{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2015/04/17/noam-chomsky-a-pior-campanha-terrorista-e-a-que-esta-a-ser-orquestrada-em" }, "headline": "Noam Chomsky: \u0022A pior campanha terrorista \u00e9 a que est\u00e1 a ser orquestrada em Washington\u0022", "description": "Noam Chomsky \u00e9 considerado uma celebridade do mundo intelectual. Um autor prol\u00edfico e assumido anarquista, que aos 86 anos de idade n\u00e3o d\u00e1 sinais de", "articleBody": "Noam Chomsky \u00e9 considerado uma celebridade do mundo intelectual. Um autor prol\u00edfico e assumido anarquista, que aos 86 anos de idade n\u00e3o d\u00e1 sinais de querer abrandar o ritmo. \u00c9 uma voz ativa na den\u00fancia de v\u00e1rias injusti\u00e7as, tendo com bastante frequ\u00eancia o Ocidente como alvo. Quem \u00e9 Noam Chomsky? Avram Noam Chomsky nasceu em Filad\u00e9lfia, nos Estados Unidos, a 7 de dezembro de 1928 Come\u00e7ou a trabalhar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em 1995 \u00c9 um reputado linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico O trabalho que desenvolveu na d\u00e9cada de 50 revolucionou o campo da lingu\u00edstica Destacou-se pelo ativismo contra a guerra do Vietname Op\u00f5e-se \u00e0s elites reinantes e \u00e9 um forte cr\u00edtico dos Estados Unidos e da pol\u00edtica externa ocidental \u00c9 um respeitado autor, com dezenas de livros publicados Discutimos estas e outras quest\u00f5es numa entrevista com o reputado linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico norte-americano, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos. Isabelle Kumar, Euronews: Em 2015, o mundo parece um lugar conturbado, mas se pensarmos a n\u00edvel global, sente-se otimista ou pessimista? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cEstamos a caminhar, a n\u00edvel global, para um precip\u00edcio, no qual estamos determinados a cair, e que reduzir\u00e1 nitidamente as perspetivas de uma sobreviv\u00eancia decente.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Que precip\u00edcio? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cNa verdade existem dois precip\u00edcios. Um \u00e9 a cat\u00e1strofe ambiental iminente. N\u00e3o temos muito tempo para lidar com isso e fazemos o percurso errado. O outro aconteceu h\u00e1 cerca de 70 anos, a amea\u00e7a de guerra nuclear, o que \u00e9 interessante. Se fizermos uma retrospetiva \u00e9 um milagre termos sobrevivido.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Falemos agora de quest\u00f5es ambientais. Pedimos aos nossos seguidores nas redes sociais para enviarem perguntas e recebemos imensas quest\u00f5es. Enea Agolli pergunta: Quando se depara com a quest\u00e3o ambiental e assume uma postura filos\u00f3fica, o que tem a dizer em mat\u00e9ria de altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cA esp\u00e9cie humana existe h\u00e1 cerca de cem mil anos e est\u00e1 agora perante um momento \u00fanico na hist\u00f3ria. Esta esp\u00e9cie est\u00e1 numa posi\u00e7\u00e3o em que decidir\u00e1, brevemente, as pr\u00f3ximas gera\u00e7\u00f5es, se a chamada vida inteligente vingar\u00e1 ou se estamos determinados a destru\u00ed-la. Os cientistas reconhecem, surpreendentemente, que a maioria dos combust\u00edveis f\u00f3sseis t\u00eam de ficar no solo se quisermos um futuro decente para os nossos netos. Mas as estruturas institucionais da nossa sociedade fazem press\u00e3o para se extrair cada gota. Os efeitos, as consequ\u00eancias humanas, esperados por causa das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, num futuro pr\u00f3ximo, s\u00e3o catastr\u00f3ficos e caminhamos para um precip\u00edcio.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Em mat\u00e9ria de guerra nuclear constatamos que a possibilidade do acordo iraniano pressup\u00f5e que se alcan\u00e7ou uma etapa preliminar. Isso d\u00e1-lhe alguma esperan\u00e7a sobre o cen\u00e1rio de se fazer do mundo um lugar mais seguro? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cSou a favor das negocia\u00e7\u00f5es no Ir\u00e3o, mas s\u00e3o profundamente imperfeitas. Existem dois estados em tumulto no M\u00e9dio Oriente que fazem agress\u00f5es, recorrem \u00e0 viol\u00eancia, atos terrotistas, atos ilegais, constantemente. Ambos t\u00eam um grande potencial nuclear. E as armas nucleares deles n\u00e3o est\u00e3o a ser tomadas em conta.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: A quem se refere concretamente? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cAos Estados Unidos e a Israel, os dois maiores estados nucleares do mundo. Existe uma raz\u00e3o para, nas sondagens internacionais, conduzidas por ag\u00eancias de sondagens norte-americanas, os Estados Unidos serem vistos como a maior amea\u00e7a \u00e0 paz mundial por uma margem impressionante. Nenhum outro pa\u00eds chega sequer perto. De certa forma \u00e9 interessante que os meios de comunica\u00e7\u00e3o norte-americanos tenham recusado publicar isto. Mas \u00e9 um facto.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: N\u00e3o tem o presidente Barack Obama em grande conta. Este acordo f\u00e1-lo pensar melhor de Obama? O facto de estar a tentar reduzir a amea\u00e7a de guerra nuclear? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cNa verdade, ele apenas iniciou um programa avultado de moderniza\u00e7\u00e3o do sistema de armamento nuclear dos Estados Unidos, o que significa expandir esse sistema. Essa \u00e9 uma das raz\u00f5es pela qual o famoso Rel\u00f3gio do Ju\u00edzo Final, estabelecido pelo Boletim dos Cientistas At\u00f3micos, ficou, h\u00e1 apenas algumas semanas, dois minutos mais pr\u00f3ximo da meia-noite. A meia-noite representa a destrui\u00e7\u00e3o total. \u00c9 o mais pr\u00f3ximo que estamos desse ponto em tr\u00eas d\u00e9cadas, desde os primeiros anos de Reagan, quando existia um medo enorme de guerra.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Referiu os Estados Unidos e Israel a prop\u00f3sito do Ir\u00e3o. Agora o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu n\u00e3o quer, obviamente, que o acordo nuclear funcione e diz. Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cInteressante. Dever\u00edamos perguntar porqu\u00ea?\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Porqu\u00ea? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cSabemos porqu\u00ea. O Ir\u00e3o tem despesas militares bastante baixas, mesmo perante os padr\u00f5es da regi\u00e3o. A doutrina estrat\u00e9gica do Ir\u00e3o \u00e9 defensiva, concebida para distanciar um ataque o tempo suficiente at\u00e9 ao in\u00edcio da diplomacia. E os Estados Unidos e Israel, os dois estados trapaceiros, n\u00e3o querem tolerar um estorvo. Nenhum analista estrat\u00e9gico com uma fun\u00e7\u00e3o cerebral acredita que o Ir\u00e3o usaria uma arma nuclear. Mesmo que estivesse preparado para tal, o pa\u00eds seria vaporizado e n\u00e3o h\u00e1 indica\u00e7\u00e3o de que os cl\u00e9rigos dirigentes queiram ver tudo o que t\u00eam destru\u00eddo.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Uma \u00faltima quest\u00e3o, sobre esta mat\u00e9ria, chegou-nos atrav\u00e9s das redes sociais. Morten A. Andersen pergunta: \u201cAcredita que os Estados Unidos alguma vez chegariam a um acordo que fosse perigoso para Israel desde logo?\u201d Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cOs Estados Unidos fazem a\u00e7\u00f5es constantes que s\u00e3o perigosas para Israel, bastante s\u00e9rias. Nomeadamente ao apoiar a pol\u00edtica israelita. Nos \u00faltimos 40 anos, a maior amea\u00e7a a Israel s\u00e3o as pr\u00f3prias pol\u00edticas. Se retrocedermos 40 anos, at\u00e9 1970, Israel era um dos pa\u00edses mais respeitados e irados do mundo. Existiam muitas atitudes favor\u00e1veis. Agora \u00e9 dos pa\u00edses mais temidos e que geram antipatia de todo o mundo. No in\u00edcio dos anos 70 Israel tomou uma decis\u00e3o. Tinham essa hip\u00f3tese e decidiram pela expans\u00e3o em vez da seguran\u00e7a e isso acarreta consequ\u00eancias perigosas. Consequ\u00eancias que eram \u00f3bvias na altura. Escrevi sobre isso e outras pessoas tamb\u00e9m o fizeram. Se se prefere a expans\u00e3o em vez da seguran\u00e7a, caminha-se para a degenera\u00e7\u00e3o interna, raiva, oposi\u00e7\u00e3o, isolamento e, possivelmente, para a destrui\u00e7\u00e3o. Ao ar tais pol\u00edticas, os Estados Unidos contribuem para as amea\u00e7as com que Israel se depara.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: O que me leva ao tema de terrorismo. Porque \u00e9 verdadeiramente uma mancha global e algumas pessoas dir\u00e3o que se trata de uma consequ\u00eancia da pol\u00edtica dos Estados Unidos em rela\u00e7\u00e3o ao terrorismo em todo o mundo. At\u00e9 que ponto os Estados Unidos e respetivos aliados s\u00e3o respons\u00e1veis pelo que assistimos neste momento, em termos de ataques terroristas em todo o mundo? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201c\u00c9 preciso lembrar que a pior campanha terrorista em todo o mundo \u00e9, de longe, a que est\u00e1 a ser orquestrada em Washington. \u00c9 a campanha global de assassinatos. Nunca houve uma campanha terrorista a essa escala.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: O que quer dizer quando se refere a campanha global de assassinatos? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cO programa de drones \u00e9 um exemplo disso. Em muitas partes do mundo, os Estados Unidos est\u00e3o a conduzir sistematicamente, publicamente, abertamente \u2013 n\u00e3o existe segredo algum sobre o que estou a dizer, todos o sabemos \u2013 campanhas para ass pessoas que o governo do Estados Unidos suspeita tentarem fazer mal a algu\u00e9m um certo dia. De facto \u00e9, como referiu, uma campanha gerada pelo terror. Quando se bombardeia uma aldeia no I\u00e9men e matamos algu\u00e9m \u2013 atingido, ou n\u00e3o, a pessoa visada e tamb\u00e9m outras pessoas de um determinado bairro \u2013 como pensa que reagir\u00e3o? Ir\u00e3o vingar-se.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Descreve os Estados Unidos como o estado terrorista conducente. Como \u00e9 que fica a Europa no meio de tudo isto? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201c\u00c9 uma boa pergunta. Recentemente, por exemplo, realizou-se um estudo. Julgo que foi feito pela Funda\u00e7\u00e3o Open Society. A pior foram de tortura \u00e9 a rendi\u00e7\u00e3o. Rendi\u00e7\u00e3o significa capturar uma pessoa sobre a qual temos suspeitas e envi\u00e1-la ao ditador favorito, talvez Assad, Khadafi ou Mubarak, para que essa pessoa seja torturada, a troco de se conseguir algum elemento. \u00c9 uma rendi\u00e7\u00e3o extraordin\u00e1ria. O estudo fala dos pa\u00edses participantes. Desde logo, naturalmente, as ditaduras do M\u00e9dio Oriente, porque foi para esses locais que se enviaram pessoas, e, depois, a Europa. Grande parte da Europa participou. Inglaterra, Su\u00e9cia, outros pa\u00edses. Na verdade, apenas h\u00e1 uma regi\u00e3o do mundo em que ningu\u00e9m participou: a Am\u00e9rica Latina. A Am\u00e9rica Latina tornou-se agora mais independente em rela\u00e7\u00e3o ao controlo dos Estados Unidos. H\u00e1 relativamente pouco tempo, quando estava sob controlo dos Estados Unidos, era o centro mundial de tortura. Agora n\u00e3o participou na pior forma de tortura, que \u00e9 a rendi\u00e7\u00e3o. A Europa participou. Se o mestre ruge, os lacaios encolhem-se.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Ent\u00e3o a Europa \u00e9 um lacaio dos Estados Unidos? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cDefinitivamente. S\u00e3o demasiado cobardes para assumir uma posi\u00e7\u00e3o independente.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Onde \u00e9 que Vladimir Putin se encaixa no meio de tudo isto? \u00c9 apontado como uma das maiores amea\u00e7as \u00e0 seguran\u00e7a. \u00c9 verdade? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cComo a maioria dos l\u00edderes, ele \u00e9 uma amea\u00e7a para o pr\u00f3prio povo. Fez a\u00e7\u00f5es ilegais, naturalmente, mas descrev\u00ea-lo como um monstro louco que sofre de doen\u00e7a cerebral e tem Alzheimer, al\u00e9m de ser uma criatura maligna, \u00e9 fanatismo ao estilo orwelliano. Quero dizer, independentemente do que se pensar das pol\u00edticas que adota, s\u00e3o compreens\u00edveis. A ideia de que a Ucr\u00e2nia pode integrar uma alian\u00e7a militar ocidental seria inaceit\u00e1vel para qualquer l\u00edder russo. Isto remonta a 1990, quando se deu o colapso da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica. Houve uma quest\u00e3o sobre o que aconteceria \u00e0 NATO. Gorbachov permitiu \u00e0 Alemanha unificar-se e integrar a NATO. Foi uma concess\u00e3o bastante not\u00e1vel com um quid pro quo: que a NATO n\u00e3o se expandisse um mil\u00edmetro para o leste. Essa foi a frase usada.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Ent\u00e3o a R\u00fassia foi alvo de provoca\u00e7\u00e3o? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cO que aconteceu? A NATO moveu-se para a Alemanha do Leste e depois Bill Clinton expandiu a NATO diretamente at\u00e9 \u00e0s fronteiras da R\u00fassia. Agora, com o novo governo ucraniano, estabelecido depois da queda do anterior, o Parlamento votou por 300 votos contra 8, ou algo assim, a ades\u00e3o \u00e0 NATO.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Mas pode perceber-se porque querem juntar-se \u00e0 NATO, porque \u00e9 que o governo de Petro Porochenko olharia para isto, provavelmente, como uma forma de proteger o pa\u00eds? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cN\u00e3o, n\u00e3o, n\u00e3o. N\u00e3o \u00e9 proteger o pa\u00eds. A Crimeia foi tomada depois da queda do governo. E isto n\u00e3o \u00e9 proteger a Ucr\u00e2nia, \u00e9 amea\u00e7ar a Ucr\u00e2nia com uma guerra maior. Isso n\u00e3o \u00e9 prote\u00e7\u00e3o. A quest\u00e3o \u00e9 que se trata de uma amea\u00e7a estrat\u00e9gica s\u00e9ria \u00e0 R\u00fassia, a que qualquer l\u00edder russo teria de reagir. Percebe-se bem.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Se olharmos, no entanto, para a situa\u00e7\u00e3o na Europa, existe tamb\u00e9m um outro fen\u00f3meno interessante que se est\u00e1 a ar. Estamos a ver a Gr\u00e9cia a mover-se para leste, potencialmente, com o Governo do Syriza. Tamb\u00e9m estamos ver o Podemos a ganhar poder em Espanha, na Hungria verifica-se o mesmo cen\u00e1rio. Considera que existe um potencial para a Europa come\u00e7ar a alinhar mais em fun\u00e7\u00e3o dos interesses russos? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cRepare no que est\u00e1 a acontecer. A Hungria tem uma situa\u00e7\u00e3o completamente diferente. O Syriza ganhou for\u00e7a na base de uma vaga popular, que disse que a Gr\u00e9cia n\u00e3o se devia sujeitar mais a pol\u00edticas de Bruxelas e aos bancos alem\u00e3es, que est\u00e3o a destruir o pa\u00eds. O efeito destas pol\u00edticas foi, na verdade, aumentar a d\u00edvida da Gr\u00e9cia em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de riqueza. Provavelmente, metade dos jovens est\u00e3o no desemprego, 40% da popula\u00e7\u00e3o vive abaixo do limiar da pobreza e Gr\u00e9cia est\u00e1 a ser destru\u00edda.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Ent\u00e3o a d\u00edvida deve ser perdoada? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cSim, como aconteceu com a Alemanha. Em 1953, a Europa perdoou grande parte da d\u00edvida alem\u00e3, de forma a que a Alemanha se pudesse reconstruir dos danos provocados pela guerra.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: E em rela\u00e7\u00e3o aos outros pa\u00edses europeus? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cDeve acontecer o mesmo.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Ent\u00e3o Portugal e Espanha devem ver a d\u00edvida perdoada? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cQuem incorreu em d\u00edvida? A quem se deve? Em parte, a d\u00edvida foi contra\u00edda por ditadores. Na Gr\u00e9cia, foi a ditadura fascista, que os Estados Unidos apoiaram, quem contraiu grande parte da d\u00edvida. Julgo que a d\u00edvida foi mais brutal do que a ditadura brutal, aquilo a que se chama no direito internacional \u201codiosa d\u00edvida\u201d, que tem de ser paga. E trata-se de um princ\u00edpio introduzido no direito internacional pelos Estados Unidos, quando lhes interessava que assim fosse. Muito do resto da d\u00edvida, o que se chama pagamentos \u00e0 Gr\u00e9cia, consiste, na verdade, em pagamentos aos bancos, alem\u00e3es e ses, que decidiram fazer empr\u00e9stimos extremamente arriscados com juros n\u00e3o muito elevados e que agora est\u00e3o a ser confrontados com o facto de poderem n\u00e3o ter o dinheiro de volta.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Gil Gribaudo, um dos nossos seguidores nas redes sociais, pergunta: Como \u00e9 que a Europa se vai transformar contra as mudan\u00e7as existenciais com que se depara? Porque se e certo que existe a crise econ\u00f3mica tamb\u00e9m \u00e9 certo que existe um recrudescimento do nacionalismo, e tamb\u00e9m descreveu algumas linhas, que falharam, que foram criadas pela Europa fora. Como \u00e9 que vemos a transforma\u00e7\u00e3o da pr\u00f3pria Europa? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cA Europa tem problemas s\u00e9rios. Alguns problemas resultam de pol\u00edticas econ\u00f3micas concebidas pelos burocratas, em Bruxelas, a Comiss\u00e3o Europeia, etc., sob press\u00e3o da NATO e dos grandes bancos, principalmente alem\u00e3es. Estas pol\u00edticas t\u00eam algum sentido do ponto de vista de quem as concebeu. Porque \u00e9 certo que querem receber de volta o dinheiro que apostaram em empr\u00e9stimos de risco e investimentos. A outra coisa \u00e9 que estas pol\u00edticas est\u00e3o a provocar a eros\u00e3o do Estado-provid\u00eancia, que nunca gostaram. Mas o Estado-provid\u00eancia \u00e9 um dos maiores contributos da Europa para a sociedade moderna. Os ricos e poderosos nunca gostaram disso e o facto de estas pol\u00edticas estarem a provocar a eros\u00e3o \u00e9 bom do ponto de vista dessas pessoas. Existe um outro problema na Europa. \u00c9 que \u00e9 extremamente racista. Sempre senti que a Europa \u00e9, provavelmente, mais racista do que os Estados Unidos. N\u00e3o era t\u00e3o vis\u00edvel na Europa porque a popula\u00e7\u00e3o europeia, no ado, tendia a ser bastante homog\u00e9nea. Se todos forem loiros e de olhos azuis, n\u00e3o se parecer\u00e1 racista, mas assim que a popula\u00e7\u00e3o come\u00e7a a mudar, o racismo come\u00e7a-se a fazer notar. Muito depressa. E isso \u00e9 um problema cultural s\u00e9rio na Europa.\u201d Isabelle Kumar, Euronews: Robert Light, outro dos nossos seguidores nas redes sociais, pergunta: O que lhe d\u00e1 esperan\u00e7a? Noam Chomsky, linguista, fil\u00f3sofo e ativista pol\u00edtico: \u201cFal\u00e1mos sobre v\u00e1rias coisas que me fazem ter esperan\u00e7a. A independ\u00eancia da Am\u00e9rica Latina, por exemplo. Tem um significado hist\u00f3rico. Nos encontros hemisf\u00e9ricos recentes, os Estados Unidos estiveram completamente isolados. \u00c9 uma mudan\u00e7a radical em rela\u00e7\u00e3o h\u00e1 10 ou 20 anos, quando os Estados Unidos dominavam [as quest\u00f5es latino-americanas]. Na verdade, a raz\u00e3o porque Obama teve certos gestos em rela\u00e7\u00e3o a Cuba foi para tentar superar o isolamento dos Estados Unidos. S\u00e3o os Estados Unidos que est\u00e3o isolados, n\u00e3o \u00e9 Cuba. E provavelmente falhar\u00e3o. Veremos. Os sinais de otimismo na Europa s\u00e3o o Syriza e o Podemos. Esperamos assistir, no fim, a um levantamento popular contra as pol\u00edticas econ\u00f3micas e sociais esmagadoras e destrutivas, que resultam da burocracia e dos bancos. Isso d\u00e1 esperan\u00e7a. Devia dar.\u201d", "dateCreated": "2015-04-17T19:15:05+02:00", "dateModified": "2015-04-17T19:15:05+02:00", "datePublished": "2015-04-17T19:15:05+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F304347%2F1440x810_304347.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Noam Chomsky \u00e9 considerado uma celebridade do mundo intelectual. 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Noam Chomsky: "A pior campanha terrorista é a que está a ser orquestrada em Washington"

Noam Chomsky: "A pior campanha terrorista é a que está a ser orquestrada em Washington"
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Noam Chomsky é considerado uma celebridade do mundo intelectual. Um autor prolífico e assumido anarquista, que aos 86 anos de idade não dá sinais de

Noam Chomsky é considerado uma celebridade do mundo intelectual. Um autor prolífico e assumido anarquista, que aos 86 anos de idade não dá sinais de querer abrandar o ritmo. É uma voz ativa na denúncia de várias injustiças, tendo com bastante frequência o Ocidente como alvo.

Quem é Noam Chomsky?

  • Avram Noam Chomsky nasceu em Filadélfia, nos Estados Unidos, a 7 de dezembro de 1928
  • Começou a trabalhar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em 1995
  • É um reputado linguista, filósofo e ativista político
  • O trabalho que desenvolveu na década de 50 revolucionou o campo da linguística
  • Destacou-se pelo ativismo contra a guerra do Vietname
  • Opõe-se às elites reinantes e é um forte crítico dos Estados Unidos e da política externa ocidental
  • É um respeitado autor, com dezenas de livros publicados

Discutimos estas e outras questões numa entrevista com o reputado linguista, filósofo e ativista político norte-americano, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos.

Isabelle Kumar, Euronews: Em 2015, o mundo parece um lugar conturbado, mas se pensarmos a nível global, sente-se otimista ou pessimista?

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político: “Estamos a caminhar, a nível global, para um precipício, no qual estamos determinados a cair, e que reduzirá nitidamente as perspetivas de uma sobrevivência decente.”

Isabelle Kumar, Euronews: Que precipício?

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político: “Na verdade existem dois precipícios. Um é a catástrofe ambiental iminente. Não temos muito tempo para lidar com isso e fazemos o percurso errado. O outro aconteceu há cerca de 70 anos, a ameaça de guerra nuclear, o que é interessante. Se fizermos uma retrospetiva é um milagre termos sobrevivido.”

Isabelle Kumar, Euronews: Falemos agora de questões ambientais. Pedimos aos nossos seguidores nas redes sociais para enviarem perguntas e recebemos imensas questões. Enea Agolli pergunta: Quando se depara com a questão ambiental e assume uma postura filosófica, o que tem a dizer em matéria de alterações climáticas?

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político: “A espécie humana existe há cerca de cem mil anos e está agora perante um momento único na história. Esta espécie está numa posição em que decidirá, brevemente, as próximas gerações, se a chamada vida inteligente vingará ou se estamos determinados a destruí-la. Os cientistas reconhecem, surpreendentemente, que a maioria dos combustíveis fósseis têm de ficar no solo se quisermos um futuro decente para os nossos netos. Mas as estruturas institucionais da nossa sociedade fazem pressão para se extrair cada gota. Os efeitos, as consequências humanas, esperados por causa das alterações climáticas, num futuro próximo, são catastróficos e caminhamos para um precipício.”

Isabelle Kumar, Euronews: Em matéria de guerra nuclear constatamos que a possibilidade do acordo iraniano pressupõe que se alcançou uma etapa preliminar. Isso dá-lhe alguma esperança sobre o cenário de se fazer do mundo um lugar mais seguro?

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político: “Sou a favor das negociações no Irão, mas são profundamente imperfeitas. Existem dois estados em tumulto no Médio Oriente que fazem agressões, recorrem à violência, atos terrotistas, atos ilegais, constantemente. Ambos têm um grande potencial nuclear. E as armas nucleares deles não estão a ser tomadas em conta.”

Isabelle Kumar, Euronews: A quem se refere concretamente?

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político: “Aos Estados Unidos e a Israel, os dois maiores estados nucleares do mundo. Existe uma razão para, nas sondagens internacionais, conduzidas por agências de sondagens norte-americanas, os Estados Unidos serem vistos como a maior ameaça à paz mundial por uma margem impressionante. Nenhum outro país chega sequer perto. De certa forma é interessante que os meios de comunicação norte-americanos tenham recusado publicar isto. Mas é um facto.”

Isabelle Kumar, Euronews: Não tem o presidente Barack Obama em grande conta. Este acordo fá-lo pensar melhor de Obama? O facto de estar a tentar reduzir a ameaça de guerra nuclear?

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político: “Na verdade, ele apenas iniciou um programa avultado de modernização do sistema de armamento nuclear dos Estados Unidos, o que significa expandir esse sistema. Essa é uma das razões pela qual o famoso Relógio do Juízo Final, estabelecido pelo Boletim dos Cientistas Atómicos, ficou, há apenas algumas semanas, dois minutos mais próximo da meia-noite. A meia-noite representa a destruição total. É o mais próximo que estamos desse ponto em três décadas, desde os primeiros anos de Reagan, quando existia um medo enorme de guerra.”

Isabelle Kumar, Euronews: Referiu os Estados Unidos e Israel a propósito do Irão. Agora o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu não quer, obviamente, que o acordo nuclear funcione e diz.

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político: “Interessante. Deveríamos perguntar porquê"> Notícias relacionadas

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