A Ucrânia e a Rússia concluíram a segunda ronda de conversações em Istambul. As partes chegaram a acordo sobre uma nova troca de prisioneiros de guerra com menos de 25 anos e soldados gravemente doentes. Kiev diz ter entregado ainda a Moscovo a lista de crianças ucranianas deportadas ilegalmente.
A Ucrânia e a Rússia concluíram, esta segunda-feira, a segunda ronda de conversações de paz em Istambul, tendo chegado a acordo sobre uma nova troca de prisioneiros de guerra, segundo o ministro da Defesa de Kiev.
Rustem Umerov, que está a liderar a delegação de Kiev, disse que as partes vão trocar soldados gravemente doentes e jovens, informa a emissora nacional da Ucrânia Suspline.
“Chegámos a acordo a propósito de uma troca e em breve anunciaremos os pormenores. Estamos a concentrar-nos naqueles que estão gravemente feridos e doentes. Estamos a concentrar-nos na categoria dos jovens e noutras categorias, bem como na troca de corpos”, explicou Umerov aos jornalistas, após a reunião na Turquia.
Durante as conversações em Istambul, a Ucrânia também entregou aos funcionários de Moscovo uma lista de crianças ucranianas deportadas à força pela Rússia.
“Estamos a falar de centenas de crianças que a Rússia deportou ilegalmente, transferiu à força ou mantém nos territórios temporariamente ocupados. Estamos à espera de uma resposta. A bola está no campo da Rússia”, afirmou o chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, no Telegram.
A primeira ronda de negociações, realizada a 16 de maio, resultou na maior troca de prisioneiros na proporção “mil por mil”, mas não produziu grandes resultados no que diz respeito a pôr fim à invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia.
Desta vez, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, identificou três prioridades para Kiev: um cessar-fogo de 30 dias, uma nova troca de prisioneiros e o regresso das crianças ucranianas deportadas à força pela Rússia.
O Kremlin não revelou aquelas que seriam as suas prioridades e os funcionários de Moscovo apenas mencionaram repetidamente “as causas profundas” que motivaram a sua guerra contra a Ucrânia.
A Rússia tinha vindo a utilizar a expressão “causas profundas” já desde o período que antecedeu a sua invasão total da Ucrânia no início de 2022 e refere-se recorrentemente a elas para justificar a sua guerra total contra o país vizinho.
"Memorando de paz"
Kiev e Moscovo terão concordado em apresentar o seu “memorando de paz”, definindo as principais posições de cada uma das partes, antes desta segunda-feira.
A delegação ucraniana declarou ter apresentado o seu roteiro pormenorizado, com o objetivo de garantir uma paz duradoura. Em declarações à imprensa estatal russa, o chefe da delegação de Moscovo, Vladimir Medinsky, confirmou que a parte russa tinha recebido as propostas de paz ucranianas.
Moscovo afirmou repetidamente que só anunciará as suas exigências quando as conversações forem retomadas.
Em declarações antes da ronda desta segunda-feira, Zelenskyy sublinhou que a Rússia não apresentou o seu memorando de paz à Ucrânia, à Turquia ou aos EUA. “Apesar disso, tentaremos alcançar, pelo menos, alguns progressos no caminho para a paz”, afirmou.
O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, reiterou na sexta-feira ada que Moscovo só consideraria um cessar-fogo se a Ucrânia parasse a mobilização e deixasse de receber ajuda militar estrangeira.
Moscovo também exigiu, anteriormente, que a Ucrânia retirasse as suas forças de quatro regiões ucranianas, que Moscovo alega ter anexado: Donetsk, Luhansk, Zaporíjia e Kherson.
A Rússia não controla todos os territórios nestas regiões, mas “exigiu” que a Ucrânia as abandonasse totalmente.
Moscovo também exige que a NATO interrompa o que classifica como sendo a sua expansão para leste, para além de pedir que a Ucrânia se comprometa com um estatuto neutro e não adira à aliança.
A Reuters noticiou, na quinta-feira ada, que a Rússia quer receber um compromisso escrito, dos líderes ocidentais, que ponha fim à expansão da NATO.
Paciência de Trump face a Putin está a esgotar-se
O presidente dos EUA, Donald Trump, expressou recentemente a sua frustração face à relutância de Moscovo em dar os no sentido de um cessar-fogo e perante a intensificação dos seus ataques mortais contra a Ucrânia.
Ao mesmo tempo, tem-se recusado, até agora, a impor sanções adicionais à Rússia.
Nos últimos dias, Trump publicou nas redes sociais que Putin ficou “absolutamente louco” e está a “brincar com o fogo”, depois de a Rússia ter intensificado os seus ataques à Ucrânia.
Zelenskyy apelou a Trump para que apresente um “novo pacote forte” de sanções contra a Rússia se as conversações de paz em curso, em Istambul, não produzirem resultados.
Durante a cimeira conjunta dos "Nove de Bucareste" e dos líderes nórdicos, em Vilnius, Zelenskyy afirmou que o Ocidente deve estar preparado para agir de forma decisiva.
"Se a reunião de Istambul não produzir resultados, isso significa, claramente, que são necessárias novas e fortes sanções - do 18.º pacote da UE e, especificamente, dos EUA, as tais sanções mais fortes que o presidente Trump prometeu", disse Zelenskyy.
A medida "deverá visar a energia russa - especialmente o petróleo e os navios-tanque -, os preços máximos, claro, e também os bancos russos e o setor financeiro em geral", acrescentou.