{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2018/06/01/exclusivo-joao-lourenco-estamos-preparados-e-vamos-derrotar-o-gigante-da-corrupcao-" }, "headline": "Exclusivo - Jo\u00e3o Louren\u00e7o: \u0022Estamos preparados e vamos derrotar o gigante da corrup\u00e7\u00e3o\u0022", "description": "O combate \u00e0 corrup\u00e7\u00e3o, as rela\u00e7\u00f5es com Portugal e a Economia. Na sua primeira grande entrevista \u00e0 Euronews, o Presidente de Angola, Jo\u00e3o Louren\u00e7o, explica a sua vis\u00e3o para o pa\u00eds que tenta sair de uma grave crise econ\u00f3mica. Uma conversa sem tabus.", "articleBody": "O combate \u00e0 corrup\u00e7\u00e3o, as rela\u00e7\u00f5es com Portugal e a Economia. Na sua primeira grande entrevista e em exclusivo, o Presidente de Angola, Jo\u00e3o Louren\u00e7o, explicou \u00e0 Euronews a sua vis\u00e3o para o pa\u00eds que tenta sair de uma grave crise econ\u00f3mica. Uma conversa sem tabus com o chefe de Estado que garantiu uma transi\u00e7\u00e3o de poder sem sobressaltos depois de 38 anos de governa\u00e7\u00e3o de Jos\u00e9 Eduardo dos Santos. Encontr\u00e1mos o Presidente em Toulouse, Fran\u00e7a, na primeira visita de Estado de Jo\u00e3o Louren\u00e7o \u00e0 Europa. Michel Santos, Euronews: Porqu\u00ea Fran\u00e7a para sua primeira visita de Estado \u00e0 Europa? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Porque Fran\u00e7a \u00e9 um pa\u00eds importante para Angola. N\u00f3s entendemos com esta visita procurar refor\u00e7ar os la\u00e7os de amizade que s\u00e3o hist\u00f3ricos com este pa\u00eds. Da\u00ed a raz\u00e3o de nos encontrarmos por aqui. E correspondeu \u00e0s nossas expectativas, fomos muito bem recebidos, ao mais alto n\u00edvel, pelo Presidente Emmanuel Macron, com quem almo\u00e7\u00e1mos, um almo\u00e7o de trabalho que consideramos ter sido bastante frut\u00edfero para ambas as partes, tanto para Angola como para Fran\u00e7a. Abord\u00e1mos as quest\u00f5es fundamentais das rela\u00e7\u00f5es bilaterais entre os nossos pa\u00edses, quest\u00f5es pol\u00edticas, de diplomacia, obviamente quest\u00f5es que t\u00eam a ver, sobretudo, com a coopera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica. Tivemos a oportunidade de interagir com... Inicialmente estavam previstos cerca de 80 empres\u00e1rios ses mas acabaram por ser, e fic\u00e1mos surpreendidos, pois acabaram por ser cerca de 150 empres\u00e1rios, \u00e1vidos em saber da nova situa\u00e7\u00e3o que Angola vive, do novo ambiente de neg\u00f3cios que estamos a criar no pa\u00eds. Michel Santos, Euronews: Justamente, em termos econ\u00f3micos, que medidas tomou e que medidas tenciona tomar para incentivar o investimento em Angola? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: N\u00f3s acab\u00e1mos de aprovar uma nova lei do investimento privado, que consideramos ser mais atrativa, O investidor privado estrangeiro j\u00e1 n\u00e3o tem a obriga\u00e7\u00e3o de se juntar a nenhum empres\u00e1rio nacional. Faz se assim o entender. Em termos de vistos para os homens de neg\u00f3cios irem a Angola, cri\u00e1mos um quadro de uma grande facilita\u00e7\u00e3o, e para alguns casos, um modelo de isen\u00e7\u00e3o de vistos, de vistos em aportes ordin\u00e1rios.\u00a0 Por outro lado, havia, e ainda h\u00e1, para ser sincero \u2013 porque n\u00e3o posso considerar que j\u00e1 vencemos esta batalha, continuamos a lutar \u2013 estamos muito empenhados em afastar um grande impedimento para os neg\u00f3cios em Angola que \u00e9 o chamado fen\u00f3meno da corrup\u00e7\u00e3o. Portanto, isto \u00e9 uma luta que \u00e9 dif\u00edcil, que vai levar algum tempo, mas estamos preparados para enfrentar esse gigante problema da corrup\u00e7\u00e3o e temos a certeza que vamos vencer. Michel Santos, Euronews: Recentemente, a Human Rights Watch escreveu uma carta aberta a pedir que melhorasse alguns aspetos de viola\u00e7\u00e3o dos direitos humanos. Vai trabalhar nisso? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Estamos a trabalhar no sentido de que isso n\u00e3o aconte\u00e7a. Nos oito meses da minha governa\u00e7\u00e3o, n\u00e3o sei se existem casos. (...) estarei atento para que isso n\u00e3o aconte\u00e7a. Michel Santos, Euronews: A impunidade tem os dias contados? Foi uma das frases na sua tomada de posse. Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Com certeza que tem, tem os dias contados. Portanto, a Justi\u00e7a est\u00e1, digamos, a adaptar-se ao novo quadro. E quem combate a corrup\u00e7\u00e3o n\u00e3o s\u00e3o s\u00f3 os pol\u00edticos, eles fazem a parte deles, a pr\u00f3pria sociedade deve e est\u00e1 a faz\u00ea-lo, a sua parte, com den\u00fancias e outro tipo de rea\u00e7\u00e3o contra a corrup\u00e7\u00e3o e, obviamente, a Justi\u00e7a \u00e9 a ponta final desta cadeia de for\u00e7as que tem a miss\u00e3o de combater a corrup\u00e7\u00e3o. Michel Santos, Euronews: A impunidade tem os dias contados, mesmo para o ex-vice-presidente Manuel Vicente, cujo processo foi transferido para Luanda? Obviamente no quadro da presun\u00e7\u00e3o de inoc\u00eancia... Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Sim, mesmo para ele, embora \u2013 digamos a verdade \u2013 existe a promessa da remiss\u00e3o para Angola. Efetivamente, isso ainda n\u00e3o aconteceu. Angola continua a aguardar que as autoridades portuguesas enviem o processo para Angola e, naturalmente, quando o recebermos, daremos o devido tratamento. Portanto, eu dizia, na primeira grande entrevista, no in\u00edcio do corrente ano, que n\u00e3o pretendemos lavar a imagem do Engenheiro Manuel Vicente, se \u00e9 que ela est\u00e1 suja. Portanto, a acusa\u00e7\u00e3o de que ele praticou um crime, tem a presun\u00e7\u00e3o da inoc\u00eancia. Mal recebamos o processo de Portugal, as entidades competentes da Justi\u00e7a v\u00e3o prosseguir com o processo. Michel Santos, Euronews: No seu discurso de tomada de posse, n\u00e3o s\u00f3 ignorou Portugal como deixou o pa\u00eds de fora dos \u201cimportantes parceiros\u201d a que Angola \u201cdar\u00e1 primazia\u201d. Como est\u00e3o as rela\u00e7\u00f5es entre Luanda e Lisboa? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Bom, em primeiro lugar quero dizer que n\u00e3o ignorei ningu\u00e9m. Portanto, h\u00e1 pa\u00edses que eu n\u00e3o citei, n\u00e3o era poss\u00edvel citar todos. H\u00e1 pa\u00edses com quem temos rela\u00e7\u00f5es muito pr\u00f3ximas de h\u00e1 muitos anos, foi por mero acaso. N\u00e3o houve nenhuma inten\u00e7\u00e3o deliberada, posso citar o caso de Cuba, por exemplo, cujos filhos verteram o seu sangue em Angola, e n\u00e3o me recordo, nessa minha interven\u00e7\u00e3o, de ter colocado Cuba entre os pa\u00edses com quem pretendemos ter uma parceria estrat\u00e9gica. Como v\u00e3o as rela\u00e7\u00f5es com Portugal? V\u00e3o bem, estamos ansiosos em receber o primeiro-ministro, Ant\u00f3nio Costa, em Luanda, a n\u00edvel dos ministros das Rela\u00e7\u00f5es Exteriores, os dois est\u00e3o a acertar datas e isso vai acontecer a todo o momento. Michel Santos, Euronews: Mas essa omiss\u00e3o aconteceu no contexto do caso Manuel Vicente e ter\u00e1 tido, certamente, uma interpreta\u00e7\u00e3o, de que as rela\u00e7\u00f5es n\u00e3o estariam assim muito bem. Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Sim, as pessoas t\u00eam essa liberdade de fazer a interpreta\u00e7\u00e3o que entenderem. Mas eu estou a dizer que, em principio, n\u00e3o foi intencional e veremos daqui para a frente o que vai acontecer. Acho que s\u00f3 v\u00e3o acontecer coisas boas. Michel Santos, Euronews: Tem algum projeto para refor\u00e7ar a coopera\u00e7\u00e3o entre os pa\u00edses lus\u00f3fonos, a LP. Ou \u00e9 a Francofonia que lhe interessa? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Interessam todas. Interessa, em primeiro lugar, a LP, da qual somos membros naturais, genu\u00ednos, se me permite a express\u00e3o. E come\u00e7a a interessar-nos tamb\u00e9m a Francofonia que, por enquanto, \u00e9 apenas uma mera inten\u00e7\u00e3o. Fal\u00e1mos no Pal\u00e1cio do Eliseu sobre esta possibilidade \u2013 quer eu, quer o Presidente Emmanuel Macron. Diria que as duas s\u00e3o importantes, uma mais importante do que outra, neste caso a LP. Mas no que diz respeito \u00e0 francofonia \u00e9 preciso que se entenda que, a exemplo do que se a com Mo\u00e7ambique, que est\u00e1 ali encravado em pa\u00edses angl\u00f3fonos, tem o Malawi, a Tanz\u00e2nia, a pr\u00f3pria \u00c1frica do Sul, e acabou por aderir \u00e0 pr\u00f3pria Commonwealth, tamb\u00e9m Angola est\u00e1 cercada, n\u00e3o por pa\u00edses lus\u00f3fonos, mas por pa\u00edses franc\u00f3fonos e angl\u00f3fonos. Portanto, n\u00e3o se irem que estejamos a pensar em pedir agora a ades\u00e3o \u00e0 Francofonia e daqui a uns dias estejamos tamb\u00e9m a pedir ades\u00e3o \u00e0 Commonwealth. Michel Santos, Euronews: E porque n\u00e3o Portugal ser a porta de entrada na Uni\u00e3o Europeia e ser Fran\u00e7a? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Bom, n\u00e3o sei quem disse que ser\u00e1 Fran\u00e7a. O simples facto de eu estar a fazer uma visita a Fran\u00e7a, n\u00e3o quer dizer que ser\u00e1 Fran\u00e7a a porta de entrada. Michel Santos, Euronews: Foi falado na comunica\u00e7\u00e3o social que gostaria que Fran\u00e7a fosse a porta de entrada na Uni\u00e3o Europeia. Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Por mim? N\u00e3o, de certeza. falei no interesse em estabelecer uma parceria estrat\u00e9gica com a Fran\u00e7a, mas a parceria estrat\u00e9gica, ningu\u00e9m tem exclusividade disso, n\u00e3o se estabelece apenas com um pa\u00eds. Temos a liberdade de estabelecer com tantos pa\u00edses quantos n\u00f3s quisermos. Portanto eu n\u00e3o disse em momento nenhum, nem em p\u00fablico, nem em privado, que pretendia que fosse a Fran\u00e7a a porta de entrada para a Uni\u00e3o Europeia. Michel Santos, Euronews: Muitos angolanos anseiam por reformas, existem graves problemas especialmente nos setores da sa\u00fade, a pobreza, entre 20 a 30 por cento dos angolanos vive na pobreza extrema. Quando \u00e9 que os angolanos v\u00e3o come\u00e7ar a sentir mudan\u00e7as? J o\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Ningu\u00e9m est\u00e1 em condi\u00e7\u00f5es de estabelecer uma data. Isso j\u00e1 est\u00e1 a acontecer, no fundo. Pouco a pouco vem acontecendo. N\u00f3s pretendemos diversificar a nossa economia, precisamente, para que o pa\u00eds tenha mais recursos para investir, sobretudo na \u00e1rea social, na educa\u00e7\u00e3o, na sa\u00fade e noutras \u00e1reas, na habita\u00e7\u00e3o e que se consiga uma maior oferta de emprego e, muito em particular, para os jovens. Michel Santos, Euronews: A agricultura \u00e9 uma das suas grandes apostas. Porqu\u00ea? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Em \u00c1frica, n\u00e3o apostar na agricultura \u00e9 um erro crasso. \u00c1frica tem condi\u00e7\u00f5es \u00f3timas para o desenvolvimento da agricultura. A agricultura \u00e9 um ramo da economia que d\u00e1 bastante emprego. Portanto, temos a necessidade da agricultura para matar a fome, por um lado, reduzir os \u00edndices de mis\u00e9ria, que infelizmente ainda existem. Temos que ser francos. E tamb\u00e9m para que seja uma fonte de produtos de exporta\u00e7\u00e3o como forma de diversificar. Portanto, n\u00e3o se produzem divisas apenas com a venda de petr\u00f3leo, \u00e9 tamb\u00e9m com a venda de outros produtos, incluindo, produtos do campo. Os pa\u00edses mais desenvolvidos do mundo investem muito em agricultura, n\u00f3s por maioria de raz\u00e3o, dever\u00edamos investir mais na agricultura, mais do que eles. Michel Santos, Euronews: O senhor \u00e9 muito popular em Angola mas existe tamb\u00e9m muito ceticismo. O senhor Presidente surpreendeu em mexer em certos interesses instalados. Por exemplo, afastou de setores-chave membros da fam\u00edlia do anterior Presidente, Jos\u00e9 Eduardo dos Santos. \u00c9 apenas uma mudan\u00e7a de cadeiras ou vamos ter reformas profundas e uma mudan\u00e7a de atitude? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: N\u00e3o \u00e9 uma mera dan\u00e7a de cadeiras, n\u00f3s mexemos nos quadros sempre na esperan\u00e7a de alcan\u00e7ar melhores resultados. Eu n\u00e3o mexi nos filhos de um ex-Presidente, eu mexi em cidad\u00e3os angolanos. S\u00e3o cidad\u00e3os angolanos, que est\u00e3o sujeitos, tanto como os outros, \u00e0s mesmas regras. Nesses oito meses n\u00e3o foram exoneradas apenas duas pessoas. Foram exoneradas um conjunto de pessoas e seria injusto n\u00f3s nos preocuparmos apenas com duas pessoas. Portanto, essas duas n\u00e3o est\u00e3o bem perante a lei e perante outro tipo de valores, acima dos outros cidad\u00e3os, que tamb\u00e9m tiveram a mesma sorte, que tamb\u00e9m foram exonerados. Na Sonangol, n\u00f3s acabamos por alguns contratos com a Total, em Paris \u2013 apenas para citar este exemplo, os contratos que foram assinados com a Total, mas n\u00e3o s\u00f3 \u2013 e dizer que a ind\u00fastria petrol\u00edfera em Angola, de novembro para c\u00e1, o clima existente nessa ind\u00fastria, melhorou bastante e fez com que a Total e outras petrol\u00edferas se disponibilizassem a fazer grandes investimentos em Angola, coisa que n\u00e3o acontecia no ado, no ado recente. Portanto, eu creio que vamos dar tempo ao tempo e veremos que as mudan\u00e7as foram feitas no momento devido e n\u00e3o estou arrependido, porque tenho a certeza que as coisas v\u00e3o melhorar. Michel Santos, Euronews: O jornalista e ativista Rafael Marques afirma que \u00e9 mais do mesmo e que existem ind\u00edcios de pr\u00e1ticas menos corretas em seu redor, por parte de pessoas ligadas ao seu governo. Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Sim, mas quais ind\u00edcios? Michel Santos, Euronews: Tem a ver com a utiliza\u00e7\u00e3o do Fundo Soberano para a aquisi\u00e7\u00e3o de avi\u00f5es [para uma empresa privada] Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Ao contr\u00e1rio de n\u00f3s mexermos nos recursos do Fundo Soberano, ao contr\u00e1rio disso, n\u00f3s estamos \u00e0 ca\u00e7a desses recursos. Estamos num processo de procurar reaver esses mesmos recursos. Como sabe, foram colocados \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o do Fundo Soberano cinco mil milh\u00f5es de d\u00f3lares - nesta altura deveria existir mais do que isso \u2013 porque aquilo \u00e9 um fundo de investimento e quando se investe, o objetivo \u00e9 multiplicar os recursos. O que sabemos \u00e9 que temos menos do que esse valor inicial e mesmo assim temos uma ideia de onde \u00e9 que esses recursos est\u00e3o: nas Maur\u00edcias, em Inglaterra, noutros cantos do planeta e estamos neste momento num processo de reaver esses mesmos recursos. O normal seria, no ato de transfer\u00eancia de pastas, de um conselho de istra\u00e7\u00e3o para o outro, o anterior conselho de istra\u00e7\u00e3o abrir o jogo de forma transparente e dizer onde esses recursos est\u00e3o. Isso n\u00e3o aconteceu e se aconteceu n\u00e3o foi convincente. Portanto, isto para dizer que n\u00e3o tir\u00e1mos recursos, do Fundo para, absolutamente, nada. E essa companhia ou cons\u00f3rcio, entre a companhia de bandeira Taag e algumas empresas privadas n\u00e3o vai sair, n\u00e3o vai acontecer. Eu desafio os ageiros angolanos, que me digam: \u201colhe, o senhor disse \u00e0 Euronews que n\u00e3o existia cons\u00f3rcio nenhum mas eu hoje viajei num dos avi\u00f5es de que o senhor fulano tal falou.\u0022 Portanto esse \u00e9 o desafio que eu fa\u00e7o. N\u00e3o fa\u00e7o ao autor da acusa\u00e7\u00e3o, mas fa\u00e7o a todos os angolanos, potenciais ageiros, dessa companhia fict\u00edcia. Michel Santos, Euronews: Em Fran\u00e7a, assinou acordos no \u00e2mbito de Defesa. Podemos saber alguns detalhes sobre esses acordos? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Bom, os acordos, regra geral, s\u00e3o acordos-tipo, acordos que d\u00e3o v\u00e1rias possibilidades. Depois disso, \u00e9 preciso ver projetos em concreto, um a um, que devem estar previstos nos acordos. Portanto, n\u00e3o existem ainda projetos em concreto mas existe a possibilidade de prepararmos a forma\u00e7\u00e3o dos nossos oficiais, em qualquer um dos ramos \u2013 Ex\u00e9rcito, For\u00e7a A\u00e9rea e a Marinha \u2013 existe a possibilidade de prepararmos em termos de vigil\u00e2ncia mar\u00edtima, sobretudo no Golfo da Guin\u00e9. Como sabe, Angola \u00e9 um pa\u00eds que est\u00e1 localizado ali no Golfo da Guin\u00e9, como sabe o Golfo da Guin\u00e9 \u00e9 uma importante rota internacional mar\u00edtima e \u00e9 do interesse de todos os pa\u00edse, assegurar o Golfo da Guin\u00e9 e evitar que algum dia possa a acontecer o que se a nas costas da Som\u00e1lia. N\u00e3o est\u00e1 vedada a possibilidade tamb\u00e9m do fornecimento de equipamento militar. Portanto, se Angola estiver interessada em adquirir meios militares \u00e0 Fran\u00e7a, a Fran\u00e7a \u00e9 produtora de armamento, de avi\u00f5es militares e navios de guerra e outros. Se houver esse interesse, o acordo prev\u00ea essa possibilidade. Michel Santos, Euronews: Foi debatido o cen\u00e1rio da Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo (RDC). Esses acordos de defesa estar\u00e3o, de certa foram, relacionados, tamb\u00e9m? Uma vez que existe uma grande fronteira entre os dois pa\u00edses? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Sim, abord\u00e1mos a situa\u00e7\u00e3o na RDC. Sabe que a RDC tem mais de 2500 quil\u00f3metros com Angola. S\u00f3 por esta raz\u00e3o \u00e9 do interesse de Angola que haja estabilidade no pa\u00eds vizinho e Angola vai \u2013 e j\u00e1 tem feito ao longo desses anos, obviamente, n\u00e3o come\u00e7\u00e1mos agora \u2013 e continuaremos a fazer tudo no sentido de ajudar as autoridades congolesas, o povo congol\u00eas, a viver em harmonia, ali\u00e1s, um ambiente \u00fanico que pode proporcionar o desenvolvimento daquele pa\u00eds que n\u00e3o est\u00e1, por raz\u00f5es de diversa ordem, digamos, a capitalizar ao m\u00e1ximo, as potencialidades que tem. Sabem que houve um acordo entre o executivo congol\u00eas e a oposi\u00e7\u00e3o. Como sabe, esse acordo foi aben\u00e7oado, digamos assim, pela igreja, foi mediado pela igreja cat\u00f3lica, foi assinado livremente, ningu\u00e9m for\u00e7ou ningu\u00e9m a fazer esse acordo e esse acordo obriga, sobretudo o executivo, a organizar elei\u00e7\u00f5es livres na RDC. H\u00e1 uma data que parece consensual, que \u00e9 o dia 23 de dezembro do corrente ano e a n\u00e3o apresenta\u00e7\u00e3o como candidato do atual Presidente da Rep\u00fablica. Tudo quanto queremos \u00e9 que esse acordo seja cumprido, porque entendemos que o n\u00e3o cumprimento do mesmo pode levar a convuls\u00f5es pol\u00edticas e sociais no territ\u00f3rio da RDC que n\u00e3o ser\u00e3o agrad\u00e1veis para os congoleses e os pr\u00f3prios vizinhos. Portanto, esta preocupa\u00e7\u00e3o que Angola tem, n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 de Angola. De uma forma geral, todos os outros vizinhos, somos nove, ao todo, que fazemos fronteira com a RDC, acompanhamos com aten\u00e7\u00e3o o desenvolvimento da situa\u00e7\u00e3o. Michel Santos, Euronews: Caso o acordo de S\u00e3o Silvestre falhe, o que tenciona fazer? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: O que tencionamos fazer, somos nove pa\u00edses \u00e0 volta, n\u00e3o seria s\u00f3 Angola a sofrer. \u00c9 isso que queremos evitar, portanto \u00e9 sempre melhor prevenir do que remediar. E estamos a trabalhar nesse sentido, estamos a conversar com alguma frequ\u00eancia, com alguma regularidade com o presidente Joseph Kabila. Estamos dispon\u00edveis a continuar a aconselh\u00e1-lo, n\u00e3o a disso, s\u00e3o s\u00f3 conselhos. E ele \u00e9 livre de aceitar ou n\u00e3o aceitar os nossos conselhos. Michel Santos, Euronews: Mas caso o acordo falhe e o pa\u00eds mergulhe numa grande instabilidade, Angola e os parceiros t\u00eam todos os cen\u00e1rios em aberto, todas as op\u00e7\u00f5es em aberto, digamos assim? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Eu sei onde quer chegar mas n\u00e3o lhe vou dar o prazer [risos] de falar deles, sequer. Especula-se muito. Se n\u00f3s dissermos que queremos estabilidade, ent\u00e3o tudo o que viermos a fazer ser\u00e1 no interesse da estabilidade, para todos. Michel Santos, Euronews: Qual \u00e9 a sua vis\u00e3o para \u00c1frica, oportunidades e desafios? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Eu ainda estou recordado do tempo em que, quando n\u00f3s fal\u00e1vamos da China, e de uma forma geral, de uma boa parte dos pa\u00edses asi\u00e1ticos - com exce\u00e7\u00e3o do Jap\u00e3o - a figura que nos vinha \u00e0 cabe\u00e7a era a figura de um homem num arrozal com uma charrua puxada a b\u00fafalos, a trabalhar. Portanto, o trabalho dignifica o homem... mas naquela altura as condi\u00e7\u00f5es desse trabalho eram essas que eu acabo de refletir aqui. Hoje, o que \u00e9 a China? O que \u00e9 a \u00c1sia, de uma forma geral? Eles conseguiram sair, em poucas d\u00e9cadas, da condi\u00e7\u00e3o de n\u00e3o terem um trator pequenito - o trator era o b\u00fafalo - e hoje s\u00e3o, digamos, o trator do mundo. S\u00e3o o trator que puxa a economia do mundo. Quer gostemos deles ou n\u00e3o. H\u00e1 quem n\u00e3o goste muito da China, mas n\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o de gostar ou deixar de gostar, s\u00e3o factos. Basta ver, agora, o bra\u00e7o-de-ferro entre os Estados Unidos e a China, o desfecho que teve, t\u00e3o r\u00e1pido, t\u00e3o cir\u00fargico, quase que n\u00e3o demos por ela, de um dia para o outro, o problema ficou resolvido. Estamos a falar s\u00f3 do lit\u00edgio comercial que foi levantado. 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Michel Santos, Euronews: Acredita que em breve, alguns dos problemas cr\u00f3nicos podem ser resolvidos em \u00c1frica? Falo nomeadamente, da corrup\u00e7\u00e3o, viola\u00e7\u00e3o dos direitos humanos, conflitos internos... Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Sim, eu acredito. Por exemplo, se formos a ver a regi\u00e3o da SADEC, \u00e9 uma regi\u00e3o que ao longo de muitos anos tem conseguido uma estabilidade que \u00e9 quase uniforme. Portanto, se nessa regi\u00e3o consegue-se isso, creio que isso se pode expandir para todo o continente. Michel Santos, Euronews: Falando de direitos humanos e liberdade de express\u00e3o, o jornalista e ativisa Rafael Marques foi novamente agraciado com um pr\u00e9mio. Mas ele est\u00e1 novamente em tribunal. Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: O \u00fanico coment\u00e1rio que eu fa\u00e7o \u00e9 que quem apresentou a queixa foi um cidad\u00e3o que se sentiu lesado, na sua honra, e como em qualquer estado democr\u00e1tico e de direito, e isso acontece em qualquer um deles, entendeu que a melhor forma de se defender foi recorrer \u00e0 justi\u00e7a. A justi\u00e7a por m\u00e3os pr\u00f3prias \u00e9 de se condenar, ningu\u00e9m deve fazer justi\u00e7a por m\u00e3os pr\u00f3prias, os tribunais existem, justamente, para isso. De resto, n\u00e3o tenho mais coment\u00e1rios. Resta-me desejar-lhe boa sorte. Michel Santos, Euronews: Acha importante existirem pessoas que tentem e que lutem contra a corrup\u00e7\u00e3o, ou pelo menos para revelar situa\u00e7\u00f5es menos pr\u00f3prias? No quadro tamb\u00e9m da sua inten\u00e7\u00e3o de melhorar e combater a impunidade? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: Quem combate a corrup\u00e7\u00e3o deve continuar a faz\u00ea-lo mas o cidad\u00e3o que combate a corrup\u00e7\u00e3o, n\u00e3o est\u00e1 livre, tamb\u00e9m de poder vir a ser processado, se houver raz\u00f5es para tal. Obviamente, n\u00e3o pode ser injusti\u00e7ado. Se houver raz\u00f5es para tal, se algu\u00e9m se sentir lesado e procurar se defender, tem a liberdade de procurar a justi\u00e7a, uma vez que constituiu advogados de defesa. N\u00e3o estou a ver outro caminho. Michel Santos, Euronews: Nestes oito meses de presid\u00eancia, qual foi o seu maior obst\u00e1culo? Jo\u00e3o Louren\u00e7o, Presidente de Angola: O meu maior obst\u00e1culo foi a falta de tempo. O dia devia ter 48 horas. Lamentavelmente, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel. S\u00f3 tem 24, o que \u00e9 insuficiente e, pronto, oito meses \u00e9 muito pouco tempo, \u00e9 uma fase inicial, de arranque, e que, mesmo assim, mod\u00e9stia \u00e0 parte, em muito pouco tempo, creio ter feito bastante. ", "dateCreated": "2018-06-01T15:13:52+02:00", "dateModified": "2018-06-01T19:28:13+02:00", "datePublished": "2018-06-01T19:20:00+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F03%2F16%2F95%2F54%2F1440x810_cmsv2_f39f9370-52cd-53d4-8e62-4e61ce1de2df-3169554.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "O combate \u00e0 corrup\u00e7\u00e3o, as rela\u00e7\u00f5es com Portugal e a Economia. Na sua primeira grande entrevista \u00e0 Euronews, o Presidente de Angola, Jo\u00e3o Louren\u00e7o, explica a sua vis\u00e3o para o pa\u00eds que tenta sair de uma grave crise econ\u00f3mica. 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Exclusivo - João Lourenço: "Estamos preparados e vamos derrotar o gigante da corrupção"

Exclusivo - João Lourenço: "Estamos preparados e vamos derrotar o gigante da corrupção"
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O combate à corrupção, as relações com Portugal e a Economia. Na sua primeira grande entrevista à Euronews, o Presidente de Angola, João Lourenço, explica a sua visão para o país que tenta sair de uma grave crise económica. Uma conversa sem tabus.

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O combate à corrupção, as relações com Portugal e a Economia. Na sua primeira grande entrevista e em exclusivo, o Presidente de Angola, João Lourenço, explicou à Euronews a sua visão para o país que tenta sair de uma grave crise económica. Uma conversa sem tabus com o chefe de Estado que garantiu uma transição de poder sem sobressaltos depois de 38 anos de governação de José Eduardo dos Santos. Encontrámos o Presidente em Toulouse, França, na primeira visita de Estado de João Lourenço à Europa.

Michel Santos, Euronews: Porquê França para sua primeira visita de Estado à Europa?

João Lourenço, Presidente de Angola: Porque França é um país importante para Angola. Nós entendemos com esta visita procurar reforçar os laços de amizade que são históricos com este país. Daí a razão de nos encontrarmos por aqui. E correspondeu às nossas expectativas, fomos muito bem recebidos, ao mais alto nível, pelo Presidente Emmanuel Macron, com quem almoçámos, um almoço de trabalho que consideramos ter sido bastante frutífero para ambas as partes, tanto para Angola como para França. Abordámos as questões fundamentais das relações bilaterais entre os nossos países, questões políticas, de diplomacia, obviamente questões que têm a ver, sobretudo, com a cooperação económica. Tivemos a oportunidade de interagir com... Inicialmente estavam previstos cerca de 80 empresários ses mas acabaram por ser, e ficámos surpreendidos, pois acabaram por ser cerca de 150 empresários, ávidos em saber da nova situação que Angola vive, do novo ambiente de negócios que estamos a criar no país.

Michel Santos, Euronews: Justamente, em termos económicos, que medidas tomou e que medidas tenciona tomar para incentivar o investimento em Angola?

João Lourenço, Presidente de Angola: Nós acabámos de aprovar uma nova lei do investimento privado, que consideramos ser mais atrativa, O investidor privado estrangeiro já não tem a obrigação de se juntar a nenhum empresário nacional. Faz se assim o entender. Em termos de vistos para os homens de negócios irem a Angola, criámos um quadro de uma grande facilitação, e para alguns casos, um modelo de isenção de vistos, de vistos em aportes ordinários. 

Por outro lado, havia, e ainda há, para ser sincero – porque não posso considerar que já vencemos esta batalha, continuamos a lutar – estamos muito empenhados em afastar um grande impedimento para os negócios em Angola que é o chamado fenómeno da corrupção. Portanto, isto é uma luta que é difícil, que vai levar algum tempo, mas estamos preparados para enfrentar esse gigante problema da corrupção e temos a certeza que vamos vencer.

Michel Santos, Euronews: Recentemente, a Human Rights Watch escreveu uma carta aberta a pedir que melhorasse alguns aspetos de violação dos direitos humanos. Vai trabalhar nisso?

João Lourenço, Presidente de Angola: Estamos a trabalhar no sentido de que isso não aconteça. Nos oito meses da minha governação, não sei se existem casos. (...) estarei atento para que isso não aconteça.

Michel Santos, Euronews: A impunidade tem os dias contados? Foi uma das frases na sua tomada de posse.

João Lourenço, Presidente de Angola: Com certeza que tem, tem os dias contados. Portanto, a Justiça está, digamos, a adaptar-se ao novo quadro. E quem combate a corrupção não são só os políticos, eles fazem a parte deles, a própria sociedade deve e está a fazê-lo, a sua parte, com denúncias e outro tipo de reação contra a corrupção e, obviamente, a Justiça é a ponta final desta cadeia de forças que tem a missão de combater a corrupção.

Michel Santos, Euronews: A impunidade tem os dias contados, mesmo para o ex-vice-presidente Manuel Vicente, cujo processo foi transferido para Luanda? Obviamente no quadro da presunção de inocência...

João Lourenço, Presidente de Angola: Sim, mesmo para ele, embora – digamos a verdade – existe a promessa da remissão para Angola. Efetivamente, isso ainda não aconteceu. Angola continua a aguardar que as autoridades portuguesas enviem o processo para Angola e, naturalmente, quando o recebermos, daremos o devido tratamento. Portanto, eu dizia, na primeira grande entrevista, no início do corrente ano, que não pretendemos lavar a imagem do Engenheiro Manuel Vicente, se é que ela está suja. Portanto, a acusação de que ele praticou um crime, tem a presunção da inocência. Mal recebamos o processo de Portugal, as entidades competentes da Justiça vão prosseguir com o processo.

Michel Santos, Euronews: No seu discurso de tomada de posse, não só ignorou Portugal como deixou o país de fora dos “importantes parceiros” a que Angola “dará primazia”. Como estão as relações entre Luanda e Lisboa?

João Lourenço, Presidente de Angola: Bom, em primeiro lugar quero dizer que não ignorei ninguém. Portanto, há países que eu não citei, não era possível citar todos. Há países com quem temos relações muito próximas de há muitos anos, foi por mero acaso. Não houve nenhuma intenção deliberada, posso citar o caso de Cuba, por exemplo, cujos filhos verteram o seu sangue em Angola, e não me recordo, nessa minha intervenção, de ter colocado Cuba entre os países com quem pretendemos ter uma parceria estratégica. Como vão as relações com Portugal? Vão bem, estamos ansiosos em receber o primeiro-ministro, António Costa, em Luanda, a nível dos ministros das Relações Exteriores, os dois estão a acertar datas e isso vai acontecer a todo o momento.

Michel Santos, Euronews: Mas essa omissão aconteceu no contexto do caso Manuel Vicente e terá tido, certamente, uma interpretação, de que as relações não estariam assim muito bem.

João Lourenço, Presidente de Angola: Sim, as pessoas têm essa liberdade de fazer a interpretação que entenderem. Mas eu estou a dizer que, em principio, não foi intencional e veremos daqui para a frente o que vai acontecer. Acho que só vão acontecer coisas boas.

Michel Santos, Euronews: Tem algum projeto para reforçar a cooperação entre os países lusófonos, a LP. Ou é a Francofonia que lhe interessa?

João Lourenço, Presidente de Angola: Interessam todas. Interessa, em primeiro lugar, a LP, da qual somos membros naturais, genuínos, se me permite a expressão. E começa a interessar-nos também a Francofonia que, por enquanto, é apenas uma mera intenção. Falámos no Palácio do Eliseu sobre esta possibilidade – quer eu, quer o Presidente Emmanuel Macron. Diria que as duas são importantes, uma mais importante do que outra, neste caso a LP. Mas no que diz respeito à francofonia é preciso que se entenda que, a exemplo do que se a com Moçambique, que está ali encravado em países anglófonos, tem o Malawi, a Tanzânia, a própria África do Sul, e acabou por aderir à própria Commonwealth, também Angola está cercada, não por países lusófonos, mas por países francófonos e anglófonos. Portanto, não se irem que estejamos a pensar em pedir agora a adesão à Francofonia e daqui a uns dias estejamos também a pedir adesão à Commonwealth.

Michel Santos, Euronews: E porque não Portugal ser a porta de entrada na União Europeia e ser França?

João Lourenço, Presidente de Angola: Bom, não sei quem disse que será França. O simples facto de eu estar a fazer uma visita a França, não quer dizer que será França a porta de entrada.

Michel Santos, Euronews: Foi falado na comunicação social que gostaria que França fosse a porta de entrada na União Europeia.

João Lourenço, Presidente de Angola: Por mim? Não, de certeza. falei no interesse em estabelecer uma parceria estratégica com a França, mas a parceria estratégica, ninguém tem exclusividade disso, não se estabelece apenas com um país. Temos a liberdade de estabelecer com tantos países quantos nós quisermos. Portanto eu não disse em momento nenhum, nem em público, nem em privado, que pretendia que fosse a França a porta de entrada para a União Europeia.

Michel Santos, Euronews: Muitos angolanos anseiam por reformas, existem graves problemas especialmente nos setores da saúde, a pobreza, entre 20 a 30 por cento dos angolanos vive na pobreza extrema. Quando é que os angolanos vão começar a sentir mudanças?

João Lourenço, Presidente de Angola: Ninguém está em condições de estabelecer uma data. Isso já está a acontecer, no fundo. Pouco a pouco vem acontecendo. Nós pretendemos diversificar a nossa economia, precisamente, para que o país tenha mais recursos para investir, sobretudo na área social, na educação, na saúde e noutras áreas, na habitação e que se consiga uma maior oferta de emprego e, muito em particular, para os jovens.

Michel Santos, Euronews: A agricultura é uma das suas grandes apostas. Porquê?

João Lourenço, Presidente de Angola: Em África, não apostar na agricultura é um erro crasso. África tem condições ótimas para o desenvolvimento da agricultura. A agricultura é um ramo da economia que dá bastante emprego. Portanto, temos a necessidade da agricultura para matar a fome, por um lado, reduzir os índices de miséria, que infelizmente ainda existem. Temos que ser francos. E também para que seja uma fonte de produtos de exportação como forma de diversificar. Portanto, não se produzem divisas apenas com a venda de petróleo, é também com a venda de outros produtos, incluindo, produtos do campo. Os países mais desenvolvidos do mundo investem muito em agricultura, nós por maioria de razão, deveríamos investir mais na agricultura, mais do que eles.

Michel Santos, Euronews: O senhor é muito popular em Angola mas existe também muito ceticismo. O senhor Presidente surpreendeu em mexer em certos interesses instalados. Por exemplo, afastou de setores-chave membros da família do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos. É apenas uma mudança de cadeiras ou vamos ter reformas profundas e uma mudança de atitude?

João Lourenço, Presidente de Angola: Não é uma mera dança de cadeiras, nós mexemos nos quadros sempre na esperança de alcançar melhores resultados. Eu não mexi nos filhos de um ex-Presidente, eu mexi em cidadãos angolanos. São cidadãos angolanos, que estão sujeitos, tanto como os outros, às mesmas regras. Nesses oito meses não foram exoneradas apenas duas pessoas. Foram exoneradas um conjunto de pessoas e seria injusto nós nos preocuparmos apenas com duas pessoas. Portanto, essas duas não estão bem perante a lei e perante outro tipo de valores, acima dos outros cidadãos, que também tiveram a mesma sorte, que também foram exonerados. Na Sonangol, nós acabamos por alguns contratos com a Total, em Paris – apenas para citar este exemplo, os contratos que foram assinados com a Total, mas não só – e dizer que a indústria petrolífera em Angola, de novembro para cá, o clima existente nessa indústria, melhorou bastante e fez com que a Total e outras petrolíferas se disponibilizassem a fazer grandes investimentos em Angola, coisa que não acontecia no ado, no ado recente. Portanto, eu creio que vamos dar tempo ao tempo e veremos que as mudanças foram feitas no momento devido e não estou arrependido, porque tenho a certeza que as coisas vão melhorar.

Michel Santos, Euronews: O jornalista e ativista Rafael Marques afirma que é mais do mesmo e que existem indícios de práticas menos corretas em seu redor, por parte de pessoas ligadas ao seu governo.

João Lourenço, Presidente de Angola: Sim, mas quais indícios?

Michel Santos, Euronews: Tem a ver com a utilização do Fundo Soberano para a aquisição de aviões [para uma empresa privada]

João Lourenço, Presidente de Angola: Ao contrário de nós mexermos nos recursos do Fundo Soberano, ao contrário disso, nós estamos à caça desses recursos. Estamos num processo de procurar reaver esses mesmos recursos. Como sabe, foram colocados à disposição do Fundo Soberano cinco mil milhões de dólares - nesta altura deveria existir mais do que isso – porque aquilo é um fundo de investimento e quando se investe, o objetivo é multiplicar os recursos. O que sabemos é que temos menos do que esse valor inicial e mesmo assim temos uma ideia de onde é que esses recursos estão: nas Maurícias, em Inglaterra, noutros cantos do planeta e estamos neste momento num processo de reaver esses mesmos recursos. O normal seria, no ato de transferência de pastas, de um conselho de istração para o outro, o anterior conselho de istração abrir o jogo de forma transparente e dizer onde esses recursos estão. Isso não aconteceu e se aconteceu não foi convincente. Portanto, isto para dizer que não tirámos recursos, do Fundo para, absolutamente, nada. E essa companhia ou consórcio, entre a companhia de bandeira Taag e algumas empresas privadas não vai sair, não vai acontecer. Eu desafio os ageiros angolanos, que me digam: “olhe, o senhor disse à Euronews que não existia consórcio nenhum mas eu hoje viajei num dos aviões de que o senhor fulano tal falou." Portanto esse é o desafio que eu faço. Não faço ao autor da acusação, mas faço a todos os angolanos, potenciais ageiros, dessa companhia fictícia.

Michel Santos, Euronews: Em França, assinou acordos no âmbito de Defesa. Podemos saber alguns detalhes sobre esses acordos?

João Lourenço, Presidente de Angola: Bom, os acordos, regra geral, são acordos-tipo, acordos que dão várias possibilidades. Depois disso, é preciso ver projetos em concreto, um a um, que devem estar previstos nos acordos. Portanto, não existem ainda projetos em concreto mas existe a possibilidade de prepararmos a formação dos nossos oficiais, em qualquer um dos ramos – Exército, Força Aérea e a Marinha – existe a possibilidade de prepararmos em termos de vigilância marítima, sobretudo no Golfo da Guiné. Como sabe, Angola é um país que está localizado ali no Golfo da Guiné, como sabe o Golfo da Guiné é uma importante rota internacional marítima e é do interesse de todos os paíse, assegurar o Golfo da Guiné e evitar que algum dia possa a acontecer o que se a nas costas da Somália. Não está vedada a possibilidade também do fornecimento de equipamento militar. Portanto, se Angola estiver interessada em adquirir meios militares à França, a França é produtora de armamento, de aviões militares e navios de guerra e outros. Se houver esse interesse, o acordo prevê essa possibilidade.

Michel Santos, Euronews: Foi debatido o cenário da República Democrática do Congo (RDC). Esses acordos de defesa estarão, de certa foram, relacionados, também? Uma vez que existe uma grande fronteira entre os dois países?

João Lourenço, Presidente de Angola: Sim, abordámos a situação na RDC. Sabe que a RDC tem mais de 2500 quilómetros com Angola. Só por esta razão é do interesse de Angola que haja estabilidade no país vizinho e Angola vai – e já tem feito ao longo desses anos, obviamente, não começámos agora – e continuaremos a fazer tudo no sentido de ajudar as autoridades congolesas, o povo congolês, a viver em harmonia, aliás, um ambiente único que pode proporcionar o desenvolvimento daquele país que não está, por razões de diversa ordem, digamos, a capitalizar ao máximo, as potencialidades que tem. Sabem que houve um acordo entre o executivo congolês e a oposição. Como sabe, esse acordo foi abençoado, digamos assim, pela igreja, foi mediado pela igreja católica, foi assinado livremente, ninguém forçou ninguém a fazer esse acordo e esse acordo obriga, sobretudo o executivo, a organizar eleições livres na RDC. Há uma data que parece consensual, que é o dia 23 de dezembro do corrente ano e a não apresentação como candidato do atual Presidente da República. Tudo quanto queremos é que esse acordo seja cumprido, porque entendemos que o não cumprimento do mesmo pode levar a convulsões políticas e sociais no território da RDC que não serão agradáveis para os congoleses e os próprios vizinhos. Portanto, esta preocupação que Angola tem, não é só de Angola. De uma forma geral, todos os outros vizinhos, somos nove, ao todo, que fazemos fronteira com a RDC, acompanhamos com atenção o desenvolvimento da situação.

Michel Santos, Euronews: Caso o acordo de São Silvestre falhe, o que tenciona fazer?

João Lourenço, Presidente de Angola: O que tencionamos fazer, somos nove países à volta, não seria só Angola a sofrer. É isso que queremos evitar, portanto é sempre melhor prevenir do que remediar. E estamos a trabalhar nesse sentido, estamos a conversar com alguma frequência, com alguma regularidade com o presidente Joseph Kabila. Estamos disponíveis a continuar a aconselhá-lo, não a disso, são só conselhos. E ele é livre de aceitar ou não aceitar os nossos conselhos.

Michel Santos, Euronews: Mas caso o acordo falhe e o país mergulhe numa grande instabilidade, Angola e os parceiros têm todos os cenários em aberto, todas as opções em aberto, digamos assim?

João Lourenço, Presidente de Angola: Eu sei onde quer chegar mas não lhe vou dar o prazer [risos] de falar deles, sequer. Especula-se muito. Se nós dissermos que queremos estabilidade, então tudo o que viermos a fazer será no interesse da estabilidade, para todos.

Michel Santos, Euronews: Qual é a sua visão para África, oportunidades e desafios?

João Lourenço, Presidente de Angola: Eu ainda estou recordado do tempo em que, quando nós falávamos da China, e de uma forma geral, de uma boa parte dos países asiáticos - com exceção do Japão - a figura que nos vinha à cabeça era a figura de um homem num arrozal com uma charrua puxada a búfalos, a trabalhar. Portanto, o trabalho dignifica o homem... mas naquela altura as condições desse trabalho eram essas que eu acabo de refletir aqui. Hoje, o que é a China? O que é a Ásia, de uma forma geral? Eles conseguiram sair, em poucas décadas, da condição de não terem um trator pequenito - o trator era o búfalo - e hoje são, digamos, o trator do mundo. São o trator que puxa a economia do mundo. Quer gostemos deles ou não. Há quem não goste muito da China, mas não é uma questão de gostar ou deixar de gostar, são factos. Basta ver, agora, o braço-de-ferro entre os Estados Unidos e a China, o desfecho que teve, tão rápido, tão cirúrgico, quase que não demos por ela, de um dia para o outro, o problema ficou resolvido. Estamos a falar só do litígio comercial que foi levantado. Portanto, se a China não fosse a grande China que é hoje, com certeza que o desfecho não teria sido esse. Isso para dizer que o “afropessimismo” não tem razão de existir. Por muito em baixo que nós estejamos, temos sempre o direito e a obrigação de sonhar alto, de pensar que, dependendo sobretudo do nosso trabalho e não só – mas também da cooperação internacional, daí a razão de a gente estar aqui e algum dia estarmos em Lisboa – o nosso continente vai florescer. Vejam o exemplo do Ruanda. O genocídio no Ruanda não tem muitos anos. Nós sabemos, depois de ado o genocídio, o pessimismo que existia à volta do Ruanda, poucos acreditavam que aquele país tivesse força de se levantar. Hoje é um dos países mais organizados do continente, e isso não aconteceu por milagre nenhum. Aconteceu pela força do trabalho dos filhos daquele país.

Michel Santos, Euronews: Acredita que em breve, alguns dos problemas crónicos podem ser resolvidos em África? Falo nomeadamente, da corrupção, violação dos direitos humanos, conflitos internos...

João Lourenço, Presidente de Angola: Sim, eu acredito. Por exemplo, se formos a ver a região da SADEC, é uma região que ao longo de muitos anos tem conseguido uma estabilidade que é quase uniforme. Portanto, se nessa região consegue-se isso, creio que isso se pode expandir para todo o continente.

Michel Santos, Euronews: Falando de direitos humanos e liberdade de expressão, o jornalista e ativisa Rafael Marques foi novamente agraciado com um prémio. Mas ele está novamente em tribunal.

João Lourenço, Presidente de Angola: O único comentário que eu faço é que quem apresentou a queixa foi um cidadão que se sentiu lesado, na sua honra, e como em qualquer estado democrático e de direito, e isso acontece em qualquer um deles, entendeu que a melhor forma de se defender foi recorrer à justiça. A justiça por mãos próprias é de se condenar, ninguém deve fazer justiça por mãos próprias, os tribunais existem, justamente, para isso. De resto, não tenho mais comentários. Resta-me desejar-lhe boa sorte.

Michel Santos, Euronews: Acha importante existirem pessoas que tentem e que lutem contra a corrupção, ou pelo menos para revelar situações menos próprias? No quadro também da sua intenção de melhorar e combater a impunidade?

João Lourenço, Presidente de Angola: Quem combate a corrupção deve continuar a fazê-lo mas o cidadão que combate a corrupção, não está livre, também de poder vir a ser processado, se houver razões para tal. Obviamente, não pode ser injustiçado. Se houver razões para tal, se alguém se sentir lesado e procurar se defender, tem a liberdade de procurar a justiça, uma vez que constituiu advogados de defesa. Não estou a ver outro caminho.

Michel Santos, Euronews: Nestes oito meses de presidência, qual foi o seu maior obstáculo?

João Lourenço, Presidente de Angola: O meu maior obstáculo foi a falta de tempo. O dia devia ter 48 horas. Lamentavelmente, não é possível. Só tem 24, o que é insuficiente e, pronto, oito meses é muito pouco tempo, é uma fase inicial, de arranque, e que, mesmo assim, modéstia à parte, em muito pouco tempo, creio ter feito bastante.

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