{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2014/10/17/a-economia-incluindo-a-economia-de-mercado-precisa-de-um-estado-forte-jean-" }, "headline": "\u0022A economia, incluindo a economia de mercado, precisa de um Estado forte\u0022, Jean Tirole, Nobel da Economia 2014.", "description": "\u0022A economia, incluindo a economia de mercado, precisa de um Estado forte\u0022, Jean Tirole, Nobel da Economia 2014.", "articleBody": "O economista franc\u00eas, Jean Tirole, foi galardoado com o Pr\u00e9mio Nobel da Economia pelos seus contributos nas \u00e1reas de economia industrial, do poder de mercado das empresas e da regula\u00e7\u00e3o. A not\u00edcia surpreendeu o Instituto de Economia Industrial de Toulouse, do qual \u00e9 Presidente do Conselho de istra\u00e7\u00e3o.O j\u00fari da Academia Real de Ci\u00eancias, sueca, considerou-o um dos economistas mais influentes do nosso tempo e justificou a decis\u00e3o pelas \u201ccontribui\u00e7\u00f5es te\u00f3ricas importantes\u201d que Tirole fez \u201cem muitas \u00e1reas\u201d. A Euronews foi a Toulouse falar com este \u201cc\u00e9lebre desconhecido\u201d:Antoine Juillard, EuronewsPara come\u00e7ar, felicito-o por este galard\u00e3o. \u00c9 extraordin\u00e1rio para si, mas tamb\u00e9m para Fran\u00e7a. Vou come\u00e7ar por faz\u00ea-lo trabalhar um pouco: foi premiado pelo j\u00fari do Nobel, pelo seu trabalho sobre poder de mercado e regula\u00e7\u00e3o. D\u00ea-nos um exemplo, ou dois, do que isso significa para que os espetadores da euronews compreendam.Jean Tirole, Pr\u00e9mio Nobel da Economia, 2014Isso significa tornar os mercados mais eficientes, porque eles n\u00e3o podem funcionar todos de qualquer maneira. Alguns mercados n\u00e3o s\u00e3o concorrenciais, h\u00e1 dificuldades porque t\u00eam poucas empresas e h\u00e1 certos segmentos onde haver\u00e1 sempre muito poucas empresas, por exemplo, a linha de transmiss\u00e3o de energia el\u00e9trica, n\u00e3o podemos ter quinze linhas. Em Fran\u00e7a, haver\u00e1 sempre uma e, a isso chama-se poder de mercado, o que significa que as empresas podem aumentar o seu poder e os pre\u00e7os aos utilizadores. Por isso, a ideia que tivemos, em Toulouse, foi a de fazer uma investiga\u00e7\u00e3o para criar diretrizes sobre o direito da concorr\u00eancia. Isso permite-nos dizer: \u201c\u00e9 preciso vigiar essas empresas, talvez intervir, mas sem quebrar a din\u00e2mica do setor.\u201dEuronewsAtualmente, a Comiss\u00e3o Europeia est\u00e1 a estudar os or\u00e7amentos dos Pa\u00edses-membros, incluindo o de Fran\u00e7a. Esta \u00e9 a oportunidade para voltar a falar desse exerc\u00edcio, extremamente perigoso, que consiste num Estado controlar os gastos p\u00fablicos e, simultaneamente, fornecer combust\u00edvel suficiente para o desenvolvimento da sua economia, do seu crescimento.J. TiroleEm rela\u00e7\u00e3o ao or\u00e7amento de Estado, existir um d\u00e9fice, em caso de recess\u00e3o, \u00e9 normal, porque h\u00e1 menos receitas fiscais, etc\u2026 O grande problema de Fran\u00e7a \u00e9 que tinha um d\u00e9fice de 3%, mesmo quando as coisas estavam bem. N\u00e3o conseguimos equilibrar o or\u00e7amento desde 1974, h\u00e1 40 anos. E isso \u00e9 problem\u00e1tico, porque significa que, de alguma forma, vivemos do cr\u00e9dito externo. \u00c9 preciso controlar isso, mas n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil control\u00e1-lo, agora. Por isso, \u00e9 preciso fazer um esfor\u00e7o, isso \u00e9 claro, mas n\u00e3o podemos ir muito longe.EuronewsUm or\u00e7amento europeu seria o ideal para a integra\u00e7\u00e3o da Europa? Ou, para si, \u00e9 uma utopia?J. TiroleFaltou-nos uma oportunidade hist\u00f3rica para criar um or\u00e7amento europeu. \u00c9 verdade que os Estados Unidos representam uma uni\u00e3o or\u00e7amental. Isto significa que, quando um Estado est\u00e1 mal, recebe transfer\u00eancias, automaticamente, por exemplo, para os subs\u00eddios de desemprego, etc\u2026 Recebe um lote de transfer\u00eancias, automaticamente, que vem dos Estados que est\u00e3o em melhor situa\u00e7\u00e3o. Na Europa n\u00e3o funciona assim, porque o or\u00e7amento europeu \u00e9 bastante insignificante. N\u00e3o h\u00e1, praticamente, or\u00e7amento europeu, ele representa 1% do Produto Interno Bruto da Uni\u00e3o Europeia, \u00e9 muito pouco. Portanto, n\u00e3o h\u00e1 essas transfer\u00eancias autom\u00e1ticas que estabilizam os pa\u00edses. E tamb\u00e9m n\u00e3o temos uma lei \u00fanica, por exemplo, sobre o mercado de trabalho. Os Estados Unidos t\u00eam um mercado de trabalho com leis semelhantes na Calif\u00f3rnia e Nova Iorque. No sul da Europa e no norte n\u00e3o \u00e9 assim. Para que houvesse um or\u00e7amento europeu eram necess\u00e1rias leis semelhantes para o mercado de trabalho, para as fal\u00eancias, para tudo. N\u00f3s n\u00e3o o fizemos e, o que vejo hoje, \u00e9 o norte da Europa a n\u00e3o concordar em partilhar os subs\u00eddios de desemprego, os or\u00e7amentos, tudo isso, com o sul da Europa, e isso \u00e9 mau.Euronews\u00c9 um membro do Conselho de An\u00e1lise Econ\u00f3mica e d\u00e1, juntamente com os seus colegas economistas, pareceres, sobre v\u00e1rias mat\u00e9rias econ\u00f3micas, ao Primeiro-ministro franc\u00eas. Sente que foi ouvido e que os conselhos que d\u00e1 s\u00e3o postos em pr\u00e1tica?J. Tirole\u00c0s vezes sim, mas o processo \u00e9 muito lento e isso \u00e9 normal. Keynes disse: \u201cOs pol\u00edticos ouvem, muitas vezes, os economistas que j\u00e1 morreram e, nem sequer sabem o seu nome\u201d. \u00c9 um pouco exagerado, mas \u00e9 verdade que \u00e9 preciso tempo, particularmente, na esfera pol\u00edtica, quando se toca em temas sens\u00edveis. 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O Estado moderno \u00e9 um Estado que \u00e9 moderado mas, ao mesmo tempo, forte, mas n\u00e3o excessivamente. \u00c9 forte na medida em que \u00e9 capaz de fazer cumprir as regras da concorr\u00eancia, de redistribui\u00e7\u00e3o da riqueza, atrav\u00e9s dos impostos, para evitar situa\u00e7\u00f5es de monop\u00f3lio\u2026 Este \u00e9 um Estado que resiste aos lobbies e faz reformas.EuronewsGeralmente, no Ocidente, os Estados t\u00eam-se sa\u00eddo melhor.J. TiroleSaem-se melhor, obviamente, no norte da Europa do que no sul. Eu acho que n\u00f3s precisamos de seguir os exemplos desses pa\u00edses, do norte da Europa, que, como n\u00f3s, t\u00eam um modelo social que querem manter. Mas, quem fez reformas baseadas nesta nova conce\u00e7\u00e3o de Estado, s\u00e3o Estados mais eficientes e que mant\u00eam as mesmas propriedades.Euronews\u201cH\u00e1 quem comente o seu Pr\u00e9mio Nobel dizendo: \u201ceu teria preferido um Nobel \u00e0 esquerda.\u201d Sente-se de direita?J. TiroleEu tenho as minhas op\u00e7\u00f5es pol\u00edticas, mas se a minha investiga\u00e7\u00e3o fosse influenciada porque tendo para a esquerda ou para a direita, eu acho que seria um desastre. Mantenho-me, completamente, independente. Os economistas mais conhecidos partilham todos, mais ou menos, o mesmo \u201ccorpus\u201d cient\u00edfico e, por isso, raciocinamos, mais ou menos, da mesma forma, ainda que, por vezes, tenhamos pontos de vista um pouco diferentes sobre temas que s\u00e3o dif\u00edceis porque n\u00e3o sabemos tudo, obviamente. H\u00e1 um consenso sobre uma s\u00e9rie de quest\u00f5es e h\u00e1 temas que s\u00e3o, extremamente, dif\u00edceis ou criam diverg\u00eancias, mas essas diverg\u00eancias s\u00e3o resolvidas com as mesmas metodologias cient\u00edficas e isso \u00e9, de uma certa forma, a ci\u00eancia. N\u00e3o podemos ter preconceitos pol\u00edticos, ideol\u00f3gicos ou fazer-nos prisioneiros de lobbies ou da ind\u00fastria. Isso n\u00e3o \u00e9 ci\u00eancia.EuronewsSabe quantas entrevistas j\u00e1 deu, depois de receber o pr\u00e9mio?J. TiroleN\u00e3o sei, o que \u00e9 estranho, porque sou realmente um investigador. Veja o meu escrit\u00f3rio, \u00e9 aqui que gosto de viver. E de repente, de um quarto em um quarto de hora, est\u00e3o a telefonar-me, estou na televis\u00e3o. Eu n\u00e3o costumava fazer isso, n\u00e3o sou nada bom a faz\u00ea-lo. \u00c9 uma nova vida que sei que vai durar dois a tr\u00eas meses. Depois penso que vai acalmar e eu vou voltar \u00e0 investiga\u00e7\u00e3o, aqui.EuronewsSe n\u00e3o for indiscri\u00e7\u00e3o, o que vai fazer com os 878 mil euros do pr\u00e9mio?J. Tirole\u00c9 uma quantia enorme e, sinceramente, n\u00e3o sei o que vou fazer. Foi tudo uma surpresa. Fiquei muito surpreendido ao receber o telefonema e \u00e9 verdade que \u00e9 raro que um economista ganhe sozinho. Sinto-me, realmente, honrado porque \u00e9 enorme\u2026 como se diz hoje em dia.EuronewsMas ainda n\u00e3o pensou nisso.J. TiroleBem, ainda vai demorar alguns meses para receb\u00ea-lo. 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"A economia, incluindo a economia de mercado, precisa de um Estado forte", Jean Tirole, Nobel da Economia 2014.

"A economia, incluindo a economia de mercado, precisa de um Estado forte", Jean Tirole, Nobel da Economia 2014.
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O economista francês, Jean Tirole, foi galardoado com o Prémio Nobel da Economia pelos seus contributos nas áreas de economia industrial, do poder de mercado das empresas e da regulação. A notícia surpreendeu o Instituto de Economia Industrial de Toulouse, do qual é Presidente do Conselho de istração.

O júri da Academia Real de Ciências, sueca, considerou-o um dos economistas mais influentes do nosso tempo e justificou a decisão pelas “contribuições teóricas importantes” que Tirole fez “em muitas áreas”. A Euronews foi a Toulouse falar com este “célebre desconhecido”:

Antoine Juillard, Euronews

Para começar, felicito-o por este galardão. É extraordinário para si, mas também para França. Vou começar por fazê-lo trabalhar um pouco: foi premiado pelo júri do Nobel, pelo seu trabalho sobre poder de mercado e regulação. Dê-nos um exemplo, ou dois, do que isso significa para que os espetadores da euronews compreendam.

Jean Tirole, Prémio Nobel da Economia, 2014

Isso significa tornar os mercados mais eficientes, porque eles não podem funcionar todos de qualquer maneira. Alguns mercados não são concorrenciais, há dificuldades porque têm poucas empresas e há certos segmentos onde haverá sempre muito poucas empresas, por exemplo, a linha de transmissão de energia elétrica, não podemos ter quinze linhas. Em França, haverá sempre uma e, a isso chama-se poder de mercado, o que significa que as empresas podem aumentar o seu poder e os preços aos utilizadores. Por isso, a ideia que tivemos, em Toulouse, foi a de fazer uma investigação para criar diretrizes sobre o direito da concorrência. Isso permite-nos dizer: “é preciso vigiar essas empresas, talvez intervir, mas sem quebrar a dinâmica do setor.”

Euronews

Atualmente, a Comissão Europeia está a estudar os orçamentos dos Países-membros, incluindo o de França. Esta é a oportunidade para voltar a falar desse exercício, extremamente perigoso, que consiste num Estado controlar os gastos públicos e, simultaneamente, fornecer combustível suficiente para o desenvolvimento da sua economia, do seu crescimento.

J. Tirole

Em relação ao orçamento de Estado, existir um défice, em caso de recessão, é normal, porque há menos receitas fiscais, etc… O grande problema de França é que tinha um défice de 3%, mesmo quando as coisas estavam bem. Não conseguimos equilibrar o orçamento desde 1974, há 40 anos. E isso é problemático, porque significa que, de alguma forma, vivemos do crédito externo. É preciso controlar isso, mas não é fácil controlá-lo, agora. Por isso, é preciso fazer um esforço, isso é claro, mas não podemos ir muito longe.

Euronews

Um orçamento europeu seria o ideal para a integração da Europa? Ou, para si, é uma utopia?

J. Tirole

Faltou-nos uma oportunidade histórica para criar um orçamento europeu. É verdade que os Estados Unidos representam uma união orçamental. Isto significa que, quando um Estado está mal, recebe transferências, automaticamente, por exemplo, para os subsídios de desemprego, etc… Recebe um lote de transferências, automaticamente, que vem dos Estados que estão em melhor situação. Na Europa não funciona assim, porque o orçamento europeu é bastante insignificante. Não há, praticamente, orçamento europeu, ele representa 1% do Produto Interno Bruto da União Europeia, é muito pouco. Portanto, não há essas transferências automáticas que estabilizam os países. E também não temos uma lei única, por exemplo, sobre o mercado de trabalho. Os Estados Unidos têm um mercado de trabalho com leis semelhantes na Califórnia e Nova Iorque. No sul da Europa e no norte não é assim. Para que houvesse um orçamento europeu eram necessárias leis semelhantes para o mercado de trabalho, para as falências, para tudo. Nós não o fizemos e, o que vejo hoje, é o norte da Europa a não concordar em partilhar os subsídios de desemprego, os orçamentos, tudo isso, com o sul da Europa, e isso é mau.

Euronews

É um membro do Conselho de Análise Económica e dá, juntamente com os seus colegas economistas, pareceres, sobre várias matérias económicas, ao Primeiro-ministro francês. Sente que foi ouvido e que os conselhos que dá são postos em prática?

J. Tirole

Às vezes sim, mas o processo é muito lento e isso é normal. Keynes disse: “Os políticos ouvem, muitas vezes, os economistas que já morreram e, nem sequer sabem o seu nome”. É um pouco exagerado, mas é verdade que é preciso tempo, particularmente, na esfera política, quando se toca em temas sensíveis. Por exemplo, a reforma do mercado de trabalho, que cria uma série de preocupações, o que é normal para muitas pessoas. Portanto, o que é que vai acontecer… é difícil pôr mãos à obra… é difícil para um político que tem de lidar com a opinião pública… é o seu trabalho. Obviamente, que as coisas acontecem mais, rapidamente, quando se tem influência sobre as entidades reguladoras, as autoridades da regulamentação ou o direito da concorrência e a Autoridade da Concorrência, em Bruxelas ou Washington.

Euronews

Assistimos, hoje, à emergência da economia nos média, em relação à política. Pensa que a governação de um Estado será feita, apenas, em torno da economia, no futuro?

J. Tirole

A economia, incluindo a economia de mercado, precisa de um Estado forte. O Estado moderno é um Estado que é moderado mas, ao mesmo tempo, forte, mas não excessivamente. É forte na medida em que é capaz de fazer cumprir as regras da concorrência, de redistribuição da riqueza, através dos impostos, para evitar situações de monopólio… Este é um Estado que resiste aos lobbies e faz reformas.

Euronews

Geralmente, no Ocidente, os Estados têm-se saído melhor.

J. Tirole

Saem-se melhor, obviamente, no norte da Europa do que no sul. Eu acho que nós precisamos de seguir os exemplos desses países, do norte da Europa, que, como nós, têm um modelo social que querem manter. Mas, quem fez reformas baseadas nesta nova conceção de Estado, são Estados mais eficientes e que mantêm as mesmas propriedades.

Euronews

“Há quem comente o seu Prémio Nobel dizendo: “eu teria preferido um Nobel à esquerda.” Sente-se de direita?

J. Tirole

Eu tenho as minhas opções políticas, mas se a minha investigação fosse influenciada porque tendo para a esquerda ou para a direita, eu acho que seria um desastre. Mantenho-me, completamente, independente. Os economistas mais conhecidos partilham todos, mais ou menos, o mesmo “corpus” científico e, por isso, raciocinamos, mais ou menos, da mesma forma, ainda que, por vezes, tenhamos pontos de vista um pouco diferentes sobre temas que são difíceis porque não sabemos tudo, obviamente. Há um consenso sobre uma série de questões e há temas que são, extremamente, difíceis ou criam divergências, mas essas divergências são resolvidas com as mesmas metodologias científicas e isso é, de uma certa forma, a ciência. Não podemos ter preconceitos políticos, ideológicos ou fazer-nos prisioneiros de lobbies ou da indústria. Isso não é ciência.

Euronews

Sabe quantas entrevistas já deu, depois de receber o prémio?

J. Tirole

Não sei, o que é estranho, porque sou realmente um investigador. Veja o meu escritório, é aqui que gosto de viver. E de repente, de um quarto em um quarto de hora, estão a telefonar-me, estou na televisão. Eu não costumava fazer isso, não sou nada bom a fazê-lo. É uma nova vida que sei que vai durar dois a três meses. Depois penso que vai acalmar e eu vou voltar à investigação, aqui.

Euronews

Se não for indiscrição, o que vai fazer com os 878 mil euros do prémio?

J. Tirole

É uma quantia enorme e, sinceramente, não sei o que vou fazer. Foi tudo uma surpresa. Fiquei muito surpreendido ao receber o telefonema e é verdade que é raro que um economista ganhe sozinho. Sinto-me, realmente, honrado porque é enorme… como se diz hoje em dia.

Euronews

Mas ainda não pensou nisso.

J. Tirole

Bem, ainda vai demorar alguns meses para recebê-lo. Depois de voltar de Estocolmo acordarei, um pouco, do meu sonho.

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