{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2016/06/14/euclid-tsakalotos-nao-me-surpreende-que-os-gregos-estejam-desiludidos" }, "headline": "Euclid Tsakalotos: \u0022N\u00e3o me surpreende que os gregos estejam desiludidos\u0022", "description": "A Gr\u00e9cia est\u00e1 ainda longe de emergir da crise da d\u00edvida soberana.", "articleBody": "A Gr\u00e9cia est\u00e1 ainda longe de emergir da crise da d\u00edvida soberana. No entanto, os representantes europeus t\u00eam reconhecido o trabalho de recupera\u00e7\u00e3o efetuado recentemente. Os sacrif\u00edcios que continuam a ser impostos aos cidad\u00e3os gregos podem realmente conduzir o pa\u00eds de novo ao crescimento? Foi uma das perguntas que a jornalista Efi Koutsokosta colocou ao ministro das Finan\u00e7as grego, Euclid Tsakalotos, que se encontra em Bruxelas para participar no F\u00f3rum Econ\u00f3mico. A luta pela recupera\u00e7\u00e3o Efi Koutsokosta, euronews: H\u00e1 cerca de um ano, o governo grego \u2013 e o senhor, como ministro das Finan\u00e7as \u2013 atravessava um momento cr\u00edtico: o Grexit estava em cima da mesa. Neste momento, considera que este programa de resgate \u00e9 realmente a solu\u00e7\u00e3o para a Gr\u00e9cia? Euclid Tsakalotos: Tem sido um ano muito complicado. Na altura, definimos uma estrat\u00e9gia para sair da crise que a por terminar a recapitaliza\u00e7\u00e3o dos bancos, de forma a poder consolid\u00e1-los. O plano estabelecia tamb\u00e9m a conclus\u00e3o da primeira avalia\u00e7\u00e3o do programa de assist\u00eancia. 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At\u00e9 hoje, o Eurogrupo anunciava-se dispon\u00edvel para intervir em caso de necessidade. Mas, a partir de agora, esse cen\u00e1rio encontra-se definido. E isso abre a porta a que, a partir de 2018, as necessidades financeiras da Gr\u00e9cia n\u00e3o ultraem a fasquia dos 15%. Todas as medidas que tom\u00e1mos destinaram-se a garantir essa condi\u00e7\u00e3o objetiva. As coisas n\u00e3o dependem de o ministro das Finan\u00e7as alem\u00e3o, espanhol, franc\u00eas ou grego acordar um dia e dizer: \u201cTemos de fazer algo!\u201d. N\u00e3o, o que tem de ser feito est\u00e1 estipulado de forma objetiva. E isso \u00e9 um grande o. euronews: A C\u00e2mara do Com\u00e9rcio de Atenas realizou uma sondagem que revela que 69% dos gregos n\u00e3o ter\u00e3o meios para pagar os impostos este ano e que 89% acredita que as novas medidas v\u00e3o agravar a recess\u00e3o. Como \u00e9 que justifica as suas escolhas perante isto? ET: O povo grego tem de ter a consci\u00eancia de que, sim o programa \u00e9 bastante intensivo, mas quando terminarem as medidas fiscais vamos poder dedicar-nos ao nosso desenvolvimento com a ajuda da inje\u00e7\u00e3o direta de liquidez do BCE e com o regresso dos investidores. Tudo isto exige muitos esfor\u00e7os. Ainda n\u00e3o terminamos. Mas \u00e9 verdade que h\u00e1 um certo pessimismo, ali\u00e1s como indicam essas sondagens. Se, em setembro, me perguntasse qual seria o momento mais dif\u00edcil para o governo, diria que era conclus\u00e3o da primeira avalia\u00e7\u00e3o. \u00c9 um facto que o programa \u00e9 muito rigoroso. N\u00e3o me surpreende que as pessoas se sintam desiludidas, t\u00eam todo o direito. Afinal de contas, esta crise j\u00e1 dura h\u00e1 5, 6, 7 anos. Biografia: Euclid Tsakalotos Atual ministro das Finan\u00e7as grego; economista e te\u00f3rico de esquerda Nasceu em Roterd\u00e3o, em 1960; frequentou a Universidade de Oxford, onde concluiu um doutoramento em Economia Professor na Universidade de Atenas desde 2010; autor de seis livros sobre pol\u00edtica econ\u00f3mica Defende a integra\u00e7\u00e3o europeia, mas posiciona-se contra os princ\u00edpios capitalistas; h\u00e1 quem lhe chame \u201cO Europe\u00edsta Revolucion\u00e1rio\u201d euronews: Fez muitas promessas. Acha que as pessoas continuam a acreditar no seu discurso? ET: Fizemos muitas promessas, assumimos compromissos, mas tamb\u00e9m lev\u00e1mos este acordo \u00e0s urnas. As elei\u00e7\u00f5es de setembro foram as primeiras nas quais o povo grego sabia exatamente aquilo que estava a votar. N\u00f3s nunca dissemos que \u00edamos interromper o acordo, n\u00e3o mud\u00e1mos de ideias. Este acordo, com tudo de bom e de mau que tem, fez parte da campanha eleitoral. 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As reformas laborais euronews: O governo franc\u00eas est\u00e1 a tentar implementar uma lei laboral controversa que tem gerado muitas manifesta\u00e7\u00f5es. Est\u00e1 do lado dos manifestantes ou do governo franc\u00eas, do qual se aproximou bastante nos \u00faltimos tempos? ET: A reforma do mercado laboral \u00e9 uma quest\u00e3o que todos os pa\u00edses v\u00e3o ter de enfrentar. N\u00e3o considero que os problemas da Europa se devam \u00e0 falta de flexibilidade do mercado de trabalho, que \u00e9 um argumento que se ouve h\u00e1 d\u00e9cadas. Tem havido v\u00e1rias medidas para aumentar a flexibilidade e os efeitos s\u00e3o muito reduzidos. Os nossos credores v\u00e3o pedir-nos, por exemplo, para facilitar os despedimentos. Mas n\u00f3s sabemos \u2013 eu sou professor de Economia \u2013 que n\u00e3o h\u00e1 provas que indiquem que essa medida conduz a menos desemprego. O resultado \u00e9 o mesmo n\u00edvel de emprego e mais inseguran\u00e7a entre os trabalhadores. O impacto do debate em torno do Brexit euronews: O Brexit est\u00e1 em cima da mesa. Ao contr\u00e1rio da Gr\u00e9cia, o Reino Unido organizou um referendo para perguntar aos cidad\u00e3os se querem ficar ou sair da Uni\u00e3o Europeia. Qual \u00e9, para si, a melhor solu\u00e7\u00e3o para o Reino Unido, para a Uni\u00e3o Europeia e para a Gr\u00e9cia? ET: Estou convencido que a melhor solu\u00e7\u00e3o tanto para o Reino Unido, como para a Europa e para a Gr\u00e9cia, \u00e9 permanecer. N\u00e3o h\u00e1 d\u00favida. Se o Brexit for para a frente, v\u00e3o surgir for\u00e7as centr\u00edfugas, tal como aconteceu nos anos 30. Vamos assistir \u00e0 desvaloriza\u00e7\u00e3o das moedas, a nacionalismos que no ado tiveram o desfecho que se sabe. \u00c9 um cen\u00e1rio muito preocupante. No entanto, aconte\u00e7a o que acontecer, o importante \u00e9 que os europeus aprendam a li\u00e7\u00e3o. Se, no final, decidirem ficar por uma diferen\u00e7a de 2% ou 3%, ser\u00e1 um sinal de alerta gigantesco. Se a Europa n\u00e3o reagir e n\u00e3o garantir aos cidad\u00e3os a salvaguarda dos sal\u00e1rios, das pens\u00f5es, do Estado-provid\u00eancia, teremos mais casos como o Brexit no futuro. A democracia europeia est\u00e1 em perigo? euronews: O seu antecessor, Yanis Varoufakis, afirmava repetidamente que a Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o funciona de forma democr\u00e1tica. Partilha da mesma vis\u00e3o? ET: N\u00e3o me parece que a quest\u00e3o seja saber se a Europa tem ou n\u00e3o um d\u00e9fice democr\u00e1tico. N\u00e3o \u00e9 essa a tem\u00e1tica que os analistas pol\u00edticos t\u00eam debatido ao longo da \u00faltima d\u00e9cada. O importante \u00e9 n\u00e3o rotular como populistas as pessoas que afirmam querer \u201cter uma palavra a dizer sobre os assuntos que afetam a vida de todos\u201d. Se as qualificarmos de populistas, estamos a encaminh\u00e1-las para a Marine Le Pen, para os defensores do Brexit, para a extrema-direita. Temos de ouvir os cidad\u00e3os. E os cidad\u00e3os querem \u201cter uma palavra a dizer nas quest\u00f5es essenciais\u201d. Se a Europa n\u00e3o lhes providenciar isso, ent\u00e3o sim tornam-se antieuropeus. euronews: Quando \u00e9 que o povo grego poder\u00e1 ter realmente a no\u00e7\u00e3o de que as coisas est\u00e3o a mudar, n\u00e3o apenas nos n\u00fameros, mas na vida real? ET: Se dentro de um ano, me convidar outra vez e n\u00e3o houver sinais de recupera\u00e7\u00e3o, ent\u00e3o a\u00ed sim, falh\u00e1mos. Pode convidar-me outra vez e voltar a fazer a mesma pergunta. Espero que, no ano que vem, por esta altura, os fatores de desenvolvimento do nosso programa sejam not\u00f3rios e o crescimento regresse. 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Euclid Tsakalotos: "Não me surpreende que os gregos estejam desiludidos"

Euclid Tsakalotos: "Não me surpreende que os gregos estejam desiludidos"
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A Grécia está ainda longe de emergir da crise da dívida soberana.

A Grécia está ainda longe de emergir da crise da dívida soberana. No entanto,os representantes europeus têm reconhecido o trabalho de recuperaçãoefetuado recentemente. Os sacrifícios quecontinuam a ser impostosaos cidadãos gregos podem realmente conduzir o país de novo ao crescimento? Foi uma das perguntas que a jornalista Efi Koutsokosta colocou ao ministro das Finanças grego, Euclid Tsakalotos, que se encontra em Bruxelas para participar no Fórum Económico.

A luta pela recuperação

Efi Koutsokosta, euronews: Há cerca de um ano, o governo grego – e o senhor, como ministro das Finanças – atravessava um momento crítico: o Grexit estava em cima da mesa. Neste momento, considera que este programa de resgate é realmente a solução para a Grécia?

Euclid Tsakalotos: Tem sido um ano muito complicado. Na altura, definimos uma estratégia para sair da crise que a por terminar a recapitalização dos bancos, de forma a poder consolidá-los. O plano estabelecia também a conclusão da primeira avaliação do programa de assistência. No dia 24 de maio, decidiu-se então finalizar essa primeira revisão para proceder a um novo desembolso e alcançar o enquadramento certo para colmatar a nossa dívida.

interview with/συνέντευξη με Paul Mason.
whole interview tonight channel4 news <a href="https://twitter.com/21">21.00 greek time
όλη η… http://t.co/0HwdZC5SUv

— Ευκλείδης Τσακαλώτος (@tsakalotos) 4 juin 2015

euronews: Como referiu, a decisão do Eurogrupo de aliviar a dívida e alargar os prazos foi tomada recentemente. Mas considera que são contrapartidas suficientes perante a severidade das novas reformas que o governo grego fez aprovar?

ET: Creio que é um compromisso importante por causa do seguinte: pela primeira vez, ficou esclarecida a cláusula do “se necessário”. Até hoje, o Eurogrupo anunciava-se disponível para intervir em caso de necessidade. Mas, a partir de agora, esse cenário encontra-se definido. E isso abre a porta a que, a partir de 2018, as necessidades financeiras da Grécia não ultraem a fasquia dos 15%. Todas as medidas que tomámos destinaram-se a garantir essa condição objetiva. As coisas não dependem de o ministro das Finanças alemão, espanhol, francês ou grego acordar um dia e dizer: “Temos de fazer algo!”. Não, o que tem de ser feito está estipulado de forma objetiva. E isso é um grande o.

euronews: A Câmara do Comércio de Atenas realizou uma sondagem que revela que 69% dos gregos não terão meios para pagar os impostos este ano e que 89% acredita que as novas medidas vão agravar a recessão. Como é que justifica as suas escolhas perante isto?

ET: O povo grego tem de ter a consciência de que, sim o programa é bastante intensivo, mas quando terminarem as medidas fiscais vamos poder dedicar-nos ao nosso desenvolvimento com a ajuda da injeção direta de liquidez do BCE e com o regresso dos investidores. Tudo isto exige muitos esforços. Ainda não terminamos. Mas é verdade que há um certo pessimismo, aliás como indicam essas sondagens. Se, em setembro, me perguntasse qual seria o momento mais difícil para o governo, diria que era conclusão da primeira avaliação. É um facto que o programa é muito rigoroso. Não me surpreende que as pessoas se sintam desiludidas, têm todo o direito. Afinal de contas, esta crise já dura há 5, 6, 7 anos.


Biografia: Euclid Tsakalotos

  • Atual ministro das Finanças grego; economista e teórico de esquerda
  • Nasceu em Roterdão, em 1960; frequentou a Universidade de Oxford, onde concluiu um doutoramento em Economia
  • Professor na Universidade de Atenas desde 2010; autor de seis livros sobre política económica
  • Defende a integração europeia, mas posiciona-se contra os princípios capitalistas; há quem lhe chame “O Europeísta Revolucionário”

euronews: Fez muitas promessas. Acha que as pessoas continuam a acreditar no seu discurso?

ET: Fizemos muitas promessas, assumimos compromissos, mas também levámos este acordo às urnas. As eleições de setembro foram as primeiras nas quais o povo grego sabia exatamente aquilo que estava a votar. Nós nunca dissemos que íamos interromper o acordo, não mudámos de ideias. Este acordo, com tudo de bom e de mau que tem, fez parte da campanha eleitoral. Ganhámos as eleições com base nele.

euronews: Enquanto político de esquerda, como se sente ao implementar medidas que incluem a privatização de serviços públicos?

ET: Sendo ministro de esquerda, a verdade é que tenho resolver os problemas. Já me deparei com opositores que dizem que, se a esquerda só é útil quando há um crescimento de 5% e um desemprego de 5%, então na realidade ela não serve para nada. Se nós não formos eficazes numa altura em que não há crescimento e o desemprego está nos 25%, então ninguém votará em nós depois da recuperação. As pessoas escolheram-nos porque sabem que vamos aplicar o programa com a maior sensibilidade social possível. Foi isso que mostrámos na reforma do sistema de pensões e do sistema fiscal.

As reformas laborais

euronews: O governo francês está a tentar implementar uma lei laboral controversa que tem gerado muitas manifestações. Está do lado dos manifestantes ou do governo francês, do qual se aproximou bastante nos últimos tempos?

ET: A reforma do mercado laboral é uma questão que todos os países vão ter de enfrentar. Não considero que os problemas da Europa se devam à falta de flexibilidade do mercado de trabalho, que é um argumento que se ouve há décadas. Tem havido várias medidas para aumentar a flexibilidade e os efeitos são muito reduzidos. Os nossos credores vão pedir-nos, por exemplo, para facilitar os despedimentos. Mas nós sabemos – eu sou professor de Economia – que não há provas que indiquem que essa medida conduz a menos desemprego. O resultado é o mesmo nível de emprego e mais insegurança entre os trabalhadores.

O impacto do debate em torno do Brexit

euronews: O Brexit está em cima da mesa. Ao contrário da Grécia, o Reino Unido organizou um referendo para perguntar aos cidadãos se querem ficar ou sair da União Europeia. Qual é, para si, a melhor solução para o Reino Unido, para a União Europeia e para a Grécia?

ET: Estou convencido que a melhor solução tanto para o Reino Unido, como para a Europa e para a Grécia, é permanecer. Não há dúvida. Se o Brexit for para a frente, vão surgir forças centrífugas, tal como aconteceu nos anos 30. Vamos assistir à desvalorização das moedas, a nacionalismos que no ado tiveram o desfecho que se sabe. É um cenário muito preocupante. No entanto, aconteça o que acontecer, o importante é que os europeus aprendam a lição. Se, no final, decidirem ficar por uma diferença de 2% ou 3%, será um sinal de alerta gigantesco. Se a Europa não reagir e não garantir aos cidadãos a salvaguarda dos salários, das pensões, do Estado-providência, teremos mais casos como o Brexit no futuro.

A democracia europeia está em perigo?

euronews: O seu antecessor, Yanis Varoufakis, afirmava repetidamente que a União Europeia não funciona de forma democrática. Partilha da mesma visão?

ET: Não me parece que a questão seja saber se a Europa tem ou não um défice democrático. Não é essa a temática que os analistas políticos têm debatido ao longo da última década. O importante é não rotular como populistas as pessoas que afirmam querer “ter uma palavra a dizer sobre os assuntos que afetam a vida de todos”. Se as qualificarmos de populistas, estamos a encaminhá-las para a Marine Le Pen, para os defensores do Brexit, para a extrema-direita. Temos de ouvir os cidadãos. E os cidadãos querem “ter uma palavra a dizer nas questões essenciais”. Se a Europa não lhes providenciar isso, então sim tornam-se antieuropeus.

euronews: Quando é que o povo grego poderá ter realmente a noção de que as coisas estão a mudar, não apenas nos números, mas na vida real?

ET: Se dentro de um ano, me convidar outra vez e não houver sinais de recuperação, então aí sim, falhámos. Pode convidar-me outra vez e voltar a fazer a mesma pergunta. Espero que, no ano que vem, por esta altura, os fatores de desenvolvimento do nosso programa sejam notórios e o crescimento regresse. Acho que as coisas vão estar muito diferentes.

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