visto que todos os planos são feitos numa base contratualizada, com metas, marcos e calendários. E a disponibilização das verbas é feita à medida que vão sendo atingidos esses objetivos e marcos e cumprido esse calendário. O controlo é muito rigoroso.

Nestes seis meses [de presidência] conseguimos, em primeiro lugar, que todos os Estados-membros tivessem ratificado a decisão que permitiu à Comissão Europeia proceder à emissão da dívida. Em segundo lugar, a Comissão Europeia emitiu dívida com condições muitíssimo melhores, com menores custos financeiros do que se tivesse sido uma emissão repartida por vários Estados. Em terceiro lugar, 24 Estados-membros já apresentaram os seus Planos de recuperação e resiliência. Doze já têm a luz verde da Comissão Europeia. No dia 13 de julho, no primeiro Ecofin da presidência eslovena, devem ser aprovados esses 12 Planos de Recuperação e Resiliência. Isso vai ser fundamental para que a Europa, desta vez, cumpra a sua capacidade de dar uma resposta robusta e conjunta a esta crise económica, não repetindo os erros que cometeu há 10 anos e ter uma resposta que em vez de andar pelos caminhos da austeridade, deve andar pelo caminho da reforma e do investimento.

[Há] agora um calendário e ações concretas previstas para transformar numa realidade esta dimensão social da Europa e fazer da Europa verdadeiramente uma União Europeia que protege, valoriza e desenvolve o seu modelo social, que é fundamental para apoiar a dupla transição climática e digital.
António Costa
Primeiro-ministro de Portugal

S.F.A.: Qual foi o momento mais difícil desta presidência portuguesa, destes últimos seis meses?

A.C.: Ainda não tenho o distanciamento suficiente para lhe poder responder. Foram tempos muito exigentes do ponto de vista do combate à pandemia, sobretudo para pôr em marcha todos os Planos de Recuperação e Resiliência. Conseguimos aprovar toda a legislação em matéria de fundos comunitários, o próximo quadro financeiro plurianual, o último pacote - a reforma da PAC - foi aprovado esta semana, incorporando pela primeira vez a dimensão social e reforçando a dimensão verde da Política Agrícola Comum. [Aprovámos] a adoção da flexibilização das regras orçamentais e das regras em matéria de ajudas de Estado para permitir uma resposta eficaz a esta crise.

O momento mais marcante para o futuro é termos conseguido ar dos princípios gerais do pilar europeu dos direitos sociais para o plano de ação do pilar europeu dos direitos sociais, havendo agora um calendário e ações concretas previstas para transformar numa realidade esta dimensão social da Europa e fazer da Europa verdadeiramente uma União Europeia que protege, valoriza e desenvolve o seu modelo social, que é fundamental para apoiar a dupla transição climática e digital.

Outro marco fundamental foi a aprovação da nova lei do clima. Pela primeira vez, temos um continente que tem um compromisso conjunto de neutralidade carbónica para 2050. Portanto, eu acho que esta presidência portuguesa deixa um conjunto de marcas muito significativas, de que nos devemos orgulhar. Mas significa sobretudo que cumprimos - e que a União Europeia cumpriu - o objetivo a que nos tínhamos proposto: é tempo de agir para uma recuperação justa, verde e digital.

S.F.A.: A Eslovénia assume a 1 de julho a presidência da União Europeia. Que conselhos dá à presidência do governo esloveno para os próximos seis meses?

A.C.: Não dou conselhos, apenas ofereci ao meu colega Janez Janša (primeiro-ministro da Eslovénia) uma réplica das bússolas que usavam os navegadores portugueses, um instrumento de navegação, que é sempre útil. Aliás, o primeiro-ministro esloveno vai realizar a segunda presidência, a primeira foi em 2008, já tem experiência e fará seguramente uma boa presidência.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

António Costa: o arquiteto da "Geringonça" que sonha com a maioria

Eslovénia herda presidência europeia sob críticas

Guimarães vai ser a Capital Europeia Verde de 2026