Mais uma vez, Yanis Varoufakis, está pronto a desafiar as forças europeias. O ex-ministro das Finanças da Grécia lançou um novo movimento pan-europeu com o objetivo de democratizar a União Europeia.
Entrou em conflito com as forças europeias e acabou por desistir. Mas, agora, está de volta ao palco das políticas europeias com uma vingança. O ex-ministro das Finanças da Grécia lançou um novo movimento pan-europeu. O objetivo: trazer a democracia para o centro das decisões da União Europeia. Para discutir o futuro, mas também para falar do seu ado conturbado, a euronews entrevistou Yanis Varoufakis.
Biografia: Yanis Varoufakis
- Yanis Varoufakis é um economista grego
- Tornou-se conhecido quando assumiu a pasta das Finanças da Grécia em janeiro de 2015
- Entrou em conflito com os líderes da União Europeia e com a troika durante o terceiro resgate financeiro à Grécia
- Yanis Varoufakis deixou o governo em julho de 2015 por discordar do terceiro resgate
- Em fevereiro de 2016, lançou o Movimento para a Democracia na Europa 2025 (DiEM25, na sigla em inglês)
- Varoufakis é apaixonado por motociclismo
Isabelle Kumar, euronews: Há vários movimentos que procuram difamar a União Europeia, grupos políticos de direita, mas também de esquerda. Em que difere o Movimento para a Democracia na Europa 2025 (DiEM25 na sigla em inglês)?
Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia: “Não se trata de um movimento para difamar, este movimento procura salvar a União Europeia de si própria. Para onde quer que olhemos, a União Europeia está a desintegrar-se: nas fronteiras, nas várias fronteiras, temos novas divisões, novas barreiras, pedidos para se criarem vedações eletrificadas que impeçam a livre circulação. As pessoas começam a ficar divididas, os governos começam a adotar uma postura mais fechada e a tornar-se hostis à ideia de solidariedade na União Europeia. Temos uma zona euro a desintegrar-se rapidamente.”
euronews: Pedimos aos internautas nas redes sociais que enviassem perguntas para esta entrevista e isto leva-me a uma questão colocada por Jefferson Matewa: Como prevê o futuro da União Europeia? Como será daqui a 10 anos se não houver mudanças?
Yanis Varoufakis: “A União Europeia vai deixar de existir, vai ser uma espécie de versão ridícula da União Soviética. Felizmente, a União Europeia ainda é um domínio de liberdade pessoal – não temos o KGB nem o Gulag – mas as semelhanças são muitas. Relembro, a União Soviética era uma entidade economicamente inviável, mantida por uma vontade política e por autoritarismo. Quanto mais tempo tentar manter unida uma grande entidade, através do autoritarismo, uma entidade multinacional que não consegue sobreviver, mais perto se chega da implosão. E os custos dessa implosão são elevadíssimos. Este é o nosso maior medo.”
euronews: É um pouco exagerado, não acha? Não acha que uma perspetiva tão extremada pode fazê-lo perder apoiantes?
Yanis Varoufakis: “Bom, às vezes é necessário exagerar para defender um ponto de vista. É evidente que existe um certo exagero no que disse, mas não é de todo excessivo. Todas as decisões importantes foram transferidas para Bruxelas e Frankfurt, Comissão Europeia, Banco Central Europeu, Mecanismo Europeu de Estabilidade, o que é uma zona livre de democracia.”
euronews: Isso é discutível, não é?
Yanis Varoufakis:“Por isso é que estamos a ter esta conversa. Mas não tenho dúvidas de que, se estivesse naquelas reuniões, teria concordado comigo. Existe um desprezo pela democracia naqueles centros, desprezo.”
euronews: Chegou a dizer que gostava que as reuniões à porta fechada fossem gravadas. Se essas reuniões tensas, do verão, sobre o resgate financeiro tivessem sido gravadas, julga que o rumo da história teria sido outro? Porquê?
Yanis Varoufakis: “Sim. Deixe-me colocar isto desta forma, ouvi ministros dos Estados Membros e outros altos funcionários dizer coisas que jamais diriam se as pessoas que lhes pagam os salários, que votaram neles, os estivessem a ver e a ouvir.”
euronews: Dê-me um exemplo. Um exemplo flagrante.
Yanis Varoufakis: “Quando, enquanto ministro das Finanças da Grécia me foi apresentado, a 25 de junho, um ultimato da troika referente à política fiscal que deveria aceitar, às reformas, modelo de financiamento, etc., conversei com o presidente do Banco Central Europeu, o ministro das Finanças da Alemanha e a líder do FMI e os três confessaram – e uso a palavra intencionalmente – que este programa não iria funcionar. Posso garantir-lhe que aquele ultimato não me teria sido imposto se os eleitores, se a opinião pública em todo o mundo, se você, enquanto membro dos media, estivesse a ver a reunião em direto.”
euronews: Mas o que se disse é que eles ansiavam um acordo e que o senhor tentou pressioná-los com um referendo quando um acordo estava muito próximo.
Yanis Varoufakis: “Não será esse um excelente motivo para as reuniões serem transmitidas em direto. Porque: ‘eles disseram’, ‘eu disse’… Porque não podem os nossos eleitores ver em direto o que é realmente dito"> Notícias relacionadas