{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2013/08/15/egito-que-futuro" }, "headline": "Egito: Que futuro?", "description": "Egito: Que futuro?", "articleBody": "O Egito ainda conta os mortos, mas a Irmandade Mu\u00e7ulmana retoma o bra\u00e7o de ferro com as autoridades, lan\u00e7ando novos apelos aos apoiantes. O movimento islamita recusa ceder, tal como fez, dia e noite, desde 3 de julho, quando o presidente Mohammed Morsi foi deposto.Antes, as ruas tinham sido ocupadas por milhares de eg\u00edpcios que contestavam o presidente islamita. Mohammed Morsi acabou por ser derrubado pelo ex\u00e9rcito, est\u00e1 detido em parte incerta e a sua pris\u00e3o acaba de ser prolongada por um m\u00eas.Mohammed Morsi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, esteve um ano no poder. Trocou a lideran\u00e7a do ex\u00e9rcito, uma institui\u00e7\u00e3o de peso no pa\u00eds, por esse cargo. O general Fattah el-Sissi sucedeu a Mohamed Tantaoui. Durante esse per\u00edodo, Morsi legislou para conseguir obter e concentrar poderes constitucionais extraordin\u00e1rios, o que foi visto como deriva autorit\u00e1ria. Hoje, o pa\u00eds est\u00e1 mais dividido do que nunca. A euronews questionou um especialista sobre a evolu\u00e7\u00e3o dos acontecimentos:Sophie Desjardin, euronews \u2013 Hasni Abidi \u00e9 polit\u00f3logo, especialista do mundo \u00e1rabe num Centro de Estudos em Genebra, CERMAN. O recolher obrigat\u00f3rio imposto ontem, no Egito, segundo o nosso correspondente, n\u00e3o provocou qualquer inten\u00e7\u00e3o de ced\u00eancia da Irmandade Mu\u00e7ulmana, pelo contr\u00e1rio. Que pode acontecer agora?Hasni Abidi \u2013 Os sinais s\u00e3o muito preocupantes, tanto do lado do ex\u00e9rcito como do lado da Irmandade Mu\u00e7ulmana e dos seus simpatizantes. O primeiro indicador \u00e9 o recolher obrigat\u00f3rio reinstaurado pelo ex\u00e9rcito. Mas o mais inquietante \u00e9 que, com o estado de emerg\u00eancia, o ex\u00e9rcito vai conjugar todos os poderes, e, consequentemente vai imp\u00f4r mais restri\u00e7\u00f5es no \u00e2mbito das liberdades p\u00fablicas e privadas, e poder\u00e1 efetuar deten\u00e7\u00f5es a qualquer momento. Por parte dos islamitas, espera-se uma multiplica\u00e7\u00e3o dos focos de tens\u00e3o \u2013 e n\u00e3o apenas concentra\u00e7\u00f5es nas pra\u00e7as \u2013 nas cidades mais importantes de Egipto. euronews \u2013 Muitos eg\u00edpcios, nomeadamente intelectuais, apoiam o ex\u00e9rcito que os defendeu na primeira revolu\u00e7\u00e3o.N\u00e3o deixa de ser um v\u00ednculo estranho entre os cidad\u00e3os e a poderosa institui\u00e7\u00e3o. At\u00e9 onde pode ir o ex\u00e9rcito sem perder esse apoio de base?Hasni Abidi \u2013 H\u00e1 que salientar que o ex\u00e9rcito eg\u00edpcio \u00e9 um ex\u00e9rcito popular, n\u00e3o \u00e9 profissional, como por exemplo o ex\u00e9rcito turco. 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Mas, na minha opini\u00e3o, vai conseguir recuperar o capital de simpatia que tinha antes e tamb\u00e9m vai tranquilizar os eg\u00edpcios, que est\u00e3o, atualmente, mais divididos do que nunca.euronews \u2013 Qual ser\u00e1 a estrat\u00e9gia dos islamitas a partir de agora, o que podem fazer? A situa\u00e7\u00e3o n\u00e3o deixa de recordar a da Arg\u00e9lia nos anos 90\u2026 H\u00e1 um risco de radicaliza\u00e7\u00e3o ou mesmo de terrorismo?Hasni Abidi \u2013 Sim, h\u00e1. As semelhan\u00e7as entre o cen\u00e1rio eg\u00edpcio e o cen\u00e1rio argelino s\u00e3o flagrantes: a interrup\u00e7\u00e3o do processo eleitoral, em janeiro de 2012, levou \u00e0 clandestinidade muitos islamitas, \u00e0 radicaliza\u00e7\u00e3o e ao nascimento de movimentos radicais como o GIA e o GSPC, na Arg\u00e9lia.Infelizmente, o Egito tem os pr\u00f3prios movimentos radicais, nomeadamente a Gemma Islamya e a Jihad Isl\u00e2mica, que perderam a batalha da primavera \u00e1rabe por estarem convictos de que os islamitas chegavam ao poder gra\u00e7as \u00e0s urnas e n\u00e3o \u00e0 luta armada. 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Egito: Que futuro?

Egito: Que futuro?
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O Egito ainda conta os mortos, mas a Irmandade Muçulmana retoma o braço de ferro com as autoridades, lançando novos apelos aos apoiantes. O movimento islamita recusa ceder, tal como fez, dia e noite, desde 3 de julho, quando o presidente Mohammed Morsi foi deposto.

Antes, as ruas tinham sido ocupadas por milhares de egípcios que contestavam o presidente islamita. Mohammed Morsi acabou por ser derrubado pelo exército, está detido em parte incerta e a sua prisão acaba de ser prolongada por um mês.

Mohammed Morsi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, esteve um ano no poder. Trocou a liderança do exército, uma instituição de peso no país, por esse cargo. O general Fattah el-Sissi sucedeu a Mohamed Tantaoui. Durante esse período, Morsi legislou para conseguir obter e concentrar poderes constitucionais extraordinários, o que foi visto como deriva autoritária. Hoje, o país está mais dividido do que nunca.

A euronews questionou um especialista sobre a evolução dos acontecimentos:

Sophie Desjardin, euronews – Hasni Abidi é politólogo, especialista do mundo árabe num Centro de Estudos em Genebra, CERMAN.
O recolher obrigatório imposto ontem, no Egito, segundo o nosso correspondente, não provocou qualquer intenção de cedência da Irmandade Muçulmana, pelo contrário. Que pode acontecer agora?

Hasni Abidi – Os sinais são muito preocupantes, tanto do lado do exército como do lado da Irmandade Muçulmana e dos seus simpatizantes. O primeiro indicador é o recolher obrigatório reinstaurado pelo exército. Mas o mais inquietante é que, com o estado de emergência, o exército vai conjugar todos os poderes, e, consequentemente vai impôr mais restrições no âmbito das liberdades públicas e privadas, e poderá efetuar detenções a qualquer momento. Por parte dos islamitas, espera-se uma multiplicação dos focos de tensão – e não apenas concentrações nas praças – nas cidades mais importantes de Egipto.

euronews – Muitos egípcios, nomeadamente intelectuais, apoiam o exército que os defendeu na primeira revolução.
Não deixa de ser um vínculo estranho entre os cidadãos e a poderosa instituição. Até onde pode ir o exército sem perder esse apoio de base?

Hasni Abidi – Há que salientar que o exército egípcio é um exército popular, não é profissional, como por exemplo o exército turco. Está presente em todos os setores do Estado, como o económico, e para qualquer egípcio, as Forças Armadas constituem a única garantia de que não haverá marcha atrás, ou seja, não se dará força a essa ideia feita no Egito, de que o país será governado unicamente pela Irmandade Muçulmana.

euronews – Isso quer dizer que lhe aram um cheque em branco?

Hasni Abidi – Infelizmente, é legítimo o receio de uma certa deriva, de uma tentação autoritária.
Ontem conseguiu marcar uma posição de força, apesar das consequências serem terríveis para a sua imagem. As reações internacionais não são positivas para o exército, mesmo se conseguiu instaurar a segurança e a estabilidade, se conseguiu um pouco de ordem. Mas, na minha opinião, vai conseguir recuperar o capital de simpatia que tinha antes e também vai tranquilizar os egípcios, que estão, atualmente, mais divididos do que nunca.

euronews – Qual será a estratégia dos islamitas a partir de agora, o que podem fazer?
A situação não deixa de recordar a da Argélia nos anos 90… Há um risco de radicalização ou mesmo de terrorismo?

Hasni Abidi – Sim, há. As semelhanças entre o cenário egípcio e o cenário argelino são flagrantes: a interrupção do processo eleitoral, em janeiro de 2012, levou à clandestinidade muitos islamitas, à radicalização e ao nascimento de movimentos radicais como o GIA e o GSPC, na Argélia.
Infelizmente, o Egito tem os próprios movimentos radicais, nomeadamente a Gemma Islamya e a Jihad Islâmica, que perderam a batalha da primavera árabe por estarem convictos de que os islamitas chegavam ao poder graças às urnas e não à luta armada.
Mas os acontecimentos de ontem e o golpe de Estado contra o presidente Morsi, vêm dar força aos movimentos radicais, dentro ou fora da Irmandade, pois vão poder dizer: “Afinal, a participação política não é a boa opção; a única possibilidade, agora, é a luta armada.”

euronews – O Egito é um peso pesado no mundo árabe: será que este conflito pode ultraar as fronteiras egípcias?

Hasni Abidi – Se os islamitas continuarem com a lógica suicida ou a praticar a política de terra queimada, por já terem perdido tudo, vão debilitar o Exército, que tem de combater todos os focos de tensão, muito importantes no Sinai e noutras regiões. Também vai ter de enfrentar a alarmante circulação de armas procedentes da Líbia, que, atualmente, é incontrolável.
A gestão dos assuntos políticos também pode ficar mais frágil, por isso é imprescindível que o exército se retire o mais cedo possível para deixar estes assuntos nas mãos de civis ou nas mãos de Adli Mansur ou da o Bebelavi. Penso que a comunidade internacional tem, atualmente, o dever moral e político de não deixar os egípcios abandonados à sua sorte.

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