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Segundo Marli\u00e8re, o processo de cicatriza\u00e7\u00e3o \u201cvai depender da qualidade da resposta. Ser\u00e1 que os l\u00edderes \u2013 seja na pol\u00edtica, no governo, nos media \u2013 est\u00e3o a conseguir comunicar com o cidad\u00e3o comum? Em pol\u00edtica, \u00e9 necess\u00e1ria a exist\u00eancia de uma figura que traga tranquilidade. N\u00e3o acredito que seja o caso de Hollande ou de Valls. \u00c9 preciso haver algu\u00e9m que nos conforte, que nos proteja. (...) N\u00e3o se pode estar constantemente a falar da \u2018amea\u00e7a\u2019, porque isso cria um clima que instiga cada vez mais receios entre as pessoas, o que agrava o racismo.\u201d Onde p\u00e1ra a liberdade de imprensa? Esta semana, o Charlie Hebdo vai publicar um milh\u00e3o de c\u00f3pias numa edi\u00e7\u00e3o especial. Mas, segundo Eric Portheault, diretor financeiro do jornal, a equipa atual da publica\u00e7\u00e3o sat\u00edrica sente que deixou de ter apoio. Numa entrevista \u00e0 AFP, Portheault revela: \u201cSentimo-nos extremamente s\u00f3s. Esper\u00e1vamos que houvesse mais gente a fazer s\u00e1tira. Mas ningu\u00e9m se quer juntar porque acham que \u00e9 perigoso. H\u00e1 o risco de morte.\u201d Michael Moynihan, do site americano Daily Beast, afirma que \u201cj\u00e1 ningu\u00e9m quer mostrar cartoons. Em janeiro, doze pessoas foram massacradas. Um m\u00eas depois, um psicopata meio iletrado tentou matar Lars Vilks, num evento na Dinamarca, porque este tinha desenhado um c\u00e3o com a cabe\u00e7a de Maom\u00e9. Morreram duas pessoas. 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O que mudou em França após o ataque ao Charlie Hebdo?

O que mudou em França após o ataque ao Charlie Hebdo?
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O que mudou em França após o ataque ao Charlie Hebdo? ou um ano desde que dois homens armados, os irmãos Kouachi, irromperam pelas instalações do

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O que mudou em França após o ataque ao Charlie Hebdo?

ou um ano desde que dois homens armados, os irmãos Kouachi, irromperam pelas instalações do jornal satírico Charlie Hebdo e abriram fogo. Dois dias mais tarde, Amedy Coulibaly matava quatro reféns num supermercado judeu em Paris. A violenta morte de duas dezenas de pessoas, incluindo os atacantes, deixou o mundo incrédulo. As imensas manifestações de solidariedade, sob o mote “Je suis Charlie”, sucederam-se em vários pontos do globo e mobilizaram toda a França. Mas o que mudou exatamente desde o fatídico dia 7 de janeiro de 2015?

As restrições sobre as liberdades civis

Philippe Marlière, especialista em política europeia e professor na University College de Londres, salienta como a França desencadeou uma série de limitações às liberdades civis, à semelhança do que aconteceu nos Estados Unidos após o 11 de setembro nos Estados Unidos ou no Reino Unido depois dos ataques na capital britânica em julho de 2005. “Quando se sucedem acontecimentos com um caráter excecional, é muito fácil os governos avançarem com novas leis – e isso verifica-se sempre -, recolhendo apoios de todos os setores para o fazerem”, declara Marlière à Euronews. Dado o grau de emotividade inerente, “as pessoas não costumam pensar noutro tipo de resposta que não e precisamente pelo condicionamento das liberdades em geral, em vez de se concentrarem nas políticas necessárias para identificar potenciais terroristas. Os media ses falaram muito pouco sobre as falhas dos serviços de segurança do seu país”, aponta.

edição especial de Charlie Hebdo a 06/01/2016

“Charlie, même pas mort” : demain carte blanche aux équipes de #CharlieHebdo sur Inter ► https://t.co/ml7v8wvVbmpic.twitter.com/x6Dy5b1PAt

— Inter (@inter) 5 Janvier 2016

Paris introduziu em julho ado disposições legais que despertaram fortes críticas. A Amnistia Internacional, por exemplo, afirmou que a nova legislação que reforçava os mecanismos de vigilância era claramente desproporcional e constituía um ataque aos direitos humanos.

Mas após os ataques de 13 de novembro em Paris, foi declarado o estado de emergência, permitindo às autoridades sas a condução de buscas sem mandado judicial e a detenção alargada de suspeitos.

Matthew Moran, perito em segurança internacional da King’s College de Londres, disse à Euronews que as novas leis sas vão produzir “implicações graves e profundas” sobre o conjunto das liberdades civis. “São políticas que seriam expectáveis por parte de movimentos políticos de direita e que acabam por ser o reflexo dos efeitos cumulativos dos ataques de 2015 e do panorama político atual em França.” Segundo Moran, “o presidente François Hollande está a competir no terreno do rival Nicolas Sarkozy, que é o da segurança. A viragem à direita serve os interesses da Frente Nacional.”

Até onde pode ir o avanço da direita?

A Frente Nacional arrecadou resultados marcadamente positivos na primeira volta das eleições regionais em dezembro, colocando-se na dianteira em duas regiões. Mesmo que a segunda volta tenha desmontado as ambições imediatas de poder da extrema-direita sa, sobretudo devido ao compromisso de bloqueio assumido entre os rivais, o número de votos recolhidos é esclarecedor: mais de 6,5 milhões. É inevitável falar do impulso angariado por Marine Le Pen no caminho rumo às eleições presidenciais de 2017.

Para Philippe Marlière, por detrás do avanço de Le Pen não está apenas o clima de insegurança e medo gerado pelos atentados. Há outros fatores que contribuem fortemente para o contexto de descontentamento geral, sobretudo devido aos níveis de desemprego e ao fraco desempenho económico gaulês. “Os motivos são económicos, mas há uma grande amálgama. O ambiente é de incerteza. As pessoas têm receio pela sua integridade física por causa dos ataques terroristas. O racismo está a aumentar. Porquê? Porque há uma parte da população que se tornou no bode expiatório: os muçulmanos. Tudo isto produz um cocktail muito tóxico. É nesse ponto que estamos”, considera. Marlière acrescenta ainda: “Há uma retórica insidiosa e xenófoba que estabelece uma ligação direta entre o terrorismo e o Islão. Não é um discurso novo, mas o choque generalizado que os atentados provocaram fez com que tenha mais impacto junto de um público mais alargado.”

O racismo crescente

De acordo com o Coletivo contra a Islamofobia em França, os atos de natureza islamofóbica no país dispararam, dando como exemplo a ocorrência de 120 incidentes contra muçulmanos no espaço de apenas três semanas. Isto num país que tem uma das maiores comunidades muçulmanas da Europa (cerca de 5 milhões, 7,5% da população sa – dados de 2010). O Conselho Francês da Fé Muçulmana denunciou 222 ataques no primeiro trimestre de 2015 o que, comparando com os 37 do período homólogo do ano anterior, representa um aumento de mais de 500%.

No entanto, sinal das tensões crescentes entre comunidades, registou-se igualmente uma subida dos ataques antissemitas, com 508 incidentes contabilizados entre janeiro e maio de 2015; em 2014, foram 276 ,segundo o Serviço de Proteção da Comunidade Judaica.

Para Matthew Moran, “Há uma divisão na sociedade sa que marginaliza jovens – normalmente com origens em países africanos que fazem parte do ado colonial da França – para a periferia da República. Eles são membros legítimos da sociedade sa, mas não são aceites como tal. Ao sentirem que não pertencem a essa sociedade, vão procurar uma identidade noutros lugares. Nos casos mais extremos aderem às formas radicais do Islão, que são muito longínquas da fé exercida pela maioria dos muçulmanos ses.”

Uma sociedade profundamente marcada

Os ataques de janeiro horrorizaram o mundo e, acima de tudo, a sociedade sa. No entanto, salienta Philippe Marlière, como o alvo central foi o Charlie Hebdo e os seus cartoonistas, “a grande maioria dos ses – 65 milhões de pessoas – sentiu que não tinha diretamente a ver com o que aconteceu.” Tudo isso mudou na sexta-feira, 13 de novembro de 2015. Um grupo de atacantes suicidas matou indiscriminadamente no coração de Paris. Várias vítimas eram muçulmanas. Ou seja, a mensagem disseminada foi a de qualquer pessoa é um alvo potencial. A aleatoriedade da violência espalhou um sentimento de medo que deixou marcas.

Segundo Marlière, o processo de cicatrização “vai depender da qualidade da resposta. Será que os líderes – seja na política, no governo, nos media – estão a conseguir comunicar com o cidadão comum? Em política, é necessária a existência de uma figura que traga tranquilidade. Não acredito que seja o caso de Hollande ou de Valls. É preciso haver alguém que nos conforte, que nos proteja. (…) Não se pode estar constantemente a falar da ‘ameaça’, porque isso cria um clima que instiga cada vez mais receios entre as pessoas, o que agrava o racismo.”

Onde pára a liberdade de imprensa?

Esta semana, o Charlie Hebdo vai publicar um milhão de cópias numa edição especial. Mas, segundo Eric Portheault, diretor financeiro do jornal, a equipa atual da publicação satírica sente que deixou de ter apoio. Numa entrevista à AFP, Portheault revela: “Sentimo-nos extremamente sós. Esperávamos que houvesse mais gente a fazer sátira. Mas ninguém se quer juntar porque acham que é perigoso. Há o risco de morte.”

Michael Moynihan, do site americano Daily Beast, afirma que “já ninguém quer mostrar cartoons. Em janeiro, doze pessoas foram massacradas. Um mês depois, um psicopata meio iletrado tentou matar Lars Vilks, num evento na Dinamarca, porque este tinha desenhado um cão com a cabeça de Maomé. Morreram duas pessoas. Não quero ser pessimista – e toda gente nega e diz que é uma questão de respeito – mas a verdade é que temos medo.”

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