{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2013/10/04/a-europa-nao-deve-ser-um-lugar-de-muros-altos-e-morte" }, "headline": "A Europa n\u00e3o deve ser um \u0022lugar de muros altos e morte\u0022", "description": "A Europa n\u00e3o deve ser um \u0022lugar de muros altos e morte\u0022", "articleBody": "A problem\u00e1tica da imigra\u00e7\u00e3o clandestina n\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o nova, nem sequer recente. Mas a trag\u00e9dia ao largo da ilha italiana de Lampedusa chama a aten\u00e7\u00e3o para os vastos milhares que tentam, quase sempre com meios bastante prec\u00e1rios, atravessar o Mediterr\u00e2neo para chegar \u00e0 Europa, na esperan\u00e7a de uma vida melhor.Segundo a rede de associa\u00e7\u00f5es e peritos Migreurop, as v\u00e1rias centenas de v\u00edtimas mortais no naufr\u00e1gio desta quinta-feira v\u00eam juntar-se \u00e0 longa lista de seis mil mortos, nas \u00faltimas duas d\u00e9cadas, na perigosa travessia pelo mar em dire\u00e7\u00e3o, nomeadamente, de Lampedusa, da Sic\u00edlia, de Malta ou da costa espanhola.Um balan\u00e7o que n\u00e3o toma em considera\u00e7\u00e3o os que desaparecem sem deixar rasto, nem o futuro frequentemente negro daqueles que conseguem chegar \u00e0 Europa.2011 marcou um pico na imigra\u00e7\u00e3o clandestina, coincidindo com a \u201rimavera \u00c1rabe\u201d e a interven\u00e7\u00e3o militar na L\u00edbia.Para analisar poss\u00edveis respostas \u00e0 trag\u00e9dia dos migrantes que morrem \u00e0s portas da Europa, a euronews convidou Philip Amaral, do Servi\u00e7o Jesu\u00edta aos Refugiados na Europa, para uma entrevista na delega\u00e7\u00e3o de Bruxelas, conduzida por Margherita Sforza.Margherita Sforza/euronews (MS/euronews): \u201cA It\u00e1lia est\u00e1 de luto hoje por causa desta trag\u00e9dia. Como os mais afetados s\u00e3o as popula\u00e7\u00f5es locais, alguns cidad\u00e3os italianos prop\u00f5em que o povo de Lampedusa seja nomeado para o Pr\u00e9mio Nobel da Paz. Pode ser visto como uma provoca\u00e7\u00e3o, mas n\u00e3o estar\u00e1 o povo de Lampedusa realmente sozinho, com o resto da Europa a olhar de longe?\u201dPhilip Amaral/Servi\u00e7o Jesu\u00edta aos Refugiados (PA/SJR): \u201cInfelizmente Lampedusa n\u00e3o est\u00e1 sozinha. Recebeu centenas de migrantes por mar ao longo de todo o ano. Malta fez o mesmo e temos igualmente grandes fluxos de refugiados e requerentes de asilo na Europa atrav\u00e9s dos Balc\u00e3s Ocidentais. A Europa est\u00e1 a virar costas na medida em que n\u00e3o desenvolveu uma resposta que assegure a chegada destas pessoas em seguran\u00e7a, de forma a pedirem o estatuto de refugiado de uma maneira que respeite os direitos humanos fundamentais e a dignidade\u201d.MS/euronews: \u201cH\u00e1 uma organiza\u00e7\u00e3o europeia que tem como miss\u00e3o controlar as fronteiras chamada Frontex. Porque n\u00e3o estava l\u00e1?\u201dPA/SJR: \u201enso que essa \u00e9 a grande lacuna da pol\u00edtica europeia. A Frontex tem um papel importante na coordena\u00e7\u00e3o das opera\u00e7\u00f5es nas fronteiras dos Estados-membros, mas quando h\u00e1 um barco no mar, ainda h\u00e1 confus\u00e3o sobre qual \u00e9 o pa\u00eds que resgata o barco. Assistimos a isso nos \u00faltimos anos, com exemplos do governo de It\u00e1lia a discutir com o de Malta sobre quem deve resgatar o barco no mar. Algumas embarca\u00e7\u00f5es n\u00e3o podem aportar durante semanas . O mar Mediterr\u00e2neo \u00e9 altamente vigiado, recorrendo a sat\u00e9lites e in\u00fameros barcos de guerra, por isso n\u00e3o h\u00e1 nenhuma desculpa para os governos europeus n\u00e3o controlarem a situa\u00e7\u00e3o. Agora chegou-se \u00e0 conclus\u00e3o a n\u00edvel europeu que deve haver um procedimento claro quando um barco est\u00e1 em perigo para que seja feito o resgate o mais rapidamente poss\u00edvel e se evitem trag\u00e9dias como esta\u201d.MS/euronews: \u201cH\u00e1 uma nova ag\u00eancia europeia sedeada em Malta para lidar com os requerentes de asilo e tamb\u00e9m h\u00e1 um novo sistema europeu para esse efeito. Est\u00e1 a funcionar?\u201dPA/SJR: \u201cH\u00e1 um sistema de asilo comum no papel e que foi adotado este ano. Mas \u00e9 s\u00f3 no papel e n\u00e3o na pr\u00e1tica. O que temos visto na Europa \u00e9 que procurar asilo \u00e9 como jogar na lotaria. Se a pessoa vier do Afeganist\u00e3o e chegar \u00e0 Gr\u00e9cia, tem cerca de 6 ou 7% de hip\u00f3teses de ser aceite como refugiado. Mas se esse mesmo afeg\u00e3o chegar \u00e0 It\u00e1lia j\u00e1 ter\u00e1 mais de 90 % de hip\u00f3teses de ser aceite. \u00c9 um jogo desigual e que explica o problema do sistema de asilo na Europa\u201d.MS/euronews: \u201cO novo sistema de asilo n\u00e3o mudou em nada a situa\u00e7\u00e3o?\u201dPA/SJR: \u201cAt\u00e9 ao momento, n\u00e3o. H\u00e1 melhorias no papel em termos de legisla\u00e7\u00e3o, mas a grande responsabilidade cabe aos governos dos Estados-membros, que t\u00eam de aplicar a lei de maniera a respeitar a dignidade humana\u201d.MS/euronews: \u201ensa que tamb\u00e9m se deve atuar nos pa\u00edses de origem dos migrantes? Sabemos que existem organiza\u00e7\u00f5es criminosas a operar estes barcos. Pensa que deve atuar-se tamb\u00e9m a esse n\u00edvel?\u201dPA/SJR: \u201cNaturalmente penso que uma consequ\u00eancia de n\u00e3o existerem meios legais seguros para os refugiados pedirem asilo na Europa \u00e9 que as pessoas t\u00eam que confiar nas redes criminosas de traficantes de seres humanos. E, certamente, a UE tem de fazer mais para combater essas redes e apresent\u00e1-las \u00e0 justi\u00e7a. Mas \u00e9 tamb\u00e9m preciso criar um corredor humano que permitir chegar \u00e0 Europa de forma legal e que garanta seguran\u00e7a \u00e0s pessoas\u201d.MS/euronews: \u201ara terminar, o que \u00e9 que esta trag\u00e9dia nos diz sobre a civiliza\u00e7\u00e3o europ\u00e9ia? Para onde caminhamos?\u201dPA/SJR: \u201cEsta trag\u00e9dia diz-nos que h\u00e1 uma verdadeira falta de lideran\u00e7a. \u00c9 nossa responsabilidade como europeus certificarmo-nos que nossas portas est\u00e3o abertas e que podemos dar um exemplo para o mundo. As pessoas devem ver a Europa como um lugar de seguran\u00e7a e n\u00e3o de fronteiras, muros altos e morte\u201d.", "dateCreated": "2013-10-04T17:26:19+02:00", "dateModified": "2013-10-04T17:26:19+02:00", "datePublished": "2013-10-04T17:26:19+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F241112%2F1440x810_241112.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "A Europa n\u00e3o deve ser um \u0022lugar de muros altos e morte\u0022", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F241112%2F432x243_241112.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

A Europa não deve ser um "lugar de muros altos e morte"

A Europa não deve ser um "lugar de muros altos e morte"
Direitos de autor 
De Euronews
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
PUBLICIDADE

A problemática da imigração clandestina não é uma questão nova, nem sequer recente. Mas a tragédia ao largo da ilha italiana de Lampedusa chama a atenção para os vastos milhares que tentam, quase sempre com meios bastante precários, atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa, na esperança de uma vida melhor.

Segundo a rede de associações e peritos Migreurop, as várias centenas de vítimas mortais no naufrágio desta quinta-feira vêm juntar-se à longa lista de seis mil mortos, nas últimas duas décadas, na perigosa travessia pelo mar em direção, nomeadamente, de Lampedusa, da Sicília, de Malta ou da costa espanhola.

Um balanço que não toma em consideração os que desaparecem sem deixar rasto, nem o futuro frequentemente negro daqueles que conseguem chegar à Europa.

2011 marcou um pico na imigração clandestina, coincidindo com a “Primavera Árabe” e a intervenção militar na Líbia.

Para analisar possíveis respostas à tragédia dos migrantes que morrem às portas da Europa, a euronews convidou Philip Amaral, do Serviço Jesuíta aos Refugiados na Europa, para uma entrevista na delegação de Bruxelas, conduzida por Margherita Sforza.

Margherita Sforza/euronews (MS/euronews): “A Itália está de luto hoje por causa desta tragédia. Como os mais afetados são as populações locais, alguns cidadãos italianos propõem que o povo de Lampedusa seja nomeado para o Prémio Nobel da Paz. Pode ser visto como uma provocação, mas não estará o povo de Lampedusa realmente sozinho, com o resto da Europa a olhar de longe?”

Philip Amaral/Serviço Jesuíta aos Refugiados (PA/SJR): “Infelizmente Lampedusa não está sozinha. Recebeu centenas de migrantes por mar ao longo de todo o ano. Malta fez o mesmo e temos igualmente grandes fluxos de refugiados e requerentes de asilo na Europa através dos Balcãs Ocidentais. A Europa está a virar costas na medida em que não desenvolveu uma resposta que assegure a chegada destas pessoas em segurança, de forma a pedirem o estatuto de refugiado de uma maneira que respeite os direitos humanos fundamentais e a dignidade”.

MS/euronews: “Há uma organização europeia que tem como missão controlar as fronteiras chamada Frontex. Porque não estava lá?”

PA/SJR: “Penso que essa é a grande lacuna da política europeia. A Frontex tem um papel importante na coordenação das operações nas fronteiras dos Estados-membros, mas quando há um barco no mar, ainda há confusão sobre qual é o país que resgata o barco. Assistimos a isso nos últimos anos, com exemplos do governo de Itália a discutir com o de Malta sobre quem deve resgatar o barco no mar. Algumas embarcações não podem aportar durante semanas . O mar Mediterrâneo é altamente vigiado, recorrendo a satélites e inúmeros barcos de guerra, por isso não há nenhuma desculpa para os governos europeus não controlarem a situação. Agora chegou-se à conclusão a nível europeu que deve haver um procedimento claro quando um barco está em perigo para que seja feito o resgate o mais rapidamente possível e se evitem tragédias como esta”.

MS/euronews: “Há uma nova agência europeia sedeada em Malta para lidar com os requerentes de asilo e também há um novo sistema europeu para esse efeito. Está a funcionar?”

PA/SJR: “Há um sistema de asilo comum no papel e que foi adotado este ano. Mas é só no papel e não na prática. O que temos visto na Europa é que procurar asilo é como jogar na lotaria. Se a pessoa vier do Afeganistão e chegar à Grécia, tem cerca de 6 ou 7% de hipóteses de ser aceite como refugiado. Mas se esse mesmo afegão chegar à Itália já terá mais de 90 % de hipóteses de ser aceite. É um jogo desigual e que explica o problema do sistema de asilo na Europa”.

MS/euronews: “O novo sistema de asilo não mudou em nada a situação?”

PA/SJR: “Até ao momento, não. Há melhorias no papel em termos de legislação, mas a grande responsabilidade cabe aos governos dos Estados-membros, que têm de aplicar a lei de maniera a respeitar a dignidade humana”.

MS/euronews: “Pensa que também se deve atuar nos países de origem dos migrantes? Sabemos que existem organizações criminosas a operar estes barcos. Pensa que deve atuar-se também a esse nível?”

PA/SJR: “Naturalmente penso que uma consequência de não existerem meios legais seguros para os refugiados pedirem asilo na Europa é que as pessoas têm que confiar nas redes criminosas de traficantes de seres humanos. E, certamente, a UE tem de fazer mais para combater essas redes e apresentá-las à justiça. Mas é também preciso criar um corredor humano que permitir chegar à Europa de forma legal e que garanta segurança às pessoas”.

MS/euronews: “Para terminar, o que é que esta tragédia nos diz sobre a civilização européia? Para onde caminhamos?”

PA/SJR: “Esta tragédia diz-nos que há uma verdadeira falta de liderança. É nossa responsabilidade como europeus certificarmo-nos que nossas portas estão abertas e que podemos dar um exemplo para o mundo. As pessoas devem ver a Europa como um lugar de segurança e não de fronteiras, muros altos e morte”.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Roma protesta contra ofensiva israelita em Gaza

Itália celebra Dia da República com desfile militar em Roma

Veneza exige libertação de trabalhador humanitário detido na Venezuela