{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2017/09/19/quatro-perspetivas-sobre-o-futuro-da-alemanha" }, "headline": "Quatro perspetivas sobre o futuro da Alemanha", "description": "Os alem\u00e3es v\u00e3o \u00e0s urnas numas elei\u00e7\u00f5es decisivas para o futuro da Europa. Ser\u00e1 que a Alemanha ir\u00e1 realmente assumir a lideran\u00e7a europeia?", "articleBody": "Os eleitores alem\u00e3es preparam-se para decidir quem vai liderar o pa\u00eds mais populoso da Uni\u00e3o Europeia, impondo a sua vis\u00e3o sobre quest\u00f5es como a reforma da zona euro, a coopera\u00e7\u00e3o na \u00e1rea da Defesa e os fluxos migrat\u00f3rios. A euronews reuniu em Estrasburgo, no Parlamento Europeu, um conjunto de deputados das mais diversas alas. Stefan Grobe, euronews: Convid\u00e1mos membros do Parlamento Europeu que acompanham de muito perto este escrut\u00ednio: Dimitrios Papadimoulis, um dos vice-presidentes do Parlamento Europeu, representando a Esquerda Unida Europeia/Esquerda Verde N\u00f3rdica e que vem da Gr\u00e9cia; Marietje Schaake, da Holanda, representa a Alian\u00e7a dos Democratas e Liberais pela Europa; e temos ainda dois pol\u00edticos alem\u00e3es, um democrata-crist\u00e3o e um social-democrata, David McAllister e Udo Bullmann. Esta foi uma campanha eleitoral bastante sopor\u00edfera, se compararmos com as \u00faltimas elei\u00e7\u00f5es nos Estados Unidos, na Fran\u00e7a e no Reino Unido.Esta campanha despertou algum interesse na Gr\u00e9cia? Como foi seguida pelos gregos? Como \u00e9 que a t\u00eam acompanhado? Dimitrios Papadimoulis: Tem sido muito interessante n\u00e3o s\u00f3 para os gregos, mas tamb\u00e9m para toda a Uni\u00e3o Europeia, porque a Alemanha \u00e9 o motor da zona euro, \u00e9 a economia mais forte. Estamos \u00e0 espera para ver se o novo governo vai continuar a criar, digamos, uma Europa-Alemanha, com o dogma Sch\u00e4uble, sem uma orienta\u00e7\u00e3o para o crescimento, para a transforma\u00e7\u00e3o necess\u00e1ria da zona euro como j\u00e1 foi proposto por Macron, ou se daremos alguns os em dire\u00e7\u00e3o a uma Alemanha mais europeia, que investe e reinveste num di\u00e1logo para o fortalecimento do processo de unifica\u00e7\u00e3o europeia . euronews: Os gregos falam sobre a campanha eleitoral alem\u00e3? DP: Sim, claro. euronews: E quanto aos vizinhos da Holanda? Qual \u00e9 a sua opini\u00e3o sobre esta campanha eleitoral? Marietje Schaake: \u00c9 claro que s\u00e3o elei\u00e7\u00f5es muito importantes para o futuro da Europa. Muitos de n\u00f3s gostar\u00edamos de ver o processo j\u00e1 conclu\u00eddo para que possamos concentrar-nos novamente no futuro, em vez de continuarmos \u00e0 espera dos resultados das elei\u00e7\u00f5es alem\u00e3s. Na Holanda, muita gente ficou impressionada com a calma que havia nos debates. N\u00e3o houve cr\u00edticas, nem agress\u00f5es verbais que vemos noutros pa\u00edses. euronews: S\u00e3o, de facto, debates muito calmos\u2026 N\u00e3o \u00e9 segredo que a elei\u00e7\u00e3o de Merkel para um quarto mandato parece ser uma conclus\u00e3o inevit\u00e1vel. As sondagens estabilizaram \u200b\u200bh\u00e1 meio ano. O que \u00e9 que isso nos diz sobre o estado de esp\u00edrito dos alem\u00e3es? Tudo indica que os alem\u00e3es n\u00e3o querem mudar, n\u00e3o querem algu\u00e9m que agite a situa\u00e7\u00e3o como Donald Trump.. David McAllister: A minha vis\u00e3o \u00e9 que a campanha eleitoral n\u00e3o foi t\u00e3o sopor\u00edfera como afirmou. H\u00e1 cerca de dez mil militantes todos os dias nas ruas a lutar por uma maior participa\u00e7\u00e3o e por bons resultados. Penso que a chanceler Merkel vai vencer estas elei\u00e7\u00f5es porque os alem\u00e3es t\u00eam boas raz\u00f5es para votar nela, porque \u00e9 uma \u00e2ncora de estabilidade na Alemanha e na Europa, a economia alem\u00e3 vai bem, temos um or\u00e7amento equilibrado e, como referiu o nosso colega grego, somos o motor da zona euro. Portanto, vamos continuar a trilhar o caminho certo. \u00c9 claro que h\u00e1 algumas reformas necess\u00e1rias a fazer nos pr\u00f3ximos anos, mas os alem\u00e3es n\u00e3o gostam de experi\u00eancias. E a alternativa a um governo de Angela Merkel s\u00f3 poderia ser um governo de coliga\u00e7\u00e3o com o senhor Schulz como chanceler, juntamente com os Verdes e os socialistas ou comunistas, e isso \u00e9 algo que os alem\u00e3es n\u00e3o querem. euronews: Os sociais-democratas fazem parte desta \u00e2ncora de estabilidade\u2026. Martin Schulz est\u00e1 numa posi\u00e7\u00e3o muito dif\u00edcil, n\u00e3o \u00e9 assim? O seu partido fez parte do governo, ele n\u00e3o se pode demarcar realmente da chanceler. Mas a atmosfera da campanha pode ser favor\u00e1vel aos sociais-democratas. H\u00e1 muitas quest\u00f5es, como a justi\u00e7a social, a prote\u00e7\u00e3o do Estado social, que se podem referir a respostas dos sociais-democratas. Por que raz\u00e3o Martin Schulz n\u00e3o est\u00e1 a marcar mais pontos neste campo? Udo Bullmann: Antes que fique demasiado desapontado com as sondagens nesta altura, incito-o a fazer campanha at\u00e9 \u00e0s 18 horas do dia 24 de setembro. Depois logo saberemos o que pensam os alem\u00e3es. Ou seja, n\u00e3o fa\u00e7a julgamentos antecipados sobre o resultado das elei\u00e7\u00f5es alem\u00e3s. Continuamos em campanha todos os dias. O que tenho a dizer, de facto, porque estamos aqui para avaliar a situa\u00e7\u00e3o do ponto de vista europeu, \u00e9 que a Europa enfrentou grandes desafios nos \u00faltimos anos e ainda est\u00e1 a enfrentar alguns. \u00c9 a isso que devemos dar uma resposta. Foi surpreendente como esta campanha se iniciou. O p\u00fablico alem\u00e3o normalmente n\u00e3o liga muito aos assuntos europeus. E Martin Schulz mudou isso, os sociais-democratas mudaram isso. Trouxemos a Europa de volta ao debate na Alemanha. euronews: A Bloomberg apelidou recentemente a Alemanha de \u201cSilicon Valley da inova\u00e7\u00e3o pol\u00edtica\u201d, uma incubadora de novas institui\u00e7\u00f5es e ideias. O que \u00e9 que a Europa pode aprender com a Alemanha? MS: Falta \u00e0 Alemanha uma certa dose de inova\u00e7\u00e3o, de ind\u00fastrias criativas, de startups com um papel muito mais forte numa economia mais orientada para o futuro. S\u00e3o quest\u00f5es que deveriam estar na agenda. Mas o que \u00e9 que os europeus podem aprender com a Alemanha? Muitas coisas. Na verdade, n\u00e3o concordo com a no\u00e7\u00e3o de que a Alemanha tem estado muito centrada em si mesma. Acho que vimos avan\u00e7os extraordin\u00e1rios, por exemplo, no campo da pol\u00edtica externa e da defesa, sendo que a Alemanha conseguiu afastar-se do seu fardo hist\u00f3rico e assumir um lugar mais forte no contexto global. Espero que isso continue. DP: Ambas as partes precisam aprender uma com a outra. Acho que os gregos, por exemplo, ou outros Estados-membros, poderiam tirar algumas li\u00e7\u00f5es das melhorias alcan\u00e7adas pela economia alem\u00e3, da sua capacidade or\u00e7amental. Mas os l\u00edderes alem\u00e3es e o povo alem\u00e3o tamb\u00e9m t\u00eam muitas li\u00e7\u00f5es a aprender, tendo em conta as crescentes desigualdades entre o norte e o sul, os ricos e os pobres, as regi\u00f5es da Europa. Este \u00e9 um perigo n\u00e3o s\u00f3 para o processo de unifica\u00e7\u00e3o europeia mas tamb\u00e9m para os interesses alem\u00e3es. Acho que a quest\u00e3o que o pr\u00f3ximo chanceler e o governo alem\u00e3o se v\u00e3o colocar \u00e9 se ter\u00e3o uma Alemanha mais europeia ou se v\u00e3o continuar no caminho da Europa alem\u00e3 sob a disciplina Sch\u00e4uble. euronews: Um dos t\u00f3picos mais importantes da campanha foi a imigra\u00e7\u00e3o. Quais foram as li\u00e7\u00f5es que aprendemos nos \u00faltimos dois anos e qual \u00e9 o caminho a seguir? O assunto desapareceu das primeiras p\u00e1ginas, mas se perguntarmos aos alem\u00e3es qual \u00e9 a quest\u00e3o priorit\u00e1ria, eles v\u00e3o dizer que \u00e9 a imigra\u00e7\u00e3o\u2026 DM: Para al\u00e9m da economia alem\u00e3, que goza de boa sa\u00fade, e da quest\u00e3o de como podemos manter esse desenvolvimento, a imigra\u00e7\u00e3o ocupa de facto um papel importante nesta campanha eleitoral, sem d\u00favida. Todos sabemos que 2015 foi um ano cheio de desafios para a Alemanha. Quase um milh\u00e3o de pessoas vieram para o nosso pa\u00eds. Sabemos que \u00e9 uma situa\u00e7\u00e3o excecional. Desde ent\u00e3o, fizemos muito para proteger melhor as nossas fronteiras, para controlar melhor a imigra\u00e7\u00e3o ilegal. Sou da opini\u00e3o que temos de separar, por um lado, os refugiados e os requerentes de asilo que v\u00eam para a Europa, para a Alemanha, perante os quais temos uma responsabilidade hist\u00f3rica de proteger e de dar abrigo; por outro lado, temos de lutar contra a imigra\u00e7\u00e3o ilegal para o norte da Europa, especialmente para a Alemanha. Percebo que centenas de milhares de pessoas queiram vir para a Alemanha por raz\u00f5es econ\u00f3micas. Mas isso tem de ser organizado doutra forma. Enquanto alem\u00e3es, sabemos que s\u00f3 podemos fazer isso em conjunto com a Europa. euronews: Est\u00e1 de acordo? MS: A pergunta era sobre as li\u00e7\u00f5es aprendidas e afastando-me dos programas partid\u00e1rios\u2026 Entendo a sua raz\u00e3o de ser, mas n\u00e3o estou a fazer campanha\u2026 Acho que, olhando para a Alemanha, e em particular para a chanceler, a verdade \u00e9 que, em momentos cruciais, ela tem mostrado lideran\u00e7a moral e coragem. Acho que isso \u00e9 algo que toda a Europa viu e valorizou. Enfrentou desafios como a chegada de refugiados \u00e0 Europa, \u00e0 Alemanha. A ideia de que as pessoas que est\u00e3o a fugir da guerra t\u00eam de ser acolhidas, segundo a lei internacional, \u00e9 algo de realmente importante. euronews: Um dos fatores-chave em toda a quest\u00e3o da imigra\u00e7\u00e3o \u00e9 a Turquia. Ser\u00e1 que a situa\u00e7\u00e3o precisa de se agravar para um dia poder melhorar? Como lidar com a Turquia? \u00c9 poss\u00edvel uma resposta europeia comum? DP: Temos de investir mais nas respostas europeias comuns. Temos de enfrentar a crise dos refugiados, distribuir os refugiados de forma proporcional, enfrentar pa\u00edses como a Hungria ou a Pol\u00f3nia que n\u00e3o est\u00e3o a cumprir as suas obriga\u00e7\u00f5es. Temos de implementar a Conven\u00e7\u00e3o de Genebra. Numa uni\u00e3o de 500 milh\u00f5es de pessoas, acho que \u00e9 f\u00e1cil encontrar uma solu\u00e7\u00e3o para 1 milh\u00e3o e meio de refugiados. \u00c9 uma pena o fen\u00f3meno do nacionalismo na Europa, representado na pol\u00edtica alem\u00e3 pelo AfD, um partido que \u00e9 de extrema-direita. euronews: Como responder com firmeza a Erdogan e, ao mesmo tempo, apoiar a oposi\u00e7\u00e3o turca? Porque h\u00e1 muita gente na Turquia que ainda quer um relacionamento mais pr\u00f3ximo com a Uni\u00e3o Europeia\u2026 DM: A Turquia \u00e9 um vizinho importante, um parceiro importante e tamb\u00e9m um aliado da NATO. O pa\u00eds onde o senhor Bullmann e eu vivemos \u00e9 a casa de milh\u00f5es de pessoas de origem turca. Muitos deles tornaram-se cidad\u00e3os alem\u00e3es. Pessoalmente, estou muito triste com a deteriora\u00e7\u00e3o do desenvolvimento na Turquia. \u00c9 um pa\u00eds que est\u00e1 a afastar-se dos padr\u00f5es europeus comuns e \u00e9 por isso que apoio o congelamento das negocia\u00e7\u00f5es de ades\u00e3o da Turquia \u00e0 Uni\u00e3o Europeia. N\u00e3o faz sentido avan\u00e7ar com as negocia\u00e7\u00f5es, nem abrir cap\u00edtulos com o regime de Erdogan em Ancara. Por um lado, temos de ser muito claros e dizer que n\u00e3o estamos dispostos a tolerar o caminho seguido na Turquia, que n\u00e3o tem nada a ver com os valores europeus comuns. Por outro lado, temos de manter os canais diplom\u00e1ticos abertos com Ancara e, claro, devemos ter sempre em mente que, nas \u00faltimas elei\u00e7\u00f5es, no \u00faltimo referendo, 48% dos cidad\u00e3os turcos n\u00e3o apoiaram o senhor Erdogan. \u00c9 por isso que devemos continuar a fortalecer a democracia e a sociedade civil nesse grande pa\u00eds. UB: N\u00f3s temos la\u00e7os estreitos com esse pa\u00eds, la\u00e7os econ\u00f3micos, culturais\u2026 Isso \u00e9 not\u00f3rio nos filmes, por exemplo. H\u00e1 trocas positivas entre a cultura turca e da cultura alem\u00e3. Isso \u00e9 algo que nunca devemos abandonar. Devemos apoiar os nossos amigos na Turquia, os jovens, aqueles que aguardam pela mudan\u00e7a, pela liberdade, por uma sociedade mais liberal. Nunca devemos desistir deles. Isso deve orientar o nosso comportamento. N\u00e3o devemos permitir qualquer viola\u00e7\u00e3o dos direitos dos nossos cidad\u00e3os. N\u00e3o devemos permitir que se anulem direitos humanos. euronews: Outra quest\u00e3o muito abordada na comunica\u00e7\u00e3o social \u00e9 o ressurgimento do motor pol\u00edtico franco-alem\u00e3o. Qual \u00e9 a vossa perspetiva sobre isto? Ser\u00e1 que as coisas est\u00e3o realmente a avan\u00e7ar a um ritmo mais forte? MS: Eles podem e devem faz\u00ea-lo, atrav\u00e9s de uma lideran\u00e7a adequada nos Estados-membros que compreendem o caminho a seguir para reconstruir a confian\u00e7a e a lideran\u00e7a europeia. O presidente Macron, com a sua agenda de reformas, est\u00e1 a dar um o muito importante para esse objetivo. Isso \u00e9 necess\u00e1rio para que os alem\u00e3es deixem de lado algumas das medidas de austeridade, que acredito eram desesperadamente necess\u00e1rias para reconstruir a confian\u00e7a e mostrar a todos que os acordos feitos devem ser respeitados. As regras com as quais todos concord\u00e1mos devem ser respeitadas. Se a Fran\u00e7a puder implementar mesmo algumas das reformas, a Alemanha poder\u00e1 tamb\u00e9m avan\u00e7ar. A Fran\u00e7a poder\u00e1 assim sair da situa\u00e7\u00e3o dif\u00edcil em que se encontra, assim como outros pa\u00edses da Europa. Isto criar\u00e1 uma Europa mais forte no cen\u00e1rio global, que \u00e9 o que precisamos. euronews: O motor franco-alem\u00e3o pode sair mais refor\u00e7ado por causa do Brexit? DM: A \u201camizade franco-alem\u00e3\u201d \u00e9 algo de \u00fanico. Nenhum pa\u00eds est\u00e1 t\u00e3o pr\u00f3ximo da Alemanha como a Fran\u00e7a. Sabemos que a parceria franco-alem\u00e3 \u00e9 o motor do desenvolvimento europeu. Acho que os europeus podem ter a expetativa, depois das elei\u00e7\u00f5es alem\u00e3s, depois de haver um novo Governo, de que haver\u00e1 propostas concretas da Alemanha e da Fran\u00e7a para modernizar a Uni\u00e3o Europeia e a zona euro. Mas h\u00e1 uma coisa a salientar: \u00e9 claro que a Alemanha e a Fran\u00e7a t\u00eam de mostrar lideran\u00e7a, mas n\u00e3o podem intimidar os outros 26. A Uni\u00e3o Europeia \u00e9 uma fam\u00edlia de 28 Estados-membros soberanos. N\u00e3o importa se s\u00e3o grandes ou pequenos, todos t\u00eam os mesmos direitos, todos t\u00eam de ser tratados com o mesmo respeito. Diria que o meu desejo para o futuro seria uma lideran\u00e7a franco-alem\u00e3 muito inclusiva. UB: Inspira\u00e7\u00e3o sim, dom\u00ednio n\u00e3o \u2013 resumo a minha vis\u00e3o nestas palavras. Os alem\u00e3es e os ses t\u00eam de colaborar e ser pr\u00f3-ativos. Sempre que h\u00e1 um ime, h\u00e1 problemas em toda a Europa. Isso tem de ser resolvido. Mas, por outro lado, ambas as partes devem ser suficientemente inteligentes para entender isso, olhando para a periferia, para a linha de frente \u2026.. N\u00e3o foi muito corajoso colocar todos os compromissos de Dublin em cima da Gr\u00e9cia, da It\u00e1lia\u2026 A chanceler Merkel foi corajosa perante a situa\u00e7\u00e3o da Hungria e foi elogiada por isso. Mas, estruturalmente, n\u00e3o \u00e9 muito corajoso deixar os pa\u00edses sozinhos. Temos de nos unir sob uma nova postura comum, nas pol\u00edticas de asilo e nas reformas ap\u00f3s o per\u00edodo de austeridade que atravess\u00e1mos. euronews: Considera que a Alemanha e a Fran\u00e7a est\u00e3o sintonizadas no que diz respeito ao alcance e ao ritmo das reformas? Aquilo que parece \u00e9 que o presidente Macron \u00e9 muito mais ambicioso do que Angela Merkel\u2026 MS: Porque h\u00e1 muito por fazer\u2026 euronews: Dado o contexto pol\u00edtico, h\u00e1 o risco de vermos a Fran\u00e7a assumir um papel menor na rela\u00e7\u00e3o com a Alemanha? A Fran\u00e7a aceitaria isso? UB: Se a pol\u00edtica alem\u00e3 for definida de forma inteligente, o arranque s\u00f3 pode acontecer em igualdade de circunst\u00e2ncias. euronews: A Gr\u00e9cia fez o seu trabalho de casa? Que expetativas tem da futura coopera\u00e7\u00e3o franco-alem\u00e3? DP: A Gr\u00e9cia avan\u00e7ou muito nos \u00faltimos anos. O povo grego sofreu muito por ter sido mal governado. Agora estamos a recuperar disso. A Gr\u00e9cia, a Europa e sobretudo a zona euro precisam de um novo come\u00e7o. N\u00e3o pode haver apenas uni\u00e3o monet\u00e1ria. \u00c9 preciso mais uni\u00e3o pol\u00edtica, mais uni\u00e3o econ\u00f3mica, um or\u00e7amento mais s\u00f3lido, crescimento inclusivo, pol\u00edticas de coes\u00e3o mais fortes. Isto n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 importante para os europeus, \u00e9-o para o mundo inteiro. Temos de investir na unifica\u00e7\u00e3o europeia, esse \u00e9 o conceito mais progressista. \u00c9 importante reinvestir na alian\u00e7a franco-alem\u00e3, mas sem esquecer que somos uma uni\u00e3o de 28, em breve 27. Por isso, temos de olhar para as desigualdades crescentes entre o norte e o sul, para a falta de coes\u00e3o entre povos, entre regi\u00f5es. Temos de investir num futuro em comum de forma inclusiva. euronews: Merkel tem raz\u00e3o quando diz que os alem\u00e3es vivem agora na melhor Alemanha de sempre? UB: N\u00e3o \u00e9 um mau slogan, mas temos \u00e9 de olhar para os n\u00fameros. Neste momento vive-se uma atmosfera positiva na economia alem\u00e3. Mas h\u00e1 duas quest\u00f5es que temos de perguntar: isso acontece de forma realmente inclusiva? Est\u00e1 toda a gente abrangida? \u00c9 um efeito dur\u00e1vel? Quais s\u00e3o as garantias para o futuro? Se olharmos para os n\u00fameros, percebemos que h\u00e1 grandes riscos para a Uni\u00e3o Europeia e a zona euro, porque h\u00e1 um processo de desindustrializa\u00e7\u00e3o. O mesmo acontece na Alemanha. A longo prazo, os n\u00fameros dizem-nos que as taxas de investimento p\u00fablico e privado na Alemanha est\u00e3o bem abaixo da m\u00e9dia dos pa\u00edses industrializados. Ou seja, h\u00e1 aqui um grave problema que n\u00e3o consta da agenda, do qual n\u00e3o se fala o suficiente. euronews: Tem alguma resposta a isto? DM: N\u00e3o concordo. N\u00e3o h\u00e1 pa\u00edses perfeitos e a Alemanha est\u00e1 longe de ser um pa\u00eds perfeito. \u00c9 claro que temos de fazer mais, temos de lutar contra a pobreza, contra o desemprego. N\u00e3o estamos perto sequer do pleno emprego. Temos de investir mais nas infraestruturas p\u00fablicas. E \u00e9 exatamente isso que este governo quer fazer nos pr\u00f3ximos 4 anos. MS: Ou ent\u00e3o precisa de mudar de ares. N\u00e3o pensar tanto na reindustrializa\u00e7\u00e3o, mas na economia do futuro, na economia digital\u2026 UB: N\u00e3o estava a falar da reindustrializa\u00e7\u00e3o no sentido tradicional do termo\u2026 MS: \u00d3timo! UB: N\u00e3o tente encontrar diferentes interpreta\u00e7\u00f5es para a conversa\u2026 euronews: Uma \u00faltima pergunta r\u00e1pida: quem deveria ser o pr\u00f3ximo chanceler e porqu\u00ea? DP: Se fosse alem\u00e3o, votava no Die Linke. Gostava de ter um governo mais progressista. DM: Angela Merkel porque \u00e9 a melhor op\u00e7\u00e3o para a Europa. \u00c9 uma europe\u00edsta convicta. UB: Martin Schulz, tanto pela Alemanha, como pela Europa. Ele luta por uma Europa de todos os pa\u00edses, de todos os cidad\u00e3os. MS: S\u00e3o dois advers\u00e1rios que est\u00e3o ao centro. Uma \u00e9 um pouco mais conservadora, outro \u00e9 mais do lado social-democrata. Penso que faria bem a ambos terem uma boa dose de progressismo, de pol\u00edticas liberais. 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Quatro perspetivas sobre o futuro da Alemanha

Quatro perspetivas sobre o futuro da Alemanha
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Os alemães vão às urnas numas eleições decisivas para o futuro da Europa. Será que a Alemanha irá realmente assumir a liderança europeia?

Os eleitores alemães preparam-se para decidir quem vai liderar o país mais populoso da União Europeia, impondo a sua visão sobre questões como a reforma da zona euro, a cooperação na área da Defesa e os fluxos migratórios. A euronews reuniu em Estrasburgo, no Parlamento Europeu, um conjunto de deputados das mais diversas alas.

Stefan Grobe, euronews: Convidámos membros do Parlamento Europeu que acompanham de muito perto este escrutínio: Dimitrios Papadimoulis, um dos vice-presidentes do Parlamento Europeu, representando a Esquerda Unida Europeia/Esquerda Verde Nórdica e que vem da Grécia; Marietje Schaake, da Holanda, representa a Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa; e temos ainda dois políticos alemães, um democrata-cristão e um social-democrata, David McAllister e Udo Bullmann.

Esta foi uma campanha eleitoral bastante soporífera, se compararmos com as últimas eleições nos Estados Unidos, na França e no Reino Unido.
Esta campanha despertou algum interesse na Grécia? Como foi seguida pelos gregos? Como é que a têm acompanhado?

Dimitrios Papadimoulis: Tem sido muito interessante não só para os gregos, mas também para toda a União Europeia, porque a Alemanha é o motor da zona euro, é a economia mais forte. Estamos à espera para ver se o novo governo vai continuar a criar, digamos, uma Europa-Alemanha, com o dogma Schäuble, sem uma orientação para o crescimento, para a transformação necessária da zona euro como já foi proposto por Macron, ou se daremos alguns os em direção a uma Alemanha mais europeia, que investe e reinveste num diálogo para o fortalecimento do processo de unificação europeia .

euronews: Os gregos falam sobre a campanha eleitoral alemã?

DP: Sim, claro.

euronews: E quanto aos vizinhos da Holanda? Qual é a sua opinião sobre esta campanha eleitoral?

Marietje Schaake: É claro que são eleições muito importantes para o futuro da Europa. Muitos de nós gostaríamos de ver o processo já concluído para que possamos concentrar-nos novamente no futuro, em vez de continuarmos à espera dos resultados das eleições alemãs. Na Holanda, muita gente ficou impressionada com a calma que havia nos debates. Não houve críticas, nem agressões verbais que vemos noutros países.

euronews: São, de facto, debates muito calmos… Não é segredo que a eleição de Merkel para um quarto mandato parece ser uma conclusão inevitável. As sondagens estabilizaram ​​há meio ano. O que é que isso nos diz sobre o estado de espírito dos alemães? Tudo indica que os alemães não querem mudar, não querem alguém que agite a situação como Donald Trump..

David McAllister: A minha visão é que a campanha eleitoral não foi tão soporífera como afirmou. Há cerca de dez mil militantes todos os dias nas ruas a lutar por uma maior participação e por bons resultados. Penso que a chanceler Merkel vai vencer estas eleições porque os alemães têm boas razões para votar nela, porque é uma âncora de estabilidade na Alemanha e na Europa, a economia alemã vai bem, temos um orçamento equilibrado e, como referiu o nosso colega grego, somos o motor da zona euro. Portanto, vamos continuar a trilhar o caminho certo. É claro que há algumas reformas necessárias a fazer nos próximos anos, mas os alemães não gostam de experiências. E a alternativa a um governo de Angela Merkel só poderia ser um governo de coligação com o senhor Schulz como chanceler, juntamente com os Verdes e os socialistas ou comunistas, e isso é algo que os alemães não querem.

euronews: Os sociais-democratas fazem parte desta âncora de estabilidade…. Martin Schulz está numa posição muito difícil, não é assim? O seu partido fez parte do governo, ele não se pode demarcar realmente da chanceler. Mas a atmosfera da campanha pode ser favorável aos sociais-democratas. Há muitas questões, como a justiça social, a proteção do Estado social, que se podem referir a respostas dos sociais-democratas. Por que razão Martin Schulz não está a marcar mais pontos neste campo?

Udo Bullmann: Antes que fique demasiado desapontado com as sondagens nesta altura, incito-o a fazer campanha até às 18 horas do dia 24 de setembro. Depois logo saberemos o que pensam os alemães. Ou seja, não faça julgamentos antecipados sobre o resultado das eleições alemãs. Continuamos em campanha todos os dias. O que tenho a dizer, de facto, porque estamos aqui para avaliar a situação do ponto de vista europeu, é que a Europa enfrentou grandes desafios nos últimos anos e ainda está a enfrentar alguns. É a isso que devemos dar uma resposta. Foi surpreendente como esta campanha se iniciou. O público alemão normalmente não liga muito aos assuntos europeus. E Martin Schulz mudou isso, os sociais-democratas mudaram isso. Trouxemos a Europa de volta ao debate na Alemanha.

euronews: A Bloomberg apelidou recentemente a Alemanha de “Silicon Valley da inovação política”, uma incubadora de novas instituições e ideias. O que é que a Europa pode aprender com a Alemanha?

MS: Falta à Alemanha uma certa dose de inovação, de indústrias criativas, de startups com um papel muito mais forte numa economia mais orientada para o futuro. São questões que deveriam estar na agenda. Mas o que é que os europeus podem aprender com a Alemanha? Muitas coisas. Na verdade, não concordo com a noção de que a Alemanha tem estado muito centrada em si mesma. Acho que vimos avanços extraordinários, por exemplo, no campo da política externa e da defesa, sendo que a Alemanha conseguiu afastar-se do seu fardo histórico e assumir um lugar mais forte no contexto global. Espero que isso continue.

DP: Ambas as partes precisam aprender uma com a outra. Acho que os gregos, por exemplo, ou outros Estados-membros, poderiam tirar algumas lições das melhorias alcançadas pela economia alemã, da sua capacidade orçamental. Mas os líderes alemães e o povo alemão também têm muitas lições a aprender, tendo em conta as crescentes desigualdades entre o norte e o sul, os ricos e os pobres, as regiões da Europa. Este é um perigo não só para o processo de unificação europeia mas também para os interesses alemães. Acho que a questão que o próximo chanceler e o governo alemão se vão colocar é se terão uma Alemanha mais europeia ou se vão continuar no caminho da Europa alemã sob a disciplina Schäuble.

euronews: Um dos tópicos mais importantes da campanha foi a imigração. Quais foram as lições que aprendemos nos últimos dois anos e qual é o caminho a seguir? O assunto desapareceu das primeiras páginas, mas se perguntarmos aos alemães qual é a questão prioritária, eles vão dizer que é a imigração…

DM: Para além da economia alemã, que goza de boa saúde, e da questão de como podemos manter esse desenvolvimento, a imigração ocupa de facto um papel importante nesta campanha eleitoral, sem dúvida. Todos sabemos que 2015 foi um ano cheio de desafios para a Alemanha. Quase um milhão de pessoas vieram para o nosso país. Sabemos que é uma situação excecional. Desde então, fizemos muito para proteger melhor as nossas fronteiras, para controlar melhor a imigração ilegal. Sou da opinião que temos de separar, por um lado, os refugiados e os requerentes de asilo que vêm para a Europa, para a Alemanha, perante os quais temos uma responsabilidade histórica de proteger e de dar abrigo; por outro lado, temos de lutar contra a imigração ilegal para o norte da Europa, especialmente para a Alemanha. Percebo que centenas de milhares de pessoas queiram vir para a Alemanha por razões económicas. Mas isso tem de ser organizado doutra forma. Enquanto alemães, sabemos que só podemos fazer isso em conjunto com a Europa.

euronews: Está de acordo?

MS: A pergunta era sobre as lições aprendidas e afastando-me dos programas partidários… Entendo a sua razão de ser, mas não estou a fazer campanha… Acho que, olhando para a Alemanha, e em particular para a chanceler, a verdade é que, em momentos cruciais, ela tem mostrado liderança moral e coragem. Acho que isso é algo que toda a Europa viu e valorizou. Enfrentou desafios como a chegada de refugiados à Europa, à Alemanha. A ideia de que as pessoas que estão a fugir da guerra têm de ser acolhidas, segundo a lei internacional, é algo de realmente importante.

euronews: Um dos fatores-chave em toda a questão da imigração é a Turquia. Será que a situação precisa de se agravar para um dia poder melhorar? Como lidar com a Turquia? É possível uma resposta europeia comum?

DP: Temos de investir mais nas respostas europeias comuns. Temos de enfrentar a crise dos refugiados, distribuir os refugiados de forma proporcional, enfrentar países como a Hungria ou a Polónia que não estão a cumprir as suas obrigações. Temos de implementar a Convenção de Genebra. Numa união de 500 milhões de pessoas, acho que é fácil encontrar uma solução para 1 milhão e meio de refugiados. É uma pena o fenómeno do nacionalismo na Europa, representado na política alemã pelo AfD, um partido que é de extrema-direita.

euronews: Como responder com firmeza a Erdogan e, ao mesmo tempo, apoiar a oposição turca? Porque há muita gente na Turquia que ainda quer um relacionamento mais próximo com a União Europeia…

DM: A Turquia é um vizinho importante, um parceiro importante e também um aliado da NATO. O país onde o senhor Bullmann e eu vivemos é a casa de milhões de pessoas de origem turca. Muitos deles tornaram-se cidadãos alemães. Pessoalmente, estou muito triste com a deterioração do desenvolvimento na Turquia. É um país que está a afastar-se dos padrões europeus comuns e é por isso que apoio o congelamento das negociações de adesão da Turquia à União Europeia. Não faz sentido avançar com as negociações, nem abrir capítulos com o regime de Erdogan em Ancara. Por um lado, temos de ser muito claros e dizer que não estamos dispostos a tolerar o caminho seguido na Turquia, que não tem nada a ver com os valores europeus comuns. Por outro lado, temos de manter os canais diplomáticos abertos com Ancara e, claro, devemos ter sempre em mente que, nas últimas eleições, no último referendo, 48% dos cidadãos turcos não apoiaram o senhor Erdogan. É por isso que devemos continuar a fortalecer a democracia e a sociedade civil nesse grande país.

UB: Nós temos laços estreitos com esse país, laços económicos, culturais… Isso é notório nos filmes, por exemplo. Há trocas positivas entre a cultura turca e da cultura alemã. Isso é algo que nunca devemos abandonar. Devemos apoiar os nossos amigos na Turquia, os jovens, aqueles que aguardam pela mudança, pela liberdade, por uma sociedade mais liberal. Nunca devemos desistir deles. Isso deve orientar o nosso comportamento. Não devemos permitir qualquer violação dos direitos dos nossos cidadãos. Não devemos permitir que se anulem direitos humanos.

euronews: Outra questão muito abordada na comunicação social é o ressurgimento do motor político franco-alemão. Qual é a vossa perspetiva sobre isto? Será que as coisas estão realmente a avançar a um ritmo mais forte?

MS: Eles podem e devem fazê-lo, através de uma liderança adequada nos Estados-membros que compreendem o caminho a seguir para reconstruir a confiança e a liderança europeia. O presidente Macron, com a sua agenda de reformas, está a dar um o muito importante para esse objetivo. Isso é necessário para que os alemães deixem de lado algumas das medidas de austeridade, que acredito eram desesperadamente necessárias para reconstruir a confiança e mostrar a todos que os acordos feitos devem ser respeitados. As regras com as quais todos concordámos devem ser respeitadas. Se a França puder implementar mesmo algumas das reformas, a Alemanha poderá também avançar. A França poderá assim sair da situação difícil em que se encontra, assim como outros países da Europa. Isto criará uma Europa mais forte no cenário global, que é o que precisamos.

euronews: O motor franco-alemão pode sair mais reforçado por causa do Brexit?

DM: A “amizade franco-alemã” é algo de único. Nenhum país está tão próximo da Alemanha como a França. Sabemos que a parceria franco-alemã é o motor do desenvolvimento europeu. Acho que os europeus podem ter a expetativa, depois das eleições alemãs, depois de haver um novo Governo, de que haverá propostas concretas da Alemanha e da França para modernizar a União Europeia e a zona euro. Mas há uma coisa a salientar: é claro que a Alemanha e a França têm de mostrar liderança, mas não podem intimidar os outros 26. A União Europeia é uma família de 28 Estados-membros soberanos. Não importa se são grandes ou pequenos, todos têm os mesmos direitos, todos têm de ser tratados com o mesmo respeito. Diria que o meu desejo para o futuro seria uma liderança franco-alemã muito inclusiva.

UB: Inspiração sim, domínio não – resumo a minha visão nestas palavras. Os alemães e os ses têm de colaborar e ser pró-ativos. Sempre que há um ime, há problemas em toda a Europa. Isso tem de ser resolvido. Mas, por outro lado, ambas as partes devem ser suficientemente inteligentes para entender isso, olhando para a periferia, para a linha de frente ….. Não foi muito corajoso colocar todos os compromissos de Dublin em cima da Grécia, da Itália… A chanceler Merkel foi corajosa perante a situação da Hungria e foi elogiada por isso. Mas, estruturalmente, não é muito corajoso deixar os países sozinhos. Temos de nos unir sob uma nova postura comum, nas políticas de asilo e nas reformas após o período de austeridade que atravessámos.

euronews: Considera que a Alemanha e a França estão sintonizadas no que diz respeito ao alcance e ao ritmo das reformas? Aquilo que parece é que o presidente Macron é muito mais ambicioso do que Angela Merkel…

MS: Porque há muito por fazer…

euronews: Dado o contexto político, há o risco de vermos a França assumir um papel menor na relação com a Alemanha? A França aceitaria isso?

UB: Se a política alemã for definida de forma inteligente, o arranque só pode acontecer em igualdade de circunstâncias.

euronews: A Grécia fez o seu trabalho de casa? Que expetativas tem da futura cooperação franco-alemã?

DP: A Grécia avançou muito nos últimos anos. O povo grego sofreu muito por ter sido mal governado. Agora estamos a recuperar disso. A Grécia, a Europa e sobretudo a zona euro precisam de um novo começo. Não pode haver apenas união monetária. É preciso mais união política, mais união económica, um orçamento mais sólido, crescimento inclusivo, políticas de coesão mais fortes. Isto não é só importante para os europeus, é-o para o mundo inteiro. Temos de investir na unificação europeia, esse é o conceito mais progressista. É importante reinvestir na aliança franco-alemã, mas sem esquecer que somos uma união de 28, em breve 27. Por isso, temos de olhar para as desigualdades crescentes entre o norte e o sul, para a falta de coesão entre povos, entre regiões. Temos de investir num futuro em comum de forma inclusiva.

euronews: Merkel tem razão quando diz que os alemães vivem agora na melhor Alemanha de sempre?

UB: Não é um mau slogan, mas temos é de olhar para os números. Neste momento vive-se uma atmosfera positiva na economia alemã. Mas há duas questões que temos de perguntar: isso acontece de forma realmente inclusiva? Está toda a gente abrangida? É um efeito durável? Quais são as garantias para o futuro? Se olharmos para os números, percebemos que há grandes riscos para a União Europeia e a zona euro, porque há um processo de desindustrialização. O mesmo acontece na Alemanha. A longo prazo, os números dizem-nos que as taxas de investimento público e privado na Alemanha estão bem abaixo da média dos países industrializados. Ou seja, há aqui um grave problema que não consta da agenda, do qual não se fala o suficiente.

euronews: Tem alguma resposta a isto?

DM: Não concordo. Não há países perfeitos e a Alemanha está longe de ser um país perfeito. É claro que temos de fazer mais, temos de lutar contra a pobreza, contra o desemprego. Não estamos perto sequer do pleno emprego. Temos de investir mais nas infraestruturas públicas. E é exatamente isso que este governo quer fazer nos próximos 4 anos.

MS: Ou então precisa de mudar de ares. Não pensar tanto na reindustrialização, mas na economia do futuro, na economia digital…

UB: Não estava a falar da reindustrialização no sentido tradicional do termo…

MS: Ótimo!

UB: Não tente encontrar diferentes interpretações para a conversa…

euronews: Uma última pergunta rápida: quem deveria ser o próximo chanceler e porquê?

DP: Se fosse alemão, votava no Die Linke. Gostava de ter um governo mais progressista.

DM: Angela Merkel porque é a melhor opção para a Europa. É uma europeísta convicta.

UB: Martin Schulz, tanto pela Alemanha, como pela Europa. Ele luta por uma Europa de todos os países, de todos os cidadãos.

MS: São dois adversários que estão ao centro. Uma é um pouco mais conservadora, outro é mais do lado social-democrata. Penso que faria bem a ambos terem uma boa dose de progressismo, de políticas liberais. Eu votaria nos meus amigos liberais alemães, que fizeram um regresso em grande e que podem modernizar aquilo que precisa de ser modernizado.

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