{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2016/02/23/yanis-varoufakis-o-diem25-procura-salvar-a-uniao-europeia-de-si-propria" }, "headline": "Yanis Varoufakis: O DiEM25 \u0022procura salvar a Uni\u00e3o Europeia de si pr\u00f3pria\u0022", "description": "Mais uma vez, Yanis Varoufakis, est\u00e1 pronto a desafiar as for\u00e7as europeias. O ex-ministro das Finan\u00e7as da Gr\u00e9cia lan\u00e7ou um novo movimento pan-europeu com o objetivo de democratizar a Uni\u00e3o Europeia.", "articleBody": "Entrou em conflito com as for\u00e7as europeias e acabou por desistir. Mas, agora, est\u00e1 de volta ao palco das pol\u00edticas europeias com uma vingan\u00e7a. O ex-ministro das Finan\u00e7as da Gr\u00e9cia lan\u00e7ou um novo movimento pan-europeu. O objetivo: trazer a democracia para o centro das decis\u00f5es da Uni\u00e3o Europeia. Para discutir o futuro, mas tamb\u00e9m para falar do seu ado conturbado, a euronews entrevistou Yanis Varoufakis. Biografia: Yanis Varoufakis Yanis Varoufakis \u00e9 um economista grego Tornou-se conhecido quando assumiu a pasta das Finan\u00e7as da Gr\u00e9cia em janeiro de 2015 Entrou em conflito com os l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia e com a troika durante o terceiro resgate financeiro \u00e0 Gr\u00e9cia Yanis Varoufakis deixou o governo em julho de 2015 por discordar do terceiro resgate Em fevereiro de 2016, lan\u00e7ou o Movimento para a Democracia na Europa 2025 (DiEM25, na sigla em ingl\u00eas) Varoufakis \u00e9 apaixonado por motociclismo Isabelle Kumar, euronews: H\u00e1 v\u00e1rios movimentos que procuram difamar a Uni\u00e3o Europeia, grupos pol\u00edticos de direita, mas tamb\u00e9m de esquerda. Em que difere o Movimento para a Democracia na Europa 2025 (DiEM25 na sigla em ingl\u00eas)? Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finan\u00e7as da Gr\u00e9cia: \u201cN\u00e3o se trata de um movimento para difamar, este movimento procura salvar a Uni\u00e3o Europeia de si pr\u00f3pria. Para onde quer que olhemos, a Uni\u00e3o Europeia est\u00e1 a desintegrar-se: nas fronteiras, nas v\u00e1rias fronteiras, temos novas divis\u00f5es, novas barreiras, pedidos para se criarem veda\u00e7\u00f5es eletrificadas que impe\u00e7am a livre circula\u00e7\u00e3o. As pessoas come\u00e7am a ficar divididas, os governos come\u00e7am a adotar uma postura mais fechada e a tornar-se hostis \u00e0 ideia de solidariedade na Uni\u00e3o Europeia. Temos uma zona euro a desintegrar-se rapidamente.\u201d euronews: Pedimos aos internautas nas redes sociais que enviassem perguntas para esta entrevista e isto leva-me a uma quest\u00e3o colocada por Jefferson Matewa: Como prev\u00ea o futuro da Uni\u00e3o Europeia? Como ser\u00e1 daqui a 10 anos se n\u00e3o houver mudan\u00e7as? Yanis Varoufakis: \u201cA Uni\u00e3o Europeia vai deixar de existir, vai ser uma esp\u00e9cie de vers\u00e3o rid\u00edcula da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica. Felizmente, a Uni\u00e3o Europeia ainda \u00e9 um dom\u00ednio de liberdade pessoal \u2013 n\u00e3o temos o KGB nem o Gulag \u2013 mas as semelhan\u00e7as s\u00e3o muitas. Relembro, a Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica era uma entidade economicamente invi\u00e1vel, mantida por uma vontade pol\u00edtica e por autoritarismo. Quanto mais tempo tentar manter unida uma grande entidade, atrav\u00e9s do autoritarismo, uma entidade multinacional que n\u00e3o consegue sobreviver, mais perto se chega da implos\u00e3o. E os custos dessa implos\u00e3o s\u00e3o elevad\u00edssimos. Este \u00e9 o nosso maior medo.\u201d euronews: \u00c9 um pouco exagerado, n\u00e3o acha? N\u00e3o acha que uma perspetiva t\u00e3o extremada pode faz\u00ea-lo perder apoiantes? Yanis Varoufakis: \u201cBom, \u00e0s vezes \u00e9 necess\u00e1rio exagerar para defender um ponto de vista. \u00c9 evidente que existe um certo exagero no que disse, mas n\u00e3o \u00e9 de todo excessivo. Todas as decis\u00f5es importantes foram transferidas para Bruxelas e Frankfurt, Comiss\u00e3o Europeia, Banco Central Europeu, Mecanismo Europeu de Estabilidade, o que \u00e9 uma zona livre de democracia.\u201d euronews: Isso \u00e9 discut\u00edvel, n\u00e3o \u00e9? Yanis Varoufakis:\u201or isso \u00e9 que estamos a ter esta conversa. Mas n\u00e3o tenho d\u00favidas de que, se estivesse naquelas reuni\u00f5es, teria concordado comigo. Existe um desprezo pela democracia naqueles centros, desprezo.\u201d euronews: Chegou a dizer que gostava que as reuni\u00f5es \u00e0 porta fechada fossem gravadas. Se essas reuni\u00f5es tensas, do ver\u00e3o, sobre o resgate financeiro tivessem sido gravadas, julga que o rumo da hist\u00f3ria teria sido outro? Porqu\u00ea? Yanis Varoufakis: \u201cSim. Deixe-me colocar isto desta forma, ouvi ministros dos Estados Membros e outros altos funcion\u00e1rios dizer coisas que jamais diriam se as pessoas que lhes pagam os sal\u00e1rios, que votaram neles, os estivessem a ver e a ouvir.\u201d euronews: D\u00ea-me um exemplo. Um exemplo flagrante. Yanis Varoufakis: \u201cQuando, enquanto ministro das Finan\u00e7as da Gr\u00e9cia me foi apresentado, a 25 de junho, um ultimato da troika referente \u00e0 pol\u00edtica fiscal que deveria aceitar, \u00e0s reformas, modelo de financiamento, etc., conversei com o presidente do Banco Central Europeu, o ministro das Finan\u00e7as da Alemanha e a l\u00edder do FMI e os tr\u00eas confessaram \u2013 e uso a palavra intencionalmente \u2013 que este programa n\u00e3o iria funcionar. Posso garantir-lhe que aquele ultimato n\u00e3o me teria sido imposto se os eleitores, se a opini\u00e3o p\u00fablica em todo o mundo, se voc\u00ea, enquanto membro dos media, estivesse a ver a reuni\u00e3o em direto.\u201d euronews: Mas o que se disse \u00e9 que eles ansiavam um acordo e que o senhor tentou pression\u00e1-los com um referendo quando um acordo estava muito pr\u00f3ximo. Yanis Varoufakis: \u201cN\u00e3o ser\u00e1 esse um excelente motivo para as reuni\u00f5es serem transmitidas em direto. Porque: \u2018eles disseram\u2019, \u2018eu disse\u2019... Porque n\u00e3o podem os nossos eleitores ver em direto o que \u00e9 realmente dito?\u201d euronews: Diz-se que gravou as reuni\u00f5es. \u00c9 verdade? Yanis Varoufakis: \u201cSinto-me orgulhoso por t\u00ea-lo feito, muito orgulhoso, e qualquer pessoa pode desafiar-me se quiser. A primeira reuni\u00e3o durou 10 horas. Posso garantir-lhe que sa\u00ed de l\u00e1 desconcertado \u2013 muito confuso, completamente exausto e stressado. S\u00e3o momentos muito stressantes. Tinha de apresentar um relat\u00f3rio sobre as reuni\u00f5es \u2013 o que aconteceu, quem disse o qu\u00ea e quando \u2013 ao primeiro-ministro, ao meu gabinete, ao Parlamento e ao p\u00fablico europeu. Por isso, pedi \u00e0 minha secret\u00e1ria uma transcri\u00e7\u00e3o dos debates, e a resposta foi: \u2018n\u00e3o existem transcri\u00e7\u00f5es, n\u00e3o existem minutas, n\u00e3o existe registo do que aconteceu\u2019. Perguntei-lhe: \u2018Como?\u2019 Depois, constatei que era verdade e pensei \u2018oh meu Deus\u2019. A partir desse momento comecei a gravar com o telem\u00f3vel, para uso pessoal.\u201d euronews: Vai divulgar essas grava\u00e7\u00f5es? Yanis Varoufakis: \u201cN\u00e3o. Nunca o fiz. As \u00fanicas not\u00edcias sobre o que se ou s\u00e3o mensagens e fugas de informa\u00e7\u00e3o que chegaram ao Financial Times, e outros, de pessoas que l\u00e1 estavam. A democracia n\u00e3o deve ser gerida assim. N\u00e3o deve ser esta a forma de dirigir um organismo que toma decis\u00f5es, decis\u00f5es que determinam o futuro de milh\u00f5es ou centenas de milh\u00f5es de pessoas, de europeus.\u201d euronews: Voltemos ao movimento que criou porque, basicamente, pretende que seja um movimento transversal, no qual tem o apoio da esquerda e da direita. Tendo em conta que \u00e9 muito associado \u00e0 extrema-esquerda, como \u00e9 que isto pode ser poss\u00edvel? Yanis Varoufakis: \u201cRegressemos a 1930, um ano antes tivemos a queda de Wall Street. Sabe o que aconteceu depois na Europa, a moeda comum da \u00e9poca come\u00e7ou a fragmentar. Na altura era o ouro, agora \u00e9 o euro. E, pouco tempo depois, os europeus viraram-se uns contra os outros com resultados catastr\u00f3ficos. Julgo que, e provavelmente todos concordamos, o dever dos democratas na altura era unirem-se, colocar as diferen\u00e7as de lado \u2013 fossem elas pr\u00f3-mercado, a favor ou contra a tributa\u00e7\u00e3o, de esquerda, de direita, etc., e pararem a queda no abismo que veio depois e que levou \u00e0 Segunda Guerra Mundial. Julgo que estamos numa situa\u00e7\u00e3o semelhante.\u201d euronews: Mas acredita ser a pessoa certa para liderar o movimento? Yanis Varoufakis: \u201cTalvez n\u00e3o. Porque n\u00e3o o faz outra pessoa? Eu adoraria seguir outra pessoa.\u201d euronews: Gostaria de fazer-lhe mais uma quest\u00e3o dos nossos internautas. Chama-se Minotavros, e\u2026 Yanis Varoufakis: \u201cO minotauro colocou a quest\u00e3o.\u201d euronews: Sim, mas repar\u00e1mos em alguns coment\u00e1rios nas redes sociais que existe uma certa negatividade em rela\u00e7\u00e3o a si na Gr\u00e9cia. E a quest\u00e3o \u00e9: Como \u00e9 que Varoufakis pensa consertar a Europa quando destruiu a Gr\u00e9cia? Yanis Varoufakis: \u201cBom, essa premissa \u00e9 interessante e completamente falsa, n\u00e3o \u00e9? Se eu tivesse destru\u00eddo a Gr\u00e9cia deveria estar na pris\u00e3o, n\u00e3o devia estar no cora\u00e7\u00e3o de um movimento democr\u00e1tico na Europa. Mas n\u00e3o destru\u00ed a Gr\u00e9cia. N\u00e3o sou assim t\u00e3o importante. O motivo\u2026 Ali\u00e1s, diz que h\u00e1 negatividade em rela\u00e7\u00e3o a mim na Gr\u00e9cia, talvez devesse observar o que mostram as sondagens de opini\u00e3o.\u201d euronews: O que dizem as sondagens? Yanis Varoufakis: \u201cNada de mal. N\u00e3o s\u00e3o m\u00e1s. Mesmo quando era ministro havia uma discord\u00e2ncia brutal, uma desconex\u00e3o, se prefere, entre as pessoas na rua, os \u00edndices de aprova\u00e7\u00e3o que tinha \u2013 pessoalmente e enquanto membro do governo -, e aquilo que os media diziam. Se estivesse na Gr\u00e9cia aquando do referendo, poderia ver que em todos os canais, toda a impressa, todos nos retratavam \u2013 a mim e ao governo \u2013 como Mefist\u00f3feles, como as pessoas que estavam a destruir a Gr\u00e9cia. Advertiam os gregos que se votassem \u2018n\u00e3o\u2019 no referendo, seria a chegada do Armaged\u00e3o. E o que \u00e9 que os gregos fizeram? 62 por cento votaram \u2018n\u00e3o\u2019 (contra o acordo de resgate financeiro e as medidas de austeridade no referendo em julho de 2015). \u201c euronews: Voltemos \u00e0 quest\u00e3o da troika e das negocia\u00e7\u00f5es. Fez frente a alguns dos pol\u00edticos e economistas mais experientes que a Europa conhece. Sentiu-se fora do seu n\u00edvel de compet\u00eancias nessas discuss\u00f5es? Yanis Varoufakis: \u201cSentir-me-ia, se eles tivessem um hist\u00f3rico respeit\u00e1vel. O FMI nunca tinha ido a um pa\u00eds durante cinco anos, com o Banco Central Europeu e todos esses especialistas fenomenais, entre aspas \u2013 os fenomenais ou os especialistas ou ambos. E o resultado foi 30 por cento de perdas na entrada de capitais, o aumento do desemprego de oito para 28 por cento, o colapso completo do sistema banc\u00e1rio, dinheiro emprestado pelos contribuintes europeus, 50 mil milh\u00f5es para dar aos bancos \u2013 o resultado, no entanto, \u00e9 os bancos continuarem em fal\u00eancia. Foi uma cat\u00e1strofe. Por isso, quando confrontei essas pessoas, confrontei-as com todo o respeito. Contudo, n\u00e3o seria capaz de respeitar o programa proposto por eles.\u201d euronews: \u00c9 verdade que quase chegou ao extremo com o presidente do Eurogrupo? Yanis Varoufakis: \u201c\u00c9 completamente falso. Tivemos desacordos. Houve momentos em que ambos levant\u00e1mos as vozes, mas isso durou cerca de 5 segundos. Continuo a dizer-lhe, gostava que houvesse c\u00e2maras nas reuni\u00f5es para n\u00e3o ter de acreditar no que digo ou no que os outros dizem, ou nas fugas de informa\u00e7\u00e3o. Na Casa Branca tudo \u00e9 registado. Se for ao museu Lyndon B. Johnson, ao museu presidencial em Austin, no Texas, \u00e0 biblioteca presidencial George W. Bush pode ouvir todas as conversas que tiveram. \u00c9 fant\u00e1stico. Porqu\u00ea? Porque significa que n\u00f3s, representantes do povo, vamos atuar sempre sob o escrut\u00ednio dos seus olhares. Isto \u00e9 crucial e n\u00e3o existe na Europa, mas devia.\u201d euronews: H\u00e1 ainda muitas quest\u00f5es e uma das maiores parece \u00f3bvia, saiu por vontade pr\u00f3pria? Foi impelido a sair pela troika, pelo primeiro-ministro, Alexis Tsipras? O que aconteceu? Yanis Varoufakis: \u201cExistem v\u00e1rias formas de responder a esta quest\u00e3o de forma apropriada. A resposta mais r\u00e1pida \u00e9 que me demiti. Fui convidado a continuar no governo \u2013 e n\u00e3o conseguia continuar a fazer isto e discordar completamente da convers\u00e3o do \u2018n\u00e3o\u2019 em \u2018sim\u2019 no dia em que aconteceu. A troika estava, claramente, interessada em p\u00f4r-me de lado e empurrar-me do governo \u2013 por uma raz\u00e3o muito simples. N\u00e3o foi pessoal. Agora, isto \u00e9 algo que o nosso p\u00fablico pode n\u00e3o saber, que estes acordos de ajuda financeira na zona euro s\u00e3o assinados pelo ministro das Finan\u00e7as \u2013 n\u00e3o s\u00e3o assinados pelo primeiro-ministro, nem pelo presidente, nem por Deus, nem pelos anjos, mas pelo ministro das Finan\u00e7as. Portanto, sabiam que eu n\u00e3o ia , que era um obst\u00e1culo. Quiseram prolongar a crise no futuro, fingindo que resolver\u00edamos o problema com outro empr\u00e9stimo insustent\u00e1vel.\u201d euronews: Tenho outra quest\u00e3o. Esta \u00e9 do Eliuas Toumasatos: Se tivesse outra oportunidade como ministro das Finan\u00e7as, o que faria de diferente? Yanis Varoufakis: \u201cBom, gostaria de colocar uma quest\u00e3o antes de responder. Saberia eu o que sei hoje? Saberia o que iria ar-se? Porque, se sim, claro, as escolhas s\u00e3o sempre diferentes.\u201d euronews: Digamos que viu como as coisas iriam decorrer. O que faria de diferente? Yanis Varoufakis: \u201c\u00c9 uma quest\u00e3o muito dif\u00edcil. O meu primeiro dilema seria se arriscava ou n\u00e3o concorrer \u00e0s elei\u00e7\u00f5es e tornar-me ministro. O segundo \u2013 no caso de superar o primeiro \u2013 seria como lidar com as pessoas no meu Minist\u00e9rio e no governo que discordavam da estrat\u00e9gia definida. Finalmente, um erro que reconhe\u00e7o \u2013 e que provavelmente n\u00e3o devia ter cometido \u2013 a minha no documento sobre o pedido de extens\u00e3o do resgate grego at\u00e9 ao final de junho. E o motivo \u00e9 que, naquela fase, tinha provas suficientes de que a troika n\u00e3o queria honrar o esp\u00edrito do acordo assinado na reuni\u00e3o do Eurogrupo no dia 20 de fevereiro, que foi muito importante.\u201d euronews: Atualmente, Alexis Tsipras diz que a Gr\u00e9cia est\u00e1 num ponto de viragem, que a economia vai crescer. Yanis Varoufakis: \u201cH\u00e1 cinco anos que ou\u00e7o isso, seis agora, de v\u00e1rios primeiros-ministros que sucumbiram a programas que falharam. Isso n\u00e3o vai acontecer, n\u00e3o h\u00e1 provas. Seria o primeiro a regozijar-me se houvesse provas disso.\u201d euronews: Ent\u00e3o porque o diz Tsipras? Yanis Varoufakis: \u201or que raz\u00e3o dizia o Sr. Samaras o mesmo h\u00e1 dois anos? Ou Papandreou? euronews: Para se manter no poder? Vemos que o Syriza est\u00e1 a perder nas sondagens para o partido conservador da Nova Democracia. Yanis Varoufakis: \u201c\u00c9 uma combina\u00e7\u00e3o de fatores. S\u00e3o desejos. Somos todos propensos a sonhos irrealiz\u00e1veis \u2013 gostamos de imaginar que algo vai acontecer porque queremos que aconte\u00e7a. E, o fasc\u00ednio do poder e a tentativa de criar esp\u00edritos positivos, dizendo coisas boas para que inspirem as pessoas. Mas isso n\u00e3o vai funcionar. \u00c9 preciso mudar as bases tamb\u00e9m.\u201d euronews: Acredita, ent\u00e3o, que Tsipras e o Syriza se venderam? Yanis Varoufakis: \u201cRepare, n\u00f3s, a esquerda, temos uma hist\u00f3ria longa e inquietante de nos virarmos uns contra os outros, de nos boicotarmos, de nos denunciarmos uns aos outros, de mandarmos uns aos outros at\u00e9 para os Gulag, como se deve lembrar. E eu sou a \u00faltima pessoa a voltar-me contra um camarada como Alexis e difam\u00e1-lo. Temos s\u00e9rias diferen\u00e7as. S\u00e3o tempos dif\u00edceis, agarro-me \u00e0s minhas opini\u00f5es ferozmente, mas n\u00e3o sou capaz de denunciar ou lan\u00e7ar ep\u00edtetos desse tipo a camaradas e amigos \u2013 mesmo que discorde deles e que j\u00e1 n\u00e3o sejamos camaradas.\u201d euronews: Anne Laure Poirot pergunta: Arrepende-se de j\u00e1 n\u00e3o fazer parte do governo? Yanis Varoufakis: \u201cN\u00e3o, de todo. Porque o objetivo de estar no governo \u00e9 efetuar uma mudan\u00e7a positiva, \u00e9 tornar as coisas melhores. Se s\u00f3 puder ficar na equipa ministerial na condi\u00e7\u00e3o \u00fanica de adotar pol\u00edticas que sei que v\u00e3o fracassar, qual \u00e9 o interesse? A n\u00e3o ser que goste mesmo do Minist\u00e9rio e eu n\u00e3o gosto.\u201d euronews: Ent\u00e3o, o que aprendeu sobre si pr\u00f3prio nos meses em que esteve no poder? Yanis Varoufakis: \u201cO que aprendi sobre mim pr\u00f3prio? Aprendi que consigo ser muito mais calmo do que imaginava, sob uma tempestade de mentiras desconcertantes. Aprendi que n\u00e3o gosto do poder. No final, a pol\u00edtica \u00e9 divertida se for por convic\u00e7\u00e3o.\u201d euronews: Um amigo meu diz que \u00e9 um excelente professor mas um p\u00e9ssimo pol\u00edtico. O que responde a isto? Yanis Varoufakis: \u201cAlguns dos meus alunos devem dizer o contr\u00e1rio. N\u00e3o sei, n\u00e3o sou o meu pr\u00f3prio juiz.\u201d euronews: Tem havido alguma discuss\u00e3o porque, naturalmente, captou a aten\u00e7\u00e3o dos media, quer goste ou n\u00e3o. Presumo que seja por causa das suas t-shirts justas, por conduzir uma moto, usar casacos de pele, n\u00e3o sei. Foi intencional? Yanis Varoufakis: \u201cN\u00e3o, nem um pouco. N\u00e3o mesmo. Quanto muito foi uma distra\u00e7\u00e3o e um aborrecimento, um incomodo porque estava a tentar fazer um trabalho muito dif\u00edcil. No dia em que me mudei para o Minist\u00e9rio tive uma reuni\u00e3o com o Tesouro e foi-me dito que em 11 ou 12 dias a Gr\u00e9cia iria \u00e0 fal\u00eancia, que ter\u00edamos de escolher entre pagar ao FMI ou pagar pens\u00f5es. Quando se est\u00e1 numa situa\u00e7\u00e3o dessas tudo o que precisa \u00e9 de come\u00e7ar a trabalhar. Portanto, o ser famoso e tudo o que descreveu foi um grande transtorno.\u201d euronews: Mas, ent\u00e3o, porque apareceu em revistas no seu apartamento? Yanis Varoufakis: \u201cIsso foi um grande erro. Posso contar-lhe toda a hist\u00f3ria. S\u00f3 vai provar como sou inocente no que diz respeito aos media porque nunca tinha tocado numa c\u00f3pia da Paris Match na minha vida. Por isso, quando me pediram para ser entrevistado \u2013 e disseram que seria uma boa hist\u00f3ria \u2013 disse: \u2018Ok. Eu dou a entrevista primeiro e depois leio o texto e se gostar podemos publicar. E o texto estava excelente. Mas nunca imaginei que teria todas aquelas fotografias glamorosas. Apressei-me a ir para casa, o cen\u00e1rio estava pronto para a sess\u00e3o. Tinha de sair e encontrar-me com o primeiro-ministro em 15 minutos. Foi tudo muito r\u00e1pido, n\u00e3o pensei duas vezes, foi um erro enorme. N\u00e3o h\u00e1 qualquer d\u00favida, uma das coisas de que me arrependo \u00e9 isso.\u201d euronews: Uma \u00faltima quest\u00e3o sobre um desses assuntos pol\u00e9micos \u2013 a quantia que cobra pelos discursos que faz, os cachets astron\u00f3micos que cobra para falar em eventos. Como integra isso nos seus princ\u00edpios de esquerda? Yanis Varoufakis: \u201c\u00c9 interessante que tenha lido os artigos que me criticam, mas n\u00e3o tenha lido a resposta publicada no meu blogue e amplamente divulgada. Sabe qual foi a minha resposta? Fazer o que acho que todos devemos fazer. Transpar\u00eancia total. Por isso, no meu blogue fiz uma listagem de 24 ou 25 conversas que tive desde a minha demiss\u00e3o. Mostrei que fui pago por tr\u00eas interven\u00e7\u00f5es. Divulguei os n\u00fameros de quanto cobrei por cada uma. A\u00ed est\u00e1, transpar\u00eancia total. Por isso, porque \u00e9 que cobro pelos meus discursos? Preferia que as despesas para formar um sistema ou um movimento pol\u00edtico fossem baseadas em donativos de corpora\u00e7\u00f5es secretos? \u00c9 isto transpar\u00eancia? Gostava que todos os pol\u00edticos revelassem as fontes dos seus rendimentos como eu fiz.\u201d euronews: Come\u00e7\u00e1mos a entrevista com uma previs\u00e3o da Europa daqui a 10 anos, se nada mudar. Se houver mudan\u00e7as, como gostaria que a Europa fosse daqui a uma d\u00e9cada? Yanis Varoufakis: \u201cQue tal uma Europa federal, com uma constitui\u00e7\u00e3o redigida em conjunto ap\u00f3s a convoca\u00e7\u00e3o de uma Assembleia Constituinte \u2013 com representantes da assembleia eleitos num formato pan-europeu, para que os ses possam votar nos gregos, nos alem\u00e3es ou nos Finlandeses para os representar na Assembleia e vice-versa. Onde podemos ter um governo federal com base numa pessoa, um voto. A quest\u00e3o \u00e9 como chegamos a\u00ed? \u00c9 dif\u00edcil. Como parar a queda livre em que nos encontramos, como estabilizar o dom\u00ednio da economia, de pol\u00edtica de geopol\u00edtica e de divis\u00f5es \u2013 ou pelo menos parar o desenvolvimento de novas divis\u00f5es \u2013 e mudar para uma postura onde prosperidade e sociedade partilhadas podem tornar-se sonhos comuns novamente.\u201d", "dateCreated": "2016-02-23T22:18:07+01:00", "dateModified": "2016-02-23T22:18:07+01:00", "datePublished": "2016-02-23T22:18:07+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F324993%2F1440x810_324993.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Mais uma vez, Yanis Varoufakis, est\u00e1 pronto a desafiar as for\u00e7as europeias. 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Yanis Varoufakis: O DiEM25 "procura salvar a União Europeia de si própria"

Yanis Varoufakis: O DiEM25 "procura salvar a União Europeia de si própria"
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De Isabelle Kumar
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Mais uma vez, Yanis Varoufakis, está pronto a desafiar as forças europeias. O ex-ministro das Finanças da Grécia lançou um novo movimento pan-europeu com o objetivo de democratizar a União Europeia.

Entrou em conflito com as forças europeias e acabou por desistir. Mas, agora, está de volta ao palco das políticas europeias com uma vingança. O ex-ministro das Finanças da Grécia lançou um novo movimento pan-europeu. O objetivo: trazer a democracia para o centro das decisões da União Europeia. Para discutir o futuro, mas também para falar do seu ado conturbado, a euronews entrevistou Yanis Varoufakis.

Biografia: Yanis Varoufakis

  • Yanis Varoufakis é um economista grego
  • Tornou-se conhecido quando assumiu a pasta das Finanças da Grécia em janeiro de 2015
  • Entrou em conflito com os líderes da União Europeia e com a troika durante o terceiro resgate financeiro à Grécia
  • Yanis Varoufakis deixou o governo em julho de 2015 por discordar do terceiro resgate
  • Em fevereiro de 2016, lançou o Movimento para a Democracia na Europa 2025 (DiEM25, na sigla em inglês)
  • Varoufakis é apaixonado por motociclismo

Isabelle Kumar, euronews: Há vários movimentos que procuram difamar a União Europeia, grupos políticos de direita, mas também de esquerda. Em que difere o Movimento para a Democracia na Europa 2025 (DiEM25 na sigla em inglês)?

Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia: “Não se trata de um movimento para difamar, este movimento procura salvar a União Europeia de si própria. Para onde quer que olhemos, a União Europeia está a desintegrar-se: nas fronteiras, nas várias fronteiras, temos novas divisões, novas barreiras, pedidos para se criarem vedações eletrificadas que impeçam a livre circulação. As pessoas começam a ficar divididas, os governos começam a adotar uma postura mais fechada e a tornar-se hostis à ideia de solidariedade na União Europeia. Temos uma zona euro a desintegrar-se rapidamente.”

euronews: Pedimos aos internautas nas redes sociais que enviassem perguntas para esta entrevista e isto leva-me a uma questão colocada por Jefferson Matewa: Como prevê o futuro da União Europeia? Como será daqui a 10 anos se não houver mudanças?

Yanis Varoufakis: “A União Europeia vai deixar de existir, vai ser uma espécie de versão ridícula da União Soviética. Felizmente, a União Europeia ainda é um domínio de liberdade pessoal – não temos o KGB nem o Gulag – mas as semelhanças são muitas. Relembro, a União Soviética era uma entidade economicamente inviável, mantida por uma vontade política e por autoritarismo. Quanto mais tempo tentar manter unida uma grande entidade, através do autoritarismo, uma entidade multinacional que não consegue sobreviver, mais perto se chega da implosão. E os custos dessa implosão são elevadíssimos. Este é o nosso maior medo.”

euronews: É um pouco exagerado, não acha? Não acha que uma perspetiva tão extremada pode fazê-lo perder apoiantes?

Yanis Varoufakis: “Bom, às vezes é necessário exagerar para defender um ponto de vista. É evidente que existe um certo exagero no que disse, mas não é de todo excessivo. Todas as decisões importantes foram transferidas para Bruxelas e Frankfurt, Comissão Europeia, Banco Central Europeu, Mecanismo Europeu de Estabilidade, o que é uma zona livre de democracia.”

euronews: Isso é discutível, não é?

Yanis Varoufakis:“Por isso é que estamos a ter esta conversa. Mas não tenho dúvidas de que, se estivesse naquelas reuniões, teria concordado comigo. Existe um desprezo pela democracia naqueles centros, desprezo.”

euronews: Chegou a dizer que gostava que as reuniões à porta fechada fossem gravadas. Se essas reuniões tensas, do verão, sobre o resgate financeiro tivessem sido gravadas, julga que o rumo da história teria sido outro? Porquê?

Yanis Varoufakis: “Sim. Deixe-me colocar isto desta forma, ouvi ministros dos Estados Membros e outros altos funcionários dizer coisas que jamais diriam se as pessoas que lhes pagam os salários, que votaram neles, os estivessem a ver e a ouvir.”

euronews: Dê-me um exemplo. Um exemplo flagrante.

Yanis Varoufakis: “Quando, enquanto ministro das Finanças da Grécia me foi apresentado, a 25 de junho, um ultimato da troika referente à política fiscal que deveria aceitar, às reformas, modelo de financiamento, etc., conversei com o presidente do Banco Central Europeu, o ministro das Finanças da Alemanha e a líder do FMI e os três confessaram – e uso a palavra intencionalmente – que este programa não iria funcionar. Posso garantir-lhe que aquele ultimato não me teria sido imposto se os eleitores, se a opinião pública em todo o mundo, se você, enquanto membro dos media, estivesse a ver a reunião em direto.”

euronews: Mas o que se disse é que eles ansiavam um acordo e que o senhor tentou pressioná-los com um referendo quando um acordo estava muito próximo.

Yanis Varoufakis: “Não será esse um excelente motivo para as reuniões serem transmitidas em direto. Porque: ‘eles disseram’, ‘eu disse’… Porque não podem os nossos eleitores ver em direto o que é realmente dito"> Notícias relacionadas

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