{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2019/01/25/brexit-primeiro-ministro-da-irlanda-pede-mais-garantias" }, "headline": "Brexit: Primeiro-ministro da Irlanda pede mais garantias", "description": "No F\u00f3rum de Davos, a euronews entrevistou o primeiro-ministro Leo Varadkar", "articleBody": "A dois meses da sa\u00edda do Reino Unido da Uni\u00e3o Europeia, no F\u00f3rum de Davos, a euronews entrevistou o primeiro-ministro da Irlanda. Num contexto de incerteza, Leo Varadkar rejeita uma sa\u00edda sem acordo e pede mais garantias e menos promessas euronews: Tem sido uma semana muito agitada em Davos. Penso que tivemos algumas novidades interessantes sobre o Brexit. Segunda-feira tivemos uma interven\u00e7\u00e3o do ministro dos Neg\u00f3cios Estrangeiros polaco que sugeriu uma limita\u00e7\u00e3o temporal, um per\u00edodo de cinco anos, do mecanismo de salvaguarda. Uma solu\u00e7\u00e3o apresentada para salvar o acordo de sa\u00edda, porque h\u00e1 muitos estados membros preocupados com os seus cidad\u00e3os que vivem no Reino Unido. O que pensa desta hip\u00f3tese? Leo Varadkar, primeiro-ministro irland\u00eas: Um dos aspetos que garantiu a paz na Irlanda nos \u00faltimos 20 anos foi o papel da Uni\u00e3o Europeia de eliminar muitas das diferen\u00e7as entre o norte e o sul. Um dos nossos grandes receios \u00e9 que \u00e0 medida que o Reino Unido saia regressem as diferen\u00e7as e prejudiquem a paz. Aqui, em Davos, e sempre que viajo internacionalmente lembro \u00e0s pessoas a atual situa\u00e7\u00e3o da Irlanda e o que est\u00e1 em causa. O mecanismo de salvaguarda \u00e9 um meio para chegarmos a um fim. Existe para dar ao povo da Irlanda do Norte e do Sul uma garantia juridicamente vinculativa e legalmente vi\u00e1vel de que, independentemente do que aconte\u00e7a como consequ\u00eancia do Brexit, n\u00e3o vai surgir novamente uma fronteira f\u00edsica na nossa ilha. E o problema com um limite de tempo \u00e9 exatamente esse. Significa que n\u00e3o vamos ter uma fronteira f\u00edsica na nossa ilha nos pr\u00f3ximos 3, 5, 6 ou 10 anos. Mas depois podemos ter. Aqui come\u00e7a a dificuldade. Muitas vezes ou\u00e7o pessoas no Reino Unido, especialmente pessoas que defendem o Brexit, dizer que n\u00e3o querem uma fronteira f\u00edsica mas que tamb\u00e9m n\u00e3o querem um mecanismo de salvaguarda. Mas o que \u00e9 que oferecem em troca? Tudo o que oferecem \u00e9 a promessa de que a situa\u00e7\u00e3o ser\u00e1 resolvida nos pr\u00f3ximos dois anos ou a promessa de alguma esp\u00e9cie de tecnologia que ainda n\u00e3o existe. euronews: Mas n\u00e3o acredita no governo brit\u00e2nico e nas pessoas que, no Reino Unido, prometem resolver a situa\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s do com\u00e9rcio e que pensam que este ponto deveria ter estado no in\u00edcio das negocia\u00e7\u00f5es? Leo Varadkar, primeiro-ministro irland\u00eas: Acredito que s\u00e3o honestos nas suas inten\u00e7\u00f5es mas, tal como aconteceu com o Brexit, n\u00e3o tenho a certeza que o processo tenha sido bem planeado. Na minha opini\u00e3o, a \u00fanica forma de evitar uma fronteira f\u00edsica a longo prazo \u00e9 ter um alinhamento muito pr\u00f3ximo, se n\u00e3o total, das regulamenta\u00e7\u00f5es aduaneiras e dos mercados. E esta ideia entra em conflito direto com a vis\u00e3o de que o Reino Unido pode resolver sozinho esta quest\u00e3o. euronews: Est\u00e1 a dizer que o Brexit e os objetivos do Brexit s\u00e3o irreconcili\u00e1veis com as obriga\u00e7\u00f5es do Acordo da Sexta-feira Santa e que o Reino Unido, a sessenta dias da sa\u00edda, n\u00e3o quer fazer concess\u00f5es. Leo Varadkar, primeiro-ministro irland\u00eas: Bem, \u00e9 evidente que existem muitas opini\u00f5es diferentes no Reino Unido. Parece-me que o pa\u00eds est\u00e1 dividido sobre se deve sair ou permanecer. A decis\u00e3o, claro, tem de ser tomada apenas por eles. E entre aqueles que querem sair, h\u00e1 d\u00favidas sobre o significado dessa sa\u00edda. E esse tem sido o problema nos \u00faltimos dois anos: um governo que negoceia apenas com o governo, um parlamento que negoceia apenas com o parlamento, partidos pol\u00edticos com divis\u00f5es internas. Mas este n\u00e3o \u00e9 um problema que pode ser resolvido pela Uni\u00e3o Europeia ou Irlanda. Tudo o que podemos fazer \u00e9 defender os nossos interesses, o nosso processo de paz, os interesses dos nossos cidad\u00e3os do norte e do sul, a nossa economia e os nossos agricultores e exportadores. E \u00e9 isso que vamos fazer. Nunca devemos esquecer que o Brexit \u00e9 um problema que foi criado pelo Reino Unido. Penso que \u00e9 um verdadeiro gesto de auto-agress\u00e3o, mas foi a escolha deles. No entanto, est\u00e1 a criar problemas tamb\u00e9m para pessoas que n\u00e3o votaram no Brexit, incluindo a maioria das pessoas na Irlanda do Norte. euronews : Disse antes que o Parlamento do Reino Unido ou pelo menos o governo do Reino Unido devia afastar a hip\u00f3tese de um \u201cn\u00e3o acordo\u201d porque sabemos como essa op\u00e7\u00e3o pode ser prejudicial. Theresa May foi irrespons\u00e1vel por n\u00e3o ter afastado essa hip\u00f3tese? Leo Varadkar, primeiro-ministro irland\u00eas: Penso que entendo o que ela est\u00e1 a fazer a esse respeito. Se ela retirar a op\u00e7\u00e3o de um \u201cn\u00e3o acordo\u201d agora vai retirar a press\u00e3o do Parlamento para decidir o que quer e formar uma maioria vi\u00e1vel. Penso que se nos aproximarmos desse ponto temos de ter em conta que os nossos cidad\u00e3os no Reino Unido, na Irlanda e na Europa, n\u00e3o querem uma sa\u00edda sem acordo. Essa solu\u00e7\u00e3o \u00e9 evit\u00e1vel. \u00c9 evit\u00e1vel atrav\u00e9s da extens\u00e3o do Artigo 50. euronews: Se o mecanismo de salvaguarda for o maior obst\u00e1culo e conduzir a um cen\u00e1rio de \u0022n\u00e3o acordo\u0022, a Irlanda ter\u00e1 de colocar uma fronteira no mercado \u00fanico. A Uni\u00e3o Aduaneira teria que proteger essa \u00e1rea. Qual l \u00e9 a sua solu\u00e7\u00e3o? Leo Varadkar, primeiro-ministro irland\u00eas: Do meu ponto de vista, qualquer acordo de retirada que n\u00e3o nos d\u00ea a garantia legal de que n\u00e3o haver\u00e1 uma fronteira f\u00edsica entre a Irlanda do Norte e a Irlanda \u00e9 um acordo apenas no nome. N\u00e3o \u00e9 algo com o qual eu possa viver, que possa recomendar ao parlamento ou aceitar a n\u00edvel do Conselho Europeu. O cen\u00e1rio de \u201cn\u00e3o acordo\u201d representa um enorme dilema para todos n\u00f3s. O Reino Unido tamb\u00e9m teria obriga\u00e7\u00f5es de cumprir as regras da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio. N\u00e3o estariam em posi\u00e7\u00e3o de fazer acordos comerciais com ningu\u00e9m at\u00e9 que aceitassem as regras da OMC. E tanto o Reino Unido como a Irlanda t\u00eam compromissos no \u00e2mbito do Acordo da Sexta-Feira Santa e do processo de paz que, de muitas maneiras, como eu disse no in\u00edcio, anulam objetivos econ\u00f3micos e comerciais. 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Leo Varadkar, primeiro-ministro irland\u00eas: Penso que o que a Comiss\u00e3o disse, e tamb\u00e9m disse esta semana, \u00e9 que vamos todos trabalhar para fazer tudo o que for poss\u00edvel para evitar fronteiras f\u00edsicas, estruturas f\u00edsicas e controlos alfandeg\u00e1rios. Mas tamb\u00e9m entendemos que existe a obriga\u00e7\u00e3o de proteger o mercado \u00fanico. Por exemplo, se o Reino Unido p\u00f3s-Brexit fizer um acordo comercial com os Estados Unidos e entrar no pa\u00eds e na Irlanda do Norte carne de frango ou de vaca contaminada, \u00e9 claro que queremos proteger os nossos consumidores e os nossos agricultores. N\u00e3o queremos que a Irlanda se torne numa porta de entrada para esse tipo de produtos. Este \u00e9 apenas um pequeno exemplo. H\u00e1 muitos outros exemplos. O Reino Unido j\u00e1 tem leis do trabalho mais fracas e sal\u00e1rios mais baixos. 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Brexit: Primeiro-ministro da Irlanda pede mais garantias

Brexit: Primeiro-ministro da Irlanda pede mais garantias
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No Fórum de Davos, a euronews entrevistou o primeiro-ministro Leo Varadkar

A dois meses da saída do Reino Unido da União Europeia, no Fórum de Davos, a euronews entrevistou o primeiro-ministro da Irlanda. Num contexto de incerteza, Leo Varadkar rejeita uma saída sem acordo e pede mais garantias e menos promessas

euronews: Tem sido uma semana muito agitada em Davos. Penso que tivemos algumas novidades interessantes sobre o Brexit. Segunda-feira tivemos uma intervenção do ministro dos Negócios Estrangeiros polaco que sugeriu uma limitação temporal, um período de cinco anos, do mecanismo de salvaguarda. Uma solução apresentada para salvar o acordo de saída, porque há muitos estados membros preocupados com os seus cidadãos que vivem no Reino Unido. O que pensa desta hipótese?

Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês: Um dos aspetos que garantiu a paz na Irlanda nos últimos 20 anos foi o papel da União Europeia de eliminar muitas das diferenças entre o norte e o sul. Um dos nossos grandes receios é que à medida que o Reino Unido saia regressem as diferenças e prejudiquem a paz. Aqui, em Davos, e sempre que viajo internacionalmente lembro às pessoas a atual situação da Irlanda e o que está em causa. O mecanismo de salvaguarda é um meio para chegarmos a um fim. Existe para dar ao povo da Irlanda do Norte e do Sul uma garantia juridicamente vinculativa e legalmente viável de que, independentemente do que aconteça como consequência do Brexit, não vai surgir novamente uma fronteira física na nossa ilha. E o problema com um limite de tempo é exatamente esse. Significa que não vamos ter uma fronteira física na nossa ilha nos próximos 3, 5, 6 ou 10 anos. Mas depois podemos ter. Aqui começa a dificuldade. Muitas vezes ouço pessoas no Reino Unido, especialmente pessoas que defendem o Brexit, dizer que não querem uma fronteira física mas que também não querem um mecanismo de salvaguarda. Mas o que é que oferecem em troca? Tudo o que oferecem é a promessa de que a situação será resolvida nos próximos dois anos ou a promessa de alguma espécie de tecnologia que ainda não existe.

euronews: Mas não acredita no governo britânico e nas pessoas que, no Reino Unido, prometem resolver a situação através do comércio e que pensam que este ponto deveria ter estado no início das negociações?

Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês: Acredito que são honestos nas suas intenções mas, tal como aconteceu com o Brexit, não tenho a certeza que o processo tenha sido bem planeado. Na minha opinião, a única forma de evitar uma fronteira física a longo prazo é ter um alinhamento muito próximo, se não total, das regulamentações aduaneiras e dos mercados. E esta ideia entra em conflito direto com a visão de que o Reino Unido pode resolver sozinho esta questão.

euronews: Está a dizer que o Brexit e os objetivos do Brexit são irreconciliáveis com as obrigações do Acordo da Sexta-feira Santa e que o Reino Unido, a sessenta dias da saída, não quer fazer concessões.

Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês: Bem, é evidente que existem muitas opiniões diferentes no Reino Unido. Parece-me que o país está dividido sobre se deve sair ou permanecer. A decisão, claro, tem de ser tomada apenas por eles. E entre aqueles que querem sair, há dúvidas sobre o significado dessa saída. E esse tem sido o problema nos últimos dois anos: um governo que negoceia apenas com o governo, um parlamento que negoceia apenas com o parlamento, partidos políticos com divisões internas. Mas este não é um problema que pode ser resolvido pela União Europeia ou Irlanda. Tudo o que podemos fazer é defender os nossos interesses, o nosso processo de paz, os interesses dos nossos cidadãos do norte e do sul, a nossa economia e os nossos agricultores e exportadores. E é isso que vamos fazer. Nunca devemos esquecer que o Brexit é um problema que foi criado pelo Reino Unido. Penso que é um verdadeiro gesto de auto-agressão, mas foi a escolha deles.

No entanto, está a criar problemas também para pessoas que não votaram no Brexit, incluindo a maioria das pessoas na Irlanda do Norte.

euronews: Disse antes que o Parlamento do Reino Unido ou pelo menos o governo do Reino Unido devia afastar a hipótese de um “não acordo” porque sabemos como essa opção pode ser prejudicial. Theresa May foi irresponsável por não ter afastado essa hipótese?

Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês: Penso que entendo o que ela está a fazer a esse respeito. Se ela retirar a opção de um “não acordo” agora vai retirar a pressão do Parlamento para decidir o que quer e formar uma maioria viável. Penso que se nos aproximarmos desse ponto temos de ter em conta que os nossos cidadãos no Reino Unido, na Irlanda e na Europa, não querem uma saída sem acordo. Essa solução é evitável. É evitável através da extensão do Artigo 50.

euronews: Se o mecanismo de salvaguarda for o maior obstáculo e conduzir a um cenário de "não acordo", a Irlanda terá de colocar uma fronteira no mercado único. A União Aduaneira teria que proteger essa área. Qual l é a sua solução?

Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês: Do meu ponto de vista, qualquer acordo de retirada que não nos dê a garantia legal de que não haverá uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a Irlanda é um acordo apenas no nome. Não é algo com o qual eu possa viver, que possa recomendar ao parlamento ou aceitar a nível do Conselho Europeu. O cenário de “não acordo” representa um enorme dilema para todos nós. O Reino Unido também teria obrigações de cumprir as regras da Organização Mundial do Comércio. Não estariam em posição de fazer acordos comerciais com ninguém até que aceitassem as regras da OMC. E tanto o Reino Unido como a Irlanda têm compromissos no âmbito do Acordo da Sexta-Feira Santa e do processo de paz que, de muitas maneiras, como eu disse no início, anulam objetivos económicos e comerciais. Teríamos de nos sentar: o Reino Unido, a Irlanda e a União europeia. Não poderia ser um acordo bilateral. Isto envolve competências da UE e teríamos de negociar um acordo que resultasse no alinhamento total das alfândegas e dos regulamentos, uma hipótese que já está em cima da mesa.

euronews: O porta-voz da Comissão Europeia confirmou esta semana que, se for necessário, haverá controlos na fronteira. Uma ideia partilhada por outros responsáveis como Michel Barnier. Esta hipótese será recusada pelo governo irlandês? Mesmo se for pressionado por outros Estados membros como a França, que querem garantir que o mercado único vai estar protegido? Estão preparados para ter conversas muito difíceis?

Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês: Penso que o que a Comissão disse, e também disse esta semana, é que vamos todos trabalhar para fazer tudo o que for possível para evitar fronteiras físicas, estruturas físicas e controlos alfandegários. Mas também entendemos que existe a obrigação de proteger o mercado único. Por exemplo, se o Reino Unido pós-Brexit fizer um acordo comercial com os Estados Unidos e entrar no país e na Irlanda do Norte carne de frango ou de vaca contaminada, é claro que queremos proteger os nossos consumidores e os nossos agricultores. Não queremos que a Irlanda se torne numa porta de entrada para esse tipo de produtos. Este é apenas um pequeno exemplo. Há muitos outros exemplos. O Reino Unido já tem leis do trabalho mais fracas e salários mais baixos. Se descerem mais e tornarem injusta a competição com os trabalhadores da Irlanda, França ou Alemanha vão surgir várias questões e e vamos lembrar-nos das razões pelas quais pertencemos à União Europeia: em primeiro lugar para termos o ao comércio livre, mas também para termos igualdade de condições e oportunidades, justiça e decência. Vamos ter de resolver esses problemas de qualquer forma. E podem ser resolvidos nas próximas duas semanas.

euronews: Nós também tivemos o ataque com um carro armadilhado no norte. Está preocupado? Para além das questões óbvias no âmbito do mercado único, teme o ressurgimento de dissidentes que possam voltar a envolver-se em hostilidades no caso de um cenário de “não acordo”?

Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês: Estou preocupado com a violência republicana na Irlanda do Norte. Há alguns dias, foi encontrado um carro-bomba em Derry. Com muita sorte, ninguém morreu. Não quero dizer que há uma ligação ao Brexit ou ao centésimo aniversário da fundação do Parlamento Irlandês. Mas o Brexit agora faz parte do contexto. E mostra que o poder do executivo não está a funcionar na Irlanda do Norte. E é algo que está a causar grande preocupação aos cidadãos do Norte e também ao longo da fronteira. Todos os dias, milhares de pessoas atravessam a fronteira para ir trabalhar. Milhares de pessoas atravessam a fronteira para ir para a faculdade ou para a escola e todas essas pessoas estão muito preocupadas com o futuro. As coisas que pensavam estar resolvidas estão instáveis e isso cria um ambiente que os dissidentes podem explorar. E não acho que devamos permitir que eles façam isso.

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