{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2021/05/07/a-europa-e-a-batalha-global-dos-dados" }, "headline": "A Europa e a batalha global dos dados", "description": "A euronews entrevistou Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comiss\u00e3o Europeia respons\u00e1vel pelo digital, sobre a batalha global dos dados e o futuro enquadramento jur\u00eddico da Intelig\u00eancia Artificial.", "articleBody": "A euronews falou com\u00a0 Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comiss\u00e3o Europeia respons\u00e1vel pelo digital, sobre a batalha global dos dados e os novos regulamentos na \u00e1rea dos dados e da Intelig\u00eancia Artificial .\u00a0 euronews : \u0022Vamos falar da batalha global em torno dos dados. Muito obrigada por estar connosco\u0022. Margrethe Vestager : \u201cOs dados s\u00e3o melhores que o petr\u00f3leo, porque s\u00e3o um recurso renov\u00e1vel. Podem ser gerados continuamente, usados e reutilizados. \u00c9 uma quest\u00e3o muito atual numa altura em que queremos ter energias renov\u00e1veis e uma economia circular\u201d. euronews : \u201cA Uni\u00e3o Europeia est\u00e1 nessa batalha? Porqu\u00ea e onde \u00e9 que isso nos vai levar?\u201d Margrethe Vestager : \u201osso dizer-vos que estamos na batalha, porque, enquanto falamos, est\u00e3o a ser gerados dados, em todo o lado. E a Europa \u00e9 um continente muito industrial onde o digital est\u00e1 em todo o lado, nas redes m\u00f3veis, na electricidade, na agricultura, nos nossos sistemas de sa\u00fade. Recolhemos dados o tempo todo. E com esses dados, podemos melhorar as coisas, inovar e fortalecer os neg\u00f3cios. E, claro, tamb\u00e9m podemos usar esses dados para combater as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. \u00c9 muito importante. \u00c9 um assunto global porque tamb\u00e9m estamos num contexto geopol\u00edtico onde h\u00e1 muita rivalidade sist\u00e9mica e competi\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica, mas tamb\u00e9m uma necessidade de criar parcerias. Como devemos lidar com os dados, para permitir que possam fluir, se forem dados de confian\u00e7a e como proteg\u00ea-los se estivermos perante dados pessoais? \u00c9 o caminho que temos pela frente, em termos de implementa\u00e7\u00e3o pr\u00e1tica e de elabora\u00e7\u00e3o de legisla\u00e7\u00e3o\u0022 . euronews : \u201cMas os Estados Unidos e a China est\u00e3o a inovar muito rapidamente, a China em particular de forma muito agressiva. Quando \u00e9 que a Uni\u00e3o Europeia vai recuperar o atraso? Porque a ideia de um mercado \u00fanico de dados na Uni\u00e3o Europeia parece ser boa no papel mas \u00e9 um pouco abstrata\u201d. Margrethe Vestager : \u201enso que \u00e9 muito importante n\u00e3o subestimar a nossa Europa porque ainda somos respons\u00e1veis pelo maior n\u00famero de patentes. Porque a Europa possui um tecido vibrante de empresas inovadoras. A Europa n\u00e3o est\u00e1 a ficar para tr\u00e1s, mas a come\u00e7ar um novo e importante cap\u00edtulo de digitaliza\u00e7\u00e3o, onde os dados fazem a diferen\u00e7a, porque estamos a falar de muito mais do que de dados provenientes de pesquisas ou de compras. S\u00e3o dados sobre o funcionamento do mundo real. O desafio \u00e9 garantir que os dados sejam agrupados, partilhados e usados por boas raz\u00f5es. E em rela\u00e7\u00e3o a este ponto \u00e9 preciso agir porque as pequenas e m\u00e9dias empresas devem fazer parte deste processo. Para as empresas mais pequenas \u00e9 mais dif\u00edcil usar os pr\u00f3prios dados, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s grandes empresas que t\u00eam uma configura\u00e7\u00e3o diferente. Temos de tomar medidas espec\u00edficas que correspondam ao contexto econ\u00f3mico europeu para tirar o m\u00e1ximo partido desse contexto\u201d. euronews: \u201cE as empresas? Vai haver incentivos para encoraj\u00e1-las a partilhar dados porque as empresas t\u00eam-se mostrado muito relutantes em faz\u00ea-lo, n\u00e3o?\u201d Margrethe Vestager : Sim e penso que uma das raz\u00f5es pelas quais as empresas se mostram relutantes em partilhar dados \u00e9 porque est\u00e3o sempre a dizer-lhes que os dados valem uma fortuna. Podem n\u00e3o estar a us\u00e1-los mas se valem uma fortuna porque deveriam partilh\u00e1-los? Penso que falta clareza jur\u00eddica e clareza contratual. Por isso, estamos a trabalhar nos chamados espa\u00e7os de dados. \u00c9 basicamente uma met\u00e1fora para clarificar as obriga\u00e7\u00f5es contratuais para que os empres\u00e1rios se sintam seguros, e possam colocar os dados nesse espa\u00e7o e retirar outros dados em seguran\u00e7a. E estamos a faz\u00ea-lo em v\u00e1rias \u00e1reas. O espa\u00e7o mais atual neste momento \u00e9 o espa\u00e7o de dados de sa\u00fade, porque vimos, com a Covid 19, que era importante poder analisar dados de sa\u00fade, mol\u00e9culas e o v\u00edrus em si. E isso envolve dados sobre o funcionamento das vacinas. E envolve tamb\u00e9m muito processamento de dados. Esses espa\u00e7os de dados podem fazer com que as empresas se sintam mais confiantes no uso de dados para desenvolverem os seus neg\u00f3cios e os seus modelos de neg\u00f3cios e possam confiar muito mais na economia digital. euronews : E o regulamento sobre Governan\u00e7a de Dados que apresentou em novembro ado? Foi um primeiro o apresentado como uma alternativa \u00e0 forma como os gigantes tecnol\u00f3gicos lidam com os dados e partilham dados. Fale-nos das suas preocupa\u00e7\u00f5es e experi\u00eancias com os gigantes da tecnologia. Como \u00e9 que eles reagem e por que raz\u00e3o \u00e9 importante fazer algo?\u0022 Margrethe Vestager : \u0022A quest\u00e3o que menciona \u00e9 muito importante, \u00e9 preciso encontrar um modelo em que as pessoas n\u00e3o sejam obrigadas a partilhar dados, mas se quiserem faz\u00ea-lo, possam faz\u00ea-lo de transparente. Um dos aspetos importantes do regulamento sobre a Governan\u00e7a de dados \u00e9 que se trata de uma esp\u00e9cie de modelo para criar intermedi\u00e1rios de modo a podermos ter um parceiro neutro para receber dados e para permitir que os dados sejam usados por outras entidades. E seria um intermedi\u00e1rio que sabe que o enquadramento \u00e9 o correto, porque h\u00e1 muita gente que se preocupa com as regras de privacidade ou com a prote\u00e7\u00e3o das patentes. Trata-se de um modelo diferente, mais din\u00e2mico, porque permite que muitos mais pessoas participem na economia de dados, porque vemos que os gigantes tecnol\u00f3gicos acumulam muitos dados, o que torna muito dif\u00edcil para outros atores obterem uma vantagem competitiva, porque quando uma empresa tem muitos dados tornar-se mais f\u00e1cil para ela prever por exemplo, os padr\u00f5es de procura dos clientes. Infelizmente, algumas grandes empresas usam os dados de uma forma que n\u00e3o respeita as regras da concorr\u00eancia. Temos as conclus\u00f5es preliminares do caso da Amazon que indicam que a Amazon permite \u00e0 atividade de retalho da Amazon aceder aos dados de todos os comerciantes do marketplace Amazon sendo que esses comerciantes n\u00e3o t\u00eam o aos dados de alta qualidade sobre o comportamento do consumidor o que d\u00e1 a atividade de retalho da Amazon uma vantagem sem precedentes. \u00c9 preciso legisla\u00e7\u00e3o, uma lei de Governan\u00e7a, uma Lei sobre Dados, que vir\u00e1 mais tarde, mas \u00e9 preciso tamb\u00e9m aplicar a lei da concorr\u00eancia para garantir que a economia de dados possa benficiar toda a gente\u0022. euronews : \u0022Mencionou a lei sobre os dados que vir\u00e1 mais tarde. J\u00e1 falaremos sobre isso, mas antes, uma quest\u00e3o sobre os gigantes tecnol\u00f3gicos. Empresas como a Facebook, a Google, t\u00eam se acaparado dos nossos dados nos \u00faltimos tr\u00eas anos, o que lhes est\u00e1 a dar benef\u00edcios econ\u00f3micos. O regulamento sobre Governan\u00e7a de Dados e as informa\u00e7\u00f5es que a Comiss\u00e3o dever\u00e1 fornecer mais tarde s\u00e3o uma forma de recuperar o atraso?\u201d Margrethe Vestager : \u201cIr\u00e1 dar lugar a um modelo diferente e a uma forma diferente de governan\u00e7a dos dados. E, ao mesmo tempo, penso que come\u00e7amos a despertar para a necessidade de cuidarmos dos nossos pr\u00f3prios dados, dados pessoais ou dados que n\u00e3o s\u00e3o pessoais, desde que n\u00e3o sejam mal usados. \u00c9 muito importante, por exemplo, um fornecedor de servi\u00e7os digitais perguntar \u00e0s pessoas se aceitam que a aplica\u00e7\u00e3o continue a seguir o que a pessoa faz mesmo quando n\u00e3o est\u00e1 a usar ativamente a aplica\u00e7\u00e3o, de forma a que as pessoas possam facilmente fazer escolhas em rela\u00e7\u00e3o aos seus direitos, de modo a refor\u00e7ar os direitos sobre a propriedade dos dados, mas tamb\u00e9m para que a pessoa possa ter a certeza sobre o que deve fazer na Internet e distinguir entre dados pessoais, que t\u00eam uma governan\u00e7a pr\u00f3pria e os dados industriais. No caso dos dados industriais, h\u00e1 um conjunto completamente diferente de possibilidades, porque n\u00e3o precisamos de ter as mesmas preocupa\u00e7\u00f5es que em rela\u00e7\u00e3o aos dados pessoais. E nesse campo estamos a avan\u00e7ar o mais rapidamente poss\u00edvel\u201d. euronews : \u0022Obteve alguma rea\u00e7\u00e3o a essas propostas por parte dos gigantes tecnol\u00f3gicos?\u0022 Margrethe Vestager : \u201cN\u00e3o muito.\u00a0Penso que ainda \u00e9 cedo. No in\u00edcio de cada processo de delibera\u00e7\u00e3o do Parlamento Europeu e do Conselho costuma haver uma abordagem positiva e depois vemos que h\u00e1 esfor\u00e7os para tornar as propostas menos intrusivas ou, a meu ver, menos eficazes quando se trata de fazer com que o mercado seja um espa\u00e7o mais aberto e contest\u00e1vel. Mas vamos ver\u0022. euronews : \u0022 Um dos temas mais importantes para os europeus \u00e9 a quest\u00e3o dos valores e direitos. Os eurodeputados est\u00e3o a examinar o regulamento sobre Governa\u00e7\u00e3o de dados e consideram que esse regulamento deve ter em conta a privacidade, a transpar\u00eancia e o respeito pelos direitos fundamentais. Como encontrar esse equil\u00edbrio? Margrethe Vestager : \u0022O interesse do modelo europeu \u00e9 a possibilidade de definir uma linha de conduta a partir dos diferentes discursos e de aplic\u00e1-la \u00e0 vida quotidiana, porque, de outra forma, os discursos n\u00e3o produzem nada. Se queremos que as pessoas tenham a possibilidade de fazer valer os seus direitos e, ao mesmo tempo, permitir que nossa economia possa beneficiar dos dados produzidos, temos que encontrar um equil\u00edbrio e fazer distin\u00e7\u00f5es entre os diferentes tipos de dados.\u00a0 \u00c9 um ponto que pode parecer banal mas \u00e9 muito importante porque nem tudo s\u00e3o dados pessoais e nem todos os dados que foram anonimizados podem ser rastreados de modo a identificar o propriet\u00e1rio original desses dados. \u00c9 preciso ter em conta esse tipo de nuance nos debates para permitir uma configura\u00e7\u00e3o que nos d\u00ea confian\u00e7a, n\u00e3o apenas para quem fornece dados, mas tamb\u00e9m para as empresas que v\u00e3o us\u00e1-los de forma ativa, para que possam faz\u00ea-lo de forma segura do ponto de visto jur\u00eddico e seguir em frente com os seus processos inovadores\u0022. euronews : \u201cDisse-nos que uma coisa s\u00e3o as declara\u00e7\u00f5es da Comiss\u00e3o Europeia e outra coisa \u00e9 o que acontece no terreno. O que me leva \u00e0 pr\u00f3xima pergunta sobre a implementa\u00e7\u00e3o do regulamento sobre Prote\u00e7\u00e3o de Dados. Caber\u00e1 \u00e0s autoridades nacionais implement\u00e1-lo, mas os estudos mostraram que os pa\u00edses da Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o podem aplic\u00e1-lo adequadamente. O que est\u00e1 previsto para garantir uma supervis\u00e3o mais s\u00e9ria a esse n\u00edvel?\u201d Margrethe Vestager : \u201cN\u00f3s sabemos que h\u00e1 uma s\u00e9rie de diferen\u00e7as entre os Estados-Membros em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 aplica\u00e7\u00e3o dos direitos de privacidade porque observamos o terreno e trabalhamos em estreita colabora\u00e7\u00e3o com o Conselho Europeu de Prote\u00e7\u00e3o de Dados e com as autoridades nacionais o que permite partilhar as melhores pr\u00e1ticas o mais rapidamente poss\u00edvel, para vermos os efeitos na vida real de termos os mesmos direitos em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 privacidade. Como se trata de algo novo, foi implementado h\u00e1 dois anos, ainda h\u00e1 trabalho a fazer no que toca \u00e0 fase da implanta\u00e7\u00e3o. \u00c9 importante lembrar que \u00e9 fundamental termos a certeza, ao n\u00edvel da Comiss\u00e3o, que a legisla\u00e7\u00e3o proposta seja aprovada no parlamento e no conselho, que seja exequ\u00edvel, que pode ser aplicada na vida real, no terreno, para que n\u00e3o haja um compromisso que torne as coisas t\u00e3o complicadas ao ponto de n\u00e3o\u00a0 funcionarem na vida real\u0022. euronews : \u201cOs dados s\u00e3o necess\u00e1rios para o desenvolvimento da intelig\u00eancia artificial e, h\u00e1 apenas algumas semanas, fal\u00e1mos sobre isso na euronews e exp\u00f4s a sua proposta de regulamento europeu sobre a intelig\u00eancia artificial. Foram tr\u00eas anos de trabalho , houve uma boa rece\u00e7\u00e3o mas tamb\u00e9m cr\u00edticas de que a proposta \u00e9 vaga nalgumas \u00e1reas e cont\u00eam algumas lacunas. O que responde?\u0022 Margrethe Vestager : \u201c\u00c9 uma discuss\u00e3o muito importante que visa chegar a defini\u00e7\u00f5es legais para que toda a gente possa ter o mesmo entendimento do que \u00e9 proposto, se algum dia a quest\u00e3o chegar aos tribunais. O tribunal deve poder ter uma boa linha de racioc\u00ednio para n\u00e3o termos surpresas no futuro. Fizemos um grande esfor\u00e7o para criar uma defini\u00e7\u00e3o da intelig\u00eancia artificial que seja '\u00e0 prova do futuro', porque estamos perante um conjunto de tecnologias. E quando falamos na quest\u00e3o dos usos, a intelig\u00eancia artificial pode ser usada para prever eventos, para ajudar na tomada de decis\u00f5es, para encontrar padr\u00f5es. Por isso, em vez de nos concentramos na tecnologia em si devemos centrar-nos no que ela permite fazer\u0022. euronews : \u0022Pode lembrar aos nossos espectadores quais s\u00e3o as vantagens das sociedades centradas no uso de dados e nodesenvolvimento da intelig\u00eancia artificial, ao n\u00edvel da vida quotidiana\u0022. Margrethe Vestager: \u00a0\u0022\u00c9 um ponto que me entusiama bastante. Por exemplo, para fazer um diagn\u00f3stico de cancro, \u00e9 poss\u00edvel usar a intelig\u00eancia artificial para ajudar o m\u00e9dico a obter uma leitura mais detalhada dos v\u00e1rios testes sangu\u00edneos para obter um melhor diagn\u00f3stico, mais rapidamente, ara poder iniciar o tratamento, se necess\u00e1rio. Os dados podem ajudar a prever o curso da \u00e1gua para ajudar as pessoas a protegerem-se face \u00e0s consequ\u00eancia das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Podem ser \u00fateis para usar fertilizantes ou pesticidas na agricultura em fun\u00e7\u00e3o da qualidade do solo das condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. A intelig\u00eancia artificial pode ajudar o agricultor a minimizar o uso de fertilizantes e pesticidas. E h\u00e1 tamb\u00e9m exemplos banais como recomenda\u00e7\u00f5es de filmes ou de m\u00fasica. As vantagens incluem coisas vitais como obter um diagn\u00f3stico r\u00e1pido e preciso aspetos que se aplicam \u00e0 vida quotidiana e tudo o que se situa entre esses dois n\u00edveis. A intelig\u00eancia artificial j\u00e1 est\u00e1 presente e vai ar a fazer parte de quase tudo o que fazemos\u0022. euronews : \u201cQueria voltar \u00e0 quest\u00e3o do espa\u00e7o europeu de dados de sa\u00fade, porque obviamente a sa\u00fade est\u00e1 na mente de toda a gente este ano, devido \u00e0 pandemia. E toda a gente quer manter-se saud\u00e1vel. O que est\u00e1 previsto em rela\u00e7\u00e3o a esse espa\u00e7o e quando \u00e9 que se vai tornar numa realidade?\u0022 Margrethe Vestager : \u0022Penso que ainda vai demorar um pouco, porque em rela\u00e7\u00e3o ao espa\u00e7o dos dados de sa\u00fade, \u00e9 preciso uma abordagem muito espec\u00edfica, porque s\u00e3o os dados extremamente pessoais. \u00c9 muito importante fazer as coisas como deve ser para criar confian\u00e7a, para que as pessoas aceitem que os seus dados possam fazer parte de um espa\u00e7o de dados de sa\u00fade. Sabemos que a maioria dos europeus a quem a pergunta foi colocada afirma n\u00e3o estar interessada em partilhar dados de sa\u00fade, seja qual for o motivo. \u00c9 um aspeto sobre o qual \u00e9 preciso trabalhar para encontrar formas de as pessoas confiarem na seguran\u00e7a desse espa\u00e7o para podermos usar essas dados para encontrar os melhores tratamentos, prever o efeito de longo prazo de um tratamento, por exemplo, avaliar a diferen\u00e7a entre dois tratamentos diferentes da Covid 19, para melhorarmos os nossos sistemas de sa\u00fade. Todos os que trabalham nesta \u00e1rea avan\u00e7am de forma prudente . Vai ser preciso esperar alguns meses para podermos lan\u00e7ar este espa\u00e7o de dados\u0022. euronews :\u00a0 \u0022Que tipo de legado gostaria de deixar em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 batalha pelos dados globais, em termos de regulamenta\u00e7\u00e3o e de pol\u00edtica? Que marca quer deixar, quando terminar as suas fun\u00e7\u00f5es?\u0022 Margrethe Vestager : \u0022 Ainda tenho mais ou menos tr\u00eas anos e meio pela frente, vou concentrar-me no trabalho que tenho nas m\u00e3os e n\u00e3o na heran\u00e7a que poderei deixar. Quero fazer algo para que os cidad\u00e3os possam confiar nos mercados, para que os mercados estejam ao servi\u00e7o das pessoas, para que a tecnologia sirva os seres humanos, porque a integridade e a dignidade de cada pessoa est\u00e1 na base da democracia. \u00c9 o ponto de partida. E nisso que penso todos os dias quando me levanto de manh\u00e3, porque penso que \u00e9 a ess\u00eancia da nossa sociedade. E a tecnologia deve integr\u00e1-lo e o mercado deve integr\u00e1-lo. N\u00e3o somos apenas mat\u00e9ria-prima ou produtos. Os seres humanos devem estar no centro do mercado e da tecnologia\u0022. 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A Europa e a batalha global dos dados

A Europa e a batalha global dos dados
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De Méabh Mc Mahon
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A euronews entrevistou Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comissão Europeia responsável pelo digital, sobre a batalha global dos dados e o futuro enquadramento jurídico da Inteligência Artificial.

A euronews falou com Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comissão Europeia responsável pelo digital, sobre a batalha global dos dados e os novos regulamentos na área dos dados e da Inteligência Artificial

euronews: "Vamos falar da batalha global em torno dos dados. Muito obrigada por estar connosco".

Margrethe Vestager: “Os dados são melhores que o petróleo, porque são um recurso renovável. Podem ser gerados continuamente, usados e reutilizados. É uma questão muito atual numa altura em que queremos ter energias renováveis e uma economia circular”.

euronews: “A União Europeia está nessa batalha? Porquê e onde é que isso nos vai levar?”

Margrethe Vestager: “Posso dizer-vos que estamos na batalha, porque, enquanto falamos, estão a ser gerados dados, em todo o lado. E a Europa é um continente muito industrial onde o digital está em todo o lado, nas redes móveis, na electricidade, na agricultura, nos nossos sistemas de saúde. Recolhemos dados o tempo todo. E com esses dados, podemos melhorar as coisas, inovar e fortalecer os negócios. E, claro, também podemos usar esses dados para combater as alterações climáticas. É muito importante. É um assunto global porque também estamos num contexto geopolítico onde há muita rivalidade sistémica e competição económica, mas também uma necessidade de criar parcerias. Como devemos lidar com os dados, para permitir que possam fluir, se forem dados de confiança e como protegê-los se estivermos perante dados pessoais? É o caminho que temos pela frente, em termos de implementação prática e de elaboração de legislação".

É muito importante não subestimar a nossa Europa porque ainda somos responsáveis pelo maior número de patentes. A Europa possui um tecido vibrante de empresas inovadoras. A Europa não está a ficar para trás, mas a começar um novo e importante capítulo de digitalização.
Margrethe Vestager
vice-presidente executiva da Comissão Europeia responsável pelo digital

euronews: “Mas os Estados Unidos e a China estão a inovar muito rapidamente, a China em particular de forma muito agressiva. Quando é que a União Europeia vai recuperar o atraso? Porque a ideia de um mercado único de dados na União Europeia parece ser boa no papel mas é um pouco abstrata”.

Margrethe Vestager: “Penso que é muito importante não subestimar a nossa Europa porque ainda somos responsáveis pelo maior número de patentes. Porque a Europa possui um tecido vibrante de empresas inovadoras. A Europa não está a ficar para trás, mas a começar um novo e importante capítulo de digitalização, onde os dados fazem a diferença, porque estamos a falar de muito mais do que de dados provenientes de pesquisas ou de compras. São dados sobre o funcionamento do mundo real. O desafio é garantir que os dados sejam agrupados, partilhados e usados por boas razões. E em relação a este ponto é preciso agir porque as pequenas e médias empresas devem fazer parte deste processo. Para as empresas mais pequenas é mais difícil usar os próprios dados, em relação às grandes empresas que têm uma configuração diferente. Temos de tomar medidas específicas que correspondam ao contexto económico europeu para tirar o máximo partido desse contexto”.

euronews: “E as empresas? Vai haver incentivos para encorajá-las a partilhar dados porque as empresas têm-se mostrado muito relutantes em fazê-lo, não?”

Margrethe Vestager: Sim e penso que uma das razões pelas quais as empresas se mostram relutantes em partilhar dados é porque estão sempre a dizer-lhes que os dados valem uma fortuna. Podem não estar a usá-los mas se valem uma fortuna porque deveriam partilhá-los? Penso que falta clareza jurídica e clareza contratual. Por isso, estamos a trabalhar nos chamados espaços de dados. É basicamente uma metáfora para clarificar as obrigações contratuais para que os empresários se sintam seguros, e possam colocar os dados nesse espaço e retirar outros dados em segurança. E estamos a fazê-lo em várias áreas. O espaço mais atual neste momento é o espaço de dados de saúde, porque vimos, com a Covid 19, que era importante poder analisar dados de saúde, moléculas e o vírus em si. E isso envolve dados sobre o funcionamento das vacinas. E envolve também muito processamento de dados. Esses espaços de dados podem fazer com que as empresas se sintam mais confiantes no uso de dados para desenvolverem os seus negócios e os seus modelos de negócios e possam confiar muito mais na economia digital.

É preciso encontrar um modelo em que as pessoas não sejam obrigadas a partilhar dados, mas se quiserem fazê-lo, possam fazê-lo de transparente.
Margrethe Vestager
vice-presidente executiva da Comissão Europeia responsável pelo digital

euronews: E o regulamento sobre Governança de Dados que apresentou em novembro ado? Foi um primeiro o apresentado como uma alternativa à forma como os gigantes tecnológicos lidam com os dados e partilham dados. Fale-nos das suas preocupações e experiências com os gigantes da tecnologia. Como é que eles reagem e por que razão é importante fazer algo?"

Margrethe Vestager: "A questão que menciona é muito importante, é preciso encontrar um modelo em que as pessoas não sejam obrigadas a partilhar dados, mas se quiserem fazê-lo, possam fazê-lo de transparente. Um dos aspetos importantes do regulamento sobre a Governança de dados é que se trata de uma espécie de modelo para criar intermediários de modo a podermos ter um parceiro neutro para receber dados e para permitir que os dados sejam usados por outras entidades. E seria um intermediário que sabe que o enquadramento é o correto, porque há muita gente que se preocupa com as regras de privacidade ou com a proteção das patentes. Trata-se de um modelo diferente, mais dinâmico, porque permite que muitos mais pessoas participem na economia de dados, porque vemos que os gigantes tecnológicos acumulam muitos dados, o que torna muito difícil para outros atores obterem uma vantagem competitiva, porque quando uma empresa tem muitos dados tornar-se mais fácil para ela prever por exemplo, os padrões de procura dos clientes. Infelizmente, algumas grandes empresas usam os dados de uma forma que não respeita as regras da concorrência. Temos as conclusões preliminares do caso da Amazon que indicam que a Amazon permite à atividade de retalho da Amazon aceder aos dados de todos os comerciantes do marketplace Amazon sendo que esses comerciantes não têm o aos dados de alta qualidade sobre o comportamento do consumidor o que dá a atividade de retalho da Amazon uma vantagem sem precedentes. É preciso legislação, uma lei de Governança, uma Lei sobre Dados, que virá mais tarde, mas é preciso também aplicar a lei da concorrência para garantir que a economia de dados possa benficiar toda a gente".

euronews: "Mencionou a lei sobre os dados que virá mais tarde. Já falaremos sobre isso, mas antes, uma questão sobre os gigantes tecnológicos. Empresas como a Facebook, a Google, têm se acaparado dos nossos dados nos últimos três anos, o que lhes está a dar benefícios económicos. O regulamento sobre Governança de Dados e as informações que a Comissão deverá fornecer mais tarde são uma forma de recuperar o atraso?”

Margrethe Vestager: “Irá dar lugar a um modelo diferente e a uma forma diferente de governança dos dados. E, ao mesmo tempo, penso que começamos a despertar para a necessidade de cuidarmos dos nossos próprios dados, dados pessoais ou dados que não são pessoais, desde que não sejam mal usados. É muito importante, por exemplo, um fornecedor de serviços digitais perguntar às pessoas se aceitam que a aplicação continue a seguir o que a pessoa faz mesmo quando não está a usar ativamente a aplicação, de forma a que as pessoas possam facilmente fazer escolhas em relação aos seus direitos, de modo a reforçar os direitos sobre a propriedade dos dados, mas também para que a pessoa possa ter a certeza sobre o que deve fazer na Internet e distinguir entre dados pessoais, que têm uma governança própria e os dados industriais. No caso dos dados industriais, há um conjunto completamente diferente de possibilidades, porque não precisamos de ter as mesmas preocupações que em relação aos dados pessoais. E nesse campo estamos a avançar o mais rapidamente possível”.

Se queremos que as pessoas tenham a possibilidade de fazer valer os seus direitos e, ao mesmo tempo, permitir que nossa economia possa beneficiar dos dados produzidos, temos que encontrar um equilíbrio e fazer distinções entre os diferentes tipos de dados.
Margrethe Vestager
vice-presidente executiva da Comissão Europeia responsável pelo digital

euronews: "Obteve alguma reação a essas propostas por parte dos gigantes tecnológicos?"

Margrethe Vestager: “Não muito. Penso que ainda é cedo. No início de cada processo de deliberação do Parlamento Europeu e do Conselho costuma haver uma abordagem positiva e depois vemos que há esforços para tornar as propostas menos intrusivas ou, a meu ver, menos eficazes quando se trata de fazer com que o mercado seja um espaço mais aberto e contestável. Mas vamos ver".

euronews: "Um dos temas mais importantes para os europeus é a questão dos valores e direitos. Os eurodeputados estão a examinar o regulamento sobre Governação de dados e consideram que esse regulamento deve ter em conta a privacidade, a transparência e o respeito pelos direitos fundamentais. Como encontrar esse equilíbrio?

Margrethe Vestager: "O interesse do modelo europeu é a possibilidade de definir uma linha de conduta a partir dos diferentes discursos e de aplicá-la à vida quotidiana, porque, de outra forma, os discursos não produzem nada. Se queremos que as pessoas tenham a possibilidade de fazer valer os seus direitos e, ao mesmo tempo, permitir que nossa economia possa beneficiar dos dados produzidos, temos que encontrar um equilíbrio e fazer distinções entre os diferentes tipos de dados. É um ponto que pode parecer banal mas é muito importante porque nem tudo são dados pessoais e nem todos os dados que foram anonimizados podem ser rastreados de modo a identificar o proprietário original desses dados. É preciso ter em conta esse tipo de nuance nos debates para permitir uma configuração que nos dê confiança, não apenas para quem fornece dados, mas também para as empresas que vão usá-los de forma ativa, para que possam fazê-lo de forma segura do ponto de visto jurídico e seguir em frente com os seus processos inovadores".

euronews: “Disse-nos que uma coisa são as declarações da Comissão Europeia e outra coisa é o que acontece no terreno. O que me leva à próxima pergunta sobre a implementação do regulamento sobre Proteção de Dados. Caberá às autoridades nacionais implementá-lo, mas os estudos mostraram que os países da União Europeia não podem aplicá-lo adequadamente. O que está previsto para garantir uma supervisão mais séria a esse nível?”

Margrethe Vestager: “Nós sabemos que há uma série de diferenças entre os Estados-Membros em relação à aplicação dos direitos de privacidade porque observamos o terreno e trabalhamos em estreita colaboração com o Conselho Europeu de Proteção de Dados e com as autoridades nacionais o que permite partilhar as melhores práticas o mais rapidamente possível, para vermos os efeitos na vida real de termos os mesmos direitos em relação à privacidade. Como se trata de algo novo, foi implementado há dois anos, ainda há trabalho a fazer no que toca à fase da implantação. É importante lembrar que é fundamental termos a certeza, ao nível da Comissão, que a legislação proposta seja aprovada no parlamento e no conselho, que seja exequível, que pode ser aplicada na vida real, no terreno, para que não haja um compromisso que torne as coisas tão complicadas ao ponto de não  funcionarem na vida real".

Fizemos um grande esforço para criar uma definição da inteligência artificial que seja 'à prova do futuro', porque estamos perante um conjunto de tecnologias. A inteligência artificial pode ser usada para prever eventos, para ajudar na tomada de decisões, para encontrar padrões. Por isso, em vez de nos concentramos na tecnologia em si devemos centrar-nos no que ela permite fazer.
Margrethe Vestager
vice-presidente executiva da Comissão Europeia responsável pelo digital

euronews: “Os dados são necessários para o desenvolvimento da inteligência artificial e, há apenas algumas semanas, falámos sobre isso na euronews e expôs a sua proposta de regulamento europeu sobre a inteligência artificial. Foram três anos de trabalho , houve uma boa receção mas também críticas de que a proposta é vaga nalgumas áreas e contêm algumas lacunas. O que responde?"

Margrethe Vestager: “É uma discussão muito importante que visa chegar a definições legais para que toda a gente possa ter o mesmo entendimento do que é proposto, se algum dia a questão chegar aos tribunais. O tribunal deve poder ter uma boa linha de raciocínio para não termos surpresas no futuro. Fizemos um grande esforço para criar uma definição da inteligência artificial que seja 'à prova do futuro', porque estamos perante um conjunto de tecnologias. E quando falamos na questão dos usos, a inteligência artificial pode ser usada para prever eventos, para ajudar na tomada de decisões, para encontrar padrões. Por isso, em vez de nos concentramos na tecnologia em si devemos centrar-nos no que ela permite fazer".

euronews: "Pode lembrar aos nossos espectadores quais são as vantagens das sociedades centradas no uso de dados e nodesenvolvimento da inteligência artificial, ao nível da vida quotidiana".

Margrethe Vestager: "É um ponto que me entusiama bastante. Por exemplo, para fazer um diagnóstico de cancro, é possível usar a inteligência artificial para ajudar o médico a obter uma leitura mais detalhada dos vários testes sanguíneos para obter um melhor diagnóstico, mais rapidamente, ara poder iniciar o tratamento, se necessário. Os dados podem ajudar a prever o curso da água para ajudar as pessoas a protegerem-se face às consequência das alterações climáticas. Podem ser úteis para usar fertilizantes ou pesticidas na agricultura em função da qualidade do solo das condições climáticas. A inteligência artificial pode ajudar o agricultor a minimizar o uso de fertilizantes e pesticidas. E há também exemplos banais como recomendações de filmes ou de música. As vantagens incluem coisas vitais como obter um diagnóstico rápido e preciso aspetos que se aplicam à vida quotidiana e tudo o que se situa entre esses dois níveis. A inteligência artificial já está presente e vai ar a fazer parte de quase tudo o que fazemos".

euronews: “Queria voltar à questão do espaço europeu de dados de saúde, porque obviamente a saúde está na mente de toda a gente este ano, devido à pandemia. E toda a gente quer manter-se saudável. O que está previsto em relação a esse espaço e quando é que se vai tornar numa realidade?"

Margrethe Vestager: "Penso que ainda vai demorar um pouco, porque em relação ao espaço dos dados de saúde, é preciso uma abordagem muito específica, porque são os dados extremamente pessoais. É muito importante fazer as coisas como deve ser para criar confiança, para que as pessoas aceitem que os seus dados possam fazer parte de um espaço de dados de saúde. Sabemos que a maioria dos europeus a quem a pergunta foi colocada afirma não estar interessada em partilhar dados de saúde, seja qual for o motivo. É um aspeto sobre o qual é preciso trabalhar para encontrar formas de as pessoas confiarem na segurança desse espaço para podermos usar essas dados para encontrar os melhores tratamentos, prever o efeito de longo prazo de um tratamento, por exemplo, avaliar a diferença entre dois tratamentos diferentes da Covid 19, para melhorarmos os nossos sistemas de saúde. Todos os que trabalham nesta área avançam de forma prudente . Vai ser preciso esperar alguns meses para podermos lançar este espaço de dados".

euronews: "Que tipo de legado gostaria de deixar em relação à batalha pelos dados globais, em termos de regulamentação e de política? Que marca quer deixar, quando terminar as suas funções?"

Margrethe Vestager: "Ainda tenho mais ou menos três anos e meio pela frente, vou concentrar-me no trabalho que tenho nas mãos e não na herança que poderei deixar. Quero fazer algo para que os cidadãos possam confiar nos mercados, para que os mercados estejam ao serviço das pessoas, para que a tecnologia sirva os seres humanos, porque a integridade e a dignidade de cada pessoa está na base da democracia. É o ponto de partida. E nisso que penso todos os dias quando me levanto de manhã, porque penso que é a essência da nossa sociedade. E a tecnologia deve integrá-lo e o mercado deve integrá-lo. Não somos apenas matéria-prima ou produtos. Os seres humanos devem estar no centro do mercado e da tecnologia".

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