{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2013/12/20/paises-da-primavera-arabe" }, "headline": "Pa\u00edses da Primavera \u00c1rabe", "description": "Pa\u00edses da Primavera \u00c1rabe", "articleBody": "Os cidad\u00e3os dos pa\u00edses da Primavera \u00c1rabe sabem o que deixaram para tr\u00e1s: d\u00e9cadas de status quo, moldadas por ditadores autocr\u00e1ticos que se consideravam \u2013 e ironicamente eram vistos assim pelas democracias ocidentais \u2013 como eternos. Mas eles n\u00e3o sabem ainda no que \u00e9 que as suas sociedades se v\u00e3o tornar. Numa altura em que v\u00e3o entrar no quarto ano desta revolu\u00e7\u00e3o que os libertou dos regimes autorit\u00e1rios, Tun\u00edsia, Egito e L\u00edbia enfrentam profundas divis\u00f5es pol\u00edticas e sociais, principalmente entre islamistas e a oposi\u00e7\u00e3o laica. 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A sua sociedade est\u00e1 marcada por v\u00e1rias divis\u00f5es \u2013 entre secularistas e islamistas, entre aqueles que colaboram com o antigo regime e aqueles que viveram no ex\u00edlio, mesmo entre a cidade e o campo. Os resultados de uma sondagem publicada em outubro mostram um eleitorado profundamente insatisfeito e uma sociedade extremamente polarizada.Segundo a sondagem, dois ter\u00e7os dos tunisinos sentem que o pa\u00eds est\u00e1 a ir na dire\u00e7\u00e3o errada; menos de um ter\u00e7o acredita que o governo est\u00e1 a ser eficaz a responder as prioridades b\u00e1sicas da popula\u00e7\u00e3o, como criar emprego, lidar com o elevado custo de vida e proteger os direitos civis e pessoais; quase tr\u00eas quartos dos tunisinos acreditram que o Ennahda n\u00e3o est\u00e1 comprometido em \u201ccumprir os objetivos da revolu\u00e7\u00e3o\u201d.O partido merece hoje a confian\u00e7a de apenas 28% dos tunisinos. Os restantes 72%, que s\u00e3o contra o partido, dividem-se por v\u00e1rios partidos relativamente pequenos, com nenhum partido capaz de congregar a confian\u00e7a de mais de um quarto da popula\u00e7\u00e3o adulta. Pressentindo a derrota nas urnas, o Ennahda aceitou um compromisso com a oposi\u00e7\u00e3o secular, um acordo promovido pela poderoso sindicato UGTT. A nomea\u00e7\u00e3o a 14 de dezembro de Mehdi Jomaa, de 51 anos, como um primeiro ministro de consenso \u00e9 o primeiro o do acordo. O Ennahda concordou que a coliga\u00e7\u00e3o governamental iria renunciar \u00e0s suas fun\u00e7\u00f5es quando fosse decidido um governo transit\u00f3rio, completada uma nova constitui\u00e7\u00e3o e definida uma data para as elei\u00e7\u00f5es.EgitoN\u00e3o h\u00e1 sistema de m\u00e9trica para medir o progresso de uma sociedade que se quer democr\u00e1tica. Mas h\u00e1 pontos de refer\u00eancia e in\u00fameras listas de verifica\u00e7\u00e3o sobre at\u00e9 onde ir\u00e1 a liberdade numa sociedade \u2013 a liberdade de express\u00e3o, de religi\u00e3o, de partidos pol\u00edticos \u2013 e o respeito pelos direitos humanos.Ap\u00f3s a queda de Hosni Murabak, o pa\u00eds tem sido istrado nos \u00faltimos 15 meses pelo Conselho Supremo das For\u00e7as Armadas. Sucedido um ano ca\u00f3tico e dividido, sob a presid\u00eancia de Mohamed Morsi e, desde julho de 2013, o Egipto \u00e9 liderado por um governo interino apoiado pelo ministro da Defesa Abdel Fatah Al-Sisi. Grupos de direitos humanos sublinham que as sucessivas istra\u00e7\u00f5es demonstram tanto a incapacidade de lidar com a oposi\u00e7\u00e3o como uma tend\u00eancia a confiar em solu\u00e7\u00f5es de seguran\u00e7a opressivas para os problemas pol\u00edticos.Morsi, o primeiro presidente eleito do pa\u00eds, foi deposto em Julho num golpe apoiado pelas chefias militares. A sua queda marcou o in\u00edcio de um repress\u00e3o brutal em curso sobre Irmandade Mu\u00e7ulmana. Desde que Morsi foi afastado do poder centenas de pessoas morreram no Egito. Com a chegada pr\u00f3xima de duas datas importantes \u2013 25 de janeiro de 2014, tr\u00eas anos desde o in\u00edcio da revolu\u00e7\u00e3o eg\u00edpcia e 11 de feveiro de 2014, a ren\u00fancia de Hosni Mubarak \u2013a nova lei aprovada pelo gabinete interino e assinada pelo presidente interino Adly Mahmoud Mansour, no dia 24 de novembro, reprime todos os protestos n\u00e3o autorizados. Entre uma s\u00e9rie de restri\u00e7\u00f5es, a nova lei exige que os eg\u00edpcios re\u00fanam sete tipo de licen\u00e7as diferentes para poderem protestar, pro\u00edbe ajuntamentos de mais de dez pessoas \u2013 em p\u00fablico ou privado \u2013 e aplica multas pesadas. Muitas pessoas acreditam que a nova lei antiprotesto serve para legitimar a repress\u00e3o.Nos dias 14 e 15 de janeiro do pr\u00f3ximo ano, est\u00e1 previsto um referendo que dever\u00e1 ratificar a nova Constitui\u00e7\u00e3o. Um conjunto de 50 membros nomeados pelo presidente interino Mansour terminaram o novo projeto em dezembro de 2013, que remove da Constitui\u00e7\u00e3o aprovada em 2012 as provis\u00f5es inspiradas no Islamismo. Embora d\u00ea mais espa\u00e7o ao direito das mulheres e ao direito \u00e0 liberdade, a nova Constitui\u00e7\u00e3o limita a forma\u00e7\u00e3o de partidos pol\u00edticos religiosos e consagra poder pol\u00edtico refor\u00e7ado aos militares, incluindo aus\u00eancia de controlo presidencial e amplos direitos para julgar civis em tribunais militares. O novo projeto permite ainda \u00e0s autoridades mudarem a ordem das elei\u00e7\u00f5es previstas para 2014. O plano inicial, apresentado em julho de 2013, requeria que as elei\u00e7\u00f5es parlamentares fossem realizadas antes das presidenciais mas a nova Constitui\u00e7\u00e3o permite que as estas \u00faltimas decorram primeiro.Alguns analistas prev\u00eaem que o general Abdel Fattah al-Sissi, o comandante das for\u00e7as armadas do Egito, concorra \u00e0 presid\u00eancia e saia vitorioso. Mas a sua vit\u00f3ria, por\u00e9m, n\u00e3o garante a estabilidade do pa\u00eds. 2014 pode vir a assistir a um aumento das tens\u00f5es entre as for\u00e7as militares e de seguran\u00e7a e os atores isl\u00e2micos e ver as rela\u00e7\u00f5es entre os militares e a oposi\u00e7\u00e3o secular piorar. Se a viol\u00eancia continuar, a polariza\u00e7\u00e3o da sociedade eg\u00edpcia ir\u00e1 progredir, e o pa\u00eds, que j\u00e1 foi uma refer\u00eancia do mundo \u00e1rabe, vai encontrar-se impotente para enfrentar as suas outras necessidades prementes: reconstruir a economia e criar empregos e oportunidades para a juventude do Egito. L\u00edbiaTr\u00eas anos depois da sua revolu\u00e7\u00e3o popular, a L\u00edbia \u00e9 uma hist\u00f3ria completamente diferente na Primavera \u00c1rabe. Devido \u00e0 natureza muito personalizada do regime de Muammar Kadafi, a sua queda deixou um completo vazio istrativo, uma sociedade atomizada e poucas pessoas com experi\u00eancia executiva que n\u00e3o tivessem afilia\u00e7\u00e3o ao antigo regime. O per\u00edodo p\u00f3s-revolu\u00e7\u00e3o tem sido marcado pela falta de seguran\u00e7a b\u00e1sica e de controlo de um governo centralizado. O exemplo mais claro desta crise ocorreu em outubro, quando o primeiro ministro Ali Zeidan foi mantido ref\u00e9m em Tripoli durante v\u00e1rias horas por milicianos armados.As mil\u00edcias, que ganharam protagonismo depois da queda de Kadafi, ainda dominam o pa\u00eds. T\u00eam v\u00e1rias agendas \u2013 financeiras, territoriais, pol\u00edticas e religiosas \u2013 e operam com impunidade. Os sucessivos governos interinos falharam em control\u00e1-las, preferindo contrat\u00e1-las como for\u00e7as paralelas ao ex\u00e9rcito e \u00e0 pol\u00edcia. Um exemplo: a mil\u00edcia que raptou o primeiro-ministro trabalha com\u2026 o ministro do Interior. Esta \u00e9 uma pr\u00e1tica comum na L\u00edbia, com v\u00e1rios ministros a associarem-se a mil\u00edcias para responder \u00e0s suas pr\u00f3prias necessidades, incluindo de servi\u00e7os de seguran\u00e7a. Consequentemente, as mil\u00edcias det\u00e9m uma posi\u00e7\u00e3o privilegiada em objetivos de seguran\u00e7a chave, como a defesa dos campos de petr\u00f3leo da L\u00edbia, fazendo com que seja mais dif\u00edcil para o governo quebrar a sua depend\u00eancia financeira. O pa\u00eds precisa urgentemente de construir o estado, mas faltam fatores cruciais \u2013 uma lideran\u00e7a coesa, uma sociedade civil ativa e unidade nacional. Este \u00faltimo elemento tem sido particularmente problem\u00e1tico desde meados deste ano, quando um movimento, apoiado por algumas mil\u00edcias e tribos locais, declarou uma regi\u00e3o no este da L\u00edbia como estado aut\u00f3nomo, batizado Barqa. O movimento j\u00e1 instituiu um governo sombra, criticando a neglig\u00eancia e a discrimina\u00e7\u00e3o do estado central. Ao mesmo tempo que as tribos locais reclamam melhores pagamentos e mais direitos pol\u00edticos, o movimento tem sido eficaz em travar a sa\u00edda de petr\u00f3leo dos principais po\u00e7os da regi\u00e3o desde o ver\u00e3o, bloqueando uma fonte de rendimento t\u00edpica do governo.N\u00e3o estranha, por isso, que os poderes ocidentais temam que o caos tome conta da L\u00edbia. O pa\u00eds corre o risco de se dividir em dois ou tr\u00eas estados. Alguns territ\u00f3rios dominados por determinados cl\u00e3s tribais estabeleceram as suas pr\u00f3prias fronteiras. Neste cen\u00e1rio, as tentativas do chamado governo central de adoptar uma constitui\u00e7\u00e3o aceite por todos parecem ter poucas hip\u00f3teses de dar frutos. Enquanto o Conselho Nacional de Transi\u00e7\u00e3o (CNT), o governo interino que substituiu o regime de Kadafi, falhou em lan\u00e7ar as bases de um estado moderno, a lideran\u00e7a eleita que assumiu o poder em novembro de 2012 tem-se confrontado com a necessidade de criar institui\u00e7\u00f5es istrativas eficazes e promover a independ\u00eancia judicial. Uma das suas principais tarefas \u00e9 construir o ex\u00e9rcito nacional, algo que o CNT negligenciou. Persuadir as mil\u00edcias a transferir a sua lealdade para o estado n\u00e3o ser\u00e1 f\u00e1cil, especialmente dadas as fortes liga\u00e7\u00f5es, muitas vezes ideol\u00f3gicas, \u00e0s suas unidades individuais. Mas \u00e9 um o crucial para estabelecer a ordem e aumentar a legitimidade do governo recentemente eleito.Em 2014, a L\u00edbia ter\u00e1 elei\u00e7\u00f5es para a Assembleia Constituinte, que ir\u00e1 preparar a constitui\u00e7\u00e3o do pa\u00eds, e ir\u00e1 promover um muito aguardado di\u00e1logo nacional debaixo dos ausp\u00edcios das Na\u00e7\u00f5es Unidas e do gabinete do primeiro ministro. 2014 pode tamb\u00e9m assistir a um aumento potencial do ex\u00e9rcito, da pol\u00edcia e dos guardas fronteiri\u00e7os do pa\u00eds, como resultado de treino e material com o apoio dos Estados Unidos, da Uni\u00e3o Europeia e de outros membros da NATO. Alguns analistas acreditam que estes eventos abrir\u00e3o uma janela de esperan\u00e7a para a reconcilia\u00e7\u00e3o pol\u00edtica e para o in\u00edcio de uma lenta recupera\u00e7\u00e3o rumo a uma maior coes\u00e3o e estabilidade. Talvez seja assim, mas este cen\u00e1rio demasiado otimista n\u00e3o acontecer\u00e1 sem um programa sistematizado para desarmar, desmobilizar e reintegrar na sociedade as numerosas mil\u00edcias do pa\u00eds.", "dateCreated": "2013-12-20T11:51:58+01:00", "dateModified": "2013-12-20T11:51:58+01:00", "datePublished": "2013-12-20T11:51:58+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F250428%2F1440x810_250428.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Pa\u00edses da Primavera \u00c1rabe", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F250428%2F432x243_250428.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
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Países da Primavera Árabe

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Países da Primavera Árabe

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Os cidadãos dos países da Primavera Árabe sabem o que deixaram para trás: décadas de status quo, moldadas por ditadores autocráticos que se consideravam – e ironicamente eram vistos assim pelas democracias ocidentais – como eternos. Mas eles não sabem ainda no que é que as suas sociedades se vão tornar. Numa altura em que vão entrar no quarto ano desta revolução que os libertou dos regimes autoritários, Tunísia, Egito e Líbia enfrentam profundas divisões políticas e sociais, principalmente entre islamistas e a oposição laica. Isto é, quando não são simplesmente confrontadas, como a Líbia é, com as tarefas Hérculeas de construir todo o aparelho do estado do zero, ao mesmo tempo que tentam manter juntas regiões que estão a afastar-se.

Nos últimos três anos, a exuberância e elação que seguiram as revoluções nestes países do norte de África deram lugar à incerteza, frustração e dor. E, às vezes, ao sangue. As suas sociedades são diferentes, porque foram estruturadas de forma diferente quando os seus líderes déspotas foram derrubados. Mas os desafios que enfrentam para criar instituições democráticas são igualmente intimidantes. Os académicos chamam a este processo “transição”. Uma palavra muito pobre para definir o que muitas vezes é um processo de engenharia social de grande escala: nações que têm de se reinventar.

Tunísia, Egito e Líbia encontram-se em posições diferentes no caminho da ditadura para a democracia. Não têm qualquer garantia que vão atingir este destino, para além da capacidade das suas pessoas de manter vivo o sonho de liberdade e de justiça social.

Tunísia

A sua revolução de Jasmim inspirou revoltas árabes noutras regiões. E ainda dá esperança a todos aqueles fora da Tunísia que querem acreditar no potencial de transformação pacífica da Primavera Árabe.

Mas em 2014 os tunisinos esperam que a Revolução de Jasmim traga alguns benefícios para a sua sociedade. No final do ano, irão ocorrer as segundas eleições pós-revolução, decididas a meio de dezembro pelo comité de consenso da Assembleia Constituinte da Tunísia. O momento foi considerado pelos analistas um raro exemplo de um acordo entre a oposição e os partidos do governo para pôr fim ao vazio político do país.

Os tunisinos mantêm-se céticos. Querem seguir em frente, depois de três anos de transição, quatro esboços inconclusivos da constituição e um ano – 2013 – que assistiu ao brutal assassinato de dois líderes da oposição tunisina – Chokri Belaid, um proeminente líder da oposição secular, em Fevereiro, e, em julho, Mohamed Brahmi, líder do pequeno Partido do Movimento Popular. Brahmi era uma das vozes mais críticas do governo liderado pelos islamitas e membro da Assembleia Constituinte encarregue de elaborar a nova constituição do país. Atribuídos por muitos aos radicais salafistas, os assassinatos geraram a revolta de muitos tunisinos e uniram os partidos seculares da oposição, poderosos sindicatros e outros grupos da sociedade civil contra o o movimento islâmico Ennahda, o principal partido da coligação governamental da Tunísia, inspirado na Irmandade Muçulmana.

Assim, à medida que se prepara para celebrar o terceiro aniversário da renúncia do ex-presidente El Abidine Ben Ali – a 14 de Janeiro de 2014 -, a Tunísia, berço da Primavera Árabe, carece de uma constituição pós-revolução. A sua sociedade está marcada por várias divisões – entre secularistas e islamistas, entre aqueles que colaboram com o antigo regime e aqueles que viveram no exílio, mesmo entre a cidade e o campo. Os resultados de uma sondagem publicada em outubro mostram um eleitorado profundamente insatisfeito e uma sociedade extremamente polarizada.

Segundo a sondagem, dois terços dos tunisinos sentem que o país está a ir na direção errada; menos de um terço acredita que o governo está a ser eficaz a responder as prioridades básicas da população, como criar emprego, lidar com o elevado custo de vida e proteger os direitos civis e pessoais; quase três quartos dos tunisinos acreditram que o Ennahda não está comprometido em “cumprir os objetivos da revolução”.

O partido merece hoje a confiança de apenas 28% dos tunisinos. Os restantes 72%, que são contra o partido, dividem-se por vários partidos relativamente pequenos, com nenhum partido capaz de congregar a confiança de mais de um quarto da população adulta. Pressentindo a derrota nas urnas, o Ennahda aceitou um compromisso com a oposição secular, um acordo promovido pela poderoso sindicato UGTT. A nomeação a 14 de dezembro de Mehdi Jomaa, de 51 anos, como um primeiro ministro de consenso é o primeiro o do acordo. O Ennahda concordou que a coligação governamental iria renunciar às suas funções quando fosse decidido um governo transitório, completada uma nova constituição e definida uma data para as eleições.

Egito

Não há sistema de métrica para medir o progresso de uma sociedade que se quer democrática. Mas há pontos de referência e inúmeras listas de verificação sobre até onde irá a liberdade numa sociedade – a liberdade de expressão, de religião, de partidos políticos – e o respeito pelos direitos humanos.

![](https://static.euronews.com/articles/250428/600x300_unrest in the arab world tunisia RTR2V76P.jpg)

Após a queda de Hosni Murabak, o país tem sido istrado nos últimos 15 meses pelo Conselho Supremo das Forças Armadas. Sucedido um ano caótico e dividido, sob a presidência de Mohamed Morsi e, desde julho de 2013, o Egipto é liderado por um governo interino apoiado pelo ministro da Defesa Abdel Fatah Al-Sisi. Grupos de direitos humanos sublinham que as sucessivas istrações demonstram tanto a incapacidade de lidar com a oposição como uma tendência a confiar em soluções de segurança opressivas para os problemas políticos.

Morsi, o primeiro presidente eleito do país, foi deposto em Julho num golpe apoiado pelas chefias militares. A sua queda marcou o início de um repressão brutal em curso sobre Irmandade Muçulmana. Desde que Morsi foi afastado do poder centenas de pessoas morreram no Egito. Com a chegada próxima de duas datas importantes – 25 de janeiro de 2014, três anos desde o início da revolução egípcia e 11 de feveiro de 2014, a renúncia de Hosni Mubarak –a nova lei aprovada pelo gabinete interino e assinada pelo presidente interino Adly Mahmoud Mansour, no dia 24 de novembro, reprime todos os protestos não autorizados. Entre uma série de restrições, a nova lei exige que os egípcios reúnam sete tipo de licenças diferentes para poderem protestar, proíbe ajuntamentos de mais de dez pessoas – em público ou privado – e aplica multas pesadas. Muitas pessoas acreditam que a nova lei antiprotesto serve para legitimar a repressão.

Nos dias 14 e 15 de janeiro do próximo ano, está previsto um referendo que deverá ratificar a nova Constituição. Um conjunto de 50 membros nomeados pelo presidente interino Mansour terminaram o novo projeto em dezembro de 2013, que remove da Constituição aprovada em 2012 as provisões inspiradas no Islamismo. Embora dê mais espaço ao direito das mulheres e ao direito à liberdade, a nova Constituição limita a formação de partidos políticos religiosos e consagra poder político reforçado aos militares, incluindo ausência de controlo presidencial e amplos direitos para julgar civis em tribunais militares.

O novo projeto permite ainda às autoridades mudarem a ordem das eleições previstas para 2014. O plano inicial, apresentado em julho de 2013, requeria que as eleições parlamentares fossem realizadas antes das presidenciais mas a nova Constituição permite que as estas últimas decorram primeiro.

Alguns analistas prevêem que o general Abdel Fattah al-Sissi, o comandante das forças armadas do Egito, concorra à presidência e saia vitorioso. Mas a sua vitória, porém, não garante a estabilidade do país. 2014 pode vir a assistir a um aumento das tensões entre as forças militares e de segurança e os atores islâmicos e ver as relações entre os militares e a oposição secular piorar. Se a violência continuar, a polarização da sociedade egípcia irá progredir, e o país, que já foi uma referência do mundo árabe, vai encontrar-se impotente para enfrentar as suas outras necessidades prementes: reconstruir a economia e criar empregos e oportunidades para a juventude do Egito.

Líbia

Três anos depois da sua revolução popular, a Líbia é uma história completamente diferente na Primavera Árabe. Devido à natureza muito personalizada do regime de Muammar Kadafi, a sua queda deixou um completo vazio istrativo, uma sociedade atomizada e poucas pessoas com experiência executiva que não tivessem afiliação ao antigo regime. O período pós-revolução tem sido marcado pela falta de segurança básica e de controlo de um governo centralizado. O exemplo mais claro desta crise ocorreu em outubro, quando o primeiro ministro Ali Zeidan foi mantido refém em Tripoli durante várias horas por milicianos armados.

As milícias, que ganharam protagonismo depois da queda de Kadafi, ainda dominam o país. Têm várias agendas – financeiras, territoriais, políticas e religiosas – e operam com impunidade. Os sucessivos governos interinos falharam em controlá-las, preferindo contratá-las como forças paralelas ao exército e à polícia. Um exemplo: a milícia que raptou o primeiro-ministro trabalha com… o ministro do Interior. Esta é uma prática comum na Líbia, com vários ministros a associarem-se a milícias para responder às suas próprias necessidades, incluindo de serviços de segurança. Consequentemente, as milícias detém uma posição privilegiada em objetivos de segurança chave, como a defesa dos campos de petróleo da Líbia, fazendo com que seja mais difícil para o governo quebrar a sua dependência financeira.

O país precisa urgentemente de construir o estado, mas faltam fatores cruciais – uma liderança coesa, uma sociedade civil ativa e unidade nacional. Este último elemento tem sido particularmente problemático desde meados deste ano, quando um movimento, apoiado por algumas milícias e tribos locais, declarou uma região no este da Líbia como estado autónomo, batizado Barqa. O movimento já instituiu um governo sombra, criticando a negligência e a discriminação do estado central. Ao mesmo tempo que as tribos locais reclamam melhores pagamentos e mais direitos políticos, o movimento tem sido eficaz em travar a saída de petróleo dos principais poços da região desde o verão, bloqueando uma fonte de rendimento típica do governo.

Não estranha, por isso, que os poderes ocidentais temam que o caos tome conta da Líbia. O país corre o risco de se dividir em dois ou três estados. Alguns territórios dominados por determinados clãs tribais estabeleceram as suas próprias fronteiras. Neste cenário, as tentativas do chamado governo central de adoptar uma constituição aceite por todos parecem ter poucas hipóteses de dar frutos. Enquanto o Conselho Nacional de Transição (CNT), o governo interino que substituiu o regime de Kadafi, falhou em lançar as bases de um estado moderno, a liderança eleita que assumiu o poder em novembro de 2012 tem-se confrontado com a necessidade de criar instituições istrativas eficazes e promover a independência judicial. Uma das suas principais tarefas é construir o exército nacional, algo que o CNT negligenciou. Persuadir as milícias a transferir a sua lealdade para o estado não será fácil, especialmente dadas as fortes ligações, muitas vezes ideológicas, às suas unidades individuais. Mas é um o crucial para estabelecer a ordem e aumentar a legitimidade do governo recentemente eleito.

Em 2014, a Líbia terá eleições para a Assembleia Constituinte, que irá preparar a constituição do país, e irá promover um muito aguardado diálogo nacional debaixo dos auspícios das Nações Unidas e do gabinete do primeiro ministro. 2014 pode também assistir a um aumento potencial do exército, da polícia e dos guardas fronteiriços do país, como resultado de treino e material com o apoio dos Estados Unidos, da União Europeia e de outros membros da NATO. Alguns analistas acreditam que estes eventos abrirão uma janela de esperança para a reconciliação política e para o início de uma lenta recuperação rumo a uma maior coesão e estabilidade. Talvez seja assim, mas este cenário demasiado otimista não acontecerá sem um programa sistematizado para desarmar, desmobilizar e reintegrar na sociedade as numerosas milícias do país.

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