{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2016/04/28/julgo-que-a-situacao-atual-e-pior-do-que-quando-estava-em-funces-nos-anos-90" }, "headline": "\u0022Julgo que a situa\u00e7\u00e3o atual \u00e9 pior do que quando estava em fun\u00e7\u00f5es, nos anos 90\u0022, Madeleine Albright, ex-secret\u00e1ria de Estado dos EUA", "description": "Madeleine Albright foi a primeira mulher a alcan\u00e7ar o cargo de secret\u00e1ria de Estado dos Estados Unidos da Am\u00e9rica, durante a presid\u00eancia de Bill", "articleBody": "Madeleine Albright foi a primeira mulher a alcan\u00e7ar o cargo de secret\u00e1ria de Estado dos Estados Unidos da Am\u00e9rica, durante a presid\u00eancia de Bill Clinton. Mant\u00e9m, desde ent\u00e3o, um olhar atento sobre os assuntos internacionais e continua a defender a fam\u00edlia Clinton, desta vez a candidata Hillary. A euronews encontrou-se com Albright no f\u00f3rum Internacional de Seguran\u00e7a, GlobSec, em Bratislava, na Eslov\u00e9nia. Isabelle Kumar, euronews: Comecemos por quest\u00f5es que est\u00e3o a ser debatidas no f\u00f3rum de seguran\u00e7a. Parece que o mundo est\u00e1 a ser bombardeado por m\u00faltiplas crises. Olhando para tr\u00e1s, acredita que a situa\u00e7\u00e3o \u00e9 mais grave agora do que quando era secret\u00e1ria de Estado? Madeleine Albright: \u201cJulgo que a situa\u00e7\u00e3o atual \u00e9 pior do que quando estava em fun\u00e7\u00f5es, nos anos 90. Na altura, o ambiente era de esperan\u00e7a e euforia com o fim da Guerra Fria, com a forma como a Europa poderia vir a fazer parte da Nato e o sentimento de que as Na\u00e7\u00f5es Unidas poderiam exercer a sua fun\u00e7\u00e3o. Penso que foi, realmente, um tempo de muita esperan\u00e7a e entusiasmo.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Gostaria de relembrar aos telespetadores que Madeleine foi refugiada. Na altura, deixou a Checoslov\u00e1quia por causa da ocupa\u00e7\u00e3o Nazi. Se olharmos para a situa\u00e7\u00e3o atual na Europa, assistimos a um aumento do populismo em toda a Europa. Ouve ecos dos dias negros da sua inf\u00e2ncia? Biografia: Madeleine Albright Madeleine Albright foi a primeira mulher a assumir o cargo de secret\u00e1ria de Estado dos Estados Unidos em 1997 Albright nasceu na Checoslov\u00e1quia em 1937 Viveu com a fam\u00edlia no ex\u00edlio em Inglaterra depois da alemanha Nazi ter ocupado a Checoslov\u00e1quia em 1939 Madeleine Albright: \u201cBem, \u00e9 diferente. Mas, julgo que o populismo e o nacionalismo s\u00e3o for\u00e7as muito perigosas, na medida em que se baseiam n\u00e3o s\u00f3 no extremismo, mas tamb\u00e9m no \u00f3dio. Uma coisa \u00e9 ter orgulho em si pr\u00f3prio, na sua identidade, outra considerar as pessoas que vivem na porta ao lado inaceit\u00e1veis.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Um dos problemas que leva ao aumento do populismo, e que a Europa se debate para encontrar uma solu\u00e7\u00e3o, \u00e9 a crise dos refugiados. Enquanto ex-refugiada, apreciaria uma pol\u00edtica europeia que significa, de maneira simples, que a deporta\u00e7\u00e3o de um migrante ilegal equivale \u00e0 instala\u00e7\u00e3o de um refugiado s\u00edrio na Europa? Madeleine Albright: \u201cMatematicamente, soa bem. A quest\u00e3o \u00e9 como \u00e9 que o processo ocorre. Como se escolhe as pessoas e porque saem. Julgo que a maior parte dessas pessoas quer viver no pa\u00eds onde nasceu. A forma como s\u00e3o escolhidas para voltar e trocadas por outras consideradas aceit\u00e1veis cria uma quest\u00e3o pol\u00e9mica, dif\u00edcil de lidar. Na verdade fui duas vezes refugiada. A primeira durante a Segunda Guerra Mundial com os meus pais, quando os Nazis ocuparam a Checoslov\u00e1quia, a segunda nos Estados Unidos depois dos comunistas se apoderarem da Checoslov\u00e1quia. Julgo que a quest\u00e3o \u00e9 a forma como os refugiados s\u00e3o tratados. H\u00e1 uma grande diferen\u00e7a. Quando cheg\u00e1mos aos Estados Unidos as pessoas diziam \u2018Lamentamos que o seu pa\u00eds tenha sido ocupado por um sistema terr\u00edvel\u2019. \u2018Como podemos ajudar?\u2019 \u2018Aqui, \u00e9 bem-vinda.\u2019 \u2018Quando se tornar\u00e1 cidad\u00e3?\u2019 Perguntas que j\u00e1 n\u00e3o ouvimos com frequ\u00eancia\u201d. Isabelle Kumar, euronews: Portanto, qual \u00e9 a sua opini\u00e3o sobre a resposta europeia? Madeleine Albright: \u201c\u00c9 dif\u00edcil ser cr\u00edtica porque acho que os Estados Unidos deveriam fazer mais. N\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil dizer aos outros o que fazer se n\u00f3s n\u00e3o estamos a acolher mais pessoas. Isto pode parecer peculiar neste momento, mas gostava que as pessoas vissem a quest\u00e3o dos refugiados como um fator positivo. Muitas das pessoas que fogem da S\u00edria s\u00e3o instru\u00eddas, h\u00e1beis e empreendedoras. Acredito que tratarmos as pessoas como c\u00e3es, n\u00e3o as reconhecermos como seres humanos e, de seguida, colocando-as em locais onde s\u00e3o apenas vistas como um grupo de pessoas, estamos a desafiar a multietnicidade, que deveria ser a marca do s\u00e9culo XXI.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Foi respons\u00e1vel por encontrar uma solu\u00e7\u00e3o para a guerra dos Balc\u00e3s, n\u00e3o s\u00f3 enquanto secret\u00e1ria de Estado mas tamb\u00e9m enquanto embaixadora das Na\u00e7\u00f5es Unidas. Deve ter acompanhado de perto os julgamentos e recentes vereditos. Parece que estes julgamentos, este tribunal, deveriam ter trazido a reconcilia\u00e7\u00e3o. Algumas argumentam que n\u00e3o houve justi\u00e7a. O que correu mal? Madeleine Albright: \u201cBem, na minha opini\u00e3o os tribunais estiveram bem. O facto de (Radovan) Karadzic, um dos principais respons\u00e1veis pela guerra dos Balc\u00e3s, ter sido condenado \u00e9 muito importante. O tribunal tinha como prop\u00f3sito atribuir culpa individual e apagar a culpa coletiva, para que houvesse reconcilia\u00e7\u00e3o.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Mas, n\u00e3o tem havido reconcilia\u00e7\u00e3o. Madeleine Albright: \u201cTem havido, mas n\u00e3o como esper\u00e1vamos. O que finalmente aprendi \u00e9 que queremos solu\u00e7\u00f5es r\u00e1pidas. Estas s\u00e3o quest\u00f5es que v\u00e3o demorar muito tempo a serem resolvidas. Penso que a parte mais dif\u00edcil para as pessoas \u00e9 quando se tomam decis\u00f5es, como aconteceu com os Acordos de Dayton, por exemplo. Foram feitos com a maior das boas vontades, na \u00e9poca. Muitas vezes \u00e9 preciso que as coisas sejam atualizadas, revistas de alguma forma.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Portanto, j\u00e1 n\u00e3o s\u00e3o adequados\u2026 Madeleine Albright: \u201odem n\u00e3o ser adequados aos objetivos. De certo modo, julgo que as as complica\u00e7\u00f5es resultantes das diferentes camadas do governo na B\u00f3snia-Herzegovina e a forma como certos poderes da Rep\u00fablica S\u00e9rvia foram interpretados, minaram o problema. O mais interessante \u00e9 que v\u00e1rios s\u00e9rvios em Belgrado t\u00eam tentado olhar para as coisas de forma diferente, principalmente por causa do incentivo da ades\u00e3o \u00e0 Uni\u00e3o Europeia. Mas, n\u00e3o vou defender algumas situa\u00e7\u00f5es que est\u00e3o a ocorrer. No Kosovo, por exemplo, persistem quest\u00f5es entre os s\u00e9rvios e os kosovares.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Mencionou Radovan Karadzic. V\u00e1rias pessoas criticam a senten\u00e7a de 40 anos de pris\u00e3o e dizem que devia ter sido superior. Est\u00e1 satisfeita com a senten\u00e7a? Madeleine Albright: \u201enso que 40 anos \u00e9 muito tempo, especialmente se tivermos em conta a sua idade. Devo dizer que o Tribunal de Crimes de Guerra funcionou melhor do que a maioria das pessoas esperava. Foi um dos primeiros votos que fiz quando estava nas Na\u00e7\u00f5es Unidas. As pessoas pensavam que ningu\u00e9m jamais seria indiciado ou levado \u00e0 justi\u00e7a, mas foi.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Mas um dos problemas foi a dura\u00e7\u00e3o dos julgamentos. Madeleine Albright: \u201cGostava que tivessem sido mais r\u00e1pidos, mas prefiro ser otimista e perceber que foram dados os em frente. Com o Tribunal de Crimes de Guerra e o Tribunal Penal Internacional h\u00e1 uma tentativa de atribuir responsabilidade e de haver uma abordagem internacional ao genoc\u00eddio e aos crimes contra a humanidade.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Pedimos aos nossos internautas para enviarem quest\u00f5es. \u201cSanaa Ben-Hammouda\u201d pergunta: Qual foi a decis\u00e3o mais dif\u00edcil que teve de tomar quando estava em fun\u00e7\u00f5es? Great to meet a feisty & interesting @madeleine Albright for discussion at the #GLOBSEC2016 security forum @euronews pic.twitter.com/csxtDvWLjB\u2014 Isabelle Kumar (@Isabelle_kumar) April 17, 2016 Madeleine Albright: \u201cAntes de mais, nunca esperei ser secret\u00e1ria de Estado ou at\u00e9 embaixadora das Na\u00e7\u00f5es Unidas. A parte mais dif\u00edcil \u00e9 decidir como se envia pessoas para a guerra, o que se faz, e a quest\u00e3o \u00e9tica de que fal\u00e1vamos na B\u00f3snia e no Kosovo. N\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil para uma mera civil defender o uso da for\u00e7a e, de seguida, enviar tropas para a guerra. Julgo que decidir quando se torna aceit\u00e1vel usar a for\u00e7a para eliminar pessoas que andam a matar outras \u00e9 uma das decis\u00f5es mais dif\u00edceis.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Mant\u00e9m essa decis\u00e3o? Madeleine Albright: \u201cMantenho. Definitivamente. Sei que muitas pessoas criticam. ei parte da minha inf\u00e2ncia em Belgrado, o meu pai era o embaixador da Checoslov\u00e1quia na Jugosl\u00e1via. Hoje em dia n\u00e3o sou bem-vinda em Belgrado, mas acredito que o que fizemos foi a resposta necess\u00e1ria ao que estava a ser feito por Milosevic e Karadzic. Dar a oportunidade aos b\u00f3snios e aos kosovares de tomarem decis\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o ao rumo dos seus pa\u00edses.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Os Estados Unidos demoraram a tomar uma a\u00e7\u00e3o decisiva no conflito dos Balc\u00e3s. Mas, atualmente, vemos a presid\u00eancia de Barack Obama ser alvo de cr\u00edticas por ser branda quando se trata de pol\u00edtica externa, em particular na S\u00edria. Mas como se avalia o impacto dessa decis\u00e3o, de n\u00e3o intervir militarmente na S\u00edria? Madeleine Albright: \u201cA forma como o presidente George W. Bush conduziu o pa\u00eds \u00e0 guerra com o Iraque, preterindo uma solu\u00e7\u00e3o pela via diplom\u00e1tica ou uma coliga\u00e7\u00e3o com as Na\u00e7\u00f5es Unidas, levantou a quest\u00e3o sobre a validade de armas de destrui\u00e7\u00e3o em massa em v\u00e1rios sentidos. Portanto, o presidente Obama foi eleito para p\u00f4r fim \u00e0s guerras no Iraque e no Afeganist\u00e3o. Foi essa a base da sua elei\u00e7\u00e3o: considerar as guerras um erro. Julgo que Obama acredita que dever\u00edamos trabalhar com outros pa\u00edses para ajudar a resolver os problemas, que os Estados Unidos n\u00e3o t\u00eam de fazer tudo sozinhos. Na minha opini\u00e3o, foi a resposta de Obama aos erros da istra\u00e7\u00e3o anterior (George W. Bush). Isabelle Kumar, euronews: Portanto, apoia-o na decis\u00e3o de retirada. Madeleine Albright: Acredito que os Estados Unidos precisam de estar mais envolvidos. A quest\u00e3o \u00e9 quando. Isabelle Kumar, euronews: Mais envolvidos na S\u00edria? Madeleine Albright: \u201cNa S\u00edria. Bem, de uma forma geral. A secret\u00e1ria Clinton defende uma \u00e1rea de seguran\u00e7a e \u00e9 a favor de uma zona de exclus\u00e3o a\u00e9rea na S\u00edria. Na minha opini\u00e3o, esta medida devia ter sido tomada mais cedo. Gostaria que tiv\u00e9ssemos sabido mais cedo quem eram os grupos rebeldes. Mas a parte mais dif\u00edcil, e estou a ser muito cuidadosa quando digo isto, \u00e9 que as opini\u00f5es foram criadas com base em decis\u00f5es tomadas durante a istra\u00e7\u00e3o Clinton. \u00c9 f\u00e1cil estar de fora e opinar sobre o que deveria ter acontecido. As pessoas em fun\u00e7\u00f5es tomam decis\u00f5es com base nas informa\u00e7\u00f5es que t\u00eam no momento. Pessoalmente, gostava que tiv\u00e9ssemos agido mais cedo na S\u00edria.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Tocou num assunto que me remete para uma quest\u00e3o feita nas nossas redes sociais. O utilizador de internet com o nome de \u201cydureiss\u201d pergunta: Qual deve ser o papel dos Estados Unidos no mundo? Madeleine Albright: \u201cDeve ser a quest\u00e3o mais dif\u00edcil at\u00e9 ao momento. A Am\u00e9rica \u00e9 um pa\u00eds peculiar. N\u00e3o somos uma pot\u00eancia colonial, n\u00e3o queremos ser os pol\u00edcias do mundo. Em v\u00e1rios aspetos \u00e9 dif\u00edcil descobrir quando nos devemos ou n\u00e3o envolver. Somos criticados em ambas as op\u00e7\u00f5es.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Para si, qual seria a melhor conquista da pol\u00edtica externa do presidente Obama? Madeleine Albright: \u201cAcho que as conquistas foram v\u00e1rias. A forma como lidou com Osama Bin Laden \u2013 foi uma decis\u00e3o dif\u00edcil. Os os dados em dire\u00e7\u00e3o a uma melhor rela\u00e7\u00e3o com a \u00c1sia. A tentativa de Obama e do secret\u00e1rio Kerry de fazer algo no M\u00e9dio Oriente. Na minha opini\u00e3o, uma das maiores conquistas foi feita no campo das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Conseguiu juntar v\u00e1rios pa\u00edses em Paris e perseguir o objetivo. Al\u00e9m disso, tentar mostrar que os Estados Unidos est\u00e3o e v\u00e3o continuar a estar envolvidos com os pa\u00edses parceiros.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Se voltarmos ao tempo em que estava em fun\u00e7\u00f5es, gerou pol\u00e9mica sobre as san\u00e7\u00f5es no Iraque, nomeadamente sobre o que disse num programa de televis\u00e3o sobre a morte de crian\u00e7as: 500 mil crian\u00e7as eram um pre\u00e7o que valia a pena pagar pelas san\u00e7\u00f5es. Sei que j\u00e1 se retratou. Mas, esta \u00e9 uma quest\u00e3o que surgiu v\u00e1rias vezes nas nossas redes sociais. Um internauta com o nome de EU Economics diz: Como \u00e9 que Madeleine Albright pode justificar a morte de 500.000 crian\u00e7as iraquianas e conseguir dormir \u00e0 noite? Madeleine Albright: \u201cReferi que foi a coisa mais est\u00fapida que alguma vez disse. Pedi desculpas e expliquei. Mas h\u00e1 pessoas que continuam a querer levantar a quest\u00e3o. Saddam Hussein invadira outro pa\u00eds. Havia um plano para entregar alimentos e medicamentos ao povo iraquiano. Saddam Hussein recusou-se a deixar entrar no Iraque qualquer pessoa respons\u00e1vel por distribuir esses cuidados. Foi Saddam Hussein quem matou as crian\u00e7as, n\u00e3o foram os Estados Unidos. Eu estava a tentar defender, de maneira geral, as san\u00e7\u00f5es pol\u00edticas que haviam sido institu\u00eddas pela istra\u00e7\u00e3o Bush. \u00c0s vezes as pessoas dizem coisas est\u00fapidas. Gostava que todos os que me criticam se questionassem se nunca disseram algo de que se arrependessem. \u00c9 uma afirma\u00e7\u00e3o est\u00fapida e n\u00e3o h\u00e1 nada que eu possa fazer em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s pessoas que teimam em levantar a quest\u00e3o. Estou arrependida por ter dito aquilo.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Vamos mudar de assunto e olhar para a atual presid\u00eancia dos Estados Unidos. A Madeleine \u00e9 uma apoiante fervorosa de Hillary Clinton. Os cr\u00edticos, por\u00e9m, dizem que ela \u00e9 est\u00e9ril, muito encenada e est\u00e1 demasiado desesperada pelo posto. \u00c9 isso que afasta as pessoas. Qual \u00e9 a sua resposta? Madeleine Albright: \u201cBom, acho que est\u00e3o errados. Acho que \u00e9 uma mulher not\u00e1vel, muito dedicada ao servi\u00e7o p\u00fablico. Conhe\u00e7o-a h\u00e1 muito tempo. \u00c9 muito inteligente, trabalha afincadamente e tem mais experi\u00eancia do que qualquer pessoa que j\u00e1 tenha concorrido \u00e0 presid\u00eancia dos Estados Unidos. Ela ouve as pessoas do pa\u00eds e do estrangeiro. Enquanto senadora pertenceu \u00e0 Comiss\u00e3o dos Servi\u00e7os Armados, sabe como funciona. Enquanto secret\u00e1ria de Estado restaurou a reputa\u00e7\u00e3o norte-americana. Penso que n\u00e3o h\u00e1 ningu\u00e9m mais bem preparado.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Existe um ditado que diz: \u201cH\u00e1 um lugar reservado no inferno para as mulheres que n\u00e3o est\u00e3o a ajudar outras mulheres\u201d. Se Hillary Clinton fosse um homem, estaria a apoi\u00e1-la t\u00e3o veemente como agora? Madeleine Albright: \u201cAbsolutamente. Preferiria apoiar um homem com verdadeiros ideais do que uma mulher que se op\u00f5e a tudo. Hillary Clinton \u00e9 a pessoa mais qualificada para ser presidente dos Estados Unidos \u2013 seja homem ou mulher.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Consigo imaginar qual vai ser a resposta, mas esta pergunta \u00e9 de \u201cMcOuasfi\u201d: Donald Trump \u00e9 uma amea\u00e7a para os Estados Unidos ou o oposto? Madeleine Albright: \u201cAcho que \u00e9 ambos. Parte do problema \u00e9 que ningu\u00e9m faz ideia do que ele est\u00e1 a fazer ou a pensar. Ele fala para ele pr\u00f3prio. J\u00e1 itiu isso, que recebe conselhos dele pr\u00f3prio. Sempre que viajo, tenho dificuldade em explicar \u00e0s pessoas as coisas que ele diz e que s\u00e3o prejudiciais para a Am\u00e9rica e para o mundo.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Na Europa, muitas pessoas n\u00e3o percebem como \u00e9 que ele consegue ser t\u00e3o popular nos Estados Unidos. O que torna algu\u00e9m como Donald Trump t\u00e3o popular?\u201d Madeleine Albright: \u201cAcho que a imprensa tem sido c\u00famplice na subida de Trump, porque ele \u00e9 uma hist\u00f3ria interessante e tem ajudado as audi\u00eancias de muitos canais. Isto \u00e9 parte do problema. Mas devemos lembrar-nos de que ele \u00e9 popular para uma pequena parte de um partido. As pessoas n\u00e3o conseguem perceber qual \u00e9 a diferen\u00e7a entre um \u201creality show\u201d e a realidade nos Estados Unidos da Am\u00e9rica.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Donald Trump foi criticado por causa de declara\u00e7\u00f5es sexistas. Madeleine foi a primeira mulher a ser secret\u00e1ria de Estado dos Estados Unidos, o seu g\u00e9nero deve ter sido um entrave em algumas situa\u00e7\u00f5es, mas tamb\u00e9m a deve ter ajudado. Consegue dar-me um exemplo de uma situa\u00e7\u00e3o onde ser mulher teve um peso importante? Madeleine Albright: \u201cNem todas as mulheres s\u00e3o iguais, obviamente. Mas acho que tentamos desenvolver um tipo de rela\u00e7\u00e3o pessoal e fazer o seguinte: um diplomata \u2013 uma das primeiras regras de ser um diplomata \u00e9 saber colocar-se no lugar de outra pessoa. Acho que as mulheres s\u00e3o boas nisso. Eu soube desenvolver a arte do beijo diplom\u00e1tico e acho que isso conseguiu sempre quebrar o gelo.\u201d Isabelle Kumar, euronews: O que \u00e9 um beijo diplom\u00e1tico? Madeleine Albright: \u201c\u00c9 complicado quando se chega a um pa\u00eds. Em alguns pa\u00edses, nos latinos, por exemplo, \u00e9 muito dif\u00edcil. Acho que n\u00e3o consegue visualizar os meus antecessores fazerem isso, mas em alguns pa\u00edses latinos os beijos s\u00e3o dados na face direita e em outros na esquerda. Eu misturei todos. Os ses d\u00e3o dois beijos, os holandeses tr\u00eas. \u00c9 muito dif\u00edcil. Enfim, \u00e9 uma boa forma de come\u00e7ar uma reuni\u00e3o.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Finalmente, \u00e9 imposs\u00edvel entrevistar Madeleine Albright sem abordar a quest\u00e3o dos alfinetes de peito. Qual foi o momento mais marcante de alfinete ao peito? Madeleine Albright: \u201cMais marcante? Foram v\u00e1rios. \u00c0s vezes fa\u00e7o as coisas certas, outras as erradas. O maior erro foi levar um alfinete de peito com os tr\u00eas macacos s\u00e1bios num encontro com o presidente Putin. S\u00edmbolo chin\u00eas que significa: N\u00e3o olhe para o mal, n\u00e3o escute o mal, n\u00e3o pronuncie o mal. Enquanto caminh\u00e1vamos Putin perguntou ao presidente Clinton: \u2018Repar\u00e1mos sempre nos alfinetes que a secret\u00e1ria Albright usa. Porque traz este com os tr\u00eas macacos?\u2019 Eu respondi: \u2018Porque considero a sua pol\u00edtica na Chech\u00e9nia diab\u00f3lica\u2019. Putin ficou chateado e com raz\u00e3o. Hoje, voltaria a usar o alfinete com os tr\u00eas macacos porque penso que algumas das coisas que Putin faz s\u00e3o demon\u00edacas.\u201d Isabelle Kumar, euronews: Pode dizer-nos o que significa o alfinete de peito que traz hoje? Madeleine Albright: Bem, este\u2026tem dois globos e pareceu-me o mais adequado para uma confer\u00eancia que tem muito de global. Achei que seria engra\u00e7ado us\u00e1-lo. Former US Secretary of State Madeleine Albright will be meeting @Isabelle_kumar. Send your questions #AskAlbright pic.twitter.com/tXVuHxwCna\u2014 euronews (@euronews) April 11, 2016", "dateCreated": "2016-04-28T10:57:34+02:00", "dateModified": "2016-04-28T10:57:34+02:00", "datePublished": "2016-04-28T10:57:34+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F330521%2F1440x810_330521.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Madeleine Albright foi a primeira mulher a alcan\u00e7ar o cargo de secret\u00e1ria de Estado dos Estados Unidos da Am\u00e9rica, durante a presid\u00eancia de Bill", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F330521%2F432x243_330521.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

"Julgo que a situação atual é pior do que quando estava em funções, nos anos 90", Madeleine Albright, ex-secretária de Estado dos EUA

"Julgo que a situação atual é pior do que quando estava em funções, nos anos 90", Madeleine Albright, ex-secretária de Estado dos EUA
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Madeleine Albright foi a primeira mulher a alcançar o cargo de secretária de Estado dos Estados Unidos da América, durante a presidência de Bill

Madeleine Albright foi a primeira mulher a alcançar o cargo de secretária de Estado dos Estados Unidos da América, durante a presidência de Bill Clinton. Mantém, desde então, um olhar atento sobre os assuntos internacionais e continua a defender a família Clinton, desta vez a candidata Hillary. A euronews encontrou-se com Albright no fórum Internacional de Segurança, GlobSec, em Bratislava, na Eslovénia.

Isabelle Kumar, euronews: Comecemos por questões que estão a ser debatidas no fórum de segurança. Parece que o mundo está a ser bombardeado por múltiplas crises. Olhando para trás, acredita que a situação é mais grave agora do que quando era secretária de Estado?

Madeleine Albright: “Julgo que a situação atual é pior do que quando estava em funções, nos anos 90. Na altura, o ambiente era de esperança e euforia com o fim da Guerra Fria, com a forma como a Europa poderia vir a fazer parte da Nato e o sentimento de que as Nações Unidas poderiam exercer a sua função. Penso que foi, realmente, um tempo de muita esperança e entusiasmo.”

Isabelle Kumar, euronews: Gostaria de relembrar aos telespetadores que Madeleine foi refugiada. Na altura, deixou a Checoslováquia por causa da ocupação Nazi. Se olharmos para a situação atual na Europa, assistimos a um aumento do populismo em toda a Europa. Ouve ecos dos dias negros da sua infância?


Biografia: Madeleine Albright

  • Madeleine Albright foi a primeira mulher a assumir o cargo de secretária de Estado dos Estados Unidos em 1997
  • Albright nasceu na Checoslováquia em 1937
  • Viveu com a família no exílio em Inglaterra depois da alemanha Nazi ter ocupado a Checoslováquia em 1939

Madeleine Albright: “Bem, é diferente. Mas, julgo que o populismo e o nacionalismo são forças muito perigosas, na medida em que se baseiam não só no extremismo, mas também no ódio. Uma coisa é ter orgulho em si próprio, na sua identidade, outra considerar as pessoas que vivem na porta ao lado inaceitáveis.”

Isabelle Kumar, euronews: Um dos problemas que leva ao aumento do populismo, e que a Europa se debate para encontrar uma solução, é a crise dos refugiados. Enquanto ex-refugiada, apreciaria uma política europeia que significa, de maneira simples, que a deportação de um migrante ilegal equivale à instalação de um refugiado sírio na Europa?

Madeleine Albright: “Matematicamente, soa bem. A questão é como é que o processo ocorre. Como se escolhe as pessoas e porque saem. Julgo que a maior parte dessas pessoas quer viver no país onde nasceu. A forma como são escolhidas para voltar e trocadas por outras consideradas aceitáveis cria uma questão polémica, difícil de lidar. Na verdade fui duas vezes refugiada. A primeira durante a Segunda Guerra Mundial com os meus pais, quando os Nazis ocuparam a Checoslováquia, a segunda nos Estados Unidos depois dos comunistas se apoderarem da Checoslováquia. Julgo que a questão é a forma como os refugiados são tratados. Há uma grande diferença. Quando chegámos aos Estados Unidos as pessoas diziam ‘Lamentamos que o seu país tenha sido ocupado por um sistema terrível’. ‘Como podemos ajudar"> Notícias relacionadas

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