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O homem Givenchy, na cabe\u00e7a de Ricardo Tisci, confia tanto na sua sexualidade que pode brincar com os c\u00f3digos femininos e com a ambiguidade.Willy Cartier \u00e9 um ator que rasga pano negro com um cigarro e tem um sorriso cortado com a tesoura da m\u00e3e. Um manequim que viu muitos castings com os pr\u00f3prios olhos e ficou cheio de ser a ovelha negra. A m\u00e3e dan\u00e7a dentro de uma fortaleza vietnamita e senegalesa e corta-lhe as t-shirts com uma tesoura sa. O pai pinta e escreve. Pintou-lhe os tra\u00e7os e escreveu-lhe a palavra pecado, a sardas, no rosto. O manequim preferido da Givenchy aparece coberto de negro, vibrante, com uma sensualidade que desafia as leis da f\u00edsica qu\u00e2ntica. Este homem, na erelle de Ricardo Tisci, confia tanto na sua sexualidade que pode brincar com os c\u00f3digos femininos e com a normalidade.Ricardo Tisci n\u00e3o falha. 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As \u00fanicas marcas que conhecia eram a H&M, a Chanel e a Tati, uma marca sa de vestu\u00e1rio, onde uma das novas notas de 10 euros \u00e9 capaz de dar para uma camisa, para uma cal\u00e7as e ainda oferecem um par de meias. Tinha um book s\u00f3 com uma fotografia, uma fotografia da escola. Conheceu muita gente que n\u00e3o interessa ao diabo, mas \u00e9 imposs\u00edvel prejudicar qualquer lenda de Shalimar, nascida para brilhar. Por isso, chegou a hora de contar: Givenchy, Benetton, Chanel, Karl Lagerfeld, Jean Paul Gaultier, John Galliano, Guerlain e Diesel. Fora os trocos.Consegue domar cavalos ariscos. Como no editorial Wild Horses, a \u00faltima produ\u00e7\u00e3o fotogr\u00e1fica que fez, na Normandia. Consegue comunicar atrav\u00e9s de uma vibra\u00e7\u00e3o espiritual e fazer amigos entre os animais: \u201cEste cavalo est\u00e1 vivo, tem a sua pr\u00f3pria vida e eu vou entrar na vida dele, sem lhe dar nada em troca. Ent\u00e3o pensei\u2026 Vou-me aproximar, dizer-lhe \u201cOl\u00e1\u201d e faz\u00ea-lo entender que vamos ar o dia inteiro juntos e que n\u00e3o se trata apenas de mim, mas de mim e dele. Dei-lhe amor, toquei-lhe na cabe\u00e7a, no pesco\u00e7o, lavei-o e dei-lhe comida. ado uma hora tentei mont\u00e1-lo\u201d. Conseguiu e conquistou-o. Sempre lhe pareceu muito estranho ir a um casting e seguir as indica\u00e7\u00f5es para andar, para a frente e para a frente tr\u00e1s\u2026 E para n\u00e3o falar. Nem mesmo para cumprimentar. No casting da Givenchy, andou para a frente e para tr\u00e1s, chegou \u00e0 frente de Ricardo Tisci e disse-lhe \u201cOl\u00e1\u201d. Esqueceu-se que n\u00e3o era suposto falar. Pois esqueceu. J\u00e1 viram como trata os animais?Sempre viveu na capital da moda, mas achava que \u201cestas coisas\u201d s\u00f3 existiam nos Estados Unidos. Guarda as mem\u00f3rias certas de Nova Iorque, debaixo do chap\u00e9u. Um esconderijo sagrado onde s\u00f3 vivem os que lhe d\u00e3o raz\u00f5es para pensar. Willy Cartier, com 18 anos, na Big Apple durante quatro dias, para fazer a campanha da Benetton. Dezoito anos e um perfeito franc\u00eas que n\u00e3o serve para nada em Union Square. A n\u00e3o ser para quem fala ingl\u00eas ver. Tirou da cartola uma confiss\u00e3o perigosa. Envolve uma rapariga da campanha que o convidou para um copo, num bar, mas que mal se sentou come\u00e7ou a chorar. Um convite feito por gestos na linguagem universal, da vontade. Um bar, dois copos e um ataque de choro. Willy Cartier s\u00f3 sabia quatro palavras em ingl\u00eas: \u201col\u00e1\u201d, \u201csim\u201d, \u201cn\u00e3o\u201d e \u201ctalvez\u201d. J\u00e1 lhe tinha dito \u201col\u00e1\u201d. J\u00e1 lhe tinha dito \u201csim\u201d ao convite. Era imposs\u00edvel dizer \u201cn\u00e3o\u201d e virar as costas. Sem saber o que fazer e o que dizer \u201ctalvez\u201d fosse melhor cantar. Tocou-lhe no ombro e pediu ajuda \u00e0 linguagem universal, de Bob Marley:\u201d Hey\u2026 No Women, no Cry\u2026 No Women, no Cry\u2026\u201d Aprendeu a falar ingl\u00eas num ano e meio. Tamb\u00e9m fala m\u00fasica. E aquelas l\u00e1grimas ainda vivem debaixo do seu chap\u00e9u, ao lado das mem\u00f3rias certas.O primeiro show que o viu desfilar foi o de Yohji Yamamoto. Nos bastidores havia um outro show de sushi e de comida chinesa, para ele, uma prioridade bem mais interessante do que a maquilhagem ou os cabelos. Baixinho e gordinho, assim era Willy Cartier, quando era mais pequenino. Baixa os olhos em sinal de respeito \u00e0s curvas perigosas e o tom de voz, para falar melhor aos complexos: \u201cn\u00e3o tinha problemas com isso, porque eu s\u00f3 queria ser ator. E, para mim, um ator n\u00e3o tem de ser um exemplo de beleza ou um \u00edcone. S\u00f3 tem de ser um bom ator. Eu era baixo e gordo e da\u00ed? S\u00f3 queria fazer filmes e curtas metragens. Era o mais importante para mim.\u201d Depois, come\u00e7ou a dan\u00e7ar, a crescer, a emagrecer e a brilhar. Entrou em quatro curtas-metragens, a \u00faltima foi Le Devoir, de Justin Wu. A primeira aconteceu aos 16 anos. Willy Cartier tamb\u00e9m desfila nas carpetes vermelhas, com um filme premiado em Hollywood e outro apresentado em Cannes. Do you think that by having a dream, that which you do not , you\u2019re life can change? Photography by deanaladay #Paris Une photo publi\u00e9e par Willy Cartier\u2122 (willycartier) on Janv. 1, 2014 at 11:20 PSTEst\u00e1 a ficar escuro e tudo \u00e9 negro. Um par de skinny jeans, uma t-shirt rasgada e um casaco oferecido. Dois buracos negros nos olhos, a emitir radia\u00e7\u00e3o t\u00e9rmica. O cheiro de Paris na pele e as impress\u00f5es digitais gravadas nas luvas. As mem\u00f3rias certas debaixo de um chap\u00e9u. 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Willy Cartier: Um verdadeiro Cavaleiro

Willy Cartier: Um verdadeiro Cavaleiro
Direitos de autor 
De Patricia Tavares
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Editorial WILD HORSES@willycartier
DSECTION 12@dsectionmagazine
Shot by@fredlalaland
Fashion by@nelly_goncalves
Hair by@ruirocha_hairstylist

Vamos falar das estrelas que lhe puxam os cabelos até às alturas, da matéria negra que tem nos olhos e do espaço em que se move. Da radiação que emite e da gravidade da sua força. No universo da moda, os criadores giram na sua órbita e as estrelas penteiam-lhe os cabelos. Existe uma nova Lei da Gravitação Universal onde Willy Cartier é um buraco negro, ao qual ninguém consegue escapar. Uma alma selvagem montada num cavalo nervoso. Um príncipe, na lenda de Shalimar. É um cometa que não comete erros na erelle. Um corpo celeste que não anda, mas que desfila. Um manequim, pelo qual as marcas se continuam a apaixonar. É a teoria da relatividade a dançar. Um ator amoroso, com um olhar poderoso. Tem um raio cósmico pendurado ao peito, perto de um coração em alta tensão. É uma estrela, vestida de negro, que brilha depois do sol-posto. Willy Cartier tem a palavra pecado escrita nas maçãs do rosto.

É o menino bonito de Ricardo Tisci, do vulto que voltou a erguer os pilares da Maison Givenchy. O preferido de um italiano que procura olhos negros e traços latinos, desenhados por um bom coração. O escolhido de um criador que rasga pano negro e desenha sorrisos com uma tesoura. Ricardo Tisci faz os castings com os próprios olhos, cheios de matéria negra. Cresceu numa fortaleza feminina. Foi criado por oito irmãs, com a mãe a tirar a prova dos nove. O diretor criativo da Givenchy aparece coberto de negro, confiante, com uma sensualidade dura, mas romântica. O homem Givenchy, na cabeça de Ricardo Tisci, confia tanto na sua sexualidade que pode brincar com os códigos femininos e com a ambiguidade.

Willy Cartier é um ator que rasga pano negro com um cigarro e tem um sorriso cortado com a tesoura da mãe. Um manequim que viu muitos castings com os próprios olhos e ficou cheio de ser a ovelha negra. A mãe dança dentro de uma fortaleza vietnamita e senegalesa e corta-lhe as t-shirts com uma tesoura sa. O pai pinta e escreve. Pintou-lhe os traços e escreveu-lhe a palavra pecado, a sardas, no rosto. O manequim preferido da Givenchy aparece coberto de negro, vibrante, com uma sensualidade que desafia as leis da física quântica. Este homem, na erelle de Ricardo Tisci, confia tanto na sua sexualidade que pode brincar com os códigos femininos e com a normalidade.

« Para o encontrar é preciso sentir o pulso às ruas de Paris. Pode dormir em Londres, em Nova Iorque, na Tailândia ou na Índia, mas vem sempre lavar a cara nas margens do rio Sena »

Ricardo Tisci não falha. Apontou o dedo e reconheceu os rapazes portugueses à frente da revista masculina DSection, onde decidiu apresentar, em exclusivo, a coleção primavera/verão 2014. Sabe escolher, não importa onde os olhos negros, desenhados por um bom coração, se possam esconder. Willy Cartier assinou, à primeira, em frente a meia dúzia de agentes, mas ou dois meses a ouvir “muito obrigado” e a ser rejeitado. Até entrar num grande edifício, em Alma Marceau, para um casting da Givenchy, em Paris. Tisci apontou-lhe o dedo e reconheceu-o. Porque as grandes almas reconhecem-se ao espelho. Cuidado… Esta vem montada num cavalo branco.

A história de amor do imperador indiano que construiu o Taj Mahal , em memória da falecida mulher. A curta metragem promove o perfume “Shalimar”, a icónica fragrância da Guerlain, criada por Jacques Guerlain, em 1925. Willy Cartier e a modelo russa Natalia Vodianova. Índia. Música de Hans Zimmer – Chevaliers de Sangreal.

Para o encontrar é preciso sentir o pulso às ruas de Paris. Pode dormir em Londres, em Nova Iorque, na Tailândia ou na Índia, mas vem sempre lavar a cara nas margens do rio Sena. Ao dobrar a terceira esquina de Montargueil, ouve-se o barulho de armas de fogo. Deve ser ele a posar para alguma fotografia e a deixar mais uma imagem de marca. São muitas as fotos em que atira para matar, mas aguentem os cavalos, daqui só vem fogo amigo. Está armado com um sorriso. Seguindo um rasto de dinamite vê-se um chapéu, sentado de costas, a esconder as memórias certas. Seguindo um rasto de bom gosto esbarramos nas botas de Willy Cartier, nas quais acende cigarros, com fósforos mágicos. Abre-te Sésamo. Vamos entrar no mundo de um guerreiro tribal.

Tem 24 anos carimbados num aporte que já viu mundo. Há pouco mais de três anos, mal sabia ele o que era a Givenchy. As únicas marcas que conhecia eram a H&M, a Chanel e a Tati, uma marca sa de vestuário, onde uma das novas notas de 10 euros é capaz de dar para uma camisa, para uma calças e ainda oferecem um par de meias. Tinha um book só com uma fotografia, uma fotografia da escola. Conheceu muita gente que não interessa ao diabo, mas é impossível prejudicar qualquer lenda de Shalimar, nascida para brilhar. Por isso, chegou a hora de contar: Givenchy, Benetton, Chanel, Karl Lagerfeld, Jean Paul Gaultier, John Galliano, Guerlain e Diesel. Fora os trocos.

Consegue domar cavalos ariscos. Como no editorial Wild Horses, a última produção fotográfica que fez, na Normandia. Consegue comunicar através de uma vibração espiritual e fazer amigos entre os animais: “Este cavalo está vivo, tem a sua própria vida e eu vou entrar na vida dele, sem lhe dar nada em troca. Então pensei… Vou-me aproximar, dizer-lhe “Olá” e fazê-lo entender que vamos ar o dia inteiro juntos e que não se trata apenas de mim, mas de mim e dele. Dei-lhe amor, toquei-lhe na cabeça, no pescoço, lavei-o e dei-lhe comida. ado uma hora tentei montá-lo”. Conseguiu e conquistou-o. Sempre lhe pareceu muito estranho ir a um casting e seguir as indicações para andar, para a frente e para a frente trás… E para não falar. Nem mesmo para cumprimentar. No casting da Givenchy, andou para a frente e para trás, chegou à frente de Ricardo Tisci e disse-lhe “Olá”. Esqueceu-se que não era suposto falar. Pois esqueceu. Já viram como trata os animais?

Sempre viveu na capital da moda, mas achava que “estas coisas” só existiam nos Estados Unidos. Guarda as memórias certas de Nova Iorque, debaixo do chapéu. Um esconderijo sagrado onde só vivem os que lhe dão razões para pensar. Willy Cartier, com 18 anos, na Big Apple durante quatro dias, para fazer a campanha da Benetton. Dezoito anos e um perfeito francês que não serve para nada em Union Square. A não ser para quem fala inglês ver. Tirou da cartola uma confissão perigosa. Envolve uma rapariga da campanha que o convidou para um copo, num bar, mas que mal se sentou começou a chorar. Um convite feito por gestos na linguagem universal, da vontade. Um bar, dois copos e um ataque de choro. Willy Cartier só sabia quatro palavras em inglês: “olá”, “sim”, “não” e “talvez”. Já lhe tinha dito “olá”. Já lhe tinha dito “sim” ao convite. Era impossível dizer “não” e virar as costas. Sem saber o que fazer e o que dizer “talvez” fosse melhor cantar. Tocou-lhe no ombro e pediu ajuda à linguagem universal, de Bob Marley:” Hey… No Women, no Cry… No Women, no Cry…” Aprendeu a falar inglês num ano e meio. Também fala música. E aquelas lágrimas ainda vivem debaixo do seu chapéu, ao lado das memórias certas.

« Tisci apontou-lhe o dedo e reconheceu-o. Porque as grandes almas reconhecem-se ao espelho. Cuidado… Esta vem montada num cavalo branco. »

O primeiro show que o viu desfilar foi o de Yohji Yamamoto. Nos bastidores havia um outro show de sushi e de comida chinesa, para ele, uma prioridade bem mais interessante do que a maquilhagem ou os cabelos. Baixinho e gordinho, assim era Willy Cartier, quando era mais pequenino. Baixa os olhos em sinal de respeito às curvas perigosas e o tom de voz, para falar mais alto aos complexos: “não tinha problemas com isso, porque eu só queria ser ator. E, para mim, um ator não tem de ser um exemplo de beleza ou um ícone. Só tem de ser um bom ator. Eu era baixo e gordo e daí? Só queria fazer filmes e curtas metragens. Era o mais importante para mim.” Depois, começou a dançar, a crescer, a emagrecer e a brilhar. Entrou em quatro curtas-metragens, a última foi Le Devoir, de Justin Wu. A primeira aconteceu aos 16 anos. Willy Cartier também desfila nas carpetes vermelhas, com um filme premiado em Hollywood e outro apresentado em Cannes.

Do you think that by having a dream, that which you do not , you're life can change? Photography by @deanaladay #Paris

Une photo publiée par Willy Cartier™ (@willycartier) on Janv. 1, 2014 at 11:20 PST

Está a ficar escuro e tudo é negro. Um par de skinny jeans, uma t-shirt rasgada e um casaco oferecido. Dois buracos negros nos olhos, a emitir radiação térmica. O cheiro de Paris na pele e as impressões digitais gravadas nas luvas. As memórias certas debaixo de um chapéu. Nele, os clichés não sobrevivem mais de dois segundos e é preciso uma pulseira, para entrar na sua festa privada. Willy Cartier tinha uma mão dourada e outra prateada. Decidiu tirar a joalharia dourada. Disse que era demasiado. Tem um raio ao peito e está a deixar o mundo impressionado. Tem a palavra sucesso incrustada no couro preto. Chega e ouvem-se as quatro batidas do Rock and Roll. Fala e ouve-se o som de um final feliz, nuns auscultadores sem fios. Está tudo em ordem neste buraco negro. Willy Cartier continua a brilhar no escuro, mesmo sem joalharia dourada.

patriciatavares.pt
Patricia Tavares@facebook

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