{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2016/11/17/antonio-costa-a-alemanha-e-o-unico-pais-que-pode-assumir-a-lideranca-mas-nao" }, "headline": "Ant\u00f3nio Costa: \u0022A Alemanha \u00e9 o \u00fanico pa\u00eds que pode assumir a lideran\u00e7a, mas n\u00e3o quer\u0022", "description": "Ap\u00f3s a austeridade, Portugal tenta virar a p\u00e1gina. O primeiro-ministro Ant\u00f3nio Costa falou com o Global Conversation sobre as mudan\u00e7as no pa\u00eds e no mundo.", "articleBody": "Foram anos de austeridade e agora Portugal tenta virar a p\u00e1gina para se tornar num destino privilegiado de investimentos e numa plataforma de inova\u00e7\u00e3o. Ali\u00e1s, Lisboa lutou pela organiza\u00e7\u00e3o da Web Summit, uma das mais concorridas cimeiras de tecnologia, e conseguiu. Como \u00e9 que este pa\u00eds, situado numa Europa tamb\u00e9m ela fragilizada, se posiciona perante as grandes mudan\u00e7as mundiais que est\u00e3o a ocorrer, sobretudo ap\u00f3s a elei\u00e7\u00e3o de Donald Trump? O primeiro-ministro Ant\u00f3nio Costa foi o convidado deste Global Conversation. Isabelle Kumar, euronews: Comecemos j\u00e1 pelas elei\u00e7\u00f5es americanas e pela chegada de Donald Trump \u00e0 Casa Branca: era o resultado que pretendia ver? Ant\u00f3nio Costa: A escolha do presidente dos Estados Unidos cabe aos eleitores americanos. \u00c9 \u00f3bvio que foi uma surpresa para muita gente. Para mim, tamb\u00e9m. Esperemos que os Estados Unidos continuem a respeitar os compromissos assumidos no \u00e2mbito da alian\u00e7a transatl\u00e2ntica com a Europa e as responsabilidades no quadro das Na\u00e7\u00f5es Unidas. Mas a grande mensagem que temos de tentar compreender \u00e9: como foi poss\u00edvel este resultado? Esta \u00e9 que \u00e9 a grande quest\u00e3o. E \u00e9 uma quest\u00e3o que se coloca tamb\u00e9m a respeito do Brexit e que \u00e9 evidenciada por v\u00e1rias sondagens em diferentes pa\u00edses europeus\u2026 euronews: Como \u00e9 que foi poss\u00edvel, na sua opini\u00e3o? AC: Diria que h\u00e1 uma rutura entre o quadro pol\u00edtico dominante e os cidad\u00e3os comuns, que se sentem angustiados. N\u00f3s temos de nos reaproximar daquilo que os cidad\u00e3os e as cidad\u00e3s realmente esperam da pol\u00edtica. \u00c9 evidente que a globaliza\u00e7\u00e3o \u00e9 irrevers\u00edvel e traz vantagens para a economia mundial, para o desenvolvimento de v\u00e1rios pa\u00edses, como a China, a \u00cdndia, mas \u00e9 tamb\u00e9m uma amea\u00e7a para muitos dos nossos concidad\u00e3os. E n\u00f3s temos de os conseguir tranquilizar, o que n\u00e3o fizemos. Un trio #Trumpa href=\u201chttps://twitter.com/hashtag/Poutine?src=hash\u201d>#Poutine#LePen serait \u00abbon pour la #paix dans le monde\u00bb, selon la pr\u00e9sidente du FN https://t.co/UfxO899HbR pic.twitter.com/SWBSbwXZin\u2014 RT (@RTenfrancais) 16 novembre 2016 euronews: Falou na globaliza\u00e7\u00e3o. Mas, durante a campanha, Donald Trump defendeu pol\u00edticas protecionistas, que isolam o pa\u00eds. Que impacto \u00e9 que isto pode ter sobre a Europa? AC: Tamb\u00e9m temos rea\u00e7\u00f5es protecionistas na Europa. Quando vemos pa\u00edses do espa\u00e7o Schengen a fechar fronteiras para n\u00e3o acolher refugiados, quando vemos o Reino Unido afastar-se da Uni\u00e3o Europeia, quando vemos a vit\u00f3ria de Trump, percebemos o qu\u00e3o fortes podem ser as rea\u00e7\u00f5es contra a globaliza\u00e7\u00e3o. euronews: O que s\u00e3o m\u00e1s not\u00edcias para a Europa\u2026 AC: N\u00e3o, s\u00e3o m\u00e1s not\u00edcias para o mundo e tamb\u00e9m para a Europa. \u00c9 preciso compreender que a globaliza\u00e7\u00e3o tem de ser enquadrada. E essa tem sido uma das grandes falhas da Uni\u00e3o Europeia at\u00e9 hoje. Breve biografia de Ant\u00f3nio Costa Nasceu em Lisboa, em 1961 Foi ministro da Justi\u00e7a de 1999 a 2002 e da istra\u00e7\u00e3o Interna entre 2005 e 2007 Foi presidente da C\u00e2mara de Lisboa entre 2007 e 2015 Tornou-se primeiro-ministro em novembro de 2015 Encabe\u00e7a um governo assente numa alian\u00e7a parlamentar com o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda euronews: J\u00e1 vamos voltar \u00e0 Uni\u00e3o Europeia, mas ainda em rela\u00e7\u00e3o a Trump: como \u00e9 que olha para o programa que ele apresentou? AC: Bom, o programa de Trump n\u00e3o tem nada a ver com o meu programa, n\u00e3o s\u00f3 em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s quest\u00f5es econ\u00f3micas, mas tamb\u00e9m no que diz respeito aos valores. Mas, entre pa\u00edses democr\u00e1ticos, temos de saber respeitar as escolhas de cada povo. E, portanto, temos de respeitar a escolha que os americanos fizeram para a presid\u00eancia. O ponto de viragem portugu\u00eas euronews: Vamos regressar \u00e0s elei\u00e7\u00f5es americanas ao longo desta entrevista. Mas estamos em Lisboa, na Web Summit\u2026 AC: Felizmente! \u00c9 impressionante ver a energia com que empreendedores de todo o mundo se apresentam na #Websummit. Muitas boas ideias para um melhor futuro. pic.twitter.com/tYJ7JLpPs1\u2014 Ant\u00f3nio Costa (@antoniocostapm) 9 novembre 2016 euronews: Ent\u00e3o vamos a isso\u2026 Esta cimeira surge num momento ainda dif\u00edcil para a economia portuguesa. H\u00e1 quem diga que se vive um novo dinamismo no pa\u00eds, embora a situa\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica ainda seja complicada. Porque \u00e9 que era t\u00e3o importante para si realizar a Web Summit em Lisboa? AC: Estamos num ponto de viragem. Conclu\u00edmos o programa de ajustamento com a troika. Este ano, pela primeira vez, vamos conseguir um d\u00e9fice abaixo dos 3%. Ou seja, vamos sair do procedimento por d\u00e9fice excessivo. Agora \u00e9 altura de relan\u00e7ar a economia. E a base deve ser sobretudo a inova\u00e7\u00e3o. As startup representam o caminho que tom\u00e1mos para mobilizar esta gera\u00e7\u00e3o de portugueses e portuguesas, que \u00e9 a gera\u00e7\u00e3o mais qualificada que o pa\u00eds j\u00e1 teve e que, durante os anos da crise, repetiu o fen\u00f3meno da emigra\u00e7\u00e3o\u2026 euronews: Deixaram o pa\u00eds\u2026 AC: Temos de os fazer regressar e fixar no pa\u00eds os jovens que est\u00e3o, hoje em dia, nas universidades e institutos polit\u00e9cnicos, de forma a aproveitar as compet\u00eancias que esta gera\u00e7\u00e3o tem para oferecer. euronews: A austeridade foi mesmo necess\u00e1ria? Era a pol\u00edtica mais adequada para aquela altura? AC: O programa da troika foi um erro. Mas j\u00e1 ultra\u00e1mos isso, vir\u00e1mos a p\u00e1gina e agora temos os olhos postos no futuro. euronews: Diz que viraram a p\u00e1gina mas, dada a instabilidade global nos dias que correm, h\u00e1 quem evoque a possibilidade de um segundo plano de resgate... AC: N\u00e3o, n\u00e3o h\u00e1 motivo nenhum para que isso aconte\u00e7a. Antes de mais, como j\u00e1 referi, vamos alcan\u00e7ar o melhor n\u00edvel de d\u00e9fice desde h\u00e1 42 anos, ali\u00e1s um dos melhores da Uni\u00e3o Europeia. euronews: Mas um crescimento fraco\u2026 AC: Sim, \u00e9 verdade, mas num contexto no qual toda a Europa regista um crescimento fraco. Este ano, j\u00e1 reduzimos a taxa de desemprego em dois pontos. As nossas exporta\u00e7\u00f5es aumentaram 6%. As exporta\u00e7\u00f5es para os pa\u00edses da Uni\u00e3o Europeia subiram 7,6%. Carlos Moedas: \u201cEstamos a ver a luz ao fim do t\u00fanel\u201d https://t.co/mPdQoGrx5i via expresso #EuropeanSemester\u2014 CEemPortugal (@CE_PTrep) 16 novembre 2016 euronews: Considera a hip\u00f3tese de se demitir se o crescimento n\u00e3o voltar? AC: N\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o que se coloque neste momento. Temos uma maioria parlamentar est\u00e1vel, uma rela\u00e7\u00e3o muito boa com o presidente da Rep\u00fablica, uma rela\u00e7\u00e3o muito boa com os parceiros sociais. Todos os indicadores econ\u00f3micos nos dizem que os n\u00edveis de confian\u00e7a est\u00e3o a aumentar desde o in\u00edcio do ano. Os sal\u00e1rios dos funcion\u00e1rios p\u00fablicos, que sofreram cortes de 30% durante cinco anos, foram restabelecidos. Conseguimos reduzir os impostos sobre os sal\u00e1rios tanto no privado, como no p\u00fablico. euronews: Mas nem toda a gente est\u00e1 de acordo consigo\u2026 AC: Isso \u00e9 normal, n\u00e3o? euronews: ... a n\u00edvel europeu. Estou a pensar em Wolfgang Sch\u00e4uble, por exemplo, o ministro das Finan\u00e7as alem\u00e3o. O presidente do seu partido chamou-lhe de incendi\u00e1rio, considerando supostamente que ele queria incendiar o vosso pa\u00eds... AC: \u00c9 verdade. Infelizmente, o ministro Sch\u00e4uble tem uma posi\u00e7\u00e3o hostil em rela\u00e7\u00e3o ao nosso governo baseada na ignor\u00e2ncia daquilo que \u00e9 a realidade econ\u00f3mica portuguesa. Eu costumo dizer que dou muita aten\u00e7\u00e3o aos alem\u00e3es, mas sobretudo aos alem\u00e3es que conhecem bem Portugal. E os alem\u00e3es que conhecem Portugal confiam no nosso pa\u00eds e investem nele. A f\u00e1brica mais produtiva da Volkswagen na Europa situa-se em Portugal. O que decidiu fazer esta marca? Criar um novo modelo que vai ser lan\u00e7ado no ano que vem e que ser\u00e1 produzido nesta f\u00e1brica portuguesa. A Bosch abriu duas novas unidades industriais em Portugal. A Continental vai abrir uma nova f\u00e1brica este ano. euronews: E Sch\u00e4uble n\u00e3o est\u00e1 ao corrente disso? AC: N\u00e3o, ele n\u00e3o conhece a realidade portuguesa de todo, mas felizmente os empres\u00e1rios alem\u00e3es sim, conhecem Portugal, confiam no pa\u00eds e est\u00e3o a refor\u00e7ar os investimentos que fazem. \u201cMesmo ap\u00f3s quatro anos de troika, continuamos pr\u00f3-europeus\u201d euronews: Gostaria de voltar \u00e0 compara\u00e7\u00e3o entre a Europa e os Estados Unidos: durante a campanha, Donald Trump afirmava que a sua vit\u00f3ria seria como uma esp\u00e9cie de super-Brexit. Muitos analistas dizem que foi uma vit\u00f3ria do populismo. Considera que foi uma vit\u00f3ria do populismo tamb\u00e9m aqui na Europa? AC: O populismo xen\u00f3fobo existe um pouco por toda a Europa, \u00e0 exce\u00e7\u00e3o talvez de Espanha e Portugal, que s\u00e3o para j\u00e1 os \u00fanicos pa\u00edses que continuam imunes. Isso \u00e9 normal: Portugal n\u00e3o \u00e9 um pa\u00eds fechado no meio da Europa. \u00c9 um pa\u00eds situado em frente ao Atl\u00e2ntico, aberto ao mundo\u2026 euronews: Qual ser\u00e1 ent\u00e3o o impacto sobre o populismo na Europa? Isto refor\u00e7a esse movimento? AC: Tenho sempre a esperan\u00e7a que as decis\u00f5es infelizes como o Brexit ou vit\u00f3ria de Trump sirvam de vacina para nos proteger de novos erros e de novos triunfos do populismo nas pr\u00f3ximas elei\u00e7\u00f5es a ter lugar na Europa. Felizmente, n\u00f3s continuamos a resistir, mantemo-nos abertos ao mundo. Isso \u00e9 um fator determinante para o nosso futuro. Faz parte da nossa hist\u00f3ria, mas tamb\u00e9m do nosso futuro. It was a great honour to spend time with realDonaldTrump. He was relaxed and full of good ideas. I'm confident he will be a good President. pic.twitter.com/kx8cGRHYPQ— Nigel Farage (Nigel_Farage) 12 novembre 2016 euronews: O seu partido fez uma alian\u00e7a com partidos euroc\u00e9ticos, uma corrente que ganha cada vez mais terreno na Europa e que visa a desintegra\u00e7\u00e3o da Uni\u00e3o Europeia. Corremos realmente o risco de assistir a uma desintegra\u00e7\u00e3o? AC: \u00c9 preciso compreender uma coisa em rela\u00e7\u00e3o ao caso portugu\u00eas: a alian\u00e7a que est\u00e1 na base do nosso governo pressup\u00f5e o respeito das diferen\u00e7as de cada partido. O Partido Socialista, do qual sou secret\u00e1rio-geral, \u00e9 o grande defensor da integra\u00e7\u00e3o europeia. O acordo que estabelecemos com os outros partidos de esquerda n\u00e3o contempla as quest\u00f5es europeias. Portanto, o programa do governo continua a ser um programa pr\u00f3-europeu que defende a integra\u00e7\u00e3o europeia. euronews: Estaria disposto a organizar um referendo se os portugueses quisessem pronunciar-se sobre a continua\u00e7\u00e3o de Portugal na Uni\u00e3o Europeia? AC: Este ano, celebramos 30 anos de ades\u00e3o. N\u00e3o \u00e9 agora que vamos organizar um referendo. N\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o que o pa\u00eds se coloque\u2026 euronews: \u00c9 perempt\u00f3rio: isso nunca ir\u00e1 acontecer\u2026 AC: H\u00e1 um grande consenso em Portugal em torno dessa quest\u00e3o. Mesmo ap\u00f3s quatro anos de troika, continuamos pr\u00f3-europeus. \u00c9 \u00f3bvio que h\u00e1 um problema na Uni\u00e3o Europeia que tem de ser abordado de forma muito clara: \u00e9 preciso completar a Uni\u00e3o Econ\u00f3mica e Monet\u00e1ria. A Uni\u00e3o Econ\u00f3mica e Monet\u00e1ria n\u00e3o foi terminada e essa \u00e9 uma quest\u00e3o fulcral para estabilizar a Europa. euronews: Mas os populistas v\u00e3o fazer tudo para o impedir\u2026 AC: \u00c9 preciso combat\u00ea-los. euronews: De que forma? Estamos a falar de movimentos que t\u00eam ao leme personalidades muito fortes: Trump, nos Estados Unidos; na Europa, Nigel Farage conseguiu empurrar o Reino Unido para fora da Uni\u00e3o Europeia\u2026 AC: Sim, e depois foi-se embora, deixou o Reino Unido com um grande problema nas m\u00e3os. \u00c9 uma irresponsabilidade\u2026 euronews: No entanto, eles dizem-se respons\u00e1veis perante a Uni\u00e3o Europeia\u2026 AC: Populismo \u00e9 mais ou menos sin\u00f3nimo de irresponsabilidade. Fazer discursos, \u00e9 f\u00e1cil. \u00c9 f\u00e1cil mobilizar as pessoas para tomar decis\u00f5es. Mas depois o que \u00e9 dif\u00edcil \u00e9 gerir as coisas, governar de acordo com essas decis\u00f5es. \u00c9 inacredit\u00e1vel o que est\u00e1 a acontecer atualmente no Reino Unido. Os grandes defensores do Brexit, \u00e0 exce\u00e7\u00e3o de Boris Johnson, foram-se embora. Os que ficaram n\u00e3o sabem o que fazer. \u00c9 inacredit\u00e1vel que, depois de ter decidido sair da Uni\u00e3o Europeia, o Reino Unido pe\u00e7a diariamente tempo para refletir, para saber o que deve fazer e de que forma iniciar as negocia\u00e7\u00f5es. Alemanha, o l\u00edder que n\u00e3o o quer ser euronews: Ser\u00e1 que o problema da Europa n\u00e3o \u00e9 precisamente a falta de lideran\u00e7a? AC: N\u00e3o sei se nos falta lideran\u00e7a, mas faltam-nos certamente resultados. As pessoas precisam de se sentir seguras perante a realidade de uma economia globalizada, precisam de saber que h\u00e1 pol\u00edticos que podem promover o crescimento e a cria\u00e7\u00e3o de emprego, que h\u00e1 novos modelos de trabalho, que h\u00e1 forma\u00e7\u00f5es dispon\u00edveis para integrar as pessoas no mercado laboral. As preocupa\u00e7\u00f5es relacionadas com esses tr\u00eas fatores \u2013 crescimento, desemprego e seguran\u00e7a \u2013 representam a mensagem fundamental que os cidad\u00e3os querem transmitir aos pol\u00edticos. E n\u00f3s temos de dar uma resposta positiva. euronews: Ou seja, a Alemanha, que \u00e9 o pa\u00eds habitualmente considerado como o l\u00edder da Uni\u00e3o Europeia, n\u00e3o \u00e9 o exemplo a seguir\u2026 AC: \u00c9 um paradoxo. Por um lado, a Alemanha \u00e9 o \u00fanico pa\u00eds que pode assumir a lideran\u00e7a, mas infelizmente n\u00e3o quer essa mesma lideran\u00e7a. Porque, para se ser l\u00edder, \u00e9 preciso ter a capacidade de agregar, de criar pontes entre uns e outros, de juntar pobres, ricos, pequenos, grandes, os pa\u00edses de Leste, os pa\u00edses do Oeste, do Norte, do Sul\u2026 E a Alemanha n\u00e3o sabe fazer isso. A Alemanha nunca assumiu uma postura de aglomera\u00e7\u00e3o. Nunca aprendeu a faz\u00ea-lo. Por isso, \u00e9 muito dif\u00edcil para este pa\u00eds exercer a lideran\u00e7a. Infelizmente, n\u00e3o h\u00e1 outros pa\u00edses que tenham a capacidade de o fazer no seu lugar. Por isso \u00e9 que deposito grandes esperan\u00e7as em Jean-Claude Juncker, na sua Comiss\u00e3o Europeia, porque \u00e0 falta de capacidade de lideran\u00e7a entre os Estados-membros, a Comiss\u00e3o tem a oportunidade de assumir a posi\u00e7\u00e3o central que tinha na altura de Jacques Delors, encarnando assim a verdadeira lideran\u00e7a da Uni\u00e3o Europeia. euronews: Voltemos \u00e0 Web Summit. Uma das sess\u00f5es chamava-se a \u201cLoucura da Realidade Virtual\u201d (Virtual Reality Insanity). Concorda com a ideia de que estamos todos \u00e0 beira de nos lan\u00e7armos no desconhecido e que s\u00e3o as gera\u00e7\u00f5es futuras que v\u00e3o pagar a fatura? AC: Todas as gera\u00e7\u00f5es se confrontam com o desconhecido: o futuro \u00e9 isso. \u00c9 verdade que, nos dias que correm, a din\u00e2mica da inova\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica levanta quest\u00f5es mais complexas do que antigamente. A automatiza\u00e7\u00e3o, a rob\u00f3tica, o digital suscitam quest\u00f5es dif\u00edceis para n\u00f3s. Ao longo da hist\u00f3ria, todos os avan\u00e7os produtivos, todos os avan\u00e7os tecnol\u00f3gicos, permitiram criar mais postos de trabalho do que aqueles que iam sendo destru\u00eddos. Portanto, \u00e9 necess\u00e1rio reinventar a forma de trabalharmos, de partilhar o tempo de trabalho, de partilhar os ganhos de produtividade de uma outra maneira. euronews: Terminando num registo mais ligeiro, visto que estamos numa cimeira de novas tecnologias: h\u00e1 alguma tecnologia sem a qual n\u00e3o consiga ar ou h\u00e1 algo espec\u00edfico que gostaria de ver criado? AC: Interesso-me muito pelas novas tecnologias no dom\u00ednio da mobilidade. Nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas, as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas ser\u00e3o o grande desafio da Humanidade. E isso implica implementar modos de desloca\u00e7\u00e3o que sejam sustent\u00e1veis. Os avan\u00e7os tecnol\u00f3gicos representam uma grande oportunidade para conseguir esse objetivo. euronews: E no seu dia a dia? AC: No meu dia a dia, trabalho com o meu computador port\u00e1til e \u00e9 sempre uma aventura tentar encontrar novas aplica\u00e7\u00f5es no meu telem\u00f3vel para efetuar opera\u00e7\u00f5es banc\u00e1rias, comprar um livro, encontrar um restaurante, aprofundar conhecimentos, aceder \u00e0 informa\u00e7\u00e3o: \u00e9 um mundo fabuloso! euronews: Muito obrigada. AC: Obrigado, foi um prazer. euronews: E obrigada por fazer a entrevista em franc\u00eas. AC: Obrigado eu, foi uma boa oportunidade para praticar.", "dateCreated": "2016-11-17T19:30:10+01:00", "dateModified": "2016-11-17T19:30:10+01:00", "datePublished": "2016-11-17T19:30:10+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F349756%2F1440x810_349756.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Ap\u00f3s a austeridade, Portugal tenta virar a p\u00e1gina. 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António Costa: "A Alemanha é o único país que pode assumir a liderança, mas não quer"

António Costa: "A Alemanha é o único país que pode assumir a liderança, mas não quer"
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De Nuno Prudêncio
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Após a austeridade, Portugal tenta virar a página. O primeiro-ministro António Costa falou com o Global Conversation sobre as mudanças no país e no mundo.

Foram anos de austeridade e agora Portugal tenta virar a página para se tornar numdestino privilegiado de investimentose numaplataforma de inovação. Aliás, Lisboa lutou pela organização daWeb Summit, uma das mais concorridas cimeiras de tecnologia, e conseguiu. Como é que este país, situado numa Europa também ela fragilizada, se posiciona perante as grandes mudanças mundiais que estão a ocorrer, sobretudo após a eleição de Donald Trump? O primeiro-ministro António Costa foi o convidado deste Global Conversation.

Isabelle Kumar, euronews: Comecemos já pelas eleições americanas e pela chegada de Donald Trump à Casa Branca: era o resultado que pretendia ver?

António Costa: A escolha do presidente dos Estados Unidos cabe aos eleitores americanos. É óbvio que foi uma surpresa para muita gente. Para mim, também. Esperemos que os Estados Unidos continuem a respeitar os compromissos assumidos no âmbito da aliança transatlântica com a Europa e as responsabilidades no quadro das Nações Unidas. Mas a grande mensagem que temos de tentar compreender é: como foi possível este resultado? Esta é que é a grande questão. E é uma questão que se coloca também a respeito do Brexit e que é evidenciada por várias sondagens em diferentes países europeus…

euronews: Como é que foi possível, na sua opinião?

AC: Diria que há uma rutura entre o quadro político dominante e os cidadãos comuns, que se sentem angustiados. Nós temos de nos reaproximar daquilo que os cidadãos e as cidadãs realmente esperam da política. É evidente que a globalização é irreversível e traz vantagens para a economia mundial, para o desenvolvimento de vários países, como a China, a Índia, mas é também uma ameaça para muitos dos nossos concidadãos. E nós temos de os conseguir tranquilizar, o que não fizemos.

Un trio #Trumpa href=“https://twitter.com/hashtag/Poutine?src=hash”>#Poutine#LePen serait «bon pour la #paix dans le monde», selon la présidente du FN https://t.co/UfxO899HbRpic.twitter.com/SWBSbwXZin

— RT (@RTenfrancais) 16 novembre 2016

euronews: Falou na globalização. Mas, durante a campanha, Donald Trump defendeu políticas protecionistas, que isolam o país. Que impacto é que isto pode ter sobre a Europa?

AC: Também temos reações protecionistas na Europa. Quando vemos países do espaço Schengen a fechar fronteiras para não acolher refugiados, quando vemos o Reino Unido afastar-se da União Europeia, quando vemos a vitória de Trump, percebemos o quão fortes podem ser as reações contra a globalização.

euronews: O que são más notícias para a Europa…

AC: Não, são más notícias para o mundo e também para a Europa. É preciso compreender que a globalização tem de ser enquadrada. E essa tem sido uma das grandes falhas da União Europeia até hoje.


Breve biografia de António Costa

  • Nasceu em Lisboa, em 1961
  • Foi ministro da Justiça de 1999 a 2002 e da istração Interna entre 2005 e 2007
  • Foi presidente da Câmara de Lisboa entre 2007 e 2015
  • Tornou-se primeiro-ministro em novembro de 2015
  • Encabeça um governo assente numa aliança parlamentar com o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda

euronews: Já vamos voltar à União Europeia, mas ainda em relação a Trump: como é que olha para o programa que ele apresentou?

AC: Bom, o programa de Trump não tem nada a ver com o meu programa, não só em relação às questões económicas, mas também no que diz respeito aos valores. Mas, entre países democráticos, temos de saber respeitar as escolhas de cada povo. E, portanto, temos de respeitar a escolha que os americanos fizeram para a presidência.

O ponto de viragem português

euronews: Vamos regressar às eleições americanas ao longo desta entrevista. Mas estamos em Lisboa, na Web Summit…

AC: Felizmente!

É impressionante ver a energia com que empreendedores de todo o mundo se apresentam na #Websummit. Muitas boas ideias para um melhor futuro. pic.twitter.com/tYJ7JLpPs1

— António Costa (@antoniocostapm) 9 novembre 2016

euronews: Então vamos a isso… Esta cimeira surge num momento ainda difícil para a economia portuguesa. Há quem diga que se vive um novo dinamismo no país, embora a situação económica ainda seja complicada. Porque é que era tão importante para si realizar a Web Summit em Lisboa?

AC: Estamos num ponto de viragem. Concluímos o programa de ajustamento com a troika. Este ano, pela primeira vez, vamos conseguir um défice abaixo dos 3%. Ou seja, vamos sair do procedimento por défice excessivo. Agora é altura de relançar a economia. E a base deve ser sobretudo a inovação. As startup representam o caminho que tomámos para mobilizar esta geração de portugueses e portuguesas, que é a geração mais qualificada que o país já teve e que, durante os anos da crise, repetiu o fenómeno da emigração…

euronews: Deixaram o país…

AC: Temos de os fazer regressar e fixar no país os jovens que estão, hoje em dia, nas universidades e institutos politécnicos, de forma a aproveitar as competências que esta geração tem para oferecer.

euronews: A austeridade foi mesmo necessária? Era a política mais adequada para aquela altura?

AC: O programa da troika foi um erro. Mas já ultraámos isso, virámos a página e agora temos os olhos postos no futuro.

euronews: Diz que viraram a página mas, dada a instabilidade global nos dias que correm, há quem evoque a possibilidade de um segundo plano de resgate...

AC: Não, não há motivo nenhum para que isso aconteça. Antes de mais, como já referi, vamos alcançar o melhor nível de défice desde há 42 anos, aliás um dos melhores da União Europeia.

euronews: Mas um crescimento fraco…

AC: Sim, é verdade, mas num contexto no qual toda a Europa regista um crescimento fraco. Este ano, já reduzimos a taxa de desemprego em dois pontos. As nossas exportações aumentaram 6%. As exportações para os países da União Europeia subiram 7,6%.

Carlos Moedas</a>: “Estamos a ver a luz ao fim do túnel” <a href="https://t.co/mPdQoGrx5i">https://t.co/mPdQoGrx5i</a> via <a href="https://twitter.com/expresso">expresso#EuropeanSemester

— CEemPortugal (@CE_PTrep) 16 novembre 2016

euronews: Considera a hipótese de se demitir se o crescimento não voltar?

AC: Não é uma questão que se coloque neste momento. Temos uma maioria parlamentar estável, uma relação muito boa com o presidente da República, uma relação muito boa com os parceiros sociais. Todos os indicadores económicos nos dizem que os níveis de confiança estão a aumentar desde o início do ano. Os salários dos funcionários públicos, que sofreram cortes de 30% durante cinco anos, foram restabelecidos. Conseguimos reduzir os impostos sobre os salários tanto no privado, como no público.

euronews: Mas nem toda a gente está de acordo consigo…

AC: Isso é normal, não?

euronews: … a nível europeu. Estou a pensar em Wolfgang Schäuble, por exemplo, o ministro das Finanças alemão. O presidente do seu partido chamou-lhe de incendiário, considerando supostamente que ele queria incendiar o vosso país...

AC: É verdade. Infelizmente, o ministro Schäuble tem uma posição hostil em relação ao nosso governo baseada na ignorância daquilo que é a realidade económica portuguesa. Eu costumo dizer que dou muita atenção aos alemães, mas sobretudo aos alemães que conhecem bem Portugal. E os alemães que conhecem Portugal confiam no nosso país e investem nele. A fábrica mais produtiva da Volkswagen na Europa situa-se em Portugal. O que decidiu fazer esta marca? Criar um novo modelo que vai ser lançado no ano que vem e que será produzido nesta fábrica portuguesa. A Bosch abriu duas novas unidades industriais em Portugal. A Continental vai abrir uma nova fábrica este ano.

euronews: E Schäuble não está ao corrente disso?

AC: Não, ele não conhece a realidade portuguesa de todo, mas felizmente os empresários alemães sim, conhecem Portugal, confiam no país e estão a reforçar os investimentos que fazem.

“Mesmo após quatro anos de troika, continuamos pró-europeus”

euronews: Gostaria de voltar à comparação entre a Europa e os Estados Unidos: durante a campanha, Donald Trump afirmava que a sua vitória seria como uma espécie de super-Brexit. Muitos analistas dizem que foi uma vitória do populismo. Considera que foi uma vitória do populismo também aqui na Europa?

AC: O populismo xenófobo existe um pouco por toda a Europa, à exceção talvez de Espanha e Portugal, que são para já os únicos países que continuam imunes. Isso é normal: Portugal não é um país fechado no meio da Europa. É um país situado em frente ao Atlântico, aberto ao mundo…

euronews: Qual será então o impacto sobre o populismo na Europa? Isto reforça esse movimento?

AC: Tenho sempre a esperança que as decisões infelizes como o Brexit ou vitória de Trump sirvam de vacina para nos proteger de novos erros e de novos triunfos do populismo nas próximas eleições a ter lugar na Europa. Felizmente, nós continuamos a resistir, mantemo-nos abertos ao mundo. Isso é um fator determinante para o nosso futuro. Faz parte da nossa história, mas também do nosso futuro.

It was a great honour to spend time with realDonaldTrump</a>. He was relaxed and full of good ideas. I&#39;m confident he will be a good President. <a href="https://t.co/kx8cGRHYPQ">pic.twitter.com/kx8cGRHYPQ</a></p>&mdash; Nigel Farage (Nigel_Farage) 12 novembre 2016

euronews: O seu partido fez uma aliança com partidos eurocéticos, uma corrente que ganha cada vez mais terreno na Europa e que visa a desintegração da União Europeia. Corremos realmente o risco de assistir a uma desintegração?

AC: É preciso compreender uma coisa em relação ao caso português: a aliança que está na base do nosso governo pressupõe o respeito das diferenças de cada partido. O Partido Socialista, do qual sou secretário-geral, é o grande defensor da integração europeia. O acordo que estabelecemos com os outros partidos de esquerda não contempla as questões europeias. Portanto, o programa do governo continua a ser um programa pró-europeu que defende a integração europeia.

euronews: Estaria disposto a organizar um referendo se os portugueses quisessem pronunciar-se sobre a continuação de Portugal na União Europeia?

AC: Este ano, celebramos 30 anos de adesão. Não é agora que vamos organizar um referendo. Não é uma questão que o país se coloque…

euronews: É peremptório: isso nunca irá acontecer…

AC: Há um grande consenso em Portugal em torno dessa questão. Mesmo após quatro anos de troika, continuamos pró-europeus. É óbvio que há um problema na União Europeia que tem de ser abordado de forma muito clara: é preciso completar a União Económica e Monetária. A União Económica e Monetária não foi terminada e essa é uma questão fulcral para estabilizar a Europa.

euronews: Mas os populistas vão fazer tudo para o impedir…

AC: É preciso combatê-los.

euronews: De que forma? Estamos a falar de movimentos que têm ao leme personalidades muito fortes: Trump, nos Estados Unidos; na Europa, Nigel Farage conseguiu empurrar o Reino Unido para fora da União Europeia…

AC: Sim, e depois foi-se embora, deixou o Reino Unido com um grande problema nas mãos. É uma irresponsabilidade…

euronews: No entanto, eles dizem-se responsáveis perante a União Europeia…

AC: Populismo é mais ou menos sinónimo de irresponsabilidade. Fazer discursos, é fácil. É fácil mobilizar as pessoas para tomar decisões. Mas depois o que é difícil é gerir as coisas, governar de acordo com essas decisões. É inacreditável o que está a acontecer atualmente no Reino Unido. Os grandes defensores do Brexit, à exceção de Boris Johnson, foram-se embora. Os que ficaram não sabem o que fazer. É inacreditável que, depois de ter decidido sair da União Europeia, o Reino Unido peça diariamente tempo para refletir, para saber o que deve fazer e de que forma iniciar as negociações.

Alemanha, o líder que não o quer ser

euronews: Será que o problema da Europa não é precisamente a falta de liderança?

AC: Não sei se nos falta liderança, mas faltam-nos certamente resultados. As pessoas precisam de se sentir seguras perante a realidade de uma economia globalizada, precisam de saber que há políticos que podem promover o crescimento e a criação de emprego, que há novos modelos de trabalho, que há formações disponíveis para integrar as pessoas no mercado laboral. As preocupações relacionadas com esses três fatores – crescimento, desemprego e segurança – representam a mensagem fundamental que os cidadãos querem transmitir aos políticos. E nós temos de dar uma resposta positiva.

euronews: Ou seja, a Alemanha, que é o país habitualmente considerado como o líder da União Europeia, não é o exemplo a seguir…

AC: É um paradoxo. Por um lado, a Alemanha é o único país que pode assumir a liderança, mas infelizmente não quer essa mesma liderança. Porque, para se ser líder, é preciso ter a capacidade de agregar, de criar pontes entre uns e outros, de juntar pobres, ricos, pequenos, grandes, os países de Leste, os países do Oeste, do Norte, do Sul… E a Alemanha não sabe fazer isso. A Alemanha nunca assumiu uma postura de aglomeração. Nunca aprendeu a fazê-lo. Por isso, é muito difícil para este país exercer a liderança. Infelizmente, não há outros países que tenham a capacidade de o fazer no seu lugar. Por isso é que deposito grandes esperanças em Jean-Claude Juncker, na sua Comissão Europeia, porque à falta de capacidade de liderança entre os Estados-membros, a Comissão tem a oportunidade de assumir a posição central que tinha na altura de Jacques Delors, encarnando assim a verdadeira liderança da União Europeia.

euronews: Voltemos à Web Summit. Uma das sessões chamava-se a “Loucura da Realidade Virtual” (Virtual Reality Insanity). Concorda com a ideia de que estamos todos à beira de nos lançarmos no desconhecido e que são as gerações futuras que vão pagar a fatura?

AC: Todas as gerações se confrontam com o desconhecido: o futuro é isso. É verdade que, nos dias que correm, a dinâmica da inovação tecnológica levanta questões mais complexas do que antigamente. A automatização, a robótica, o digital suscitam questões difíceis para nós. Ao longo da história, todos os avanços produtivos, todos os avanços tecnológicos, permitiram criar mais postos de trabalho do que aqueles que iam sendo destruídos. Portanto, é necessário reinventar a forma de trabalharmos, de partilhar o tempo de trabalho, de partilhar os ganhos de produtividade de uma outra maneira.

euronews: Terminando num registo mais ligeiro, visto que estamos numa cimeira de novas tecnologias: há alguma tecnologia sem a qual não consiga ar ou há algo específico que gostaria de ver criado?

AC: Interesso-me muito pelas novas tecnologias no domínio da mobilidade. Nas próximas décadas, as alterações climáticas serão o grande desafio da Humanidade. E isso implica implementar modos de deslocação que sejam sustentáveis. Os avanços tecnológicos representam uma grande oportunidade para conseguir esse objetivo.

euronews: E no seu dia a dia?

AC: No meu dia a dia, trabalho com o meu computador portátil e é sempre uma aventura tentar encontrar novas aplicações no meu telemóvel para efetuar operações bancárias, comprar um livro, encontrar um restaurante, aprofundar conhecimentos, aceder à informação: é um mundo fabuloso!

euronews: Muito obrigada.

AC: Obrigado, foi um prazer.

euronews: E obrigada por fazer a entrevista em francês.

AC: Obrigado eu, foi uma boa oportunidade para praticar.

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