{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2020/09/26/hungria-considera-novo-pacto-uma-vitoria-de-orban" }, "headline": "Hungria considera novo Pacto uma \u0022vit\u00f3ria de Orb\u00e1n\u0022 ", "description": "A Euronews foi ouvir representantes de tr\u00eas vis\u00f5es diferentes do Pacto para a Imigra\u00e7\u00e3o e Asilo, proposto pela Comiss\u00e3o Europeia: a dos pa\u00edses que lidam com as chegadas; a dos pa\u00edses relutantes em aceitar refugiados; e a das organiza\u00e7\u00f5es que se encontram na linha da frente", "articleBody": "Com as imagens do campo de refugiados de Moria em chamas presentes na mem\u00f3ria coletiva, o novo Pacto para a Imigra\u00e7\u00e3o e Asilo da Comiss\u00e3o Europeia ganhou uma import\u00e2ncia ainda mais urgente. A abordagem de Bruxelas mudou: mais controlos, mais repatria\u00e7\u00f5es e o fim das quotas de refugiados. A nova pol\u00edtica de imigra\u00e7\u00e3o veio para ultraar as divis\u00f5es entre os Estados membros, mas continua a gerar controv\u00e9rsia. Nesta edi\u00e7\u00e3o do The Global Conversation a Euronews convidou representantes de tr\u00eas vis\u00f5es diferentes: a dos pa\u00edses que lidam com as chegadas; a dos pa\u00edses relutantes em aceitar refugiados; e a das organiza\u00e7\u00f5es que se encontram na linha da frente. Uma proposta menos ambiciosa ou mais realista? No Parlamento Europeu, os eurodeputados v\u00e3o agora analisar a proposta da Comiss\u00e3o para o novo Pacto. Uma das pessoas respons\u00e1veis pela an\u00e1ise \u00e9 Miriam Dalli, eurodeputada socialista de Malta, um dos pa\u00edses da linha da frente para a chegada e rece\u00e7\u00e3o de migrantes. Euronews (E): Qual \u00e9 a sua impress\u00e3o da proposta da Comiss\u00e3o como um todo? Miriam Dalli (MD): Tenho de ser muito honesta convosco. Sou cautelosa, porque gostaria de ver como vamos garantir que as coisas que estamos a ouvir da Comiss\u00e3o sejam efectivamente transformadas em legisla\u00e7\u00e3o, mas depois executadas de facto. Na introdu\u00e7\u00e3o, disse que os membros do Parlamento Europeu v\u00e3o analisar os detalhes deste pacote. E tem toda a raz\u00e3o. Porque, sabe, dizem que o diabo est\u00e1 nos detalhes e s\u00e3o os detalhes que v\u00e3o fazer a diferen\u00e7a. E: Analisemos as diferentes propostas que est\u00e3o no plano. Querem aumentar o retorno dos migrantes econ\u00f3micos. Pensa que um pa\u00eds como o seu, Malta, pode lidar com um processo que prev\u00ea uma decis\u00e3o no prazo de 12 semanas? MD: Falo sobre o meu pa\u00eds, mas esta \u00e9 tamb\u00e9m a experi\u00eancia dos pa\u00edses-membros da linha da frente. O que o meu pa\u00eds enfrenta \u00e9 uma situa\u00e7\u00e3o semelhante \u00e0 que a It\u00e1lia enfrenta, \u00e0 que a Espanha enfrenta, \u00e0 que a Gr\u00e9cia enfrenta. Refere os retornos, mas ligado a esses retornos est\u00e1 tamb\u00e9m o processo de rastreio que tem de ser feito. N\u00e3o \u00e9 realmente claro onde \u00e9 que o processo de rastreio ter\u00e1 de ser feito. O meu entendimento, tal como as coisas est\u00e3o hoje e pelo que vi, \u00e9 que ser\u00e1 provavelmente da responsabilidade dos pa\u00edses da linha da frente. Isso vai continuar a colocar muito mais responsabilidade e peso nos pa\u00edses da linha da frente. Algo que eu pr\u00f3pria e as pessoas que acreditam na solidariedade pensamos que precisa de ser abordado. N\u00e3o faz sentido, na medida em que se quisermos ser solid\u00e1rios e ajudar os pa\u00edses da linha da frente, n\u00e3o podemos continuar a colocar mais press\u00e3o sobre eles. E: Falemos de solidariedade, porque a Comiss\u00e3o quer que seja obrigat\u00f3ria. Alguns pa\u00edses aceitar\u00e3o refugiados e outros pa\u00edses pagar\u00e3o ou financiar\u00e3o a repatria\u00e7\u00e3o dos requerentes de asilo que sejam rejeitados. Pensa que a solidariedade pode ser for\u00e7ada? MD: A solidariedade \u00e9 um princ\u00edpio da Uni\u00e3o Europeia. Por isso, deve um o natural, para que todos os Estados-membros enfrentem este desafio em conjunto. Quando estamos a juntar acolhimento e retorno, \u00e9 um o na direc\u00e7\u00e3o certa. Porque, sejamos muito honestos, temos at\u00e9 hoje pa\u00edses que n\u00e3o querem assumir qualquer responsabilidade. Creio que a Comiss\u00e3o Europeia fez a proposta com esta ideia que, para estes pa\u00edses, provavelmente seria muito mais f\u00e1cil patrocinar os retornos. Mas tamb\u00e9m preciso de compreender como \u00e9 que isto vai funcionar para aliviar os problemas e os pa\u00edses da linha da frente. H\u00e1 outra quest\u00e3o: e se todos os Estados-membros optarem pelo patroc\u00ednio de retornos, mas n\u00e3o escolherem o acolhimento ou se o pouco acolhimento existente for ainda mais reduzido? E: Vamos falar sobre os pa\u00edses de origem e de tr\u00e2nsito. A Uni\u00e3o Europeia j\u00e1 assinou acordos com pelo menos 20 pa\u00edses. Mas isto nem sempre est\u00e1 a funcionar. Como \u00e9 que isto poderia ser melhorado? MD: Acredito firmemente que precisamos de trabalhar com esses pa\u00edses. A Comiss\u00e3o Europeia est\u00e1 a dizer que quer dar aten\u00e7\u00e3o aos pa\u00edses de origem para garantir que os problemas nos pa\u00edses de onde os migrantes v\u00eam s\u00e3o tidos em conta. H\u00e1 muito tempo que ou\u00e7o isto. Espero que haja propostas verdadeiramente fortes que possam abordar essa quest\u00e3o e que tamb\u00e9m abordem as redes criminosas. Se h\u00e1 algo sobre o qual pouco se tem feito, s\u00e3o as redes criminosas E: D\u00ea-me um exemplo de como podemos lidar melhor com estes pa\u00edses. MD: Penso que precisamos de fazer parcerias com eles e muito para al\u00e9m das pol\u00edticas que est\u00e3o relacionadas com a migra\u00e7\u00e3o. Se estamos a falar muito em ter uma economia mais verde, porque n\u00e3o alargar esta pol\u00edtica para fora da Uni\u00e3o Europeia e olhar para esses pa\u00edses como nossos parceiros. Parceiros econ\u00f3micos que nos podem ajudar e garantir que podemos refor\u00e7ar as suas economias. E como parceiros, juntos, come\u00e7amos a lidar com a quest\u00e3o da migra\u00e7\u00e3o. E: Nesta fase, o Pacto \u00e9 uma proposta. Que mudan\u00e7as; que mudan\u00e7as concretas gostaria de ver nela? MD: Por exemplo, o Pacto fala de um novo coordenador para os retornos, mas n\u00e3o existe um coordenador para a recoloca\u00e7\u00e3o. Gostaria de ver isso introduzido para garantir que damos o mesmo peso ao acolhimento e aos retornos. Como vamos garantir que o controlo fronteiri\u00e7o n\u00e3o coloca a responsabilidade apenas nos Estados-membros que est\u00e3o na linha da frente. \u00c9 preciso encontrar propostas que possam garantir que todos os pa\u00edses se empenhem para que n\u00e3o seja apenas o local da primeira chegada a lidar com isto. E: Mas tem a impress\u00e3o de que foram feitas demasiadas concess\u00f5es a populistas ou a pa\u00edses como a Hungria ou a Pol\u00f3nia que pediam pol\u00edticas mais duras? MD: J\u00e1 foram feitas demasiadas concess\u00f5es? At\u00e9 agora, tivemos propostas que tentaram n\u00e3o fazer demasiadas concess\u00f5es. E como cidad\u00e3 de um Estado-membro da linha da frente, posso dizer-lhe que n\u00e3o funcionaram realmente. Penso que o que a Comiss\u00e3o est\u00e1 a tentar fazer \u00e9 tentar juntar todos os diferentes Estados-membros. Eu, por exemplo, sou totalmente a favor da deslocaliza\u00e7\u00e3o obrigat\u00f3ria, mas isso n\u00e3o est\u00e1 a acontecer. Novo Pacto \u00e9 \u0022vit\u00f3ria de Viktor Orb\u00e1n\u0022 O eurodeputado Bal\u00e1zs Hidv\u00e9ghi representa no Parlamento europeu o partido no poder na Hungria. O governo de Viktor Orb\u00e1n tem liderado o discurso anti-migra\u00e7\u00e3o em Bruxelas e colhe agora este Pacto como uma vit\u00f3ria. Euronews (E): Que primeira avalia\u00e7\u00e3o faz ao novo pacote da Comiss\u00e3o Europeia? Bal\u00e1zs Hidv\u00e9ghi (BH): Bem, a primeira avalia\u00e7\u00e3o \u00e9 que parece conter alguns elementos novos que parecem ser um o na dire\u00e7\u00e3o certa. Sublinha uma necessidade estrita de proteger as fronteiras externas. Fala muito sobre o retorno das pessoas que n\u00e3o t\u00eam o direito de permanecer na Uni\u00e3o Europeia. Por outro lado, ainda fala da migra\u00e7\u00e3o como algo desej\u00e1vel, ainda fala de uma migra\u00e7\u00e3o que deve ser gerida... E algo que falta, no nosso ponto de vista, \u00e9 a perspetiva clara de que os pedidos das pessoas precisam de ser geridos ou devem ser geridos fora da Uni\u00e3o Europeia em vez de deixar as pessoas entrar e depois lev\u00e1-las para todo o tipo de lugares, por vezes perdendo-as para fora do radar das autoridades. E: Mas n\u00e3o se pode simplesmente parar a migra\u00e7\u00e3o para a Europa. Esta \u00e9 a realidade. Como se poderia parar completamente a migra\u00e7\u00e3o, por exemplo, na fronteira mar\u00edtima? BH: A Hungria tem demonstrado nos \u00faltimos cinco anos que uma fronteira externa pode ser protegida, pode ser defendida, se houver vontade pol\u00edtica. Cri\u00e1mos, constru\u00edmos uma veda\u00e7\u00e3o de fronteira. Aument\u00e1mos os patrulhamentos. A pol\u00edcia, os guardas de fronteira est\u00e3o l\u00e1 e essa fronteira j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 uma fronteira que os migrantes ilegais estejam a atravessar. Agora, eu sei que uma fronteira mar\u00edtima \u00e9 muito mais dif\u00edcil, \u00e9 um tipo de fronteira diferente. Mas, sabe, n\u00e3o \u00e9 aceit\u00e1vel dizer-se que uma fronteira mar\u00edtima, s\u00f3 porque est\u00e1 no mar, \u00e9 imposs\u00edvel de defender. \u00c9 claro que seria poss\u00edvel defend\u00ea-la. A It\u00e1lia mostrou-o quando o Sr. Salvini era Ministro do Interior. E: O Primeiro-Ministro Viktor Orb\u00e1n tem vindo a lutar contra as quotas de realojamento obrigat\u00f3rias nos \u00faltimos cinco anos. E estas quotas est\u00e3o agora fora do pacote. Isso \u00e9 para si uma vit\u00f3ria? BH: Em certa parte, sim. Penso que Viktor Orb\u00e1n, o primeiro-ministro, foi o primeiro a dizer que isso n\u00e3o era aceit\u00e1vel. Desde a\u00ed n\u00e3o foi criada uma solu\u00e7\u00e3o, n\u00e3o se contribuiu para um acordo comum. Pelo contr\u00e1rio, pressionar e for\u00e7ar o acolhimento obrigat\u00f3rio apenas criou uma divis\u00e3o cada vez mais profunda dentro da Uni\u00e3o Europeia. \u00c9 claro que esse n\u00e3o \u00e9 o caminho a seguir. Portanto, se este novo Pacto sobre migra\u00e7\u00e3o finalmente aceitar essa realidade, isso \u00e9 um bom desenvolvimento. E \u00e9 em certa medida, sim, uma vit\u00f3ria de Viktor Orb\u00e1n. E: Como \u00e9 que a Hungria demonstraria solidariedade para com a It\u00e1lia e a Gr\u00e9cia? BH: Solidariedade com a falta de controlo nas fronteiras? N\u00e3o. Solidariedade com os contrabandistas de seres humanos e com as ONG que cooperam? N\u00e3o. Fora de quest\u00e3o. A prote\u00e7\u00e3o eficaz de uma fronteira externa da Uni\u00e3o Europeia \u00e9 uma forma de mostrar solidariedade para com os colegas europeus. E tamb\u00e9m, nesta nova proposta, eles falam de patrocinar o retorno. Agora, tanto quanto entendo o texto e a proposta, os pa\u00edses que n\u00e3o aceitam o acolhimento de migrantes ilegais ou migrantes podem contribuir para o esfor\u00e7o conjunto patrocinando e gerindo o retorno de pessoas que n\u00e3o t\u00eam direito a permanecer na Europa; que n\u00e3o s\u00e3o refugiados e que precisam de partir, mas que n\u00e3o o fizeram nos \u00faltimos dois anos. Veremos nas negocia\u00e7\u00f5es se isso \u00e9 algo para que vamos contribuir. Penso que o faremos. E: que tipo de ajuda oferece a Hungria ao povo de Moria? BH: Penso que as pessoas nestes campos, em Moria e noutros locais, as pessoas nos barcos no Mar Mediterr\u00e2neo, as pessoas que est\u00e3o a pagar tudo o que t\u00eam aos contrabandistas de seres humanos para tentarem vir para a Europa, s\u00e3o v\u00edtimas. E n\u00f3s temos simpatia por essas pessoas, obviamente. Mas s\u00e3o v\u00edtimas porque lhes foram dados os sinais errados da Uni\u00e3o Europeia. Muitas pessoas pensam, nessas zonas do Norte de \u00c1frica e do M\u00e9dio Oriente, que a \u00fanica coisa que t\u00eam de fazer \u00e9 entrar de alguma forma no territ\u00f3rio da Uni\u00e3o Europeia. Que se o fizerem, n\u00e3o h\u00e1 problema, e poder\u00e3o ficar aqui o tempo que quiserem. E esta tem sido, de facto, a realidade ao longo dos \u00faltimos cinco anos, mas isso \u00e9 errado. A Europa n\u00e3o \u00e9 capaz de acolher o mundo inteiro aqui na Uni\u00e3o Europeia. Isto \u00e9 contra a vontade do povo europeu. E a migra\u00e7\u00e3o \u00e9 algo que, no fim de contas, deve continuar a ser compet\u00eancia dos Estados-membros. E: Mas a Hungria n\u00e3o \u00e9 contra aceitar refugiados? BH: Claro que n\u00e3o. Temos sido muito claros quanto a isso. E as pessoas que t\u00eam direito ao estatuto de refugiado, tamb\u00e9m obtiveram o estatuto de refugiado na Hungria. Isso n\u00e3o \u00e9 um debate. O debate \u00e9 realmente sobre a migra\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica ilegal em massa. Isso n\u00e3o \u00e9 aceit\u00e1vel. Isso tem de ser travado. E: A Hungria tem sido fortemente criticada pelo tratamento de refugiados e migrantes nas fronteiras e zonas de tr\u00e2nsito. Qual \u00e9 a sua rea\u00e7\u00e3o a esta cr\u00edtica? BH: Rejeito categoricamente qualquer opini\u00e3o em que se diga que foi desumana ou desrespeitadora do povo ou incorreta. Era, em todos os aspetos, uma forma correta de ter as pessoas algures durante o tempo em que os seus pedidos eram tratados. O pacto migrat\u00f3rio tamb\u00e9m fala agora da necessidade de acelerar o tempo e a decis\u00e3o sobre esse tipo de pedidos. Veremos se isso ser\u00e1 poss\u00edvel. Prefer\u00edamos algo semelhante ao que era a zona de tr\u00e2nsito h\u00fangara, ter zonas de perigo fora do territ\u00f3rio da Uni\u00e3o Europeia que as pessoas possam saber com certeza e com clareza se t\u00eam o direito de vir para a Europa ou n\u00e3o. ONG tem d\u00favidas sobre a concretiza\u00e7\u00e3o do novo Pacto Na Europa h\u00e1 pessoas que conhecem bem a migra\u00e7\u00e3o porque a t\u00eam acompanhado de muito perto. A ag\u00eancia Proactiva Open Arms resgatou milhares de migrantes em alto mar. E ou in\u00fameras horas \u00e0 espera de um porto europeu para autorizar os seus desembarques. Oscar Camps, fundador e diretor da organiza\u00e7\u00e3o, espera pelo dia em que o trabalho que fazem no Mediterr\u00e2neo n\u00e3o seja necess\u00e1rio, mas tem duvidas que isso venha a acontecer em breve. Euronews (E): A Comiss\u00e3o Europeia apresentou um Pacto para a Imigra\u00e7\u00e3o e Asilo. O que pensa sobre ele? Pode fazer a diferen\u00e7a? Oscar Camps (OC): N\u00e3o parece um bom come\u00e7o, porque formaliza as pol\u00edticas xen\u00f3fobas existentes, externaliza a responsabilidade, especialmente nos centros de deten\u00e7\u00e3o em territ\u00f3rio l\u00edbio. Esta proposta fala em refor\u00e7ar as deporta\u00e7\u00f5es, mas n\u00e3o fala em refor\u00e7ar os salvamentos humanit\u00e1rios, de todo. E: A Comiss\u00e1ria para o Interior, Ylva Johansson, fez uma alus\u00e3o \u00e0s opera\u00e7\u00f5es de salvamento. Disse esperar que existam menos navios como o seu no Mediterr\u00e2neo. Ela pensa que j\u00e1 n\u00e3o ser\u00e1 necess\u00e1rio, porque as novas medidas desempenhar\u00e3o um papel dissuasor, de modo que, os migrantes deixar\u00e3o de vir para a Europa porque sabem que ser\u00e3o expulsos. Acha que \u00e9 realista? OC: Desejo que n\u00e3o seja necess\u00e1rio estarmos no mar. Nem n\u00f3s, nem outras ONG, nem qualquer outro navio humanit\u00e1rio. Porque isso significaria que a Uni\u00e3o Europeia tomou a seu cargo as opera\u00e7\u00f5es de salvamento, quer por uma miss\u00e3o militar, uma miss\u00e3o civil, ou mesmo pela Guarda Costeira Europeia. Enquanto n\u00e3o for esse o caso, \u00e9 evidente que ter\u00e3o de tolerar a nossa presen\u00e7a como observadores e como testemunhas do que est\u00e1 realmente a acontecer; de como as conven\u00e7\u00f5es internacionais sobre direitos humanos e as leis mar\u00edtimas internacionais est\u00e3o a ser violadas. N\u00e3o s\u00f3 por Malta, mas tamb\u00e9m pela chamada guarda costeira l\u00edbia. E: A Comiss\u00e3o prop\u00f5e igualmente assumir a responsabilidade da coordena\u00e7\u00e3o das opera\u00e7\u00f5es de salvamento para assegurar que os desembarques sejam mais bem preparados. O que pensa desta proposta? OC: Bem, durante 2016 e 2017, todas as opera\u00e7\u00f5es de resgate foram coordenadas pela Guarda Costeira Italiana e, por vezes, pela Frontex. Ambas as ag\u00eancias coordenaram os desembarques e a transfer\u00eancia (dos migrantes) dos navios das organiza\u00e7\u00f5es humanit\u00e1rias para os navios oficiais. Os desembarques foram todos coordenados e houve alguma ordem. Por coincid\u00eancia, a partir de Mar\u00e7o de 2018, ap\u00f3s as elei\u00e7\u00f5es em It\u00e1lia, tudo isto mudou. Agora, ningu\u00e9m coordena os salvamentos, nem as ac\u00e7\u00f5es humanit\u00e1rias, nem os desembarques. Tudo se tornou um pesadelo, devido \u00e0 espera e ao sofrimento prolongado e desnecess\u00e1rio das pessoas que est\u00e3o a ser resgatadas no mar. Se estas medidas puderem contribuir para acelerar a obten\u00e7\u00e3o de um porto seguro para desembarcar e para assegurar que estas pessoas sejam imediatamente atendidas, ser\u00e3o bem-vindas. E: O que pensa sobre os acordos com pa\u00edses terceiros. Ser\u00e1 que funcionam? Acha que s\u00e3o vi\u00e1veis? Com que pa\u00edses \u00e9 poss\u00edvel negociar? Por exemplo, em \u00c1frica. OC: Tenho muitas d\u00favidas sobre a ideia da externaliza\u00e7\u00e3o. Temos outros pontos de vista. Pensamos que a solu\u00e7\u00e3o est\u00e1 no ponto de origem. Precisamos de pa\u00edses seguros, onde os cidad\u00e3os se sintam seguros. Isso ir\u00e1 obviamente evitar muitos fluxos migrat\u00f3rios. Se acabarmos com os conflitos, acabaremos tamb\u00e9m com uma grande parte do fluxo migrat\u00f3rio. Externalizar fronteiras, pagar a pa\u00edses terceiros para fazer o trabalho sujo, pagar \u00e0 L\u00edbia para ter centros de deten\u00e7\u00e3o ilegais onde se pratica tortura, extors\u00e3o e viola\u00e7\u00f5es de todos os direitos, n\u00e3o me parece uma boa solu\u00e7\u00e3o. E: H\u00e1 alguns anos, organiza\u00e7\u00f5es como a sua eram consideradas como anjos da guarda. Havia uma imagem positiva. Em vez disso, agora h\u00e1 agora uma tend\u00eancia para vos rotular como criminosos. De facto, a sua ONG, e at\u00e9 alguns dos membros da sua tripula\u00e7\u00e3o, teve em problemas com a lei. O que aconteceu? OC: Bem, \u00e1mos de cidad\u00e3os europeus altamente respeitados a perseguidos. Perseguidos, extorquidos, raptados, alvejados ou amea\u00e7ados em \u00e1guas internacionais. E tudo \u00e9 obviamente uma campanha de difama\u00e7\u00e3o. Porque, de um ponto de vista judicial, nada pode ser feito. Estamos simplesmente a respeitar as conven\u00e7\u00f5es internacionais e o Direito mar\u00edtimo. E: Para concluirmos, o Pacto que foi apresentado em Bruxelas \u00e9 uma proposta que ainda tem de ser debatida antes de ser aprovada no Parlamento e pelos Estados-Membros. O que deve ser alterado neste texto? OC: Recordo \u00e0 presidente da Comiss\u00e3o Europeia as palavras do seu pr\u00f3prio discurso: o salvamento no mar n\u00e3o \u00e9 opcional. Mas no texto da proposta, ela quase n\u00e3o menciona o resgate humanit\u00e1rio. Obviamente que as 30 mil mortes que tivemos nos \u00faltimos cinco anos devem ser tidas em considera\u00e7\u00e3o. \u00c9 evidente que precisamos de uma opera\u00e7\u00e3o de salvamento como a que realiz\u00e1mos em 2014. 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Hungria considera novo Pacto uma "vitória de Orbán"

Hungria considera novo Pacto uma "vitória de Orbán"
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De Teresa Bizarro & Ana Lázaro e Sandor Zsiros
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A Euronews foi ouvir representantes de três visões diferentes do Pacto para a Imigração e Asilo, proposto pela Comissão Europeia: a dos países que lidam com as chegadas; a dos países relutantes em aceitar refugiados; e a das organizações que se encontram na linha da frente

Com as imagens do campo de refugiados de Moria em chamas presentes na memória coletiva, o novo Pacto para a Imigração e Asilo da Comissão Europeia ganhou uma importância ainda mais urgente. A abordagem de Bruxelas mudou: mais controlos, mais repatriações e o fim das quotas de refugiados.

A nova política de imigração veio para ultraar as divisões entre os Estados membros, mas continua a gerar controvérsia.

Nesta edição do The Global Conversation a Euronews convidou representantes de três visões diferentes: a dos países que lidam com as chegadas; a dos países relutantes em aceitar refugiados; e a das organizações que se encontram na linha da frente.

"Sejamos muito honestos, temos até hoje países que não querem assumir qualquer responsabilidade"
Miriam Dalli
Eurodeputada socialista, Malta

Uma proposta menos ambiciosa ou mais realista?

No Parlamento Europeu, os eurodeputados vão agora analisar a proposta da Comissão para o novo Pacto. Uma das pessoas responsáveis pela anáise é Miriam Dalli, eurodeputada socialista de Malta, um dos países da linha da frente para a chegada e receção de migrantes.

Euronews
Miriam DalliEuronews

Euronews (E): Qual é a sua impressão da proposta da Comissão como um todo?

Miriam Dalli (MD): Tenho de ser muito honesta convosco. Sou cautelosa, porque gostaria de ver como vamos garantir que as coisas que estamos a ouvir da Comissão sejam efectivamente transformadas em legislação, mas depois executadas de facto. Na introdução, disse que os membros do Parlamento Europeu vão analisar os detalhes deste pacote. E tem toda a razão. Porque, sabe, dizem que o diabo está nos detalhes e são os detalhes que vão fazer a diferença.

E: Analisemos as diferentes propostas que estão no plano. Querem aumentar o retorno dos migrantes económicos. Pensa que um país como o seu, Malta, pode lidar com um processo que prevê uma decisão no prazo de 12 semanas?

MD: Falo sobre o meu país, mas esta é também a experiência dos países-membros da linha da frente. O que o meu país enfrenta é uma situação semelhante à que a Itália enfrenta, à que a Espanha enfrenta, à que a Grécia enfrenta. Refere os retornos, mas ligado a esses retornos está também o processo de rastreio que tem de ser feito. Não é realmente claro onde é que o processo de rastreio terá de ser feito. O meu entendimento, tal como as coisas estão hoje e pelo que vi, é que será provavelmente da responsabilidade dos países da linha da frente. Isso vai continuar a colocar muito mais responsabilidade e peso nos países da linha da frente. Algo que eu própria e as pessoas que acreditam na solidariedade pensamos que precisa de ser abordado. Não faz sentido, na medida em que se quisermos ser solidários e ajudar os países da linha da frente, não podemos continuar a colocar mais pressão sobre eles.

E: Falemos de solidariedade, porque a Comissão quer que seja obrigatória. Alguns países aceitarão refugiados e outros países pagarão ou financiarão a repatriação dos requerentes de asilo que sejam rejeitados. Pensa que a solidariedade pode ser forçada?

MD: A solidariedade é um princípio da União Europeia. Por isso, deve um o natural, para que todos os Estados-membros enfrentem este desafio em conjunto. Quando estamos a juntar acolhimento e retorno, é um o na direcção certa. Porque, sejamos muito honestos, temos até hoje países que não querem assumir qualquer responsabilidade. Creio que a Comissão Europeia fez a proposta com esta ideia que, para estes países, provavelmente seria muito mais fácil patrocinar os retornos. Mas também preciso de compreender como é que isto vai funcionar para aliviar os problemas e os países da linha da frente. Há outra questão: e se todos os Estados-membros optarem pelo patrocínio de retornos, mas não escolherem o acolhimento ou se o pouco acolhimento existente for ainda mais reduzido?

E: Vamos falar sobre os países de origem e de trânsito. A União Europeia já assinou acordos com pelo menos 20 países. Mas isto nem sempre está a funcionar. Como é que isto poderia ser melhorado?

MD: Acredito firmemente que precisamos de trabalhar com esses países. A Comissão Europeia está a dizer que quer dar atenção aos países de origem para garantir que os problemas nos países de onde os migrantes vêm são tidos em conta. Há muito tempo que ouço isto. Espero que haja propostas verdadeiramente fortes que possam abordar essa questão e que também abordem as redes criminosas. Se há algo sobre o qual pouco se tem feito, são as redes criminosas

"Já foram feitas demasiadas concessões? Até agora, tivemos propostas que tentaram não fazer demasiadas concessões. E como cidadã de um Estado-membro da linha da frente, posso dizer-lhe que não funcionaram"
Miriam Dalli
Eurodeputada socialista, Malta

E: Dê-me um exemplo de como podemos lidar melhor com estes países.

MD: Penso que precisamos de fazer parcerias com eles e muito para além das políticas que estão relacionadas com a migração. Se estamos a falar muito em ter uma economia mais verde, porque não alargar esta política para fora da União Europeia e olhar para esses países como nossos parceiros. Parceiros económicos que nos podem ajudar e garantir que podemos reforçar as suas economias. E como parceiros, juntos, começamos a lidar com a questão da migração.

E: Nesta fase, o Pacto é uma proposta. Que mudanças; que mudanças concretas gostaria de ver nela?

MD: Por exemplo, o Pacto fala de um novo coordenador para os retornos, mas não existe um coordenador para a recolocação. Gostaria de ver isso introduzido para garantir que damos o mesmo peso ao acolhimento e aos retornos. Como vamos garantir que o controlo fronteiriço não coloca a responsabilidade apenas nos Estados-membros que estão na linha da frente. É preciso encontrar propostas que possam garantir que todos os países se empenhem para que não seja apenas o local da primeira chegada a lidar com isto.

E: Mas tem a impressão de que foram feitas demasiadas concessões a populistas ou a países como a Hungria ou a Polónia que pediam políticas mais duras?

MD: Já foram feitas demasiadas concessões? Até agora, tivemos propostas que tentaram não fazer demasiadas concessões. E como cidadã de um Estado-membro da linha da frente, posso dizer-lhe que não funcionaram realmente. Penso que o que a Comissão está a tentar fazer é tentar juntar todos os diferentes Estados-membros. Eu, por exemplo, sou totalmente a favor da deslocalização obrigatória, mas isso não está a acontecer.

Novo Pacto é "vitória de Viktor Orbán"

O eurodeputado Balázs Hidvéghi representa no Parlamento europeu o partido no poder na Hungria. O governo de Viktor Orbán tem liderado o discurso anti-migração em Bruxelas e colhe agora este Pacto como uma vitória.

Euronews
Balázs HidvéghiEuronews

Euronews (E): Que primeira avaliação faz ao novo pacote da Comissão Europeia?

Balázs Hidvéghi (BH): Bem, a primeira avaliação é que parece conter alguns elementos novos que parecem ser um o na direção certa. Sublinha uma necessidade estrita de proteger as fronteiras externas. Fala muito sobre o retorno das pessoas que não têm o direito de permanecer na União Europeia. Por outro lado, ainda fala da migração como algo desejável, ainda fala de uma migração que deve ser gerida... E algo que falta, no nosso ponto de vista, é a perspetiva clara de que os pedidos das pessoas precisam de ser geridos ou devem ser geridos fora da União Europeia em vez de deixar as pessoas entrar e depois levá-las para todo o tipo de lugares, por vezes perdendo-as para fora do radar das autoridades.

E: Mas não se pode simplesmente parar a migração para a Europa. Esta é a realidade. Como se poderia parar completamente a migração, por exemplo, na fronteira marítima?

BH: A Hungria tem demonstrado nos últimos cinco anos que uma fronteira externa pode ser protegida, pode ser defendida, se houver vontade política. Criámos, construímos uma vedação de fronteira. Aumentámos os patrulhamentos. A polícia, os guardas de fronteira estão lá e essa fronteira já não é uma fronteira que os migrantes ilegais estejam a atravessar.

Agora, eu sei que uma fronteira marítima é muito mais difícil, é um tipo de fronteira diferente. Mas, sabe, não é aceitável dizer-se que uma fronteira marítima, só porque está no mar, é impossível de defender. É claro que seria possível defendê-la. A Itália mostrou-o quando o Sr. Salvini era Ministro do Interior.

Solidariedade com a falta de controlo nas fronteiras? Não. Solidariedade com os contrabandistas de seres humanos e com as ONG que cooperam? Não. Fora de questão.
Balázs Hidvéghi
Eurodeputado do Partido Popular Europeu, Hungria

E: O Primeiro-Ministro Viktor Orbán tem vindo a lutar contra as quotas de realojamento obrigatórias nos últimos cinco anos. E estas quotas estão agora fora do pacote. Isso é para si uma vitória?

BH: Em certa parte, sim. Penso que Viktor Orbán, o primeiro-ministro, foi o primeiro a dizer que isso não era aceitável. Desde aí não foi criada uma solução, não se contribuiu para um acordo comum. Pelo contrário, pressionar e forçar o acolhimento obrigatório apenas criou uma divisão cada vez mais profunda dentro da União Europeia. É claro que esse não é o caminho a seguir.

Portanto, se este novo Pacto sobre migração finalmente aceitar essa realidade, isso é um bom desenvolvimento. E é em certa medida, sim, uma vitória de Viktor Orbán.

E: Como é que a Hungria demonstraria solidariedade para com a Itália e a Grécia?

BH: Solidariedade com a falta de controlo nas fronteiras? Não. Solidariedade com os contrabandistas de seres humanos e com as ONG que cooperam? Não. Fora de questão.

A proteção eficaz de uma fronteira externa da União Europeia é uma forma de mostrar solidariedade para com os colegas europeus. E também, nesta nova proposta, eles falam de patrocinar o retorno. Agora, tanto quanto entendo o texto e a proposta, os países que não aceitam o acolhimento de migrantes ilegais ou migrantes podem contribuir para o esforço conjunto patrocinando e gerindo o retorno de pessoas que não têm direito a permanecer na Europa; que não são refugiados e que precisam de partir, mas que não o fizeram nos últimos dois anos. Veremos nas negociações se isso é algo para que vamos contribuir. Penso que o faremos.

E: que tipo de ajuda oferece a Hungria ao povo de Moria?

BH: Penso que as pessoas nestes campos, em Moria e noutros locais, as pessoas nos barcos no Mar Mediterrâneo, as pessoas que estão a pagar tudo o que têm aos contrabandistas de seres humanos para tentarem vir para a Europa, são vítimas. E nós temos simpatia por essas pessoas, obviamente.
Mas são vítimas porque lhes foram dados os sinais errados da União Europeia. Muitas pessoas pensam, nessas zonas do Norte de África e do Médio Oriente, que a única coisa que têm de fazer é entrar de alguma forma no território da União Europeia. Que se o fizerem, não há problema, e poderão ficar aqui o tempo que quiserem. E esta tem sido, de facto, a realidade ao longo dos últimos cinco anos, mas isso é errado. A Europa não é capaz de acolher o mundo inteiro aqui na União Europeia. Isto é contra a vontade do povo europeu. E a migração é algo que, no fim de contas, deve continuar a ser competência dos Estados-membros.

"O debate é realmente sobre a migração económica ilegal em massa. Isso não é aceitável. Isso tem de ser travado"
Balázs Hidvéghi
Eurodeputado do PPE, Hungria

E: Mas a Hungria não é contra aceitar refugiados?

BH: Claro que não. Temos sido muito claros quanto a isso. E as pessoas que têm direito ao estatuto de refugiado, também obtiveram o estatuto de refugiado na Hungria. Isso não é um debate. O debate é realmente sobre a migração económica ilegal em massa. Isso não é aceitável. Isso tem de ser travado.

E: A Hungria tem sido fortemente criticada pelo tratamento de refugiados e migrantes nas fronteiras e zonas de trânsito. Qual é a sua reação a esta crítica?

BH: Rejeito categoricamente qualquer opinião em que se diga que foi desumana ou desrespeitadora do povo ou incorreta. Era, em todos os aspetos, uma forma correta de ter as pessoas algures durante o tempo em que os seus pedidos eram tratados. O pacto migratório também fala agora da necessidade de acelerar o tempo e a decisão sobre esse tipo de pedidos. Veremos se isso será possível. Preferíamos algo semelhante ao que era a zona de trânsito húngara, ter zonas de perigo fora do território da União Europeia que as pessoas possam saber com certeza e com clareza se têm o direito de vir para a Europa ou não.

ONG tem dúvidas sobre a concretização do novo Pacto

Na Europa há pessoas que conhecem bem a migração porque a têm acompanhado de muito perto. A agência Proactiva Open Arms resgatou milhares de migrantes em alto mar. E ou inúmeras horas à espera de um porto europeu para autorizar os seus desembarques.

Euronews
Oscar CampsEuronews

Oscar Camps, fundador e diretor da organização, espera pelo dia em que o trabalho que fazem no Mediterrâneo não seja necessário, mas tem duvidas que isso venha a acontecer em breve.

Euronews (E): A Comissão Europeia apresentou um Pacto para a Imigração e Asilo. O que pensa sobre ele? Pode fazer a diferença?

Oscar Camps (OC): Não parece um bom começo, porque formaliza as políticas xenófobas existentes, externaliza a responsabilidade, especialmente nos centros de detenção em território líbio. Esta proposta fala em reforçar as deportações, mas não fala em reforçar os salvamentos humanitários, de todo.

E: A Comissária para o Interior, Ylva Johansson, fez uma alusão às operações de salvamento. Disse esperar que existam menos navios como o seu no Mediterrâneo. Ela pensa que já não será necessário, porque as novas medidas desempenharão um papel dissuasor, de modo que, os migrantes deixarão de vir para a Europa porque sabem que serão expulsos. Acha que é realista?

OC: Desejo que não seja necessário estarmos no mar. Nem nós, nem outras ONG, nem qualquer outro navio humanitário. Porque isso significaria que a União Europeia tomou a seu cargo as operações de salvamento, quer por uma missão militar, uma missão civil, ou mesmo pela Guarda Costeira Europeia.
Enquanto não for esse o caso, é evidente que terão de tolerar a nossa presença como observadores e como testemunhas do que está realmente a acontecer; de como as convenções internacionais sobre direitos humanos e as leis marítimas internacionais estão a ser violadas. Não só por Malta, mas também pela chamada guarda costeira líbia.

"Esta proposta fala em reforçar as deportações, mas não fala em reforçar os salvamentos humanitários, de todo"
Oscar Camps
Fundador e diretos da Proactiva Open Arms

E: A Comissão propõe igualmente assumir a responsabilidade da coordenação das operações de salvamento para assegurar que os desembarques sejam mais bem preparados. O que pensa desta proposta?

OC: Bem, durante 2016 e 2017, todas as operações de resgate foram coordenadas pela Guarda Costeira Italiana e, por vezes, pela Frontex. Ambas as agências coordenaram os desembarques e a transferência (dos migrantes) dos navios das organizações humanitárias para os navios oficiais. Os desembarques foram todos coordenados e houve alguma ordem. Por coincidência, a partir de Março de 2018, após as eleições em Itália, tudo isto mudou.
Agora, ninguém coordena os salvamentos, nem as acções humanitárias, nem os desembarques. Tudo se tornou um pesadelo, devido à espera e ao sofrimento prolongado e desnecessário das pessoas que estão a ser resgatadas no mar.
Se estas medidas puderem contribuir para acelerar a obtenção de um porto seguro para desembarcar e para assegurar que estas pessoas sejam imediatamente atendidas, serão bem-vindas.

"Externalizar fronteiras, pagar a países terceiros para fazer o trabalho sujo, pagar à Líbia para ter centros de detenção ilegais onde se pratica tortura, extorsão e violações de todos os direitos, não me parece uma boa solução"
Oscar Camps
Fundador e diretor da Proactiva Open Arms

E: O que pensa sobre os acordos com países terceiros. Será que funcionam? Acha que são viáveis? Com que países é possível negociar? Por exemplo, em África.

OC: Tenho muitas dúvidas sobre a ideia da externalização. Temos outros pontos de vista. Pensamos que a solução está no ponto de origem. Precisamos de países seguros, onde os cidadãos se sintam seguros. Isso irá obviamente evitar muitos fluxos migratórios. Se acabarmos com os conflitos, acabaremos também com uma grande parte do fluxo migratório. Externalizar fronteiras, pagar a países terceiros para fazer o trabalho sujo, pagar à Líbia para ter centros de detenção ilegais onde se pratica tortura, extorsão e violações de todos os direitos, não me parece uma boa solução.

E: Há alguns anos, organizações como a sua eram consideradas como anjos da guarda. Havia uma imagem positiva. Em vez disso, agora há agora uma tendência para vos rotular como criminosos. De facto, a sua ONG, e até alguns dos membros da sua tripulação, teve em problemas com a lei. O que aconteceu?

OC: Bem, ámos de cidadãos europeus altamente respeitados a perseguidos. Perseguidos, extorquidos, raptados, alvejados ou ameaçados em águas internacionais. E tudo é obviamente uma campanha de difamação. Porque, de um ponto de vista judicial, nada pode ser feito. Estamos simplesmente a respeitar as convenções internacionais e o Direito marítimo.

E: Para concluirmos, o Pacto que foi apresentado em Bruxelas é uma proposta que ainda tem de ser debatida antes de ser aprovada no Parlamento e pelos Estados-Membros. O que deve ser alterado neste texto?

OC: Recordo à presidente da Comissão Europeia as palavras do seu próprio discurso: o salvamento no mar não é opcional. Mas no texto da proposta, ela quase não menciona o resgate humanitário.

Obviamente que as 30 mil mortes que tivemos nos últimos cinco anos devem ser tidas em consideração. É evidente que precisamos de uma operação de salvamento como a que realizámos em 2014.

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