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Contrastes abordados pela euronews com o Presidente Armando Guebuza, durante a cimeira UE-\u00c1frica, em Bruxelas.Isabel Marques da Silva/euronews (IMS/euronews): \u201cEsta cimeira Uni\u00e3o Europeia-\u00c1frica quer ar de um modelo de ajuda para um modelo de investimento e com\u00e9rcio, nomeadamente com o setor privado. No que \u00e9 que isso se vai traduzir?\u201dArmando Guebuza/Presidente de Mo\u00e7ambique (AG/Presidente de Mo\u00e7ambique): \u201cUm dos nossos setores tradicionais \u00e9 o da agricultura, onde a produtividade est\u00e1 a aumentar. Isso j\u00e1 \u00e9 um o importante e gera a necessidade de criar agroind\u00fastria. Isso gera, ainda com mais acuidade, a necessidade de termos infraestruturas para poder alimentar esses processos. E tamb\u00e9m h\u00e1 o turismo. \u00c1frica \u00e9 um centro tur\u00edstico importante, n\u00e3o s\u00f3 pelas praias, mas sobretudo pela natureza, pela fauna bravia, etc\u201d. IMS/euronews: \u201cE qual seria o papel dos europeus, nomeadamente nesta nova pareceria de com\u00e9rcio e investimento? Qual \u00e9 o modelo que seria desej\u00e1vel para otimizar esse crescimento?\u201dAG/Presidente de Mo\u00e7ambique: \u201cO que a Europa pode e deve continuar a fazer \u00e9 apoiar-nos, sobretudo, nas infraestruturas, na forma\u00e7\u00e3o e no combate \u00e0s doen\u00e7as perigosas. Em Mo\u00e7ambique est\u00e1-se a trabalhar, numa fase ainda pouco avan\u00e7ada, na pesquisa da vacina contra a c\u00f3lera para as crian\u00e7as. A m\u00e3o da Europa tem sido muito forte no apoio \u00e0 cria\u00e7\u00e3o das institui\u00e7\u00f5es. Mo\u00e7ambique tem hoje mais de 40 institui\u00e7\u00f5es de ensino superior distribu\u00eddas por todas as prov\u00edncias\u201d.IMS/euronews: \u201cO facto \u00e9 que a taxa de pobreza n\u00e3o tem decrescido como seria de esperar. Metade da popula\u00e7\u00e3o ainda vive na pobreza. Os transportes, o o \u00e0 \u00e1gua e \u00e0 eletricidade \u00e9 algo para a elite. Ora se h\u00e1 mais dinheiro dispon\u00edvel, porque \u00e9 que n\u00e3o h\u00e1 mais servi\u00e7os?\u201dAG/Presidente de Mo\u00e7ambique: \u201cA atitude das pessoas n\u00e3o muda s\u00f3 porque houve um crescimento repentino de 10% ou 15%. A distribui\u00e7\u00e3o de riqueza n\u00e3o se faz em termos aritm\u00e9ticos nem matem\u00e1ticos, faz-se criando empregos, hospitais, infraestruturas, etc. Cada uma dessas coisas leva muito tempo a construir. Apesar do crescimento que \u00c1frica est\u00e1 tendo, ainda necessita, por exemplo, para fazer uma estrada asfaltada de 100 ou 200 quil\u00f3metros, de grandes investimentos que n\u00e3o est\u00e3o a seu dispor. Mesmo na Europa e noutros pa\u00edses desenvolvidos a crise tem a ver com falta de emprego. N\u00e3o pode dizer-se que \u00e9 falta de dinheiro, de recursos! Tem os recursos mas n\u00e3o a ponto de absorver toda a m\u00e3o-de-obra. N\u00f3s, que estamos a come\u00e7ar a crescer, obviamente n\u00e3o podemos ver de um ano para o outro esse desenvolvimento\u201d.IMS/euronews: \u201cVemos tamb\u00e9m uma grande onda migrat\u00f3ria vinda de \u00c1frica, apesar da ideia de que a Europa \u00e9 uma fortaleza. Muitas pessoas ainda morrem no caminho para a Europa e h\u00e1 muitas redes de tr\u00e1fico de seres humanos. Como pensa que deve ser resolvido esse problema?\u201dAG/Presidente de Mo\u00e7ambique: \u201cO problema \u00e9 socioecon\u00f3mico. O que se deve fazer \u00e9 criar mais empregos, investir no melhoramento das condi\u00e7\u00f5es de vida, continuar o refor\u00e7o na forma\u00e7\u00e3o t\u00e9cnico-profissional, na forma\u00e7\u00e3o universit\u00e1ria e nas infraestruturas. Isso vai travar as pessoas de sa\u00edrem de \u00c1frica para a Europa ou para qualquer outro continente \u00e0 procura de melhores condi\u00e7\u00f5es de vida\u201d.IMS/euronews: \u201cVoltando \u00e0 quest\u00e3o dos recursos naturais como uma fonte de riqueza. Mo\u00e7ambique \u00e9 muitas vezes apontado como um novo \u201cEldorado\u201d devido \u00e0s recentes descobertas energ\u00e9ticas. Mas essa \u201cb\u00ean\u00e7\u00e3o\u201d transforma-se, em muitos pa\u00edses, num \u201resente envenenado\u201d que leva \u00e0 escalada da corrup\u00e7\u00e3o, mais conflitos armados, devasta\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica. Como \u00e9 que Mo\u00e7ambique e outros pa\u00edses que fazem estas descobertas podem evitar esse cen\u00e1rio? E podem as parcerias com os europeus ajudar a evit\u00e1-lo?\u201dAG/Presidente de Mo\u00e7ambique: \u201cO problema dessas descobertas de recursos mostra, na ess\u00eancia, que temos insufici\u00eancias grandes na \u00e1rea do conhecimento, tecnologia e ci\u00eancia porque j\u00e1 as dever\u00edamos ter descoberto antes. Tamb\u00e9m temos grandes defici\u00eancias no o ao capital porque j\u00e1 poder\u00edamos ter feito uso dele h\u00e1 mais tempo. O que temos de fazer agora \u00e9 usar essas descobertas \u2013 apoiados em investimentos da Europa -, para criar mais recursos que possamos investir. O que se ganhar em termos de impostos e oportunidades de neg\u00f3cio deve ser utilizado para enriquecer o or\u00e7amento\u201d.IMS/euronews: \u201cQueria falar agora sobre a paz no continente africano. A UE \u00e9 um dos maiores contribuintes para miss\u00f5es de pacifica\u00e7\u00e3o, de que s\u00e3o exemplo recente a Rep\u00fablica Centro-Africana e o Mali. Ao longo de 10 anos foram transferidos 1200 milh\u00f5es de euros para a chamada \u201cFacilidade de Apoio \u00e0 Paz\u201d em \u00c1frica, mas o continente parece incapaz de prevenir e de resolver os conflitos armados\u201d.AG/Presidente de Mo\u00e7ambique: \u201cA \u00c1frica tem consci\u00eancia de que h\u00e1 problemas, a \u00c1frica move-se quando h\u00e1 problemas e tenta antecipar e prevenir os problemas que surgem mas, obviamente, trata-se de quest\u00f5es humanas ligadas a problemas socioecon\u00f3micos e culturais, ligadas a conflitos seculares entre certos setores da popula\u00e7\u00e3o. N\u00e3o se resolvem porque se d\u00e1 mais um bili\u00e3o de d\u00f3lares!\u201dIMS/euronews: \u201cMas estas miss\u00f5es s\u00e3o \u00fateis?\u201dAG/Presidente de Mo\u00e7ambique: \u201cFazem parte da solu\u00e7\u00e3o, mas n\u00e3o s\u00e3o a solu\u00e7\u00e3o. Sim, precisamos de continuar a ter o apoio da Europa. 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A Europa não tem uma "varinha mágica" para África, diz Presidente de Moçambique

A Europa não tem uma "varinha mágica" para África, diz Presidente de Moçambique
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Em Moçambique, o ritmo de crescimento anual tem rondado os 8% nos últimos anos, em parte devido à descoberta de reservas energéticas. Porém, metade dos 25 milhões de habitantes vive na pobreza. Contrastes abordados pela euronews com o Presidente Armando Guebuza, durante a cimeira UE-África, em Bruxelas.

Isabel Marques da Silva/euronews (IMS/euronews): “Esta cimeira União Europeia-África quer ar de um modelo de ajuda para um modelo de investimento e comércio, nomeadamente com o setor privado. No que é que isso se vai traduzir?”

Armando Guebuza/Presidente de Moçambique (AG/Presidente de Moçambique): “Um dos nossos setores tradicionais é o da agricultura, onde a produtividade está a aumentar. Isso já é um o importante e gera a necessidade de criar agroindústria. Isso gera, ainda com mais acuidade, a necessidade de termos infraestruturas para poder alimentar esses processos. E também há o turismo. África é um centro turístico importante, não só pelas praias, mas sobretudo pela natureza, pela fauna bravia, etc”.

IMS/euronews: “E qual seria o papel dos europeus, nomeadamente nesta nova pareceria de comércio e investimento? Qual é o modelo que seria desejável para otimizar esse crescimento?”

AG/Presidente de Moçambique: “O que a Europa pode e deve continuar a fazer é apoiar-nos, sobretudo, nas infraestruturas, na formação e no combate às doenças perigosas. Em Moçambique está-se a trabalhar, numa fase ainda pouco avançada, na pesquisa da vacina contra a cólera para as crianças. A mão da Europa tem sido muito forte no apoio à criação das instituições. Moçambique tem hoje mais de 40 instituições de ensino superior distribuídas por todas as províncias”.

IMS/euronews: “O facto é que a taxa de pobreza não tem decrescido como seria de esperar. Metade da população ainda vive na pobreza. Os transportes, o o à água e à eletricidade é algo para a elite. Ora se há mais dinheiro disponível, porque é que não há mais serviços?”

AG/Presidente de Moçambique: “A atitude das pessoas não muda só porque houve um crescimento repentino de 10% ou 15%. A distribuição de riqueza não se faz em termos aritméticos nem matemáticos, faz-se criando empregos, hospitais, infraestruturas, etc. Cada uma dessas coisas leva muito tempo a construir. Apesar do crescimento que África está tendo, ainda necessita, por exemplo, para fazer uma estrada asfaltada de 100 ou 200 quilómetros, de grandes investimentos que não estão a seu dispor. Mesmo na Europa e noutros países desenvolvidos a crise tem a ver com falta de emprego. Não pode dizer-se que é falta de dinheiro, de recursos! Tem os recursos mas não a ponto de absorver toda a mão-de-obra. Nós, que estamos a começar a crescer, obviamente não podemos ver de um ano para o outro esse desenvolvimento”.

IMS/euronews: “Vemos também uma grande onda migratória vinda de África, apesar da ideia de que a Europa é uma fortaleza. Muitas pessoas ainda morrem no caminho para a Europa e há muitas redes de tráfico de seres humanos. Como pensa que deve ser resolvido esse problema?”

AG/Presidente de Moçambique: “O problema é socioeconómico. O que se deve fazer é criar mais empregos, investir no melhoramento das condições de vida, continuar o reforço na formação técnico-profissional, na formação universitária e nas infraestruturas. Isso vai travar as pessoas de saírem de África para a Europa ou para qualquer outro continente à procura de melhores condições de vida”.

IMS/euronews: “Voltando à questão dos recursos naturais como uma fonte de riqueza. Moçambique é muitas vezes apontado como um novo “Eldorado” devido às recentes descobertas energéticas. Mas essa “bênção” transforma-se, em muitos países, num “presente envenenado” que leva à escalada da corrupção, mais conflitos armados, devastação ecológica. Como é que Moçambique e outros países que fazem estas descobertas podem evitar esse cenário? E podem as parcerias com os europeus ajudar a evitá-lo?”

AG/Presidente de Moçambique: “O problema dessas descobertas de recursos mostra, na essência, que temos insuficiências grandes na área do conhecimento, tecnologia e ciência porque já as deveríamos ter descoberto antes. Também temos grandes deficiências no o ao capital porque já poderíamos ter feito uso dele há mais tempo. O que temos de fazer agora é usar essas descobertas – apoiados em investimentos da Europa -, para criar mais recursos que possamos investir. O que se ganhar em termos de impostos e oportunidades de negócio deve ser utilizado para enriquecer o orçamento”.

IMS/euronews: “Queria falar agora sobre a paz no continente africano. A UE é um dos maiores contribuintes para missões de pacificação, de que são exemplo recente a República Centro-Africana e o Mali. Ao longo de 10 anos foram transferidos 1200 milhões de euros para a chamada “Facilidade de Apoio à Paz” em África, mas o continente parece incapaz de prevenir e de resolver os conflitos armados”.

AG/Presidente de Moçambique: “A África tem consciência de que há problemas, a África move-se quando há problemas e tenta antecipar e prevenir os problemas que surgem mas, obviamente, trata-se de questões humanas ligadas a problemas socioeconómicos e culturais, ligadas a conflitos seculares entre certos setores da população. Não se resolvem porque se dá mais um bilião de dólares!”

IMS/euronews: “Mas estas missões são úteis?”

AG/Presidente de Moçambique: “Fazem parte da solução, mas não são a solução. Sim, precisamos de continuar a ter o apoio da Europa. Mas não pensemos que o apoio da Europa é uma varinha mágica que resolve todos os problemas! Oxalá fosse!”

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