{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2018/10/18/medvedev-quem-tira-partido-das-sancoes-ninguem" }, "headline": "Medvedev: \u0022Quem tira partido das san\u00e7\u00f5es ? Ningu\u00e9m!\u0022", "description": "Em entrevista \u00e0 euronews, o primeiro-ministro da R\u00fassia afirma que as san\u00e7\u00f5es contra a R\u00fassia visam sobretudo \u0022objetivos pol\u00edticos internos\u0022 dos Estados Unidos e da Europa.", "articleBody": "O primeiro-ministro da R\u00fassia Dmitri Medvedev foi o nosso convidado em Global Conversation. As san\u00e7\u00f5es econ\u00f3micas contra a R\u00fassia, o papel de Moscovo na reconstru\u00e7\u00e3o da S\u00edria, o caso do envenamento de Skrypal e as rela\u00e7\u00f5es com a Europa e os Estados Unidos foram alguns dos temas abordados durante a entrevista. Euronews : Vai encontrar-se muito em breve com os seus hom\u00f3logos europeus em Bruxelas. No in\u00edcio do m\u00eas, o presidente do conselho europeu Donald Tusk afirmou que a R\u00fassia de Vladimir Putin representa a maior amea\u00e7a \u00e0 unidade da Uni\u00e3o Europeia. Ele tem raz\u00e3o? Dmitri Medvedev : Donald Tusk n\u00e3o representa a posi\u00e7\u00e3o de toda a Uni\u00e3o Europeia. Encontr\u00e1mo-nos v\u00e1rias vezes em diferentes circunst\u00e2ncias e conhe\u00e7o a posi\u00e7\u00e3o dele. As coisas que um l\u00edder da comiss\u00e3o europeia diz n\u00e3o refletem a opini\u00e3o de toda a Uni\u00e3o Europeia. Isso fica na consci\u00eancia dele. \u200b Euronews: Vai participar na cimeira Europa-\u00c1sia onde se espera que fale de com\u00e9rcio. Mas a geopol\u00edtica influencia o com\u00e9rcio. O que \u00e9 que a R\u00fassia tem para oferecer e o que pode fazer para melhorar a rela\u00e7\u00e3o com a Europa? Dmitri Medvedev : Antes de mais, gostaria de dizer duas ou tr\u00eas coisas sobre a cimeira. \u00c9 uma boa plataforma para avaliar as perspetivas de coopera\u00e7\u00e3o entre a \u00c1sia e a Europa. Mas n\u00e3o se tomam decis\u00f5es fundamentais na cimeira. \u00c9 no \u00e2mbito do G20 que as decis\u00f5es s\u00e3o tomadas. \u00c9 o papel que desempenha desde 2008. A cimeira Europa-\u00c1sia \u00e9 de natureza consultiva mas \u00e9 uma plataforma importante que produz resultados na qual n\u00f3s participamos. A cimeira anterior decorreu na Mong\u00f3lia. Foi um encontro \u00fatil onde os l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia, os representantes da R\u00fassia, da regi\u00e3o \u00c1sia-Pac\u00edfico e da Associa\u00e7\u00e3o de Na\u00e7\u00f5es do Sudeste Asi\u00e1tico partilharam as suas ideias de modo a nos podermos compreender melhor uns aos outros. As atuais rela\u00e7\u00f5es entre a R\u00fassia e a Uni\u00e3o Europeia temos de iti-lo, atravessam tempos dif\u00edceis. No nosso entender, \u00e9 o resultado de decis\u00f5es precipitadas da Uni\u00e3o Europeia. S\u00e3o os habitantes da Uni\u00e3o Europeia que pagam o pre\u00e7o e volto a sublinhar que a decis\u00e3o n\u00e3o foi nossa, mas tem tamb\u00e9m efeitos negativos no nosso pa\u00eds. As empresas s\u00e3o afetadas e as pessoas tamb\u00e9m porque uma parte importante do com\u00e9rcio e da coopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica foi suspendida e a coopera\u00e7\u00e3o cultural foi reduzida significativemente. Infelizmente, perdeu-se o di\u00e1logo com certos pa\u00edses. Mencionou Donald Tusk, apesar de ele ser um representante europeu, \u00e9 oriundo da Pol\u00f3nia. Posso dizer abertamente que n\u00e3o temos rela\u00e7\u00f5es com a Pol\u00f3nia, ao n\u00edvel do di\u00e1logo pol\u00edtico e econ\u00f3mico. Isso \u00e9 bom ou \u00e9 mau? N\u00e3o sei. Penso que n\u00e3o \u00e9 muito bom, tendo em conta a hist\u00f3ria que liga os nossos pa\u00edses. A dada altura visitei a Pol\u00f3nia e penso que nessa altura est\u00e1vamos mais perto de um di\u00e1logo. Agora esse di\u00e1logo \u00e9 inexistente o que n\u00e3o \u00e9 nada bom. Euronews : Entendo que est\u00e1 a dizer que n\u00e3o foi a R\u00fassia que iniciou o conflito mas a Europa n\u00e3o tem a mesma opini\u00e3o. Estive em Bruxelas. Fala-se do facto de as autoridades holandesas terem interceptado um ciberataque contra a Organiza\u00e7\u00e3o para a Proibi\u00e7\u00e3o das Armas Qu\u00edmicas que est\u00e1 a investigar o envenenamento de Sergei Skripal e os ataques qu\u00edmicos na S\u00edria. H\u00e1 acusa\u00e7\u00f5es coordenadas contra a R\u00fassia de quatro pa\u00edses, Holanda, Reino Unido, Canada e Estados Unidos. Jeremy Hunt diz que a R\u00fassia est\u00e1 a tentar promover instabilidade no mundo. A R\u00fassia n\u00e3o aceita essas acusa\u00e7\u00f5es. Se a R\u00fassia n\u00e3o leva essas quest\u00f5es a s\u00e9rio, como pode a R\u00fassia ser levada a s\u00e9rio quando apresenta o seu pa\u00eds nessas cimeiras? Dmitri Medvedev : N\u00e3o percebo bem o que quer dizer. Diz que a R\u00fassia deve ser vista de uma determinada forma. N\u00f3s n\u00e3o participamos nesses eventos para ser percecionados de determinada maneira ou para sermos avaliados. Participamos nesses eventos por v\u00e1rias raz\u00f5es. Acreditamos que \u00e9 melhor cooperar do que recusar a coopera\u00e7\u00e3o, \u00e9 melhor dialogar do que n\u00e3o dialogar e chegar a acordo sobre as coias \u00e9 melhor do que estar numa atitude de oposi\u00e7\u00e3o. O desenvolvimento \u00e9 melhor do que a estagna\u00e7\u00e3o. \u00c9 por isso que participamos em todos os eventos internacionais desse tipo. Cada pa\u00eds tem o direito de expressar as suas avalia\u00e7\u00f5es. N\u00f3s ouvimos, mas os l\u00edderes da R\u00fassia e o pa\u00eds como um todo n\u00e3o concordam com a maioria dessas avalia\u00e7\u00f5es. Isso n\u00e3o significa que devemos recusar a comunica\u00e7\u00e3o. Na verdade, penso que terei de falar com diferentes colegas na cimeira Europa-\u00c1sia. A comunica\u00e7\u00e3o inclui sempre duas etapas. A primeira s\u00e3o os encontros oficiais previstos, com int\u00e9rpretes e c\u00e2maras e a segunda etapa s\u00e3o as conversa\u00e7\u00f5es nos bastidores. \u00c0s vezes, as \u00faltimas s\u00e3o as mais \u00fateis, n\u00e3o estamos sob press\u00e3o, com algu\u00e9m a transcrever o que dizemos e a publicar na internet. Esse tipo de os s\u00e3o habituais e na \u00faltima cimeira na Mong\u00f3lia, tive muitos encontros com colegas de diferentes pa\u00edses, em diferentes ocasi\u00f5es incluindo jantares oficiais. Lembro-me do que disse o Senhor Tusk sobre a cozinha mongol e de muitas outras coisas. Mas isto n\u00e3o significa que os os pol\u00edticos se limitem a esses encontros. Euronews : \u00c9 verdade que h\u00e1 muitas conversas que n\u00e3o acontecem em p\u00fablico mas nos bastidores onde os l\u00edderes abordam temas sens\u00edveis. Um deles \u00e9 sens\u00edvel para o Reino Unido, j\u00e1 lhe deve ter sido feita a pergunta v\u00e1rias vezes, trata-se do envenenamento de Skripal. A linha de defesa dos dois suspeitos foi desvalorizada na Europa, ou fora da R\u00fassia. Sente-se embara\u00e7ado face a essa rea\u00e7\u00e3o ? Acha que prejudica a credibilidade da R\u00fassia? Dmitri Medvedev: Uma avalia\u00e7\u00e3o desse tipo n\u00e3o promove a coopera\u00e7\u00e3o internacional. Lembro-me da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, do tempo em que usavam r\u00f3tulos, se estigmatizava o sistema capitalista internacional e se evocavam as coisas que nos dividiam. Isso n\u00e3o levou a nada de bom. \u00c9 por isso que acreditamos que toda a gente de ter muito cuidado com as avalia\u00e7\u00f5es. Em primeiro lugar, as avalia\u00e7\u00f5es, anunciadas por certos pa\u00edses n\u00e3o refletem a situa\u00e7\u00e3o atual nomeadamente a da Inglaterra em rela\u00e7\u00e3o a esse tema conhecido. Em segundo lugar eles n\u00e3o est\u00e3o a conduzir-nos para um futuro melhor. Quem tira partido dessas avalia\u00e7\u00f5es e das v\u00e1rias san\u00e7\u00f5es impostas? Ningu\u00e9m! \u00c9 \u00f3bvio que as san\u00e7\u00f5es levam a um ime. N\u00f3s percebemos porque raz\u00e3o isto est\u00e1 a acontecer. Na maioria dos casos, esse tipo de avalia\u00e7\u00f5es e san\u00e7\u00f5es n\u00e3o se destina a punir ou a prejudicar algu\u00e9m ou a mostrar uma posi\u00e7\u00e3o. N\u00e3o! H\u00e1 outras raz\u00f5es que t\u00eam a ver com a conjuntura pol\u00edtica interna. Ainda n\u00e3o fal\u00e1mos dos nosso amigos do outro lado do oceano, por exemplo, da histeria anti-R\u00fassia nos Estados Unidos. Estamos perfeitamente conscientes de que nos Estados Unidos tudo o que tem a ver com a R\u00fassia tem um outro objetivo: tem a ver com as querelas pol\u00edticas internas, com as querelas entre os Republicanos e os Democratas e com as querelas dentro do partido republicano, podemos dizer o mesmo em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Europa. Em 90% dos casos, esta campanha anti-R\u00fassia tem a ver com objetivos de pol\u00edtica interna, como ficar no poder, formar governo ou atingir outro objetivo, \u00e9 claro que o objetivo n\u00e3o \u00e9 influenciar a posi\u00e7\u00e3o da R\u00fassia que n\u00e3o pode ser influenciada, isso \u00e9 algo que toda a gente percebe muito bem. Euronews : Vamos falar das san\u00e7\u00f5es e da economia, mas antes disso, quero fazer uma pergunta sobre os dois suspeitos do caso Skripal. Quero saber se acredita mesmo que eles estavam l\u00e1 para ver uma catedral. Dmitri Medvedev : N\u00e3o sei. N\u00e3o vou comentar. N\u00e3o conhe\u00e7o essas pessoas, nem estou a par dos detalhes dessas declara\u00e7\u00f5es. N\u00e3o sei o que se ou, como poderia saber? Euronews: Vamos falar das san\u00e7\u00f5es impostas pelos Estados Unidos. Disse que eles acusaram a R\u00fassia de interfer\u00eancia nas elei\u00e7\u00f5es. Disse que as san\u00e7\u00f5es americanas contra os bancos russos representam uma declara\u00e7\u00e3o de guerra econ\u00f3mica. A R\u00fassia v\u00ea-se a si pr\u00f3pria como estando em guerra com os Estados Unidos ou com outro pa\u00eds que imp\u00f4s san\u00e7\u00f5es? Dmitri Medvedev : J\u00e1 falei publicamente dessa quest\u00e3o. Claramente, o refor\u00e7o das san\u00e7\u00f5es n\u00e3o vai levar a lado nenhum. Os americanos dizem que querem fazer press\u00e3o atrav\u00e9s das san\u00e7\u00f5es. J\u00e1 o disse mas quero voltar a repetir o exemplo das san\u00e7\u00f5es contra a Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, - ainda que n\u00e3o sejamos a Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica e que o estado da R\u00fassia tenha outros valores, somos o sucessor legal da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica - como estava a dizer as san\u00e7\u00f5es contra a uni\u00e3o sovi\u00e9tica foram pronunciadas dez vezes no s\u00e9culos XX e ser\u00e1 que isso mudou a pol\u00edtica da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica? Houve san\u00e7\u00f5es contra a China. Isso mudou a pol\u00edtica dos l\u00edderes da China? E podia continuar a dar exemplos. As san\u00e7\u00f5es s\u00e3o contra-produtivas. As san\u00e7\u00f5es contra o setor banc\u00e1rio s\u00e3o de facto declara\u00e7\u00f5es de guerra. S\u00e3o as san\u00e7\u00f5es mais duras. Mas sem d\u00favida vamos conseguir ultraar esta forma de press\u00e3o, a nossa economia \u00e9 capaz de se adaptar. A \u00fanica quest\u00e3o \u00e9: qual \u00e9 a necessidade disto? Isto prejudica a ordem internacional, incluindo a ordem econ\u00f3mica internacional. Atualmente, h\u00e1 guerras econ\u00f3micas - \u00e9 disso que se trata - entre os Estados Unidos e a China, entre os Estados Unidos e a Uni\u00e3o Europeia, entre os Estados Unidos e o Ir\u00e3o. Algumas das san\u00e7\u00f5es s\u00e3o contra o nosso pa\u00eds. E eu pergunto, isto \u00e9 ben\u00e9fico para o sistema de com\u00e9rcio internacional ? Os pa\u00edses ficaram melhores? As empresas est\u00e3o melhores? Podemos dizer que alguns objetivos de pol\u00edtica interna podem ser atingidos no curto prazo, em termos hist\u00f3ricos. Euronews : Como \u00e9 que a R\u00fassia vai reagir? Disse que a reac\u00e7\u00e3o seria do ponto de vista econ\u00f3mico, pol\u00edtico ou, se necess\u00e1rio, atrav\u00e9s de outros meios. O que quer dizer com outros meios? Dmitri Medvedev : As respostas podem ser muito diferentes, dependendo da situa\u00e7\u00e3o \u200b? Euronews : Podem ser militares? Dmitri Medvedev : Isso est\u00e1 completamente fora de quest\u00e3o no mundo contempor\u00e2neo. Somos um Estado respons\u00e1vel e um membro permanente do Conselho de Seguran\u00e7a das Na\u00e7\u00f5es Unidas. Estas quest\u00f5es dizem respeito \u00e0 autoridade suprema do pa\u00eds. S\u00e3o da compet\u00eancia do presidente do pa\u00eds. Atualmente, h\u00e1 v\u00e1rios tipos de resposta incluindo, como disse, respostas assim\u00e9tricas. E n\u00e3o falamos necessariamente de respostas de natureza militar. N\u00e3o \u00e9 preciso responder a amea\u00e7as econ\u00f3micas com meios econ\u00f3micos adequados. Consideramos que, por exemplo, o grau da integra\u00e7\u00e3o ou da depend\u00eancia m\u00fatua das economias da R\u00fassia e dos Estados Unidos \u00e9 insignificante. As empresas norte-americanas n\u00e3o s\u00e3o muito afetadas pelas san\u00e7\u00f5es impostas ao nosso pa\u00eds pelos Estados Unidos porque o volume de neg\u00f3cios \u00e9 modesto. Mas as empresas europeias foram muito afetadas porque o volume de neg\u00f3cios \u00e9 enorme. Neste momento, o com\u00e9rcio com os Estados Unidos representa cerca de 20 mil milh\u00f5es de d\u00f3lares. \u00c9 insignificante. As trocas comerciais com a Uni\u00e3o Europeia s\u00e3o muito mais significativas, j\u00e1 que representam 45% do nosso com\u00e9rcio. Aqui, os valores atingem centenas de mil milh\u00f5es de euros. Dou-lhe um exemplo. Depois das san\u00e7\u00f5es serem impostas, o nosso com\u00e9rcio com a Uni\u00e3o Europeia caiu para metade, dos 430 mil milh\u00f5es de euros para os 220-230 mil milh\u00f5es. A minha pergunta \u00e9: Quais foram as perdas para Europa? A Europa perdeu empregos, perdeu receita, perdeu confian\u00e7a para desenvolver regi\u00f5es que, de uma forma ou de outra, s\u00e3o marcadas pelo com\u00e9rcio com o nosso pa\u00eds. Por isso \u00e9 que as san\u00e7\u00f5es n\u00e3o s\u00e3o uma boa op\u00e7\u00e3o. Continuamos a defender esta ideia mas n\u00e3o fomos n\u00f3s que come\u00e7\u00e1mos nem somos n\u00f3s que podemos acabar com as san\u00e7\u00f5es. Euronews : Apesar das san\u00e7\u00f5es que os Estados Unidos impam \u00e0 R\u00fassia\u200b, Donald Trump parece mais amig\u00e1vel do que outros l\u00edderes. Donald Trump foi a melhor coisa que aconteceu \u00e0 R\u00fassia nos \u00faltimos tempos? Dmitri Medvedev : N\u00f3s n\u00e3o elegemos Donald Trump. Ele \u00e9 o presidente dos Estados Unidos e respeitamos a escolha do povo americano. Se houvesse um presidente diferente, seria respeitado por n\u00f3s da mesma forma. Pelo que podemos ver, Donald Trump vive tempos dif\u00edceis porque est\u00e1 a ser atacado pela direita e pela esquerda. Por um lado, \u00e9 suspeito de ter algum tipo de simpatia pelo nosso pa\u00eds, apesar de n\u00e3o ter feito nada para melhorar de forma radical as rela\u00e7\u00f5es entre os nossos pa\u00edses. E \u00e9 improv\u00e1vel que o fa\u00e7a, tendo em conta a press\u00e3o a que est\u00e1 sujeito. Por outro lado, est\u00e1 a ser pressionado em outras \u00e1reas. Euronews : Falou sobre press\u00e3o. Vou falar sobre a press\u00e3o interna na R\u00fassia. Temos visto protestos na rua talvez por causa da reforma das pens\u00f5es. Havia fotos suas, com a legenda: inimigo do povo. Est\u00e1 preocupado com estes protestos e descontentamento? O seu partido vai continuar com a austeridade? Dmitri Medvedev : Refere-se \u00e0 situa\u00e7\u00e3o no nosso pa\u00eds? Euronews : Sim, na R\u00fassia Dmitri Medvedev : As mudan\u00e7as no pa\u00eds s\u00e3o vistas de forma diferente pelas pessoas. Se se refere \u00e0s quest\u00f5es relacionadas com as mudan\u00e7as na lei das pens\u00f5es, s\u00e3o reformas que n\u00e3o s\u00e3o f\u00e1ceis em nenhum pa\u00eds. S\u00e3o reformas complicadas que deixam as pessoas preocupadas com as suas vidas. No entanto, e tenho dito isto muitas vezes, s\u00e3o mudan\u00e7as necess\u00e1rias. E recorremos a essas medidas acreditando que foram necess\u00e1rias na maioria dos pa\u00edses que atingiram um certo n\u00edvel de desenvolvimento e certos padr\u00f5es de vida. Neste momento, os padr\u00f5es de vida s\u00e3o diferentes e a expetativa de vida no nosso pa\u00eds aumentou para 73 anos, o que torna a situa\u00e7\u00e3o radicalmente diferente do que era nas d\u00e9cadas de 1940 ou 1950, quando a idade da reforma estava estabelecida. Embora dif\u00edcil, esta \u00e9 uma realidade objetiva. Euronews: Mas est\u00e1 preocupado com a gravidade da situa\u00e7\u00e3o? Dmitri Medvedev : Penso que as explica\u00e7\u00f5es que foram dadas e as emendas que foram feitas ao projeto, que foram assinadas e aprovadas, atenuaram as preocupa\u00e7\u00f5es. Penso que a situa\u00e7\u00e3o vai acalmar em breve Euronews : Eu vou para a S\u00edria agora. H\u00e1 quem diga que a R\u00fassia conseguiu atingir os objetivos na regi\u00e3o, assumindo a lideran\u00e7a e principalmente afastando os Estados Unidos. Que tipo de garantias a R\u00fassia pode dar aos s\u00edrios de que podem voltar e de que as suas vidas ser\u00e3o melhores do que sob o dom\u00ednio de Assad? Porque a R\u00fassia quer reconstruir o pa\u00eds. Dmitri Medvedev: A S\u00edria sofreu muito. Estive na S\u00edria em 2010. E fiquei com uma impress\u00e3o muito positiva em compara\u00e7\u00e3o com os outros pa\u00edses da regi\u00e3o. Era um Estado simples, moderno e relativamente secular, onde representantes de diferentes religi\u00f5es viviam lado a lado pacificamente incluindo mu\u00e7ulmanos, crist\u00e3os e alauitas, que s\u00e3o tratados de forma diferente em muitos pa\u00edses. Atualmente, as circunst\u00e2ncias na S\u00edria est\u00e3o completamente invertidas. Na minha opini\u00e3o, o objetivo \u00e9 garantir que a paz seja restaurada. A pedido do estado s\u00edrio e da lideran\u00e7a s\u00edria, estamos a ajudar a restaurar a ordem. O presidente confirmou isso v\u00e1rias vezes e \u00e9 uma situa\u00e7\u00e3o transparente. Esperamos que esta fase termine, que a S\u00edria eleja os seus l\u00edderes e que entre numa fase de recupera\u00e7\u00e3o. Algumas regras v\u00e3o mudar. Vai ser promovido um di\u00e1logo nacional. S\u00f3 ent\u00e3o ser\u00e1 poss\u00edvel alcan\u00e7ar a paz. Estamos prontos para ajudar de todas as formas poss\u00edveis. Euronews : Vou dizer um nome e vai dizer-me a primeira coisa em que pensa, Donald Trump. Dmitri Medvedev : Presidente dos Estados Unidos. Euronews : Putin. \u200b Dmitri Medvedev : Presidente da R\u00fassia. Euronews : Tem de me dizer mais alguma coisa. Qual \u00e9 a primeira coisa em que pensa para o descrever? Dmitri Medvedev : Mas ele \u00e9 de facto o presidente do meu pa\u00eds. Em que deveria pensar? Para al\u00e9m disso, \u00e9 uma pessoa que conhe\u00e7o h\u00e1 muito tempo. \u200b Euronews: Jean-Claude Juncker. Dmitri Medvedev : \u00c9 um dos nossos colegas, o l\u00edder da Uni\u00e3o Europeia. Euronews : Uma palavra, por favor. Dmitri Medvedev : N\u00e3o encontro outra associa\u00e7\u00e3o, apesar de termos boas rela\u00e7\u00f5es. Espero v\u00ea-lo na cimeira. Euronews : Vai estar com Angela Merkel. Dmitri Medvedev : Sim, o mesmo vale para Angela Merkel. Conhecemo-nos h\u00e1 muito tempo. Temos geralmente um bom relacionamento, apesar das recentes diverg\u00eancias. Muito bem, se quiser outra associa\u00e7\u00e3o, h\u00e1 uma \u00f3bvia com Angela Merkel. 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Medvedev: "Quem tira partido das sanções ? Ninguém!"

Medvedev: "Quem tira partido das sanções ? Ninguém!"
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Em entrevista à euronews, o primeiro-ministro da Rússia afirma que as sanções contra a Rússia visam sobretudo "objetivos políticos internos" dos Estados Unidos e da Europa.

O primeiro-ministro da Rússia Dmitri Medvedev foi o nosso convidado em Global Conversation. As sanções económicas contra a Rússia, o papel de Moscovo na reconstrução da Síria, o caso do envenamento de Skrypal e as relações com a Europa e os Estados Unidos foram alguns dos temas abordados durante a entrevista.

Euronews: Vai encontrar-se muito em breve com os seus homólogos europeus em Bruxelas. No início do mês, o presidente do conselho europeu Donald Tusk afirmou que a Rússia de Vladimir Putin representa a maior ameaça à unidade da União Europeia. Ele tem razão?

Dmitri Medvedev: Donald Tusk não representa a posição de toda a União Europeia. Encontrámo-nos várias vezes em diferentes circunstâncias e conheço a posição dele. As coisas que um líder da comissão europeia diz não refletem a opinião de toda a União Europeia. Isso fica na consciência dele.

Euronews: Vai participar na cimeira Europa-Ásia onde se espera que fale de comércio. Mas a geopolítica influencia o comércio. O que é que a Rússia tem para oferecer e o que pode fazer para melhorar a relação com a Europa?

Dmitri Medvedev: Antes de mais, gostaria de dizer duas ou três coisas sobre a cimeira. É uma boa plataforma para avaliar as perspetivas de cooperação entre a Ásia e a Europa. Mas não se tomam decisões fundamentais na cimeira. É no âmbito do G20 que as decisões são tomadas. É o papel que desempenha desde 2008. A cimeira Europa-Ásia é de natureza consultiva mas é uma plataforma importante que produz resultados na qual nós participamos. A cimeira anterior decorreu na Mongólia. Foi um encontro útil onde os líderes da União Europeia, os representantes da Rússia, da região Ásia-Pacífico e da Associação de Nações do Sudeste Asiático partilharam as suas ideias de modo a nos podermos compreender melhor uns aos outros. As atuais relações entre a Rússia e a União Europeia temos de iti-lo, atravessam tempos difíceis. No nosso entender, é o resultado de decisões precipitadas da União Europeia. São os habitantes da União Europeia que pagam o preço e volto a sublinhar que a decisão não foi nossa, mas tem também efeitos negativos no nosso país. As empresas são afetadas e as pessoas também porque uma parte importante do comércio e da cooperação económica foi suspendida e a cooperação cultural foi reduzida significativemente. Infelizmente, perdeu-se o diálogo com certos países. Mencionou Donald Tusk, apesar de ele ser um representante europeu, é oriundo da Polónia. Posso dizer abertamente que não temos relações com a Polónia, ao nível do diálogo político e económico. Isso é bom ou é mau? Não sei. Penso que não é muito bom, tendo em conta a história que liga os nossos países. A dada altura visitei a Polónia e penso que nessa altura estávamos mais perto de um diálogo. Agora esse diálogo é inexistente o que não é nada bom.

Euronews: Entendo que está a dizer que não foi a Rússia que iniciou o conflito mas a Europa não tem a mesma opinião. Estive em Bruxelas. Fala-se do facto de as autoridades holandesas terem interceptado um ciberataque contra a Organização para a Proibição das Armas Químicas que está a investigar o envenenamento de Sergei Skripal e os ataques químicos na Síria. Há acusações coordenadas contra a Rússia de quatro países, Holanda, Reino Unido, Canada e Estados Unidos. Jeremy Hunt diz que a Rússia está a tentar promover instabilidade no mundo. A Rússia não aceita essas acusações. Se a Rússia não leva essas questões a sério, como pode a Rússia ser levada a sério quando apresenta o seu país nessas cimeiras?

Dmitri Medvedev: Não percebo bem o que quer dizer. Diz que a Rússia deve ser vista de uma determinada forma. Nós não participamos nesses eventos para ser percecionados de determinada maneira ou para sermos avaliados. Participamos nesses eventos por várias razões. Acreditamos que é melhor cooperar do que recusar a cooperação, é melhor dialogar do que não dialogar e chegar a acordo sobre as coias é melhor do que estar numa atitude de oposição. O desenvolvimento é melhor do que a estagnação. É por isso que participamos em todos os eventos internacionais desse tipo. Cada país tem o direito de expressar as suas avaliações. Nós ouvimos, mas os líderes da Rússia e o país como um todo não concordam com a maioria dessas avaliações. Isso não significa que devemos recusar a comunicação. Na verdade, penso que terei de falar com diferentes colegas na cimeira Europa-Ásia. A comunicação inclui sempre duas etapas. A primeira são os encontros oficiais previstos, com intérpretes e câmaras e a segunda etapa são as conversações nos bastidores. Às vezes, as últimas são as mais úteis, não estamos sob pressão, com alguém a transcrever o que dizemos e a publicar na internet. Esse tipo de os são habituais e na última cimeira na Mongólia, tive muitos encontros com colegas de diferentes países, em diferentes ocasiões incluindo jantares oficiais. Lembro-me do que disse o Senhor Tusk sobre a cozinha mongol e de muitas outras coisas. Mas isto não significa que os os políticos se limitem a esses encontros.

Euronews: É verdade que há muitas conversas que não acontecem em público mas nos bastidores onde os líderes abordam temas sensíveis. Um deles é sensível para o Reino Unido, já lhe deve ter sido feita a pergunta várias vezes, trata-se do envenenamento de Skripal. A linha de defesa dos dois suspeitos foi desvalorizada na Europa, ou fora da Rússia. Sente-se embaraçado face a essa reação ? Acha que prejudica a credibilidade da Rússia?

Dmitri Medvedev: Uma avaliação desse tipo não promove a cooperação internacional. Lembro-me da União Soviética, do tempo em que usavam rótulos, se estigmatizava o sistema capitalista internacional e se evocavam as coisas que nos dividiam. Isso não levou a nada de bom. É por isso que acreditamos que toda a gente de ter muito cuidado com as avaliações. Em primeiro lugar, as avaliações, anunciadas por certos países não refletem a situação atual nomeadamente a da Inglaterra em relação a esse tema conhecido. Em segundo lugar eles não estão a conduzir-nos para um futuro melhor. Quem tira partido dessas avaliações e das várias sanções impostas? Ninguém! É óbvio que as sanções levam a um ime. Nós percebemos porque razão isto está a acontecer. Na maioria dos casos, esse tipo de avaliações e sanções não se destina a punir ou a prejudicar alguém ou a mostrar uma posição. Não! Há outras razões que têm a ver com a conjuntura política interna. Ainda não falámos dos nosso amigos do outro lado do oceano, por exemplo, da histeria anti-Rússia nos Estados Unidos. Estamos perfeitamente conscientes de que nos Estados Unidos tudo o que tem a ver com a Rússia tem um outro objetivo: tem a ver com as querelas políticas internas, com as querelas entre os Republicanos e os Democratas e com as querelas dentro do partido republicano, podemos dizer o mesmo em relação à Europa. Em 90% dos casos, esta campanha anti-Rússia tem a ver com objetivos de política interna, como ficar no poder, formar governo ou atingir outro objetivo, é claro que o objetivo não é influenciar a posição da Rússia que não pode ser influenciada, isso é algo que toda a gente percebe muito bem.

Euronews: Vamos falar das sanções e da economia, mas antes disso, quero fazer uma pergunta sobre os dois suspeitos do caso Skripal. Quero saber se acredita mesmo que eles estavam lá para ver uma catedral.

Dmitri Medvedev: Não sei. Não vou comentar. Não conheço essas pessoas, nem estou a par dos detalhes dessas declarações. Não sei o que se ou, como poderia saber?

Euronews: Vamos falar das sanções impostas pelos Estados Unidos. Disse que eles acusaram a Rússia de interferência nas eleições. Disse que as sanções americanas contra os bancos russos representam uma declaração de guerra económica. A Rússia vê-se a si própria como estando em guerra com os Estados Unidos ou com outro país que impôs sanções?

Dmitri Medvedev: Já falei publicamente dessa questão. Claramente, o reforço das sanções não vai levar a lado nenhum. Os americanos dizem que querem fazer pressão através das sanções. Já o disse mas quero voltar a repetir o exemplo das sanções contra a União Soviética, - ainda que não sejamos a União Soviética e que o estado da Rússia tenha outros valores, somos o sucessor legal da União Soviética - como estava a dizer as sanções contra a união soviética foram pronunciadas dez vezes no séculos XX e será que isso mudou a política da União Soviética? Houve sanções contra a China. Isso mudou a política dos líderes da China? E podia continuar a dar exemplos. As sanções são contra-produtivas. As sanções contra o setor bancário são de facto declarações de guerra. São as sanções mais duras. Mas sem dúvida vamos conseguir ultraar esta forma de pressão, a nossa economia é capaz de se adaptar. A única questão é: qual é a necessidade disto? Isto prejudica a ordem internacional, incluindo a ordem económica internacional. Atualmente, há guerras económicas - é disso que se trata - entre os Estados Unidos e a China, entre os Estados Unidos e a União Europeia, entre os Estados Unidos e o Irão. Algumas das sanções são contra o nosso país. E eu pergunto, isto é benéfico para o sistema de comércio internacional ? Os países ficaram melhores? As empresas estão melhores? Podemos dizer que alguns objetivos de política interna podem ser atingidos no curto prazo, em termos históricos.

Euronews: Como é que a Rússia vai reagir? Disse que a reacção seria do ponto de vista económico, político ou, se necessário, através de outros meios. O que quer dizer com outros meios?

Dmitri Medvedev: As respostas podem ser muito diferentes, dependendo da situação ​?

Euronews: Podem ser militares?

Dmitri Medvedev: Isso está completamente fora de questão no mundo contemporâneo. Somos um Estado responsável e um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Estas questões dizem respeito à autoridade suprema do país. São da competência do presidente do país. Atualmente, há vários tipos de resposta incluindo, como disse, respostas assimétricas. E não falamos necessariamente de respostas de natureza militar. Não é preciso responder a ameaças económicas com meios económicos adequados. Consideramos que, por exemplo, o grau da integração ou da dependência mútua das economias da Rússia e dos Estados Unidos é insignificante. As empresas norte-americanas não são muito afetadas pelas sanções impostas ao nosso país pelos Estados Unidos porque o volume de negócios é modesto. Mas as empresas europeias foram muito afetadas porque o volume de negócios é enorme. Neste momento, o comércio com os Estados Unidos representa cerca de 20 mil milhões de dólares. É insignificante. As trocas comerciais com a União Europeia são muito mais significativas, já que representam 45% do nosso comércio. Aqui, os valores atingem centenas de mil milhões de euros. Dou-lhe um exemplo. Depois das sanções serem impostas, o nosso comércio com a União Europeia caiu para metade, dos 430 mil milhões de euros para os 220-230 mil milhões. A minha pergunta é: Quais foram as perdas para Europa? A Europa perdeu empregos, perdeu receita, perdeu confiança para desenvolver regiões que, de uma forma ou de outra, são marcadas pelo comércio com o nosso país. Por isso é que as sanções não são uma boa opção. Continuamos a defender esta ideia mas não fomos nós que começámos nem somos nós que podemos acabar com as sanções.

Euronews: Apesar das sanções que os Estados Unidos impam à Rússia​, Donald Trump parece mais amigável do que outros líderes. Donald Trump foi a melhor coisa que aconteceu à Rússia nos últimos tempos?

Dmitri Medvedev: Nós não elegemos Donald Trump. Ele é o presidente dos Estados Unidos e respeitamos a escolha do povo americano. Se houvesse um presidente diferente, seria respeitado por nós da mesma forma. Pelo que podemos ver, Donald Trump vive tempos difíceis porque está a ser atacado pela direita e pela esquerda. Por um lado, é suspeito de ter algum tipo de simpatia pelo nosso país, apesar de não ter feito nada para melhorar de forma radical as relações entre os nossos países. E é improvável que o faça, tendo em conta a pressão a que está sujeito. Por outro lado, está a ser pressionado em outras áreas.

Euronews: Falou sobre pressão. Vou falar sobre a pressão interna na Rússia. Temos visto protestos na rua talvez por causa da reforma das pensões. Havia fotos suas, com a legenda: inimigo do povo. Está preocupado com estes protestos e descontentamento? O seu partido vai continuar com a austeridade?

Dmitri Medvedev: Refere-se à situação no nosso país?

Euronews: Sim, na Rússia

Dmitri Medvedev: As mudanças no país são vistas de forma diferente pelas pessoas. Se se refere às questões relacionadas com as mudanças na lei das pensões, são reformas que não são fáceis em nenhum país. São reformas complicadas que deixam as pessoas preocupadas com as suas vidas. No entanto, e tenho dito isto muitas vezes, são mudanças necessárias. E recorremos a essas medidas acreditando que foram necessárias na maioria dos países que atingiram um certo nível de desenvolvimento e certos padrões de vida. Neste momento, os padrões de vida são diferentes e a expetativa de vida no nosso país aumentou para 73 anos, o que torna a situação radicalmente diferente do que era nas décadas de 1940 ou 1950, quando a idade da reforma estava estabelecida. Embora difícil, esta é uma realidade objetiva.

Euronews: Mas está preocupado com a gravidade da situação?

Dmitri Medvedev: Penso que as explicações que foram dadas e as emendas que foram feitas ao projeto, que foram assinadas e aprovadas, atenuaram as preocupações. Penso que a situação vai acalmar em breve

Euronews: Eu vou para a Síria agora. Há quem diga que a Rússia conseguiu atingir os objetivos na região, assumindo a liderança e principalmente afastando os Estados Unidos. Que tipo de garantias a Rússia pode dar aos sírios de que podem voltar e de que as suas vidas serão melhores do que sob o domínio de Assad? Porque a Rússia quer reconstruir o país.

Dmitri Medvedev: A Síria sofreu muito. Estive na Síria em 2010. E fiquei com uma impressão muito positiva em comparação com os outros países da região. Era um Estado simples, moderno e relativamente secular, onde representantes de diferentes religiões viviam lado a lado pacificamente incluindo muçulmanos, cristãos e alauitas, que são tratados de forma diferente em muitos países. Atualmente, as circunstâncias na Síria estão completamente invertidas. Na minha opinião, o objetivo é garantir que a paz seja restaurada. A pedido do estado sírio e da liderança síria, estamos a ajudar a restaurar a ordem. O presidente confirmou isso várias vezes e é uma situação transparente. Esperamos que esta fase termine, que a Síria eleja os seus líderes e que entre numa fase de recuperação. Algumas regras vão mudar. Vai ser promovido um diálogo nacional. Só então será possível alcançar a paz. Estamos prontos para ajudar de todas as formas possíveis.

Euronews: Vou dizer um nome e vai dizer-me a primeira coisa em que pensa, Donald Trump.

Dmitri Medvedev: Presidente dos Estados Unidos.

Euronews: Putin.

Dmitri Medvedev: Presidente da Rússia.

Euronews: Tem de me dizer mais alguma coisa. Qual é a primeira coisa em que pensa para o descrever?

Dmitri Medvedev: Mas ele é de facto o presidente do meu país. Em que deveria pensar? Para além disso, é uma pessoa que conheço há muito tempo.

Euronews: Jean-Claude Juncker.

Dmitri Medvedev: É um dos nossos colegas, o líder da União Europeia.

Euronews: Uma palavra, por favor.

Dmitri Medvedev: Não encontro outra associação, apesar de termos boas relações. Espero vê-lo na cimeira.

Euronews: Vai estar com Angela Merkel.

Dmitri Medvedev: Sim, o mesmo vale para Angela Merkel. Conhecemo-nos há muito tempo. Temos geralmente um bom relacionamento, apesar das recentes divergências. Muito bem, se quiser outra associação, há uma óbvia com Angela Merkel. Lembro-me que ela disse que cresceu na Alemanha de Leste

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