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Governado com a m\u00e3o de ferro do General Moussa Traor\u00e9 entre 1968 e 1991, o Mali vive, no in\u00edcio dos anos noventa, um golpe de Estado que culmina com a aprova\u00e7\u00e3o de uma Constitui\u00e7\u00e3o democr\u00e1tica e com o nascimento de um sistema multipartid\u00e1rio. No entanto, poucos foram os progressos econ\u00f3micos verificados neste pa\u00eds nos \u00faltimos vinte anos, apesar das suas riquezas e recursos naturais, como o ouro e o ur\u00e2nio. Ao d\u00e9fice democr\u00e1tico que marca a vida pol\u00edtica maliana, junta-se assim a mis\u00e9ria de uma popula\u00e7\u00e3o cujo n\u00edvel de vida n\u00e3o supera, em muitos casos, a linha da pobreza. Existem, por outro lado, diferentes grupos que desejam, desde os tempos da coloniza\u00e7\u00e3o sa, a independ\u00eancia do Estado maliano, como os tuaregues, um povo berbere constitu\u00eddo por pastores semin\u00f3madas e de confiss\u00e3o mu\u00e7ulmana. 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Cinco mortos, todos estrangeiros. 2015 Junho: Acordos de paz entre o Estado e rebeldes tuaregues. Islamistas s\u00e3o deixados de fora. 2015 Novembro: Comando toma dezenas de ref\u00e9ns em hotel de Bamako S\u00e3o encontrados, pelo menos, 27 corpos. 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O Mali, a instabilidade e a jihad

O Mali, a instabilidade e a jihad
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De Antonio Oliveira E Silva com AFP
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O Mali, integrado num contexto regional complexo, enfrenta grandes desafios, alvo dos jihadistas, desejosos de estabelecer, no território, uma república islâmica.

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O Mali encontra-se atualmente na encruzilhada da jihad islâmica, muito ativa na região ocidental do Continente africano. País com cerca de 12 milhões de habitantes, tem sido especialmente permeável à atuação de grupúsculos islamitas independentes no seu terriório, muitos deles ligados à Al-Qaeda.

A instabilidade política e económica com que vivem os malianos desde que o seu país alcançou a independência de França, em 1960, poderiam explicar esta tendência.

Governado com a mão de ferro do General Moussa Traoré entre 1968 e 1991, o Mali vive, no início dos anos noventa, um golpe de Estado que culmina com a aprovação de uma Constituição democrática e com o nascimento de um sistema multipartidário.

No entanto, poucos foram os progressos económicos verificados neste país nos últimos vinte anos, apesar das suas riquezas e recursos naturais, como o ouro e o urânio. Ao défice democrático que marca a vida política maliana, junta-se assim a miséria de uma população cujo nível de vida não supera, em muitos casos, a linha da pobreza.

Existem, por outro lado, diferentes grupos que desejam, desde os tempos da colonização sa, a independência do Estado maliano, como os tuaregues, um povo berbere constituído por pastores seminómadas e de confissão muçulmana.

Os tuaregues reivindicam a criação de uma república independente em parte do território integrante da República do Mali. Desde os tempos da colonização sa, no início do Século ado, até 2009, o Mali ou por seis revoluções tuaregues, algumas das quais também se fizeram sentir no vizinho Níger.

Aos rebeldes tuaregues juntaram-se, posteriormente, e influenciados pelas mudanças geopolíticas no Médio Oriente e no Norte de África (11 de setembro, invasão do Iraque, nascimento da Al-Qaeda e, posteriormente de Daesh) grupos radicais islâmicos com ligações à Al-Qaeda e cujo objetivo é a criação de um Estado islâmico através da luta armada.

Bamako sofreu, pela primeira vez, um atentado em março deste ano.O alvo foi um bar da capital, muito frequentado por estrangeiros, tanto turistas como emigrantes europeus instalados na cidade
Do ataque resultaram cinco mortos, um belga e quatro ses. O atentado foi posteriormente reivindicado por um grupo jihadista.

Foi neste clima de tensão e em plena guerra civil que a França interveio militarmente com a operação Sevral, em janeiro de 2013. A operação foi um sucesso, apesar de algumas perdas do lado francês, que perdeu 10 soldados.

Em abril de 2013, quatro meses depois do início da operação, as tropas sas começam a retirar-se. A missão termina de forma oficial em agosto de 2014.
Segue-se a operação Barkhane, na realidade uma guerra rápida e eficaz, mas que falhou a missão de resolver os problemas estruturais do poder no Mali, as lutas internas e a questão dos islamitas.

Os rebeldes tuaregues e as autoridades do Mali assinam um acordo de paz em junho de 2015, acordo que não incluiu os diferentes movimentos jihadistas.
Muitos dos jihadistas encontram-se ainda refugiados no estrangeiro, especialmente na Líbia, onde am por novos processos de radicalização.

A tomada de reféns de sexta-feira veio demonstrar que o Mali vive ainda tempos de grande fragilidade, apesar das intevenções militares sas e que os problemas estruturais do país estão longe de encontrar-se resolvidos. O futuro e estabilidade de Bamako dependem, cada vez mais, do equilíbrio de forças entre os governos africanos da região e os movimentos jihadistas, com uma capacidade de mobilização regional cada vez mais efetiva

O Mali independente: uma cronologia

1960 Junho: Federação do Mali, independência de França Setembro: Criação da República do Mali

1962 Primeira rebelião tuaruegue no Mali

1964 Fim da primeira rebelião tuaregue no Mali

1968 O General Moussa Traoré organiza um golpe de Estado Início de um regime militar de mais de 20 anos

1990 Início da segunda rebelião Tuaregue no Mali e no Níger

1991 Golpe de Estado militar põe fim ao mandato de Moussa Traoré

1992 Fevereiro: Nova Constituição aprovada em referendo Junho: Younoussi Touré é eleito Primeiro-ministro

1993 Tentativa de golpe de Estado

1996 Fim da segunda rebelião tuaregue no Mali e no Níger

1997 Eleições legislativas anuladas pelo Tribunal Constitucional

2000 Mandé Sidibé nomeado Primeiro-Ministro

2006 Quarta rebelião tuaregue

2007 Início da quinta rebelião tuaregue, que durará dois anos

2012 Confrontos entre o exército, os rebeldes tuaregues e os jihadistas do Aqmi Golpe de Estado militar põe fim ao mandato de Amadou Toumani Touré Sexta rebelião tuaregue

2013 Inicio da operação Sevral, levada a cabo pelo exército francês

2013 Início de mais uma operação militar sa, a operação Barkhane

2014 Agosto: Fim da operação Barkhane

2015 Primeiro atentado jihadista em Bamako. Cinco mortos, todos estrangeiros.

2015 Junho: Acordos de paz entre o Estado e rebeldes tuaregues. Islamistas são deixados de fora.

2015 Novembro: Comando toma dezenas de reféns em hotel de Bamako São encontrados, pelo menos, 27 corpos. Al Murabitun grupo ligado à Al-qaeda, reivindica ataque.

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