{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2013/06/14/duvido-que-outro-pais-tenha-mais-transparencia-e-escrutinio-do-que-portugal" }, "headline": "Cavaco Silva: \u0022duvido que outro pa\u00eds tenha mais transpar\u00eancia e escrut\u00ednio do que Portugal\u0022", "description": "Cavaco Silva: \u0022duvido que outro pa\u00eds tenha mais transpar\u00eancia e escrut\u00ednio do que Portugal\u0022", "articleBody": "Portugal vive uma crise econ\u00f3mica quase sem precedentes, tendo registado uma contra\u00e7\u00e3o hom\u00f3loga de 4% no primeiro trimestre depois de dois anos consecutivos de forte recuo, um exemplo da crise que a Uni\u00e3o Europeia atravessa. O Presidente da Rep\u00fablica, An\u00edbal Cavaco Silva, que aceitou falar \u00e0 Euronews sobre os ventos adversos que sopram na Europa.Michel Santos (Euronews) \u2013 O Senhor Presidente acompanhou a constru\u00e7\u00e3o europeia de perto. Foi primeiro-ministro de Portugal durante dez anos e agora cumpre o segundo mandato presidencial. Na sua opini\u00e3o o que \u00e9 que levou Portugal a esta situa\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica?C. Silva \u2013 N\u00f3s cheg\u00e1mos a uma situa\u00e7\u00e3o em que t\u00ednhamos acumulado um excesso de d\u00edvida externa na sequ\u00eancia de facilidades que a zona Euro criou ao endividamento quer do Estado, das empresas, dos Bancos e que acabaria por se traduzir no endividamento das fam\u00edlias. De alguma forma podemos dizer que na sequ\u00eancia da crise financeira que foi despoletada nos EUA em 2008, a primeira rea\u00e7\u00e3o das autoridades europeias talvez n\u00e3o tenha sido a mais realista, na medida em que na primeira fase os pa\u00edses foram aconselhados a aplicar pol\u00edticas expansionistas, isto \u00e9, continuar a endividar-se. 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Silva \u2013 \u00c9 chegado o tempo de refletir sobre se a composi\u00e7\u00e3o e o papel da Troika \u00e9 adequado nesta fase de implementa\u00e7\u00e3o dos programas de ajustamento. \u00c9 a opini\u00e3o pessoal, que devemos refletir sobre se a responsabilidade n\u00e3o deve ficar inteiramente nas institui\u00e7\u00f5es europeias, quer no desenho, acompanhamento ou nos ajustamentos, na medida em que os objetivos da Uni\u00e3o Europeia s\u00e3o bem diferentes dos objetivos do Fundo Monet\u00e1rio Internacional (FMI).Euronews \u2013 O que \u00e9 preciso fazer para que o projeto europeu ganhe novamente credibilidade aos olhos dos cidad\u00e3os?M. Santos \u2013 Em primeiro lugar \u00e9 necess\u00e1rio tentar responder \u00e0 preocupa\u00e7\u00e3o maior: o desemprego. E tem vindo a ser desenhado um programa para responder ao desemprego jovem. Mas para al\u00e9m disso a UE tem que dotar-se de novos instrumentos porque os que v\u00eam do ado n\u00e3o s\u00e3o suficientes para responder \u00e0s preocupa\u00e7\u00f5es do presente e do futuro. Da\u00ed a import\u00e2ncia de criar a uni\u00e3o econ\u00f3mica e monet\u00e1ria, na vertente or\u00e7amental, econ\u00f3mica e banc\u00e1ria. E o o mais importante, quanto a mim, \u00e9 criar uma uni\u00e3o banc\u00e1ria porque isso contribuiria para melhorar as condi\u00e7\u00f5es de financiamento das empresas dos diferentes pa\u00edses da Uni\u00e3o Europeia, da Zona Euro em particular.Euronews \u2013 Os memorandos da \u201ctroika\u201d devem ser cumpridos cegamente mesmo sem respeitar os povos e com eventualmente algumas consequ\u00eancias?C. Silva \u2013 Bom, n\u00e3o \u00e9 isso que tem vindo a acontecer, na medida em que t\u00eam vindo a ser feitos alguns ajustamentos nos programas. Como repara, tem sido concedido mais tempo para os pa\u00edses sa\u00edrem da situa\u00e7\u00e3o dos d\u00e9fices excessivos \u2013 o caso de Portugal e outros pa\u00edses, os casos da Fran\u00e7a, da Espanha e outros \u2013 portanto temos de reconhecer que, de alguma forma, as coisas est\u00e3o a mudar nas institui\u00e7\u00f5es europeias, no conjunto dos Estados membros. Eu acho que os programas de ajustamento n\u00e3o podem nesta fase particular deixar de atribuir uma prioridade maior ao crescimento e \u00e0 cria\u00e7\u00e3o de emprego, caso contr\u00e1rio, o div\u00f3rcio entre cidad\u00e3os europeus e os l\u00edderes acentua-se ainda muito mais, o que \u00e9 uma preocupa\u00e7\u00e3o, at\u00e9 neste momento, em que nos aproximamos de elei\u00e7\u00f5es europeias em 2014.Euronews \u2013 Em Portugal todos os setores da sociedade pedem a demiss\u00e3o do governo. O Senhor privilegia a estabilidade, obviamente, tem uma tarefa dif\u00edcil\u2026 esse apoio pol\u00edtico \u00e9 ilimitado?C. Silva \u2013 O Presidente da Rep\u00fablica n\u00e3o governa e n\u00e3o \u00e9 respons\u00e1vel nem t\u00e3o pouco correspons\u00e1vel pelas pol\u00edticas do governo. O governo responde perante o parlamento. A falta de confian\u00e7a do Presidente da Rep\u00fablica n\u00e3o \u00e9 raz\u00e3o, de acordo com todos os constitucionalistas, para a demiss\u00e3o do governo. O Presidente da Rep\u00fablica tem o poder de dissolver a Assembleia, mas como sabe, em Portugal chama-se a essa decis\u00e3o uma bomba at\u00f3mica. Ora, as bombas at\u00f3micas n\u00e3o se utilizam de \u00e2nimo leve e eu tenho tido a preocupa\u00e7\u00e3o de estudar e analisar muito bem a situa\u00e7\u00e3o portuguesa. 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Mas num inqu\u00e9rito feito, n\u00e3o h\u00e1 muito tempo, v\u00e1rios empres\u00e1rios reconheciam que a nossa justi\u00e7a \u00e9 justa e por isso acho que n\u00e3o \u00e9 correta a ideia que me acaba de transmitir. At\u00e9 porque a transpar\u00eancia da vida p\u00fablica em Portugal \u00e9 muito forte.Euronews \u2013 Mas h\u00e1 ideia de um certo sentimento de impunidade de alguns governantes\u2026C. Silva \u2013 \u00c9 capaz de apresentar um caso? Uma coisa \u00e9 falar em termos gerais. Os governantes, hoje em Portugal, s\u00e3o objeto de um escrut\u00ednio permanente por parte da comunica\u00e7\u00e3o social \u2013 e ainda bem \u2013 por parte da opini\u00e3o p\u00fablica. Eu duvido que noutro pa\u00eds tenha mais transpar\u00eancia e escrut\u00ednio do que aquele que se verifica neste momento em Portugal.Euronews \u2013 Se pudesse voltar atr\u00e1s aos tempos de primeiro-ministro, mudaria alguma coisa nas suas pol\u00edticas de integra\u00e7\u00e3o?C. Silva \u2013 Eu acho que a nossa ades\u00e3o, os primeiros dez anos n\u00e3o s\u00f3 consolidaram a nossa democracia, mas deram tamb\u00e9m um contributo not\u00e1vel para o desenvolvimento do pa\u00eds. Como sabe, Portugal entrou na Uni\u00e3o europeia com um rendimento per capita de 53% da m\u00e9dia europeia. E ados 10, 15 anos, isso estava em 75%. Nunca ao longo da nossa hist\u00f3ria, num espa\u00e7o t\u00e3o curto, se conseguiu uma recupera\u00e7\u00e3o t\u00e3o grande num n\u00edvel de desenvolvimento do pa\u00eds.Euronews \u2013 Mesmo na Agricultura, mantinha todas as pol\u00edticas?C. Silva \u2013 Eu diria que essa \u00e9 talvez a parte de que mais me orgulho. Porque conseguimos a reforma da PAC, antes a nossa agricultura tinha uma produtividade baix\u00edssima. 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Cavaco Silva: "duvido que outro país tenha mais transparência e escrutínio do que Portugal"

Cavaco Silva: "duvido que outro país tenha mais transparência e escrutínio do que Portugal"
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De Michel Santos
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Portugal vive uma crise económica quase sem precedentes, tendo registado uma contração homóloga de 4% no primeiro trimestre depois de dois anos consecutivos de forte recuo, um exemplo da crise que a União Europeia atravessa. O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, aceitou falar à Euronews sobre os ventos adversos que sopram na Europa.

Michel Santos (Euronews) – O Senhor Presidente acompanhou a construção europeia de perto. Foi primeiro-ministro de Portugal durante dez anos e agora cumpre o segundo mandato presidencial. Na sua opinião o que é que levou Portugal a esta situação económica?

C. Silva – Nós chegámos a uma situação em que tínhamos acumulado um excesso de dívida externa na sequência de facilidades que a zona Euro criou ao endividamento quer do Estado, das empresas, dos Bancos e que acabaria por se traduzir no endividamento das famílias. De alguma forma podemos dizer que na sequência da crise financeira que foi despoletada nos EUA em 2008, a primeira reação das autoridades europeias talvez não tenha sido a mais realista, na medida em que na primeira fase os países foram aconselhados a aplicar políticas expansionistas, isto é, continuar a endividar-se. Só mais tarde é que se tomou consciência de que havia limites ao aumento do endividamento por parte de alguns Estados Membros da União Europeia.

Euronews – A União Europeia tem falhado na gestão da crise?

C. Silva – O que eu diria é que a União Europeia – e neste momento isso tornou-se óbvio – falhou no que diz respeito à promoção do crescimento económico e à criação de emprego. Alguma coisa falhou na política económica da União Europeia como um todo mas também nas políticas económicas dos Estados Membros.

M. Santos – Recentemente foi publicado um relatório em que o Fundo Monetário Internacional reconhece erros relevantes no primeiro programa de ajustamento da Grécia. Se acontecesse com Portugal qual seria a sua reação, como governante?

C. Silva – É chegado o tempo de refletir sobre se a composição e o papel da Troika é adequado nesta fase de implementação dos programas de ajustamento. É a opinião pessoal, que devemos refletir sobre se a responsabilidade não deve ficar inteiramente nas instituições europeias, quer no desenho, acompanhamento ou nos ajustamentos, na medida em que os objetivos da União Europeia são bem diferentes dos objetivos do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Euronews – O que é preciso fazer para que o projeto europeu ganhe novamente credibilidade aos olhos dos cidadãos?

M. Santos – Em primeiro lugar é necessário tentar responder à preocupação maior: o desemprego. E tem vindo a ser desenhado um programa para responder ao desemprego jovem. Mas para além disso a UE tem que dotar-se de novos instrumentos porque os que vêm do ado não são suficientes para responder às preocupações do presente e do futuro. Daí a importância de criar a união económica e monetária, na vertente orçamental, económica e bancária. E o o mais importante, quanto a mim, é criar uma união bancária porque isso contribuiria para melhorar as condições de financiamento das empresas dos diferentes países da União Europeia, da Zona Euro em particular.

Euronews – Os memorandos da “troika” devem ser cumpridos cegamente mesmo sem respeitar os povos e com eventualmente algumas consequências?

C. Silva – Bom, não é isso que tem vindo a acontecer, na medida em que têm vindo a ser feitos alguns ajustamentos nos programas. Como repara, tem sido concedido mais tempo para os países saírem da situação dos défices excessivos – o caso de Portugal e outros países, os casos da França, da Espanha e outros – portanto temos de reconhecer que, de alguma forma, as coisas estão a mudar nas instituições europeias, no conjunto dos Estados membros. Eu acho que os programas de ajustamento não podem nesta fase particular deixar de atribuir uma prioridade maior ao crescimento e à criação de emprego, caso contrário, o divórcio entre cidadãos europeus e os líderes acentua-se ainda muito mais, o que é uma preocupação, até neste momento, em que nos aproximamos de eleições europeias em 2014.

Euronews – Em Portugal todos os setores da sociedade pedem a demissão do governo. O Senhor privilegia a estabilidade, obviamente, tem uma tarefa difícil… esse apoio político é ilimitado?

C. Silva – O Presidente da República não governa e não é responsável nem tão pouco corresponsável pelas políticas do governo. O governo responde perante o parlamento. A falta de confiança do Presidente da República não é razão, de acordo com todos os constitucionalistas, para a demissão do governo. O Presidente da República tem o poder de dissolver a Assembleia, mas como sabe, em Portugal chama-se a essa decisão uma bomba atómica. Ora, as bombas atómicas não se utilizam de ânimo leve e eu tenho tido a preocupação de estudar e analisar muito bem a situação portuguesa. A minha convicção em resultado de toda a informação que tenho – e tenho muita informação – de todo os estudos que tenho feito, é que se Portugal tivesse neste momento uma crise política, então voltaríamos a uma situação muito pior do que aquela que em que nos encontramos agora.

Euronews – Esta é uma pergunta que muitos portugueses fazem. Desde o desastre económico e financeiro do Estado português até à gestão ruinosa das empresas públicas poucas pessoas ou mesmo ninguém é responsabilizado judicialmente… Porquê? Há algum problema com a justiça?

C. Silva – Eu penso que essa ideia não pode ser generalizada. É óbvio que está em vias de ser resolvida – assim esperamos – alguma crise na justiça, principalmente no que diz respeito à celeridade dos processos. Mas num inquérito feito, não há muito tempo, vários empresários reconheciam que a nossa justiça é justa e por isso acho que não é correta a ideia que me acaba de transmitir. Até porque a transparência da vida pública em Portugal é muito forte.

Euronews – Mas há ideia de um certo sentimento de impunidade de alguns governantes…

C. Silva – É capaz de apresentar um caso? Uma coisa é falar em termos gerais. Os governantes, hoje em Portugal, são objeto de um escrutínio permanente por parte da comunicação social – e ainda bem – por parte da opinião pública. Eu duvido que noutro país tenha mais transparência e escrutínio do que aquele que se verifica neste momento em Portugal.

Euronews – Se pudesse voltar atrás aos tempos de primeiro-ministro, mudaria alguma coisa nas suas políticas de integração?

C. Silva – Eu acho que a nossa adesão, os primeiros dez anos não só consolidaram a nossa democracia, mas deram também um contributo notável para o desenvolvimento do país. Como sabe, Portugal entrou na União europeia com um rendimento per capita de 53% da média europeia. E ados 10, 15 anos, isso estava em 75%. Nunca ao longo da nossa história, num espaço tão curto, se conseguiu uma recuperação tão grande num nível de desenvolvimento do país.

Euronews – Mesmo na Agricultura, mantinha todas as políticas?

C. Silva – Eu diria que essa é talvez a parte de que mais me orgulho. Porque conseguimos a reforma da PAC, antes a nossa agricultura tinha uma produtividade baixíssima. Os agricultores tinham um nível de vida muito baixo e hoje Portugal tem uma autossuficiência de 81%, os nossos agricultores modernizaram, reconverteram as suas operações e estão a dar um contributo… É atualmente o setor que maior crescimento regista na economia portuguesa.

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