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Vinha-me \u00e0 cabe\u00e7a a revista que nos avam quando est\u00e1vamos com os p\u00e9s enterrados na neve. Regressei em 1983, n\u00e3o por mim, mas pela minha m\u00e3e, que morreu no campo . Claude Bloch, prisioneiro n\u00famero jB3692, viu a m\u00e3e pela \u00faltima vez nos carris do comboio de Auschwitz-Birkenau. Colocaram-na na carruagem de transporte de mercadorias com muitas outras mulheres que levaram para a c\u00e2mara de g\u00e1s. Claude demorou quase meio s\u00e9culo a ganhar coragem para visitar. Desde ent\u00e3o, regressa ao campo v\u00e1rias vezes por ano, n\u00e3o apenas para recordar os entes queridos, mas para transmitir o que se ou \u00e0s gera\u00e7\u00f5es mais jovens. Claude Bloch \u2013 Imaginem os homens a chegarem \u00e0s latrinas! Tentavam sentar-se mas os soldados gritavam-lhes imediatamente: schnell, schnell, daqui para fora, d\u00eaem espa\u00e7o aos outros! Sobreviver ao pesadelo dos campos de concentra\u00e7\u00e3o nazis. Para os que regressaram, a hist\u00f3ria \u00e9 quase a mesma: a dificuldade em fazerem-se ouvir, transmitir o horror daquilo tudo. Francine Christophe \u2013 Cheg\u00e1mos um ano depois da Fran\u00e7a come\u00e7ar a rir e a cantar. E n\u00f3s cheg\u00e1vamos com as hist\u00f3rias horr\u00edveis, olhares in\u00e1veis, \u00e0s vezes, e muita gente recusava ouvir-nos. Tentei falar uma ou duas vezes aos colegas da escola, mas julgavam que era doida. Era cred\u00edvel o que eu contava? N\u00e3o. Podia ter existido? N\u00e3o. Benjamin Orenstein \u2013 Para mim era in\u00e1vel ouvir dizer que as c\u00e2maras de g\u00e1s n\u00e3o tinha existido; n\u00e3o apenas porque mataram as pessoas, mas porque lhes roubaram a morte. Foi assim que iniciei a minha batalha contra, digamos, o negacionismo. Judeu polaco, Anatoly Vanukevich, ou por Auschwitz e outros campos nazis. Depois da guerra, viveu do lado sovi\u00e9tico. Estaline suspeitava que os sobreviventes dos campos de concentra\u00e7\u00e3o fossem todos espi\u00f5es do ocidente e por isso enviou bastantes para o gulag. Anatoly Vanukevich \u2013 Sei que algumas mulheres tentaram apagar, quimicamente, o n\u00famero tatuado no bra\u00e7o. Estaline n\u00e3o reconheceu como v\u00edtimas os que estiveram em campos de concentra\u00e7\u00e3o. A nossa uni\u00e3o de jovens prisioneiros foi criada apenas em 1958, muito depois da morte de Estaline. T\u00ednhamos, ent\u00e3o, 160 mil membros. Anatoly Vanukevich calcula ter tido sorte no p\u00f3s-guerra. Empregado como auxiliar de cozinha, reencontrou a sa\u00fade e pode estudar e ter uma carreira cient\u00edfica. Mas a mem\u00f3ria de Auschwitz esteve sempre presente \u2013 o port\u00e3o era uma flecha de sentido \u00fanico, com montanhas de objetos acumulados junto ao cremat\u00f3rio. \u201cFormos libertados, mas n\u00e3o \u00e9ramos livres\u201d, \u00e9 uma frase muito repetida pelos sobreviventes. Todos tiveram de reaprender a viver. Francine Christophe \u2013 Retomei a minha vida normal, porque tive uma oportiunidade extraordin\u00e1ria, reencontrei os meus pais, o que foi um caso raro. Benjamin Orenstein \u2013 Ser\u00e1 que me tornei um homem normal? N\u00e3o posso responder. Falo para um microfone. Conduzo um autom\u00f3vel e at\u00e9 vejo a euronews. Pare\u00e7o normal, mas n\u00e3o \u00e9 o caso. Em n\u00f3s, h\u00e1 qualquer coisa partida no interior, n\u00e3o encontramos a pe\u00e7a sobresselente. E isto \u00e9 para sempre.", "dateCreated": "2015-01-26T10:30:10+01:00", "dateModified": "2015-01-26T10:30:10+01:00", "datePublished": "2015-01-26T10:30:10+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F295640%2F1440x810_295640.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Como ter coragem para regressar aos imensos campos cercados por arame farpado? 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Sobreviventes de Auschwitz: libertados mas sem se sentirem livres

Sobreviventes de Auschwitz: libertados mas sem se sentirem livres
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Como ter coragem para regressar aos imensos campos cercados por arame farpado? Como caminhar sobre um piso encharcado de sangue e cinzas? E que

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Como ter coragem para regressar aos imensos campos cercados por arame farpado? Como caminhar sobre um piso encharcado de sangue e cinzas? E que pensar da morte, quando se está por trás dos crematórios?
Alguns aram toda a vida à procura de respostas. Para outros, uma vida inteira não é chega para as encontrar.

Claud Bloch, sobrevivente de Auschwitz – Não podia. Era mais forte do que eu. Vinha-me à cabeça a revista que nos avam quando estávamos com os pés enterrados na neve. Regressei em 1983, não por mim, mas pela minha mãe, que morreu no campo .

Claude Bloch, prisioneiro número jB3692, viu a mãe pela última vez nos carris do comboio de Auschwitz-Birkenau. Colocaram-na na carruagem de transporte de mercadorias com muitas outras mulheres que levaram para a câmara de gás.

Claude demorou quase meio século a ganhar coragem para visitar. Desde então, regressa ao campo várias vezes por ano, não apenas para recordar os entes queridos, mas para transmitir o que se ou às gerações mais jovens.

Claude Bloch – Imaginem os homens a chegarem às latrinas! Tentavam sentar-se mas os soldados gritavam-lhes imediatamente: schnell, schnell, daqui para fora, dêem espaço aos outros!

Sobreviver ao pesadelo dos campos de concentração nazis. Para os que regressaram, a história é quase a mesma: a dificuldade em fazerem-se ouvir, transmitir o horror daquilo tudo.

Francine Christophe – Chegámos um ano depois da França começar a rir e a cantar. E nós chegávamos com as histórias horríveis, olhares ináveis, às vezes, e muita gente recusava ouvir-nos. Tentei falar uma ou duas vezes aos colegas da escola, mas julgavam que era doida. Era credível o que eu contava? Não. Podia ter existido? Não.

Benjamin Orenstein – Para mim era inável ouvir dizer que as câmaras de gás não tinha existido; não apenas porque mataram as pessoas, mas porque lhes roubaram a morte. Foi assim que iniciei a minha batalha contra, digamos, o negacionismo.

Judeu polaco, Anatoly Vanukevich, ou por Auschwitz e outros campos nazis. Depois da guerra, viveu do lado soviético. Estaline suspeitava que os sobreviventes dos campos de concentração fossem todos espiões do ocidente e por isso enviou bastantes para o gulag.

Anatoly Vanukevich – Sei que algumas mulheres tentaram apagar, quimicamente, o número tatuado no braço. Estaline não reconheceu como vítimas os que estiveram em campos de concentração. A nossa união de jovens prisioneiros foi criada apenas em 1958, muito depois da morte de Estaline. Tínhamos, então, 160 mil membros.

Anatoly Vanukevich calcula ter tido sorte no pós-guerra. Empregado como auxiliar de cozinha, reencontrou a saúde e pode estudar e ter uma carreira científica. Mas a memória de Auschwitz esteve sempre presente – o portão era uma flecha de sentido único, com montanhas de objetos acumulados junto ao crematório. “Formos libertados, mas não éramos livres”, é uma frase muito repetida pelos sobreviventes. Todos tiveram de reaprender a viver.

Francine Christophe – Retomei a minha vida normal, porque tive uma oportiunidade extraordinária, reencontrei os meus pais, o que foi um caso raro.

Benjamin Orenstein – Será que me tornei um homem normal? Não posso responder. Falo para um microfone. Conduzo um automóvel e até vejo a euronews. Pareço normal, mas não é o caso. Em nós, há qualquer coisa partida no interior, não encontramos a peça sobresselente. E isto é para sempre.

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