{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2017/01/26/o-poder-da-linguagem-de-donald-trump" }, "headline": "O poder da linguagem de Donald Trump", "description": "O fen\u00f3meno Donald Trump manifesta-se das formas mais diversas.", "articleBody": "O fen\u00f3meno Donald Trump manifesta-se das formas mais diversas. As rela\u00e7\u00f5es com o novo inquilino da Casa Branca prometem ser um quebra cabe\u00e7as para a diplomacia mundial. Porque Trump \u00e9 impulsivo e logo,imprev\u00edsivel, mas tamb\u00e9m porque Trump utiliza, segundo os especialistas, uma linguagem que n\u00e3o vai al\u00e9m do n\u00edvel de um adolescente de 6\u00b0 ou 7\u00b0 ano de escolaridade. Uma verdadeira dificuldade para a tradu\u00e7\u00e3o das palavras e das ideias do presidente norte-americano nas outras l\u00ednguas, que deixa tradutores e jornalistas do mundo inteiro \u00e0 beira de um ataque de nervos e que pode ser fonte de mal entendidos e tens\u00f5es. Uma tradu\u00e7\u00e3o simult\u00e2nea de um discurso de Trump \u00e9 um exerc\u00edcio bastante complicado. Vejamos um exemplo com um excerto do discurso de campanha, em julho de 2016, em Sun City, na Carolina do Norte, quando o candidato falava do nuclear e do Ir\u00e3o: O que Donald Trump disse exatamente nesse discurso:*\u201cLook, having nuclear\u2014my uncle was a great professor and scientist and engineer, Dr. John Trump at MIT; good genes, very good genes, OK, very smart, the Wharton School of Finance, very good, very smart \u2014you know, if you\u2019re a conservative Republican, if I were a liberal, if, like, OK, if I ran as a liberal Democrat, they would say I\u2019m one of the smartest people anywhere in the world\u2014it\u2019s true!\u2014but when you\u2019re a conservative Republican they try\u2014oh, do they do a number\u2014that\u2019s why I always start off: Went to Wharton, was a good student, went there, went there, did this, built a fortune\u2014you know I have to give my like credentials all the time, because we\u2019re a little disadvantaged\u2014but you look at the nuclear deal, the thing that really bothers me\u2014it would have been so easy, and it\u2019s not as important as these lives are (nuclear is powerful; my uncle explained that to me many, many years ago, the power and that was 35 years ago; he would explain the power of what\u2019s going to happen and he was right\u2014who would have thought?), but when you look at what\u2019s going on with the four prisoners\u2014now it used to be three, now it\u2019s four\u2014but when it was three and even now, I would have said it\u2019s all in the messenger; fellas, and it is fellas because, you know, they don\u2019t, they haven\u2019t figured that the women are smarter right now than the men, so, you know, it\u2019s gonna take them about another 150 years\u2014but the Persians are great negotiators, the Iranians are great negotiators, so, and they, they just killed, they just killed us.\u201d* A tradu\u00e7\u00e3o direta em portugu\u00eas:\u201cOlhe, tendo nuclear \u2013 meu tio era um grande professor e cientista e engenheiro, Dr. John Trump no MIT; Bons genes, muito bons genes, OK, muito inteligente, a Wharton School of Finance, muito bom, muito inteligente \u2013 sabe, se voc\u00ea \u00e9 um republicano conservador, se eu fosse liberal, se, como, OK, se eu me candidatasse como um democrata liberal, diriam que eu sou uma das pessoas mais inteligentes em qualquer parte do mundo \u2013 \u00e9 verdade! \u2013 mas quando voc\u00ea \u00e9 um republicano conservador tentam \u2013 oh, fazem um n\u00famero \u2013 \u00e9 por isso que eu sempre come\u00e7o por dizer: Fiz a Wharton, fui um bom aluno, estudei l\u00e1, fui l\u00e1, fiz isso, constru\u00ed uma fortuna \u2013 voc\u00ea sabe que eu tenho que dar minhas credenciais o tempo todo, porque estamos um pouco em desvantagem \u2013 mas voc\u00ea olha para o nuclear A coisa que realmente me incomoda \u2013 teria sido t\u00e3o f\u00e1cil, e n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o importante como essas vidas s\u00e3o (nuclear \u00e9 poderoso, o meu tio explicou-me isso h\u00e1 muitos, muitos anos atr\u00e1s, o poder e que foi h\u00e1 35 anos , Ele explicava o ia acontecer e ele estava certo \u2013 quem teria pensado?), Mas quando voc\u00ea olha para o que est\u00e1 a acontecer com os quatro prisioneiros \u2013 agora ele costumava ser tr\u00eas, agora \u00e9 quatro \u2013 mas quando era tr\u00eas e at\u00e9 agora, eu diria que tudo est\u00e1 no mensageiro; Rapazes, e \u00e9 porque eles n\u00e3o sabem, eles n\u00e3o imaginaram que as mulheres s\u00e3o mais inteligentes agora do que os homens, ent\u00e3o, voc\u00ea sabe, isso vai lev\u00e1-los por mais 150 anos \u2013 mas os persas s\u00e3o Grandes negociadores, os iranianos s\u00e3o grandes negociadores, ent\u00e3o, e eles, eles apenas mataram, eles apenas nos mataram \u201c. A interpreta\u00e7\u00e3o das palavras de Trump seria a seguinte:*Gostaria de falar sobre o nuclear. O meu tio, Dr. John Trump, foi um grande professor, cientista e engenheiro do MIT. Era um homem muito inteligente que pertencia \u00e0 nossa fam\u00edlia. Geneticamente somos muito inteligentes. Por exemplo eu frequentei a Wharton School of Finance.Quando se \u00e9 conservador republicano \u2013 vamos dizer isto de outra forma: se eu me candidatasse como liberal democrata as pessoas iam dizer que eu era a pessoa mais inteligente do mundo. \u00c9 verdade! Mas quando se \u00e9 republicano as pessoas tentam menosprezar a intelig\u00eancia. \u00c9 por isso que eu quando me apresento \u00e0s pessoas come\u00e7o por dizer que estudei em Wharton e que fui um bom aluno e depois falo de todas as institui\u00e7\u00f5es em que estudei, de tudo o que alcancei e digo que fiz fortuna. Tenho sempre necessidade de falar do meu curriculo porque n\u00f3s os republicanos estamos em desvantagem nesta mat\u00e9ria. Mas voltando \u00e0 quest\u00e3o do nuclear, o que me incomoda \u00e9 que isto podia ter sido t\u00e3o f\u00e1cil. N\u00e3o \u00e9 t\u00e3o importante como as vidas dos quatro americanos ref\u00e9ns. O nuclear \u00e9 poderoso. O meu tio explicou-me isso h\u00e1 muitos anos. Foi h\u00e1 cerca de 35 anos que ele me explicou o significado do que est\u00e1 a acontecer e prova-se que ele tinha raz\u00e3o. Quem pensaria uma coisa destas? Mas quando se olha para a situa\u00e7\u00e3o dos quatro prisioneiros \u2013 primeiro eram s\u00f3 tr\u00eas mas agora s\u00e3o quatro \u2013 eu diria que o mais importante s\u00e3o os mensageiros. S\u00e3o todos homens, porque ainda n\u00e3o se deram contam que as mulheres s\u00e3o mais inteligentes que os homens e ser\u00e3o precisos ainda mais 150 anos para itirmos isto. Mas os persas, quero dizer os iranianos, s\u00e3o negociadores competentes e deram-nos a volta*. Como explica a \u201ctradutora sa, B\u00e9reng\u00e8re Viennot\u201d: http://www.lemonde.fr/big-browser/article/2017/01/19/lost-in-trumpslation-ou-de-la-difficulte-de-traduire-donald-trump_5065609_4832693.html#iAMOQ5g5VFJK8Sl5.99, \u201co trabalho de tradu\u00e7\u00e3o consiste menos em traduzir palavras do que em traduzir ideias, ou personalidades, de forma a criar no leitor ou ouvinte a mesma impress\u00e3o e a mesma reflex\u00e3o que foi criada no ouvinte ou leitor do texto original\u201d Ora, a pobreza do vocabul\u00e1rio de Trump obriga os que s\u00e3o obrigados a traduzi-lo de forma compreens\u00edvel a recorrerem em perman\u00eancia a estratagemas para dar coer\u00eancia ao seu discurso O discurso de Donald Trump carateriza-se por um l\u00e9xico reduzido, frases curtas, repeti\u00e7\u00e3o de palavras e uso e abuso de adjetivos qualificativos, como, por exemplo: \u201cgreat\u201d \u201ctremendous\u201d, \u201cterrific\u201d, amazing\u201d. Numa entrevista ao New York Times, por exemplo, a tradutora sa verificou que Trump utilizou 45 vezes a palavra \u201cgreat\u201d. Por outro lado, quando o presidente norte-americano fala de improviso e f\u00e1-lo com frequ\u00eancia, o seu discurso revela-se disperso e quase incoerente como vimos no exemplo anterior. A maior parte das vezes dir-se-ia que tem uma s\u00e9rie de ideias na cabe\u00e7a e que procura, \u00e0 medida que articula o discurso, as liga\u00e7\u00f5es entre elas. Para muitos analistas \u00e9 nesta pobreza de vocabul\u00e1rio que reside o sucesso popular do multimilion\u00e1rio. Trump fala a linguagem do americano comum. Fala de uma forma emocional, simples e mesmo agressiva. N\u00e3o se perde em explica\u00e7\u00f5es sobre a complexidade da pol\u00edtica internacional, por exemplo. Afirma coisas como: \u201cVamos roubar-lhes o petr\u00f3leo\u201d, \u201cserei o maior criador de empregos que Deus criou\u201d, \u201cvamos construir o muro e o M\u00e9xico vai pag\u00e1-lo\u201d. Simples! \u201cEste v\u00eddeo do guionista e produtor Evan Puschak\u201d:https://www.youtube.com/watch?v=_aFo_BV-UzI, mais conhecido como Nerdwriter, explica como a enuncia\u00e7\u00e3o de Trump pode ser a grande respons\u00e1vel por sua popularidade. \u201ela ampla experi\u00eancia como comerciante charlat\u00e3o, Trump sabe muito bem como vender um sentimento\u201d, diz Puschak. O candidato conclui suas frases com chav\u00f5es como \u201cerros\u201d, \u201cdanos\u201d e \u201cmiss\u00e3o\u201d \u2014 nada al\u00e9m de duas s\u00edlabas. Outro dado importante: 78% das palavras que Trump usa s\u00e3o monossil\u00e1bicas. S\u00e3o palavras curtas que parecem insignificantes, mas muito eficazes. Pontuam estrategicamente as frases, s\u00e3o as \u00faltimas a ser proferidas e s\u00e3o as que ficam no ouvido. Como se n\u00e3o bastasse, Trump repete-as \u00e0 exaust\u00e3o, o que faz com que, ainda que o seu discurso seja pouco coerente, as palavras ou as frases curtas e marcantes ficam registadas. Como explica George Lakoff, professor de lingu\u00edstica cognitiva da Universidade da Calif\u00f3rnia, nos EUA, a compreens\u00e3o da linguagem faz-se atrav\u00e9s de conex\u00f5es neurais e a repeti\u00e7\u00e3o de palavras ou ideias faz com que essas palavras ou ideias se reforcem. \u201cUsar uma linguagem que ativa processos neurais inconscientes faz-nos acreditar, inconscientemente, no que \u00e9 dito. Acreditamos naquilo que Trump diz porque aquilo se repete e se torna parte da nossa compreens\u00e3o. Por isso \u00e9 que \u00e9 t\u00e3o perigoso\u201d, conclui Lakoff. 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O poder da linguagem de Donald Trump

O poder da linguagem de Donald Trump
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De Maria Barradas
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O fenómeno Donald Trump manifesta-se das formas mais diversas.

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O fenómeno Donald Trump manifesta-se das formas mais diversas. As relações com o novo inquilino da Casa Branca prometem ser um quebra cabeças para a diplomacia mundial. Porque Trump é impulsivo e logo,imprevísivel, mas também porque Trump utiliza, segundo os especialistas, uma linguagem que não vai além do nível de um adolescente de 6° ou 7° ano de escolaridade.

Uma verdadeira dificuldade para a tradução das palavras e das ideias do presidente norte-americano nas outras línguas, que deixa tradutores e jornalistas do mundo inteiro à beira de um ataque de nervos e que pode ser fonte de mal entendidos e tensões. Uma tradução simultânea de um discurso de Trump é um exercício bastante complicado. Vejamos um exemplo com um excerto do discurso de campanha, em julho de 2016, em Sun City, na Carolina do Norte, quando o candidato falava do nuclear e do Irão:

O que Donald Trump disse exatamente nesse discurso: *“Look, having nuclear—my uncle was a great professor and scientist and engineer, Dr. John Trump at MIT; good genes, very good genes, OK, very smart, the Wharton School of Finance, very good, very smart —you know, if you’re a conservative Republican, if I were a liberal, if, like, OK, if I ran as a liberal Democrat, they would say I’m one of the smartest people anywhere in the world—it’s true!—but when you’re a conservative Republican they try—oh, do they do a number—that’s why I always start off: Went to Wharton, was a good student, went there, went there, did this, built a fortune—you know I have to give my like credentials all the time, because we’re a little disadvantaged—but you look at the nuclear deal, the thing that really bothers me—it would have been so easy, and it’s not as important as these lives are (nuclear is powerful; my uncle explained that to me many, many years ago, the power and that was 35 years ago; he would explain the power of what’s going to happen and he was right—who would have thought?), but when you look at what’s going on with the four prisoners—now it used to be three, now it’s four—but when it was three and even now, I would have said it’s all in the messenger; fellas, and it is fellas because, you know, they don’t, they haven’t figured that the women are smarter right now than the men, so, you know, it’s gonna take them about another 150 years—but the Persians are great negotiators, the Iranians are great negotiators, so, and they, they just killed, they just killed us.” *

A tradução direta em português:
“Olhe, tendo nuclear – meu tio era um grande professor e cientista e engenheiro, Dr. John Trump no MIT; Bons genes, muito bons genes, OK, muito inteligente, a Wharton School of Finance, muito bom, muito inteligente – sabe, se você é um republicano conservador, se eu fosse liberal, se, como, OK, se eu me candidatasse como um democrata liberal, diriam que eu sou uma das pessoas mais inteligentes em qualquer parte do mundo – é verdade! – mas quando você é um republicano conservador tentam – oh, fazem um número – é por isso que eu sempre começo por dizer: Fiz a Wharton, fui um bom aluno, estudei lá, fui lá, fiz isso, construí uma fortuna – você sabe que eu tenho que dar minhas credenciais o tempo todo, porque estamos um pouco em desvantagem – mas você olha para o nuclear A coisa que realmente me incomoda – teria sido tão fácil, e não é tão importante como essas vidas são (nuclear é poderoso, o meu tio explicou-me isso há muitos, muitos anos atrás, o poder e que foi há 35 anos , Ele explicava o ia acontecer e ele estava certo – quem teria pensado?), Mas quando você olha para o que está a acontecer com os quatro prisioneiros – agora ele costumava ser três, agora é quatro – mas quando era três e até agora, eu diria que tudo está no mensageiro; Rapazes, e é porque eles não sabem, eles não imaginaram que as mulheres são mais inteligentes agora do que os homens, então, você sabe, isso vai levá-los por mais 150 anos – mas os persas são Grandes negociadores, os iranianos são grandes negociadores, então, e eles, eles apenas mataram, eles apenas nos mataram “.

A interpretação das palavras de Trump seria a seguinte: *Gostaria de falar sobre o nuclear. O meu tio, Dr. John Trump, foi um grande professor, cientista e engenheiro do MIT. Era um homem muito inteligente que pertencia à nossa família. Geneticamente somos muito inteligentes. Por exemplo eu frequentei a Wharton School of Finance.
Quando se é conservador republicano – vamos dizer isto de outra forma: se eu me candidatasse como liberal democrata as pessoas iam dizer que eu era a pessoa mais inteligente do mundo. É verdade! Mas quando se é republicano as pessoas tentam menosprezar a inteligência. É por isso que eu quando me apresento às pessoas começo por dizer que estudei em Wharton e que fui um bom aluno e depois falo de todas as instituições em que estudei, de tudo o que alcancei e digo que fiz fortuna. Tenho sempre necessidade de falar do meu curriculo porque nós os republicanos estamos em desvantagem nesta matéria. Mas voltando à questão do nuclear, o que me incomoda é que isto podia ter sido tão fácil. Não é tão importante como as vidas dos quatro americanos reféns. O nuclear é poderoso. O meu tio explicou-me isso há muitos anos. Foi há cerca de 35 anos que ele me explicou o significado do que está a acontecer e prova-se que ele tinha razão. Quem pensaria uma coisa destas? Mas quando se olha para a situação dos quatro prisioneiros – primeiro eram só três mas agora são quatro – eu diria que o mais importante são os mensageiros. São todos homens, porque ainda não se deram contam que as mulheres são mais inteligentes que os homens e serão precisos ainda mais 150 anos para itirmos isto. Mas os persas, quero dizer os iranianos, são negociadores competentes e deram-nos a volta*.

Como explica a “tradutora sa, Bérengère Viennot”: http://www.lemonde.fr/big-browser/article/2017/01/19/lost-in-trumpslation-ou-de-la-difficulte-de-traduire-donald-trump_5065609_4832693.html#iAMOQ5g5VFJK8Sl5.99
, “o trabalho de tradução consiste menos em traduzir palavras do que em traduzir ideias, ou personalidades, de forma a criar no leitor ou ouvinte a mesma impressão e a mesma reflexão que foi criada no ouvinte ou leitor do texto original”

Ora, a pobreza do vocabulário de Trump obriga os que são obrigados a traduzi-lo de forma compreensível a recorrerem em permanência a estratagemas para dar coerência ao seu discurso

O discurso de Donald Trump carateriza-se por um léxico reduzido, frases curtas, repetição de palavras e uso e abuso de adjetivos qualificativos, como, por exemplo: “great” “tremendous”, “terrific”, amazing”. Numa entrevista ao New York Times, por exemplo, a tradutora sa verificou que Trump utilizou 45 vezes a palavra “great”. Por outro lado, quando o presidente norte-americano fala de improviso e fá-lo com frequência, o seu discurso revela-se disperso e quase incoerente como vimos no exemplo anterior. A maior parte das vezes dir-se-ia que tem uma série de ideias na cabeça e que procura, à medida que articula o discurso, as ligações entre elas.

Para muitos analistas é nesta pobreza de vocabulário que reside o sucesso popular do multimilionário. Trump fala a linguagem do americano comum. Fala de uma forma emocional, simples e mesmo agressiva. Não se perde em explicações sobre a complexidade da política internacional, por exemplo. Afirma coisas como: “Vamos roubar-lhes o petróleo”, “serei o maior criador de empregos que Deus criou”, “vamos construir o muro e o México vai pagá-lo”. Simples!

“Este vídeo do guionista e produtor Evan Puschak”:
https://www.youtube.com/watch?v=_aFo_BV-UzI, mais conhecido como Nerdwriter, explica como a enunciação de Trump pode ser a grande responsável por sua popularidade. “Pela ampla experiência como comerciante charlatão, Trump sabe muito bem como vender um sentimento”, diz Puschak. O candidato conclui suas frases com chavões como “erros”, “danos” e “missão” — nada além de duas sílabas. Outro dado importante: 78% das palavras que Trump usa são monossilábicas.

São palavras curtas que parecem insignificantes, mas muito eficazes. Pontuam estrategicamente as frases, são as últimas a ser proferidas e são as que ficam no ouvido. Como se não bastasse, Trump repete-as à exaustão, o que faz com que, ainda que o seu discurso seja pouco coerente, as palavras ou as frases curtas e marcantes ficam registadas.

Como explica George Lakoff, professor de linguística cognitiva da Universidade da Califórnia, nos EUA, a compreensão da linguagem faz-se através de conexões neurais e a repetição de palavras ou ideias faz com que essas palavras ou ideias se reforcem. “Usar uma linguagem que ativa processos neurais inconscientes faz-nos acreditar, inconscientemente, no que é dito. Acreditamos naquilo que Trump diz porque aquilo se repete e se torna parte da nossa compreensão. Por isso é que é tão perigoso”, conclui Lakoff.

Estrela de reality shows, o homem que agora se tornou presidente dos Estados Unidos percebeu há muito o sentido da expressão “é disto que o meu povo gosta!”

Mas o candidato mudou de estatuto e é agora o presidente da maior potência mundial. Não é garantido que a fórmula que lhe serviu para ganhar a eleição lhe possa ser últil para governar a América e representá-la no mundo. Uma coisa é certa, o mandato de Donald Trump vai ser um enorme desafio para quem tem a missão de traduzir ou interpretar as suas palavras.

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