Uma chamada telefónica entre Donald Trump e os líderes europeus expôs a relutância dos Estados Unidos em avançar com sanções contra a Rússia.
A União Europeia tenciona avançar com um novo pacote de sanções contra a Rússia para pressionar Vladimir Putin a aceitar um cessar-fogo incondicional de 30 dias na Ucrânia, apesar de os EUA não o fazerem nesta fase.
Mas as sanções enfrentam uma luta difícil para serem aprovadas devido à oposição firme da Hungria e à falta de coordenação com Washington. A linha de ação prevista por Bruxelas inclui restringir o preço máximo do petróleo russo, o que poderá ser praticamente impossível de conseguir sem a participação dos EUA.
"Está a ser preparado um 18º pacote com novas e duras sanções", disse Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, na terça-feira, após uma conversa telefónica com Volodymyr Zelenskyy, da Ucrânia.
"É altura de intensificar a pressão sobre a Rússia para que o cessar-fogo seja alcançado", acrescentou.
A Alta Representante para a Política Externa e de Segurança Comum, Kaja Kallas, itiu que seria "difícil" chegar a um acordo unânime entre os Estados-membros, mas que isso não deveria impedir o bloco de avançar.
"Penso que não temos alternativa. Precisamos de exercer mais pressão", disse Kallas, à chegada a uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros em Bruxelas.
"Queremos ver essas consequências também do lado dos EUA. Não temos visto pressão sobre a Rússia nestas conversações".
Após uma conversa telefónica de duas horas entre Trump e Putin, na segunda-feira, o presidente americano anunciou que a Rússia e a Ucrânia iriam "iniciar imediatamente negociações para um cessar-fogo e, mais importante, para o fim da guerra". As condições para esse cessar-fogo, disse, seriam "negociadas entre as duas partes, como só pode ser".
"Que comece o processo!", afirmou nas redes sociais.
Putin, por seu lado, disse que a Rússia iria trabalhar com a Ucrânia num "memorando" sobre os termos de um "possível cessar-fogo durante um determinado período de tempo". A trégua, no entanto, estaria dependente da obtenção de "acordos apropriados", referiu.
O líder russo continua a não aceitar a proposta de Trump de um cessar-fogo imediato e incondicional, que a Ucrânia e os aliados europeus apoiaram firmemente como um prelúdio necessário para negociações aprofundadas.
Apesar da recusa, Trump disse mais tarde aos jornalistas que não iria impor novas sanções contra o Kremlin, esperando que o último telefonema conduzisse a progressos tangíveis.
"Penso que há uma hipótese de se conseguir fazer alguma coisa e, se o fizermos, também podemos piorar muito a situação. Mas poderá haver uma altura em que isso irá acontecer", afirmou.
Mundos à parte
Os funcionários da Casa Branca já tinham ameaçado apertar os parafusos da economia russa para forçar o Kremlin a uma trégua temporária.
"O que posso dizer é que as sanções foram muito ineficazes durante a istração Biden, porque as mantiveram baixas porque tinham medo de fazer subir os preços internos do petróleo", disse Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, no domingo.
A diferença de pensamento entre os EUA e a UE ficou patente após a conversa telefónica que Trump manteve com os líderes europeus.
"A Europa vai aumentar a pressão sobre Moscovo através de sanções. Foi o que acordámos com o presidente dos EUA após a sua conversa com Putin", afirmou o chanceler alemão Friedrich Merz.
Zelenskyy, que também participou no telefonema, disse que "se os russos não estão dispostos a parar com os assassínios, tem de haver sanções mais fortes".
A Comissão Europeia está atualmente a elaborar o que deverá ser o 18º pacote de sanções contra a Rússia desde fevereiro de 2022, visando o setor bancário, os gasodutos Nord Stream e mais navios da chamada "frota sombra".
Von der Leyen também sugeriu a redução do limite de preço do petróleo bruto russo, que o G7 estabeleceu no final de 2022 em 60 dólares por barril. Desde então, o limite manteve-se inalterado, apesar de Moscovo ter continuado a negociar muito acima dessa marca.
Reduzir o preço de 60 dólares para apertar ainda mais as receitas do Kremlin exigirá um acordo com a Casa Branca e outros parceiros do G7. A decisão de Trump de não avançar com novas sanções nesta fase arrisca-se a fazer descarrilar a revisão, que foi apoiada por Kiev, pelos países nórdicos e pelos países bálticos.
"Veremos se isso pode ser feito sob a forma de uma medida conjunta do G7 ou não", disse Paula Pinho, porta-voz da Comissão Europeia.
Outro ponto que separa os aliados transatlânticos é a sua visão para o dia seguinte à guerra.
No seu discurso, Trump expressou o desejo de retomar as relações económicas com a Rússia, algo que poderá acontecer assim que as sanções forem levantadas. "Há uma enorme oportunidade para a Rússia criar grandes quantidades de emprego e riqueza", afirmou.
Em contrapartida, a UE tem afirmado sistematicamente que as sanções só serão levantadas depois de a Rússia retirar as suas forças militares do território ucraniano e de ser alcançada uma paz duradoura. Além disso, a maioria dos Estados-membros concorda que os bens congelados da Rússia, no valor de 210 mil milhões de euros, devem permanecer paralisados até que Moscovo pague as reparações de guerra.
No início deste mês, a Comissão apresentou um roteiro ambicioso para eliminar gradualmente todas as importações de energia russa até ao final de 2027 - uma enorme diminuição do comércio.